Friday, September 18, 2009

Crónica

EPÍTASE ESTRANGULADORA

Torna-se cada vez mais difícil contrariarmos a nossa dramaticidade portuguesa quando para essa circunstância tanto contribuimos. Fazer parte de um veículo de promoção ao Heavy Metal durante quase sete anos em Portugal até nem é muito típico, modéstia à parte, do nosso povo. Contam-se tantos aqueles que sonharam alto ou perto disso, mas por mais que a teimosia fosse mobilizadora acabaram por definhar perante um cenário que tanto fomenta como destroi. A razão desta soma é uma debilitante "cena" que intenta pôr-se ao mar mas morre logo na praia... mesmo que essa morte dure vários anos a consumar-se. Até lá, alguns balões de oxigénio vão atrasando o que parece inevitável, mas a respiração é sempre intermitente e causa danos - quase de certeza irreversíveis. E digo "quase" porque, invocando a tal teimosia, nunca sabemos quanto tempo somos capazes de resistir a tal asfixia. A luta é grande para sacar mais um fôlego.

Nesses fôlegos pode incluir-se alguns mimos do público, entrevistados, editoras, etc, mas a indiferença a que somos votados, principalmente pelos de "casa" e em questões tão triviais, é uma facada agravada e difícil de tratar. Numa região Açores com cerca de 240 mil habitantes, onde talvez cerca de apenas 200 sejam fiéis e empenhados seguidores da "cena", mas mesmo assim não têm certos hábitos "dogmáticos", ficamos reduzidos a um universo frívolo onde qualquer esforço de criação ou progresso vem disfarçado de fatalidade, a curto prazo, para nossas emoções, projectos e crenças. Facilmente nos sentimos frustrados e revoltamo-nos com a nossa ingenuidade. Não obstante as mais puras das intenções, sentimo-nos envoltos numa autêntica teia de conspiração onde forças invisíveis e inexplicáveis estrangulam nossos actos.

Gostávamos, sinceramente, de perceber porque numa área onde só existe dois veículos dedicados à promoção do Heavy Metal, e ainda mais, muito distintos, certas formalidades não sejam tomadas fazendo-nos até questionar todo o esforço que implica qualquer gravação de uma banda local. Em pleno século XXI ainda se admite que se negligencie a importância da "máquina" promocional - desde o mais "reles" blog à melhor revista do mundo?

Pode alegar-se a qualidade do serviço prestado, mas ao lado disso fica o desperdício de tempo, esforço e dinheiro para deixar selado na gaveta anos e meses de trabalho. Será uma questão pessoal? Será mera ignorância? Arrogância? Estupidez? Enquanto isso, continuamos a zelar pela nossa existência...

Nuno Costa

6 comments:

Miguel Raposo said...

caro amigo, compreendo a tua frustração. Mas infelizmente, as pessoas não mudam!

Abraços e continua com o bom trabalho.

Anonymous said...

Pois...

umlouco said...

A “máquina” de financiamento das entidades públicas é a mesma e funciona basicamente dentro dos mesmos princípios há longos anos. Compreendo a revolta que pessoas ou grupos sentem quando tentam promover algo e as coisas não correm da forma como estavam inicialmente à espera. Já passei alguns anos a lidar com estas coisas e nos últimos anos, sinceramente, vi desaparecer um pouco a situação de uns serem filhos e os outros enteados. Tenho visto nos últimos anos que muitas ideias, logo que bem estruturadas, se forem trabalhadas com um ano de antecedência (atenção um ano), tiverem uma entidade legalmente constituída como entidade promotora (Associação, empresa, algo com um número de identificação de pessoa colectiva) conseguem-se realizar com boas condições.
Por outro lado, infelizmente vejo alguns projectos “frustrados” que tentam a toda força ser algo grandioso mas começam tortos logo no texto de apresentação. E posso deixar aqui o exemplo de um que encontrei online um dia destes:
http://www.google.pt/url?sa=t&source=web&ct=res&cd=3&url=http%3A%2F%2Fu1.ipernity.com%2F12%2F83%2F41%2F5798341.09190e48.pdf%3Fdownload%3DOctober%2520Loud%25202009%2520Projecto2%2520spellrevisto.pdf&ei=5O60SuvLOYib_Qbl2MTEDQ&rct=j&q=m9events&usg=AFQjCNFdmBK9BwW0Pk93mxLh9rIj5Q7osg
Isto é sempre uma luta mantermos os projectos a funcionar, os da net por falta de colaboradores, financiamento, lutar contra ataques pirata, enfim… Os outros projectos estão confinados à dimensões e isolamento das ilhas, mas cá vamos andando e o que interessa é não desistir.

SoundZone said...

Atenção Mário, não me estou a referir a eventos, neste caso. Apenas a bandas e certas posturas. Embora a lógica da antecedência e da coesão também seja relativa.

Abraços e obrigado pela vossa atenção!
NC

umlouco said...

Em relação à promoção de bandas vai haver uma palestra dia 9 de Outubro no anexo da pousada de juventude sobre o assunto. Acho que vai ser um momento interessante para podermos reivindicar mais apoios nesse sentido, principalmente na promoção dos trabalhos das bandas fora dos Açores.

SoundZone said...

Sem dúvida nenhuma. Não tenho até receio de dizer isso: somos toscos e "primatas" a nos promover (falo de bandas). Pensa-se que ter uma grande banda é "comer" o instrumento que depois vem tudo ter connosco... Estou certo que o Fernando Reis vai deixar excelentes dicas ao nosso pessoal (que tanto precisa). Penso que para haver apoio, as bandas e as pessoas têm que se saber ajudar a si próprias. Nem isso fazem ainda...