Thursday, June 09, 2005

NEAERA
"The Rising Tide Of Oblivian"
[CD - Metal Blade/Recital]

Se, por incrível que pareça, a moda metalcore já começa a tresandar, num sinal óbvio e prematuro de cansaço, consegue-se ainda assim assistir ao surgimento de uma ou outra banda que, mesmo sem inovar grande coisa, apresenta um trabalho coeso e com qualidade. É o caso dos germânicos Neaera, que no decorrer de apenas ano e meio conseguiram gravar um álbum e lançá-lo pela Metal Blade. É na verdade uma prova indiscutível de qualidade mas também o “desespero” das editoras em assinar bandas e acompanhar uma moda. Paralelamente a isso, os Neaera têm real valor porque deles vislumbramos uma excelente capacidade técnica e forma de misturar brutalidade, ritmos death e black metal com melodia e tradição sueca. Poderá não parecer nada original mas é de facto a forma como fundem esses elementos e empregam as doses apropriadas que resulta em algo de destaque. E aqui quando falamos de doses apropriadas não falamos propriamente de equilíbrio, mas sim de um pendor para as vertentes mais extremas em vez da fórmula mágica [e comercial] onde o peso quase é um mero assistente para os refrões intensamente orelhudos e contagiantes. Pois, nesta altura, o “equilíbrio” começa-se a fazer cada vez mais de extremismo. Para que percebam como os Neaera se sentem tão à vontade com a veia brutal aqui apresentada, nomeadamente death e black metal, explicamos que três dos seus membros são oriundos de uma banda de death/grind chamada Malzan, que acaba por ser a responsável por termo-los aqui e agora a explorar uma vertente, que não obstante brutal, consegue incutir muito mais melodia e versatilidade que na sua anterior banda. Sendo assim, eles conseguem aparentemente satisfazer todas as suas necessidades musicais [e o nosso prazer auditivo] e construir um trabalho cheio de potencial onde projectam um dos nomes mais interessantes dentro deste espectro nos últimos tempos. Uma banda a ter em conta, sem dúvida. [8/10] N. C.
EKTOMORF
"Instinct"

[CD - Nuclear Blast/Mastertrax]

Se para muita gente potência é uma mera questão de distorção e riffs balançados, aqui poderão encontrar a solução certa para satisfazer os seus intentos musicais. Se para outros a coisa se baseia em intensidade [que é uma coisa bem diferente], profundidade e criatividade, então estes Ektomorf de pouco [ou nada] servirão para demover os sentimentos de um qualquer ouvinte mais exigente. É verdade que o que estes húngaros fazem acaba por ter um quê de novo, atendendo ao uso que fazem de alguns elementos culturais da sua região, embora não seja tão explícito como por aí se reclama. No entanto, quando em termos musicais a banda parece pouco fazer para extrapolar a barreira do óbvio, pouco podemos abonar em seu favor. Desde que começou a lançar trabalhos que a banda vive o estigma de se mostrar autenticamente colada ao universo Soulfly, Sepultura e tudo o que tenha a ver com o génio criativo de Max Cavalera. O vocalista da banda tenta o melhor que pode imitar o registo vocal de Max e nas guitarras, bem como na generalidade dos instrumentos, a coisa repete-se insistente e descaradamente. Isso ainda por cima sem metade do carácter dos verdadeiros autores deste tipo de sonoridade. O uso de instrumentos ou qualquer elemento que supostamente possa induzir à cultura cigana e hindu, é aqui também muito ténue, muito longe daquilo que Max costuma acentuar nos seus trabalhos, ficando assim pelo caminho a ideia de que esta é uma verdadeira fusão de música étnica. Pessoalmente, nunca vou conseguir encarar o som dos Ektomorf enquanto sentir que estes estão apenas a tentar aproveitar-se do sucesso e obra que outros criaram tão genuinamente. De qualquer modo, a “potência” existe e por este motivo [só por este] valerá a pena dar uma escutadela neste disco. [6/10] N.C.
DISBELIEF
"66Sick"
[CD - Nuclear Blast/Mastertrax]

Remontando a 1997, os germânicos Disbelief eram uma banda que deambulava ainda um pouco à procura do som que realmente lhes inspirava e lhes efervescia interiormente. Normal “desorientação” e incapacidade de se reger pelos seus próprios princípios quando se está em princípio de carreira, os Disbelief passaram entretanto de uma vulgar banda de death metal para algo muito mais personalizado, complexo e original. Há quem ache que os Disbelief não foram fazendo mais do que “comercializar” o seu som e com este “66Sick” é normal que esta sensação venha ao de cima. É verdade que se passou de um death metal para algo muito mais directo, carregado de riffs muito mais minimalistas, onde predomina o groove e o poder balançado de uma tendência aparentemente mais actual. Se isto é verdade, também podemos afirmar que, às custas de um espírito aberto, se conseguiu fundir várias secções da música pesada e chegar a um resultado muito mais dinâmico, fresco e interessante. Este sexto álbum dos Disbelief marca um passo em frente no crescimento da banda e um seguimento da boa aceitação que já tinham tido com “Spreading The Rage”. Sendo assim, abrimos o álbum com “66”, a intro que faz a ligação com “Sick”, um tema extremamente potente, regado de power, onde nos vemos quase obrigados a pensar em “The Heretic Anthem, um dos clássicos dos Slipknot. Ao longo do disco vão se destacando, como já se disse, os riffs pesadões, arrastados, a remeter para o universo dos Neurosis que, aliás foi sempre uma das referências assumidas pela banda, e um toque de melodia e frieza minuciosamente inserido para que o resultado se torne ainda mais eficaz. A tonalidade da voz de Karsten Jägen, uma das indiscutíveis mais-valias deste grupo, impõe-se aqui como uma dolorosa, rancorosa e perfeita forma de interpretação para estes temas. Como que todo este ambiente de peso e desolação se tornasse impossível sem Karsten a fazer uso das suas cordas vocais. Os berros dominam a maior parte da sua prestação no disco, mas aqui e ali escutam-se arranjos vocais e refrões em tom limpo. Quase a terminar, o interlúdio “Mental Signpost” resume o lado obscuro da banda, sempre presente, e que é um dos componentes herdados desde os seus primórdios. Assim se distingue este material e o universo actual dos Disbelief porque, de resto, a banda quase se poderia inserir numa qualquer vaga mais moderna dentro do metal. Não obstante mais comerciais, é verdade, fica a amplitude e a versatilidade que resulta deste cruzamento entre as primeiras tendências da banda e uma outra mais actual que têm vindo a desenvolver ao longo dos tempos. [8/10] N.C.

Wednesday, June 08, 2005

BELPHEGOR
"Goatreich-Fleschcult"
[CD - Napalm Records/Recital]

Se o anterior “Lucifer Incestus”, lançado o ano passado, já vinha evidenciado o progressivo crescimento dos Belphegor, “Goatreich-Fleschcult” vem agora complementar esta ideia e mostrar-nos um colectivo num nível cada vez mais elevado de qualidade e maturidade. Após dez anos de carreira pautados por uma sonoridade mais black que death, os Belphegor chegam a esta fase num âmbito muito mais brutal, técnico, rápido e sempre demoníaco. Como se percebe rapidamente à primeira escuta, até mesmo pelo aspecto do layout, “Goatreich- Fleshcult” é o seguimento lógico de “Lucifer Incestus” só que aqui, mais que nunca, se começa a denotar e a sentir uma verdadeira coesão a nível de ideias e visão de trabalho, já que a nível técnico e de rapidez/brutalidade a banda continua igual a si própria e fiel ao seu pressuposto de demolição e profanatismo. A começar pelos riffs de guitarra que se apresentam agora muito mais atraentes e a capacidade de dosagem dos níveis rítmicos do disco. Ou seja, aqui para além de se manter a velocidade ultra-sónica dos blastbeats de Torture, conseguimos vislumbrar momentos de abrandamento, mais compassados, que tão deliciosamente resultam na dinâmica geral do disco. Neste espectro, temos temas como “Kings Shall Be Kings”, “Festum Asinorum Chapt. 2” e “Sepulcre Of Hypocrisy”, este último numa toada quase doom, com um ritmo inicial a fazer lembrar uns My Dying Bride. Definitivamente mais coesos e a transpirar outra frescura, os Belphegor demonstram finalmente querer criar um trabalho e não apenas destilar brutalidade e rapidez desenfreada. Um espírito que terá sido eventualmente gerado pela preservação do line-up da banda de há um ano para cá, e de um colectivo que, ao fim de 11 anos, já seria inevitavelmente de esperar esse nível de personalidade. No entanto, acreditamos que estes austríacos ainda terão muitos trunfos para mostrar no futuro... Basta que continuem a ser ousados e não se confinem a nenhum lobbie ou tradicionalismo castrador. [8/10] N.C.
VISIONS OF ATLANTIS
"Cast Away"
[CD - Napalm Records/Recital]

Num campo musical onde a exigência já é grande e onde se tem obtido resultantes notáveis nos últimos tempos, tanto a nível de popularidade como de vendas, os Visions Of Atlantis tentam agora entrar num círculo onde já dominam, com larga vantagem, bandas como os Nigthwish, Within Temptation ou Epica. Falamos claro de um power/goth symphonic metal onde dominam as vozes femininas, geralmente em registo soprano, e onde a musica se faz de bombásticos coros e melodias penetrantes. No caso destes austríacos, nota-se algumas claras fragilidades, normais de uma banda que, apesar de já estar a lançar o seu segundo trabalho, só agora está a ser conhecida [“fatalidades” de um primeiro contracto menos feliz]. Será ainda assim preciso dispor de maiores orçamentos para que se crie a imponência musical e orquestral exigida neste tipo de trabalho, bem como dissipar algumas influências que, não obstante muito mais ofuscadas, continuam ocasionalmente presentes. Falamos das previsíveis semelhanças a Nightwish e Epica, essencialmente a nível das vocalizações femininas, apesar do registo de Nicole Bogner ser muito mais tímido tecnicamente que os de Simmone Simons e da veterana Tarja Turunen. Para além de que o próprio som dos Visions Of Atlantis será, eventualmente, muito mais “rock” que o dos Nightwish – muito mais apetrechado a nível de peso, potência de guitarras e profundidade orquestral. Aqui as coisas funcionam muito mais directas e apontadas ao potencial de cada canção, em vez do brilhantismo técnico que sempre acompanha este tipo de lançamentos. Sendo assim, temos no single “Lost”, no inicial “Send Me A Light”, “Realm Of Fantasy” e na bonita balada “Winternight” os momentos mais altos e atractivos do disco. Convém dizer que, para além da voz soprano de Nicole, temos ainda um vocalista masculino – Mario Plank – que, não sendo apenas uma voz de suporte [pois divide quase por igual as vozes com Nicole] e por cantar em registo limpo, evitando assim a previsível dicotomia bela-monstro, acaba por representar uma das maiores inovações do grupo. Todo o resto precisa ser ainda bem alinhavado pois, apesar de estarmos perante um agradável disco de metal melódico, falta claramente à banda alguma postura e coesão para se afirmar como um pilar dentro do género. No entanto, seguem pelo bom caminho e acreditamos no florescer do seu talento. [7/10] N.C.

Tuesday, June 07, 2005

LANFEAR
"Another Golden Rage"
[CD - Massacre Records/Mastertrax]

Estes germânicos poderão juntar-se à resenha de bandas que, de certa forma, nos tem deixado agradavelmente surpresos. Sem se tratar de um trabalho estrondoso, o que temos aqui é um bom álbum de power metal melódico [o quarto dos Lanfear desde a sua formação em 1993], com tudo o que o género tem de característico mais, e aqui é que reside o interesse extra, um conjunto de elementos progressivos que se vão revelando ao longo dos temas. Os ambientes sofisticados dos teclados em “The Unrestrained” e “The Voice Within” poderão servir para demonstrar esse exemplo [para além do natural virtuosismo técnico] e ainda pormenores que, aqui e ali, vão valendo pontos a seu favor e a contribuir para a distinção deste trabalho. Requinte e bom gosto nas linhas melódicas e ambientais como em “Eternally” e “Eclipse” [o primeiro uma bonita balada onde se destaca o saxofone e o segundo um curto mas cativante instrumental], e a inesperada violência de “Shades Of Black” onde, imagine-se, se escutam vocalizações berradas e ritmos de bateria típicos do death ou black metal. São por estes pequenos pormenores que enunciamos que encontramos aqui um trabalho de espírito inovador, onde se transmite a ideia de se querer ir mais além do que apenas se gravar mais um álbum de power metal alemão. Damos-lhe o mérito por isso. [8/10] N.C.
EXTOL
"The Blueprint Dives"
[CD - Century Media/Mastertrax]

Seria mais óbvio começar por contar a história da banda, seu percurso e discografia… Mas no entanto, e para que se demarque uma ideia, prefiro começar por dizer que os Extol conseguiram de certa forma surpreender-me e angariar o meu carinho e respeito pelo seu trabalho. É que esta é das raras vezes em que uma banda soa fresca, despretensiosa e ambiciosa [ao mesmo tempo], sem recorrer a grandes artifícios que não sejam, quer-me parecer, a naturalidade com que se faz música… E inteligência também, claro! Ora bem, para quem pensa que Noruega é só sinónimo de black metal, aqui vos apresentamos uma banda que, para além de não se inserir nesta categoria, dificilmente se enquadrará em qualquer outra, pelo menos da forma mais óbvia esperada. Os Extol formaram-se há já dez anos e chegam agora a um terceiro trabalho onde demonstram tudo menos apatia de espírito e incapacidade de ir mais além a nível criativo. Se bem que o que fazem não é de modo algum novo, no entanto a fusão aqui proposta é suficientemente dinâmica e abrangente para nos deixar tão confusos quanto aliciados. O metal dos Extol vai desde o hardcore ao metalcore, do screamo ao emo e de uma fusão de variados espectros mais alternativos como o prog rock e o som de uns Radiohead e Björk. Capaz de vos aguçar o apetite, não? Pois, tudo isto bem condimentado e dividido em equilibradas parcelas, verão que temos aqui um álbum muito bem doseado a nível de peso, melodia, tendências alternativas, e ainda uma certa melancolia que, diria eu, própria de latitudes mais altas como as Escandinavas. Peguem portanto em “The Blueprint Dives” e em temas como “Gloriana” [a abrir com a sua batida speedada e hardcore] e saltem pouco à frente para “Pearl” e concluirão pela sua melodia que os Extol não são de fácil definição e nos irão por à prova constantemente. Com “Another Adam’s Escape” chega a já referida alusão a Radiohead, numa toada bem mais “dura” [como seria de esperar], e um melancólico “Lost In Dismay” a fazer-nos crer numa Björk masculina pelo cariz vocal e emocional de Peter Espevoll. Não é exagero nenhum, e aliás só vem a confirmar a versatilidade vocal e instrumental da banda, que consegue efectivamente nos demonstrar irreverência, subtileza, charme e inteligência. Faltará ainda, eventualmente, aos Extol conseguir sumariar um conjunto de temas mais eficazes, mas pela ousadia e coragem fica o devido respeito a estes “rapazes”. [8/10] N.C.

Monday, June 06, 2005

Agenda

MORBID DEATH / MOONSPELL
1 de Agosto - Coliseu Micaelense, Ponta Delgada (Açores)

Wednesday, June 01, 2005

ALL SHALL PERISH
"Hate.Malice.Revenge"

[CD - Nuclear Blast/Mastertrax]

Editado este ano na Europa e no mundo através da poderosa Nuclear Blast, mas já antes lançado pela japonesa Amputated Vein Records, “Hate.Malice. Revenge” é o disco de estreia dos americanos All Shall Perish, oriundos de Oakland na famosa Bay Área. Numa fase de políticas capitalizadoras, joga-se em nome do retorno financeiro em detrimento do valor artístico, e isso explica que bandas como os All Shall Perish só tenham sido verdadeiramente descobertas mais tarde. Como felizmente aparece sempre alguém com bom senso, os All Shall Perish dão agora um passo de gigante ao assinarem pela grande potência afirmada que é a Nuclear Blast que, apesar deste estatuto, é das poucas que ainda mantém a postura em defesa das capacidades artísticas e não de nenhuma tendência em concreto. Não santificando o trabalho da Nuclear Blast, até porque esta também já chega a ter alguns nomes de metalcore no seu catálogo [porque é preciso sobreviver, sim!], a discográfica alemã dá-nos assim a conhecer um dos mais talentosos e devastadores colectivos de death/metalcore resultante destas novas gerações de músicos. Mas atenção que esta não é uma banda de potencial comercial como poderiam imaginar ao mencionarmos o termo metalcore, muito longe disso, estando sim o imaginário criativo dos All Shall Perish muito mais ligado ao death metal mais brutal e técnico do que, definitivamente, a bandas como os Killswitch Engage ou Chimaira. Isto significa que temos aqui um álbum algures entre a sonoridade de uns Hate Eternal, Six Feet Under, Brujeria ou Dying Fetus. Não obstante muitas outras alusões que nos poderão assolar ao longo do disco, este soa a tudo menos monótono e previsível. Aliás, este é um disco que se demarca pela sua dinâmica e temperamento, ora em regime ultra-pesado – com os blastbeats ultra-sónicos de Matt Kuykendall a darem um ritmo frenético ao preparado –, ora em regime igualmente pesado mas muito mais compassado e balançado. Poder, atitude, rapidez e groove resumem os pontos fortes deste disco. Como já dissemos, Matt Kuykendal e Mike Tiner [baixista] constituem uma secção rítmica infernal, demonstrando equilíbrio contido e ao mesmo tempo desenfreado, não hesitando em aliar à velocidade dominante a técnica imprescindível [no final de “Laid To Rest” temos um pequeno pormenor de baixo que nos deixa bem explícitos em relação ao potencial técnico dos seus elementos]. Juntado a tudo isso umas guitarras muito competentes e sempre muito pesadas, com a maneira extremamente gutural com que o vocalista Craig Betit aborda as composições, concluímos que os All Shall Perish são um híbrido moderno, versátil, mais death é verdade, mas ainda assim capaz de agradar a muitos outros ouvidos e mentes mais divididas entre o conservadorismo e a vicissitude dos novos tempos. Por isso mesmo, e pelo mérito de fazerem as coisas muito bem feitas, mesmo que sem inovações, este é, sem dúvida, um excelente disco de música mais extrema. [9/10] N.C.