Tuesday, August 04, 2009

Entrevista The Bullet Monks

GERAÇÃO DE OURO

Com bootlegs de Led Zeppelin e Black Sabbath debaixo do braço e amplificadores e colunas vintage a ressoarem uma herança rockeira numa antiga fábrica de pickles, três nativos alemães, sendo que dois cresceram na Austrália, e um norte-americano que viajou em novo para a Alemanha, formam assim os The Bullet Monks. Fiéis defensores da mais natural e espontânea maneira de estar no Rock’n’Roll, este quarteto solta este ano uma estreia, “Weapons Of Mass Destruction”, que promete incendiar as mais suadas e regadas salas de espectáculos por essa Europa fora. Com uma idade média de 20 anos, os The Bullet Monks sabem, no entanto, perfeitamente o que querem e prometem deliciar quem gosta de um som retro com uma atitude actual. O vocalista Tyler Voxx confessa o sonho que está a viver.

Li algo sobre uma tal de G.E.M.A. que anda a elevar as suas taxas e a complicar a vida às pequenas bandas alemãs. O que se passa?
A G.E.M.A. assegura que todos os compositores recebem uma comissão pelas músicas que escrevem. Neste momento, há discussões a decorrer, uma vez que a G.E.M.A. quer impor uma taxa maior aos promotores quando contratam uma banda para actuar. Sendo que as bandas mais pequenas representam um risco maior para os promotores e, por outro lado, estas ficam sempre contentes por tocar em qualquer circunstância, tornar-se-á mais difícil para elas encontrar clubes para começar a tocar. Taxas maiores representam riscos maiores para os promotores, mas sabes como é… toda a gente quer ficar sempre com a maior parte do bolo.

Entretanto, o que se passou realmente com aquele “arrogante filho-da-mãe” que trabalha para uma das salas onde tocaram recentemente?
[risos] Bom, estávamos a fazer a primeira parte de Jon Oliva’s Pain nesta noite, o que acabou por ser muito fixe. A banda era fixe como tudo o resto, mas este gajo que trabalha para esta sala apareceu e… ele é uma pessoa muito importante, sabes? Ele pensava que podia tratar toda a gente como lixo e que era melhor que todos. A questão foi a forma como ele falava com toda a gente, incluindo bandas, o staff das bandas e, especialmente, o seu próprio staff. O mais engraçado é que ninguém o levava a sério. Eu quase tive um momento “físico” com ele, mas felizmente toda a situação arrefeceu e fomos beber umas cervejas para relaxar com o pessoal dos Jon Oliva’s Pain.

Espero que não me interprete mal, mas para os membros dos The Bullet Monks o seu espírito e estilo de vida é o mesmo dentro e fora dos palcos? Não quero que entenda que lhes estou a chamar posers, mas… será que quando não estão em palco ou em tournée bebem apenas chá e comem vegetais e tostas integrais?
[risos] Essa é uma boa questão! Embora haja faces nossas e de outros músicos que não são passíveis de se conhecer fora dos palcos, refiro-me a um ambiente mais privado, eu considero-me 100% convicto de que não se consegue tocar verdadeiro Rock’n’Roll se este não for vivido 24 horas por dia. Nós os quatros sempre tivemos que abordá-lo dessa forma e autonomamente. Não temos pais ricos nem ninguém que nos injecte dinheiro. Nós não tínhamos manager ou um agente até ao ano passado. Mas vivemos o sonho Rock’n’Roll e trabalhámos diariamente para que o pudéssemos levar a algum lado, mesmo que estejamos muito conscientes de que o “caminho” ainda está muito distante. Estamos apenas no princípio! Contudo, até agora temos funcionado como uma classe de trabalho muito honesta. As pessoas diziam-nos que não íamos chegar a lado nenhum com este tipo de música e provámo-las que estavam enganadas. Queremos apenas “rockar” e tocar o que gostamos sem ter que ouvir o que os outros dizem. Na nossa banda a música sempre esteve primeiro e as nossas vidas sempre tiveram que andar à sua volta. Quando nós os quatro tivemos que tomar decisões estivemos sempre no mesmo “barco”. Isto é Rock’n’Roll! É o que adoramos.

Embora estejam sedeados na Alemanha, penso que apenas dois de vós são naturais daí. É apenas um mero facto ou mudaram-se propositadamente para a Alemanha por haver mais oportunidades de terem sucesso?
Não, de maneira nenhuma, é apenas coincidência. Três de nós nasceram na Alemanha, mas dois cresceram na Austrália. O nosso baixista nasceu nos Estados Unidos e cresceu na Alemanha. Penso que o nosso background multicultural é responsável pelo facto de nos termos dado tão bem quando nos conhecemos. Existe esse interessante sentido “global” na nossa banda. Nós não nos importamos com nacionalidades, somos todos irmãos e irmãs. Acredita em mim: não é fácil ter êxito na Alemanha se não fores uma banda estrangeira, a não ser que cantes em alemão. Penso até que teríamos tido mais sucesso se tivéssemos aparecido em outro sítio qualquer.

Não consegui encontrar em que ano é que se formaram, mas imagino que sejam muito jovens como banda…
Penso que começámos a tocar em 2004 ou 2005. Somos jovens, isso é verdade. Andamos todos na casa dos 20 anos, por isso desejo que tenhamos ainda muitas décadas pela frente a tocar!

Apesar do vosso caminho não ter sido fácil, muita coisa aconteceu subitamente – o prémio da Metal Hammer, o contrato com a Napalm Records, muitos concertos, gravações…
Antes de mais, deixa-me esclarecer que o prémio da Metal Hammer não é uma coisa oficial. Tratou-se apenas de uma frase numa review para lançar o disco. Eu acho que nada foi assim tão súbito na nossa carreira, atendendo ao longo período de tempo que demorou até colocarmo-nos numa posição em que as editoras e os media se interessavam por nós. Tratámos de todo o nosso agenciamento até ao início deste ano e a gravação do nosso álbum de estreia foi suportado por todas as nossas poupanças. Andámos a poupar durante anos, vendemos coisas e trabalhámos arduamente. Só depois disso fomos para estúdio. Tudo aconteceu apenas depois de começarmos a vender o álbum por nós próprios. Só nessa altura fomos contactados por algumas editoras e decidimos assinar pela Napalm Records. Na verdade, quando olhamos para trás sentimo-nos muito orgulhosos. Muitas bandas gravam demos atrás de demos e ficam à espera do cavaleiro com armadura reluzente que os torne ricos. Este não é o caminho, tens que traçá-lo por ti próprio! Contudo, depois de assinarmos contrato ficou tudo mais rápido. Todas as pessoas com quem estamos a trabalhar estão a fazer um excelente trabalho e estamos todos muito excitados por constatar que isso é apenas o princípio.

Explique-me que raio de maluquice se passa no final de “Downtown Is Dead”.
[risos] Depois de gravarmos “Downtown Is Dead” pegámos nos microfones da minha pequena sala de gravação e fomos pela rua abaixo. Estávamos naquele espírito de “vamos fugir daqui para fora”, tal como a letra do tema, e fugimos do estúdio para dentro do nosso carro e do carro pela rua abaixo, quando uns cães começaram a atacar-nos! Nada estava planeado. Esquecemo-nos que uma equipa de pilotos que tinha a sua garagem ao lado do nosso estúdio tinha três ou quatro cães de grande porte que ficaram fulos com o barulho que estávamos a fazer. Entretanto, quando corríamos pela rua abaixo eles pularam e foram atrás de nós! Achámos esse episódio tão engraçado que decidimos pô-lo no disco.

Sendo músicos muito novos, imagino que as vossas influências venham de uma época em que ainda nem eram nascidos…
Sim, mas todos nós temos uma paixão pelo bom velho sentimento de quando as bandas ainda faziam algo refrescante e não tentavam soar a outras quaisquer. Todos coleccionávamos velhas bootlegs de Led Zeppelin e Black Sabbath, entre muitos outros. Porém, não ouvimos só material antigo. Eu diria que temos a mente muito aberta no que toca a apreciar música.

Podemos dizer que esse é o vosso segredo para soarem a algo muito próprio sem serem propriamente originais?
Bom, claro que temos segredos de que não vamos falar, mas a maioria deles é muito simples. Limitamo-nos a viver o que fazemos. Temos a mesma socialização musical que as bandas tinham há algumas décadas atrás; temos as mesmas raízes que elas, porque nos interessamos em música antiga. Os Blues, por exemplo, são tão fixes para mim como Slayer ou Megadeth. Depois há a questão do nosso equipamento. Coleccionamos velhos amplificadores, colunas, etc. Não usamos nenhuma treta digital. Divertido é comprarmos todas essas coisas e afiná-las. Também gravámos o nosso álbum ao vivo num velho sistema analógico. Dessa forma captámos o nosso som como ele é e como vai soar ao vivo.

Depois de tantas tendências e tantas fusões que acabaram por gerar tantas etiquetas, parece que tudo está a voltar ao seu ponto de partida. Muita gente fala hoje de um revivalismo rock ou thrash, por exemplo. Também acha que o ciclo se está a repetir?
Eu penso que estamos a desenvolver uma era duradoira. Queremos livrar-nos de rótulos; nada de “Mosh’n’Roll” e coisas parecidas. Eu não consigo sentir um revivalismo rock, uma vez que ele nunca se foi. Eu penso que a actual era simplesmente dá espaço a qualquer estilo musical. Sempre tocámos rock desde que começámos com a banda e nunca nos preocupamos com tendências. Dessa forma as coisas sempre funcionaram connosco. Este é o nosso único segredo – façam o que quiserem fazer e tornar-se-ão únicos. É isto que os fãs querem – bandas únicas que tocam boa música.

O que costumavam dizer às pessoas que desacreditavam o vosso trabalho?
[risos] Essas pessoas resumiam-se a comentários do género: “o rock está morto”. Diziam-nos que tínhamos que inventar algo novo. Tentem soar a “X” banda, olhem para o que esta está a fazer. Algumas pessoas até tentavam explicar-nos que tipo de música as editoras estavam a assinar! E, bom, cá estamos nós. Saudações a todos os que não acreditavam em nós!

Mostraram-se então suficientemente fortes e confiantes no vosso potencial. No Rock’n’Roll, eu comando o meu destino!
[risos] É isto mesmo! Soa muito cliché mas é realmente isso que faz a diferença.

Uma banda como a vossa deve reunir muitas episódios engraçados em tournée. Quer partilhar algum?
Meu Deus… vimos gravando, desde o início do ano, imensas coisas que acontecem no nosso backstage. São tantas… Alguns elementos da banda passam a vida esfomeados. Por exemplo, o Hannes, a pessoa que nos trata do design, e eu, temos estado a documentar as toneladas de comida que é "pulverizada" em cada concerto. Mas os maiores acontecimentos são os acidentes dentro e fora do palco! Eu e o Dan chocámos costas com costas durante um concerto há uns meses atrás. Foi muito divertido! Ele caiu para cima do público e eu para cima do backline. Para além disso, é sempre muito engraçado fazer piadas sobre os nossos colegas de banda, mas isso eu não vos posso contar. Caso contrário, estaria metido em sarilhos…

O que fariam se os fãs invadissem o palco enquanto actuassem?
Depende… Tocámos num festival perto de Estugarda há poucas semanas em que o público começou a pressionar o palco. Enquanto estiver tudo pacífico, tudo bem. Quando eu estiver sem espaço para fazer o meu trabalho, tenho que pedir aos seguranças para tirar as pessoas de cima do palco. Adoramos os nossos fãs e gostamos sempre de estar em festa com eles. Acontece normalmente eles chocarem com o palco quando o moshpit está bom… Se nada se partir e ninguém se magoar, perfeito!

Brevemente, vão estar em alguns festivais importantes. Fale-nos das vossas expectativas.
Desejamos ganhar novos fãs a cada segundo que tocamos. Tocar ao vivo é o mais importante para nós, daí que seja o que mais desejamos. Mas claro que também estou muito motivado por ir tocar em festivais onde também actuam Slayer e Volbeat. Espero uma grande festa e fãs por todo o lado!

Especialmente femininos! [risos]
Oh, sim! Se não fosse pelos fãs, todo o nosso esforço não valeria a pena. Os fãs são aqueles que nos fazem esquecer todos os nossos tempos mais difíceis. Adoramo-los a todos, mas os femininos de uma forma diferente… [risos]

Estão, portanto, um pouco estupefactos com o que se está a passar convosco. Sempre sonharam com tournées, em tocar frente a centenas ou milhares de pessoas, ter fãs, mas nunca pensaram que isso se pudesse tornar realidade. O que esperam a seguir?
Realmente, nunca esperei alcançar isso. Sonhei com tal durante toda a minha vida, mas o que experienciámos nos últimos seis meses foi verdadeiramente espantoso! Ter um disco a circular por todo o mundo é capaz de gerar um sentimento muito especial, acreditem em mim! Estou até já muito motivado para gravar o nosso segundo disco. O material que ouvem no nosso disco de estreia já tem cerca de dois anos, por isso estou muito ansioso por saber o que conseguimos fazer agora como banda, 150 concertos depois, estão a ver? Temos também uma tournée europeia algo vasta na primavera de 2010, mas não vos consigo adiantar mais nada por agora. Pessoalmente, só quero que isto continue. Esta é uma viagem que nunca quererei que acabe. O nosso álbum de estreia é apenas o primeiro passo e todos sabemos que agora temos que trabalhar ainda mais para nos mantermos nisso e crescer como banda. Quero conseguir viver o meu sonho e tocar em vários pontos do mundo, o mais cedo possível e o mais que pudermos. Principalmente o público do sul é muito fixe, especialmente ao vivo. Uma das melhores pessoas que conheci nos últimos sete meses tinha raízes portuguesas; portanto, espero que possamos tocar em Portugal ainda este ano!

Nuno Costa

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