Thursday, December 29, 2005

Concurso Guitarrista Metalicídio já com vencedores

Decorreu ontem a tão esperada iniciativa organizada pelo site açoriano www.metalicidio.com. O concurso de guitarristas Metalicídio reuniu ontem muitas dezenas de pessoas no bar PDL, em Ponta Delgada, num ambiente de casa cheia para presenciar o talento e a prestação dos 9 guitarristas concorrentes, já que 3 acabaram por desistir. Desta forma, o evento decorreu com o máximo rigor e entusiasmo, tanto por parte da organização [que tinha a lição bem estudada e se empenhou para que o evento começasse a horas marcadas, atrasando-se apenas 10 minutos] como do público, e assim, durante cerca de duas horas ouviu-se muita música e revelaram-se muitos talentos. A concurso estavam dois prémios em duas categorias - "Prémio Técnica" e "Prémio Criatividade". O júri elegeu como vencedor do "Prémio Técnica" Rodrigo Raposo [Massive Sound Of Disorder] e do "Prémio Criatividade" Luís Silva [Reborn]. Como prémio, cada um levou para casa um troféu, uma guitarra Jackson e um desconto de 50 euros nos Estúdios Nebur Records.

Brevemente, a SounD(/)ZonE publicará uma reportagem do evento e uma entrevista com as primeiras reacções dos vencedores.

Monday, December 26, 2005

"Portuguese Nightmare" - Tributo exclusivamente nacional

“Portuguese Nightmare – A Tribute To The Misfits” trata-se do primeiro álbum tributo inteiramente português feito a uma banda estrangeira. Lançado pela Raging Planet, esta compilação conta com versões do mítico colectivo de New Jersey efectuadas por bandas nacionais como os Easyway, The Temple, Mofo, Cinemuerte, D’evil Leech Project, [f.e.v.e.r.], We Were Wolves, TwentyInchBurial, Mata Ratos, entre outras, num total de 18 versões muito bem elaborados e adaptadas ao estilo de cada banda. O artwork do disco ficou a cargo do ilustrador Rui Sanguinho, o qual conseguiu, com o seu traço, um soberbo trabalho de adaptação à imagem que o grupo de Glen Danzig cultivava. Para terem uma maior ideia do que foi participar neste projecto, a SounD(/)ZonE recolheu a opinião de alguns dos intervenientes do disco:

É brutal para Simbiose participar neste tributo! É algo especial para nós, uma vez que, desde putos, ouvimos Misfits. A variedade sonora que têm, desde o rock, billy, punk e hardcore, influenciou a nossa adolescência. Misfits é a banda sonora daqueles momentos em que nos recordamos quando putos fazíamos merda e tínhamos as vizinhas a correr atras de nós de cabo de vassoura na mão!!! Esta compilação exclusivamente de bandas tugas é um marco histórico - o primeiro tributo só de bandas tugas e ainda para mais com a qualidade apresentada, que está excelente. Sentimo-nos privilegiados. Misfits é uma banda que influenciou metaleiros, punks e rockeiros como é provado neste tributo e sinceramente todos juntos fizemos jus a uma banda tão marcante na história da música.

Hugo Rebelo [SIMBIOSE]

Para ser sincero, os Misfits são uma banda que não marcou o nosso percurso como músicos. Penso que não há ninguém realmente fã dos Misfits nos Twentyinchburial! Mas é sempre positivo termos o privilégio de contribuir com o nosso trabalho para uma banda histórica que, apesar de não nos ter marcado pessoalmente, temos grande respeito por ela! De maneira que foi uma honra !!

Ricardo Correia [TWENTYINCHBURIAL]

Começou tudo por um simples convite para um tal tributo aos Misfits... Porque não? Certamente, é uma banda que todos os membros dos Capitão gostam ou acham piada e, certamente, co-habitam em muitos imaginários comuns. Mais a uns que a outros, é certo, mas também seria mentira dizer que nenhum de nós não curtiu uma das fazes dos Misfits. Ora mais agressivos e crus, ora mais "static-age" e "black elvis"... Há para todos os gostos. Escolhemos "Theme For A Jackal" após várias sondagens internas, demos-lhe uma roupagem nossa e mantemos o balanço tão característico do tema. E assim foi... Umas horas de estúdio no Crossover, a torrar a cabeça ao Sarrufo, e assim “parimos” o que podem ouvir no disco. Gostem ou não......já está. Nós gostamos!!

CAPITÃO FANTASMA

Friday, December 23, 2005

Heavy Christmas

A SounD(/)ZonE não gostaria de deixar passar esta data sem vos desejar um santo Natal e um feliz Ano Novo, cheio de música. Especialmente, a todos aqueles que lêem, apoiam e estimam a nossa fanzine. Um bem haja para todos!

Cumprimentos metálicos

Nuno Costa

Entrevista Hiffen

IMPACTO VULCÂNICO

Vencedores do Concurso Angra Rock 2003, os micaelenses Hiffen têm vindo a progredir no sentido musical e a nível de gestão da sua carreira. Se a vitória no Angra Rock já lhes tinha dado uma projecção e prestígio consideráveis, agora com o lançamento do seu disco de estreia – “Crashing” –, os Hiffen ameaçam conseguir um lugar importante no nosso panorama metaleiro nacional. “Crashing” é um disco de estreia bastante coeso, recheado de boas canções e com uma abordagem estilística que vai do power metal, ao progressivo, com algumas nuances góticas e uma agradabilidade pop em alguns momentos. Como mentor deste projecto, o guitarrista Renato Medeiros falou-nos da importância da vitória no Angra Rock, do lançamento deste disco, e das próximas metas a atingir com os Hiffen.


Renato, o vosso álbum está finalmente cá fora! Levou algum tempo até chegar este momento histórico...O facto de vocês terem auto-financiado o álbum é um dos motivos para se ter verificado este atraso?
Não. Este não foi o motivo pelo qual se deu um “atraso” no lançamento do álbum, mas sim outros, principalmente os motivos profissionais de cada um.

Mas porque se encarregaram de financiar todo o álbum sozinhos? Não surgiu nenhum apoio das entidades culturais ou nem se derem ao trabalho de pedir porque preferiram perfazer este percurso com a maior independência possível?
Nós não financiamos o álbum sozinhos, pois tivemos os apoios da Direcção Regional da Juventude, o primeiro prémio do concurso AngraRock 2003, e também através dos nossos concertos. Apenas a edição foi totalmente suportada por nós.

Por falar em AngraRock, sentes que foi a partir daí que ganharam ainda mais confiança para levar este projecto mais à frente? Fala-nos deste momento e já agora do que sentiste naquela altura...
Sim. Foi desde aquele dia que os Hiffen se sentiram ainda mais capazes de “demolir” as “barreiras” e os “limites” da música. Aquele foi e é um momento único e indescritível da minha memória, pois sei que me irei lembrar daquele dia para sempre. Naquela altura senti-me como se estivesse no centro do Universo e que um dos meus sonhos se havia tornado realidade.

Em que outros aspectos sentes que o Angra Rock é importante? O facto de terem convivido com os Paradise Lost trouxe-vos algum beneficio, conseguiram tirar partido disso?
Sem dúvida alguma que o Angra Rock é um concurso/festival bastante importante para lançar uma banda no meio musical açoriano e não só. Em relação ao convívio com Paradise Lost isto é outra coisa. Fez-nos ver que os “grandes” são como nós, sem nos estarem a menosprezar ou a qualquer outra banda, pois falam connosco como se já nos conhecessem há muito. Tiramos o proveito de ter ficado registados em várias páginas de jornais portugueses, e não só, e também em diferentes sites da net ao lado do nome “Paradise Lost” e “Killing Miranda”, que também merece alguma atenção!

E já agora, o que achas do público terceirense?...Estabelece uma comparação com o nosso.
Bem... pergunta difícil... (risos). O público terceirense é bem mais intenso que o micaelense e apoiou-nos como nunca dantes vi! Tivemos mais público que os próprios Paradise Lost e até sabiam algumas canções. O público micaelense também é intenso mas há um pequeno senão: apenas o são com as bandas não micaelenses.


Remontando agora ao vosso início, os Hiffen antes eram uma banda de rock português, certo? Como mudaram tanto ao longo do tempo? Fala-nos um pouco da vossa formação...
Certo. Os Hiffen tocavam um rock típico português do qual eu até nem desgostava, mas é claro que as mudanças são sempre feitas mais tarde ou mais cedo. Primeiro, em 2001, com as saídas do Hugo e do Marco e depois com a minha entrada, a da Catarina, a da Andrea e, finalmente, a do Rui. Com a saída do Hugo, os Hiffen tiveram que abdicar de todos os seus temas pois estes pertenciam a ele. Nada que não tivesse solução pois eu estava em alta e escrevi 7 temas que nos fizeram pelo menos percorrer alguns palcos mesmo em 2001.

Tu é que assinas toda o material do grupo... Porquê? Os restantes elementos da banda não participam no processo de composição?
Bem, eu “assino” todo o material do grupo porque eles assim o desejaram, desde a minha entrada lá, e tudo porque eu era quem mais tempo tinha para escrever e compor, mas todos os arranjos são feitos por todo o grupo, pois há muitas ideias que até eu, por vezes, não consigo ter sozinho!

Falando agora do vosso disco de estreia... Como foi trabalhar com o Luís H. Bettencourt e com o Paulo Melo? Segundo te ouvi dizer houve muito companheirismo e a aprendizagem acabou por ser mútua...
Trabalhar com eles foi algo de extraordinário, ou seja, para os que já os conheciam houve uma maior dinâmica e inteiramento de ideias mas, mesmo para aqueles que não os conheciam, este mesmo inteiramento acabou por se dar por igual. Todos nós ali aprendemos a crescer musicalmente e não só, pois nesta vida estamos sempre a aprender uns com os outros!

Já agora, o aspecto sonoro final do disco satisfaz-te plenamente ou não?
Sendo este o nosso primeiro álbum, no geral, o som final satisfaz-me plenamente pois ainda não ouvi nenhum outro álbum “made in azores” com a qualidade sonora que este propõe. Mesmo além fronteiras, as críticas têm sido excelentes e superaram as minhas expectativas!

Então “Crashing” tem sido bem recebido...
Sim, as críticas têm sido excelentes. Há muita procura do álbum em todo o país, e não só, e espero que assim continue.

Um infeliz ocorrido foi o facto de vocês terem tido pouco público a presenciar o lançamento do vosso CD... A que achas que se deveu isso?
Recebemos uma proposta para que uma outra banda pudesse lançar o seu álbum naquele mesmo dia. Concordei, mas deixei o alerta para que eles iniciassem antes das 22h e terminassem antes das 23h. Assim não aconteceu e a outra banda iniciou para lá da hora que eu propus, 23h25, e terminaram para lá das 00h15. Ficamos nós fulos e o público impaciente também! Não houve sequer um agradecimento nem um pedido de desculpas por parte deles o que não lhes teria ficado nada mal!

Já agora, e aliás como tens bem conhecimento disso, o público de cá é imenso crítico contigo pela forma como tocas e te expressas com a guitarra em palco... O que tens a dizer a essas pessoas? Como reages a essa situação?
Bem, desde novo que sou tímido, ou seja, a música levou-me a poder estar perante as pessoas e tive que perder este medo. Não o perdi ainda por total e já devem ter notado que em palco sou uma pessoa totalmente diferente daquela que sou fora dele. Tento apenas fazer o meu papel como artista e a forma como toco e me expresso é sem intenções secundárias, mas sim por prazer, e não quero que estas pessoas pensem que estou ali para ser exibicionista, mas sim porque estou a fazer aquilo que gosto e do modo como gosto!

Achas que isso tem prejudicado a vossa aceitação cá?
Sinceramente não sei!? Talvez se promoveres no teu site uma votação, isto possa ser esclarecido! Mas se for o caso eu passo a tocar sentado! (risos)

“Crashing” simboliza o quê? Este vosso álbum aborda que temas?
“Crashing” é impacto! É tudo o que queríamos causar com este nosso primeiro álbum e acho que a missão está a ser cumprida! Este álbum conta-nos de tudo um pouco, desde os primeiros passos deste nosso mundo até ao que poderá vir a acontecer. É uma antevisão global dos problemas e como estes devem ser ultrapassados!

A vossa situação contratual com as distribuidoras está em que pé? Já têm “Crashing” a circular pela Europa e pelo nosso país?
Em relação a distribuição, esta ainda está a nosso cargo mas já existem alguns contactos de boas editoras e apenas falta a proposta de contrato. Mesmo assim, “Crashing” já se encontra disponível em alguns países da Europa, e não só, através da net e por catálogos!

E para o futuro, que passos a atingir com os Hiffen?
Para o futuro estamos a preparar uma tournée para apresentação do álbum nos Açores e em Portugal e também, quem sabe, fora destes. Para além disso, já estou a preparar novos temas com vista a uma nova entrada em estúdio, talvez para 2007, mas de certeza que antes disto haverá um ou outro single para manter sempre a “chama” acesa!

E para finalizar, uma análise ao nosso metal açoriano.
Estou a par disto! Espero que com tantos talentos que temos, a nossa região possa começar a circular na “boca do mundo” musical. De ano para ano novas bandas são formadas e com bons valores, mas são necessário ter sempre coragem e inovação e isto eu tenho a certeza que todos serão capazes com esforço e dedicação!

PLAYLIST RENATO MEDEIROS

Hiffen – “Crashing”
Death – “Symbolic”
Control Denied – “The Fragile Art Of Existence”
In Flames – todos!
Labÿrinth – todos!

Nuno Costa

Entrevista Hate Profile

PERFIL CAÓTICO

De Itália chega-nos, pela Cruz Del Sur Music e distribuido pela Nemesis, o primeiro capítulo do one-man-project intitulado Hate Profile. Talhado à imagem do multi-instrumentista Fabio (a.k.a. Amon 418) “Opus I: The Khaos Hatefile” é a primeira parte de uma trilogia assente num conceito bem intricado de destruição e ruína da raça humana versus a procura e a exploração do lado espiritual. Tudo isto vem embrulhado num black metal frio e tenebroso, carregado de um negativismo bem à altura do conceito aqui inerente. Amon 418 apresentou-nos o seu projecto muito pessoal e deu-nos a conhecer o valor metafórico, esotérico e espiritual de “The Khaos Hatefile”.


Os Hate Profile existem desde 1998, embora tenha demorado algum tempo até que tomasses uma decisão definitiva sobre o caminho que querias tomar com a banda...Inclusive, chegaste a fazer algumas sessões com outros músicos, mas tudo isso parece que não te satisfez...Explica-nos a história por trás da formação dos Hate Profile.
Sim, os Hate Profile existem desde 1998, mas demorou algum tempo até que achasse o som certo. Cheguei a ensaiar com alguns amigos de bandas locais com os quais aliás ainda colaboro, mas cheguei à conclusão que este era o meu próprio caminho, a minha própria expressão. Por isso, simplesmente decidi prosseguir por minha conta, não porque estivesse insatisfeito com os músicos, mas sim porque achei que este era um projecto particular.

E como classificas a particularidade dos Hate Profile?
É um projecto particular porque, acima de tudo, é uma banda conceptual. Eu escrevo todas as letras e quero que a música encaixe na atmosfera invocada sem ter que discutir com alguém acerca do som ou de outra coisa qualquer. Não menos importante, é o facto dele estar intimamente ligado à minha evolução, como que uma espécie de “crescimento alquímico”... É impossível partilhares tudo isso.

Uma vez que a maior particularidade dos Hate Profile é o seu conceito, fala-nos dele...
Sim, este é realmente o ponto mais importante dos Hate Profile. Tanto que as letras de toda a trilogia já estão completas desde 2004. O conceito em questão foca mais que um tema, uma vez que quis que as letras fossem “multi-níveladas”, também quis que elas tivessem vários significados consoante a maneira que o lesses. Nele podes encontrar verdadeiro ódio, amargura, visões apocalípticas...Mas também podes encontrar um patamar espiritual, incluindo todas as coisas que servem para construir um campo desses: procura interior, dor, referências esotéricas, metáforas as quais podem ser definidas de várias formas consoante a forma como olhas para elas. Espero que alguém penetre profundamente nesse conceito para encontrar a sua própria interpretação.

Já agora, onde foste buscar o pseudónimo Amon 418?
Escolhi esse nome porque encaixa comigo. Sou um europeu que tenta seguir o seu caminho solar, mas que também sente o chamamento da noite, do mistério, a cor negra da nossa Era chamada Kali Yuga. Daí o nome Amon (Sol Negro): trata-se da terceira manifestação do Sol segundo o antigo Egipto, o Sol durante a sua jornada negra através da noite antes de imergir na Luz do Novo Dia. O significado de 418 daria um livro inteiro!! Digamos que me representa de diferentes formas: está relacionado com o Fogo, com o número 13, com a iniciação, o 1 significa unidade, espírito; 8 representa a força resgatável de Mercúrio. O universo (4) está unido (1) pelo poder do espírito (8). 418 significa meditação, unidade, vácuo, o filho de Horus, a visão e a voz, a linha central do mundo.

Como processas o encaixe da música neste conceito lírico?
Simplesmente deixo-o fluir. Ás vezes crio um riff e, imediatamente, sinto que foi concebido para encaixar em certa parte da letra. Ás vezes simplesmente leio uma letra e sinto-me inspirado para criar um riff. Eu não tenho nenhum método para além da intuição. Obviamente, este não é um processo totalmente livre, eu ajo dentro de uma escala: a música tem que reflectir o modo das palavras. Mas, como disse, eu não imponho regras. Por exemplo, o tema “17 Empty Rooms” teve um processo realmente mágico. As letras foram escritas em 5 minutos, comigo sentado no chão, como se tivesse recebido uma “visão”. Quanto toquei o seu riff pela primeira vez soube imediatamente que tinha sido feito para aquela canção.

Faz-nos uma pequena introdução aos dois capítulos que faltam desta trilogia.
Bem, eles intitulam-se “The Soule Proceeds...Amongst The Dead” e “Spirit Breed Era Vulgaris”. Todos os três álbuns são muito parecidos do ponto de vista existencial: eles representam a revolta, a raiva, uma visão negra da decadência. Mas eles diferem fortemente na sua essência. A viagem esotérica fortalece-se, a consciência própria cresce dia-após-dia, a procura interna continua e não pode parar. O segundo capítulo vai ser mais directo, abordando as manifestações degeneradas do mundo moderno, as suas pessoas e religiões degeneradas. O terceiro capítulo traz individualização – sabemos o que somos. Sabemos o que devemos ser. É uma marcha, um orgulho...Infelizmente, é também falta de esperança, uma batalha já perdida que tens que combater de qualquer maneira. Não existe regresso para o “guerreiro espiritual”.

Musicalmente, o que podemos esperar dos próximos dois discos?
O segundo vai ser mais agressivo, caótico e rápido. Tenho uma série de riffs de black metal desarmónicos, será menos melódico do que o “The Khaos Hatefile”. No entanto, irá ter provavelmente mais uso de sintetizadores, mas sempre sendo algo violento, doentio e caótico. Estarão também presentes no segundo disco um par de temas escritos em 2002... Quanto ao terceiro capítulo, ainda é muito cedo para dizer como ele vai soar. Provavelmente, mais atmosférico...

O Grom é um músico com quem já partilhaste velhos projectos, certo? Foi por isso que o escolheste para integrar este projecto?
Eu toco com o Grom nos Hortus Animae, uma banda em que colaboro desde 2003 tocando um tipo de música extrema muito diferente: uma mistura gótica, progressiva, “dark” e melódica. Obviamente, conheci-o por ser o baterista dos Ancient. Andava à procura de um baterista convidado e foi com naturalidade que escolhi o Grom para tocar nos temas, uma vez que conheço as suas capacidades. Ele é capaz de se sentar, ouvir rapidamente um riff e, simplesmente, acompanhá-lo, fazendo preenchimentos de improviso que ele só vai fazer uma vez na vida. Eu achei isso muito enquadrado com o “The Khaos Hatefile”, por isso, eu só tive que dizer o que queria para os diferentes temas e depois deixá-lo tocar livremente e instintivamente.

Uma vez que és o único compositor do projecto, como é que suportas todas essas tarefas sozinho?
Sim, sou o único compositor do projecto. E também quero continuar a produzir o projecto. Já tive demasiadas más experiências no passado e, desta vez, quero que os Hate Profile soem exactamente como eu quero. Não é muito difícil aguentar tudo isto sozinho, é sim difícil arranjar tempo para produzir algo diferente como o projecto electro/ambiental que estou a planear há já um par de anos. De qualquer maneira, esta é a única maneira de fazer os Hate Profile funcionar, esta é uma viagem pessoal. É suposto ela ser entendida e filtrada pela sensibilidade das pessoas, mas vai continuar a ser uma expressão da minha própria alma. Uma alma lacerada, antiga e em luta, deixando o seu legado oculto para os tempos que hão de vir.

Em relação à imprensa e ao público em geral, já nos consegues apontar tipos de reacções?
Já tivemos algum feedback, mas ainda é muito cedo para dizer alguma coisa. Amigos, músicos, distribuidoras e zines parecem ter gostado, mas não consigo relatar nada acerca do público. Fico feliz por ver que as pessoas percebem e tentam dar um sentido pessoal ao disco.

Tendo em conta que Hate Profile é um projecto de uma pessoa só, como planeias a sua vertente ao vivo?
Não sei se alguma vez vou tocar ao vivo com Hate Profile...Ás vezes penso que gostaria. De qualquer maneira, isso exige certas coisas: um bom equipamento, um bom sítio, músicos de respeito com quem partilhar o palco... Lamento, mas após 15 anos de sangue e suor – muitas vezes – perdido, eu nem gosto de ouvir a palavra “compromisso”...

Existem muitas bandas de black metal na Itália? Como está a cena nacional?
Eu penso que a Itália tem uma cena verdadeiramente forte e cheia de vitalidade. Infelizmente, os italianos parecem só estar interessados no produto estrangeiro. Mas temos, efectivamente, muitas boas bandas, tanto na área do old school como na avant-garde, por isso tenho a ideia de que isto ainda vai mudar. Eu aprecio verdadeiramente, e apoio, bandas como os Aborym, Ensoph, Spite Extreme Wing, Thee Maldoror Kollective, Impure Domain, Hiems, Grimness e muitas mais. Eu irei muito provavelmente colaborar com algumas delas no futuro, e com músicos do resto da Europa...O tempo o dirá...

E a nível de influências, que bandas te inspiram?
Eu tive muitas influências ao longo do tempo. Eu oiço Thrash, Death e Black Metal desde os finais dos anos 80. Toquei numa banda de Thrash/Death de 1990 a 2000 e continuo a gostar de todo este tipo de música, embora o Black Metal me assente melhor. Eu continuo a tocar Death Metal técnico com os Opposite Sides, mas encontrei a minha própria dimensão noutro sítio. Não me sinto muito inspirado por bandas...Mas realmente aprecio e respeito o lado artístico de um grande leque de músicos. Considerando Hate Profile, eu sinto-o perto de Satyricon, Thorns, Darkthrone, Dissection, Disiplin, bem como com as bandas italianas que misturam Black Metal com electrónica e elementos industriais que mencionei atrás. Oiço ainda EBM, música electrónica, Noise, Industrial, musica ambiental...

Um último comentário para os Açorianos e para os leitores da SounD(/)ZonE em particular.
Primeiro que tudo, obrigado a ti pelo interesse nos Hate Profile e pela agradável e interessante entrevista. Para o público: sejam vocês próprios, mantenham-se fortes e, orgulhosamente, caminhem sobre as Ruínas.

PLAYLIST AMON 418

Aborym - “With No Human Intervention”
Satyricon - “Rebel Extravaganza”
Thee Maldoror Kollective - “New Era Viral Order”
Thorns - “Thorns”
Ulver - “Blood Inside”

www.cruzdelsurmusic.com/H_P_MP3/prev_hateprofile.htm

Nuno Costa

Wednesday, December 21, 2005

HIFFEN
“Crashing”

[CD – Edição de autor]

Formados em 1996 pelas mãos de Lizardo Melo (guitarra), Marco Couto (guitarra), Nuno Pereira (baixo) e Mário Tavares (bateria), este colectivo do Pico da Pedra (S. Miguel) viria a substituir o seu inicial nome - Angel Minds - para Hiffen, um ano mais tarde, com a entrada do vocalista Hugo Sousa. Nesta data explanavam um rock tradicionalmente português, mas as mexidas no seu line-up, nomeadamente a saída de Hugo Sousa e Marco Couto, em 2001, para a entrada de Renato Medeiros (guitarra solo) e Catarina Medeiros (voz), começou a operar uma mudança profunda na sonoridade dos Hiffen. Em 2002, com a entrada de Rui Sousa para os teclados e de Andrea Furtado para as segundas vozes, veio a consolidar-se uma nova fase na carreira dos Hiffen, com o Rock português a dar lugar a um Power Metal com algumas nuances progressivas. Em 2003 deu-se o maior marco na carreira dos Hiffen, com a vitória no Concurso Angra Rock e consequente abertura para os britânicos Paradise Lost. Desta forma, abriram-se-lhes muitas portas e criaram-se condições para que este álbum nos chegasse mais cedo. Sendo assim, 2005 marca mais um momento histórico para a banda (e para o metal açoriano) com o lançamento do seu primeiro álbum.

A experiência que o grupo foi granjeando ao longo dos anos permite-lhe agora demonstrar um conjunto de composições maduras e muito coesas, bem estruturadas e com uma capacidade notável de apelar pelo seu sentido melódico e de canção. Sendo assim, temos nas baladas “Empty Sea” e “Soul Never Ends” (este último a fazer lembrar as bandas Hard Rock dos anos 80 pelo ecoar de tarola) dois potenciais hits de rádio pela sua melodia e certo cariz pop. Por falar em cariz pop, esta é uma característica que se mantém muito presente no som dos Hiffen pela sua parte vocal, já que as capacidades vocais de Catarina Medeiros estão muito longe de atingir aquelas que normalmente figuram nas frontwomans deste tipo de bandas, como por exemplo Tarja Turunen, Sharon Den Adel ou mesmo a nossa Ana Lara (Oratory). Assim, envereda-se por um caminho mais sóbrio e de registos médio/baixos, longe dos registos sopranos característicos do estilo. De qualquer forma, é de admitir que este factor até contribui para fugirem a um certo cliché, mas as limitações de Catarina, nomeadamente em notas altas, e mesmo na clareza da dicção, acabam por tornar este material um bocado monótono. Não fosse o excelente suporte da bela voz de Andrea Furtado e o resultado não soaria certamente tão brilhante. De qualquer forma, os Hiffen surpreendem pela qualidade das suas composições e pela forma como inserem alguns elementos progressivos nos seus temas, como no início de “Blind Thought” [com seus compassos bem intrincados], um aroma gótico em “The Never Endless Road” [especialmente pelos floreados dos teclados] e ainda a velocidade de “Look Upon the Rainbow” a invocar os típicos temas power metal. A gravação apresenta-se cristalina e coesa, notando-se apenas alguma falta de força nas guitarras.

No cômputo geral, este é sem dúvida um marco importante para o panorama Heavy açoriano e para os Hiffen, obviamente, pois estão a dar um primeiro passo importantíssimo na sua carreira. Musicalmente, resta-nos esperar que crescam ainda mais com o tempo pois, pela prova que já deram a nível de composição, são capazes de fazer cada vez mais e melhores canções. [7/10] N.C.

Tuesday, December 20, 2005

THRASH PUBLISHING pelo Metal Nacional

A THRASH PUBLISHING tem disponível mais um "pacote" só de itens nacionais.

- PITCH BLACK - "Thrash Killing Machine" (CD)
- LVPERCALIA - "The New Blood" (MCD)
- ARAUTO MAGAZINE #4 (fanzine com CDr compilação)
- UNDERWORLD - Entulho Informativo (Magazine)

Todos estes produtos nacionais por apenas 15.00 € e sem quaisquer despesas de envio. São 4 bons produtos nacionais por um valor quase simbólico. Os interessados devem dirigir seus pedidos para:

thrash_pub@hotmail.com

http://www.metaldistro.pt.vu/

Sunday, December 18, 2005

Manifesto com blogspot

Os Terceirenses Manifesto têm agora um espaço na internet - www.manifestoazores.blogspot.com - um blog com o objectivo de divulgar o grupo e todas as novidades que forem surgindo a seu respeito. A banda de punk rock da ilha Terceira formou-se em 1997 e conta já com uma vasta experiência de palco, nomeadamente uma honrosa passagem pelo Hard Club, em Gaia. Este ano editaram a maqueta "Manifesto" e poderão escutar alguns dos seus temas em www.myspace.com/manifestoazores.
E-Mail: manifesto97@hotmail.com

Tuesday, December 13, 2005

Entrevista Byzantine

VENENO DE SERPENTE

Do pacato estado de West Virginia, nos Estados Unidos, surge um dos actos mais surpreendentes da nova vaga de metal norte-americana. Não presumíveis de se reduzir a vulgar metalcore mas sim misturado com thrash metal (na veia de uns Meshuggah), a melodia de uns Killswitch Engage e ainda solos à Pantera - com uns requintes tribais aqui e ali -, os Byzantine assinam um dos mais surpreendentes trabalhos que nos chegou ultimamente. De seu nome “...And They Shall Take Up Serpents” [2005] sucede a “The Fundamental Component” de 2003, e ameaça trazer rapidamente os Byzantine para a ribalta das novas tendências do metal extremo. São compostos por apenas 3 elementos – Chris “OJ” Ojeda [vocalista, guitarrista], Tony Rorhbough [guitarrista, baixista] e Matt Wolfe [baterista]. Chris Adler [baterista de Lamb Of God] apadrinhou este projecto...Percebemos bem porquê. Do outro lado do Atlântico – Matt Wolfe.

Quando decidiram formar os Byzantine?
A ideia partiu do OJ, do Tony e do nosso antigo baixista – o Chris – que formaram o grupo há cinco anos atrás. Eu juntei-me à banda um bocado mais tarde, à três anos atrás mais precisamente

Vocês fizeram parte de outras bandas antes, certo? Não conseguiram realizar-se nestes projectos antigos?
Sim, passámos por outras bandas antes, mas torna-se um bocado difícil notabilizarmo-nos quando estamos localizados onde estamos...

Fala-nos dos vossos gostos musicais…
Eu oiço imenso metal mais antigo, nomeadamente Thrash. Também muito jazz e blues... Basicamente, tudo o que envolva talento.

E em relação ao universo Byzantine? Sentes que se trata de algo realmente refrescante?
Pelo menos sinto que não é tão maçador como muita coisa que há por aí...

Algumas pessoas dizem que o facto de vocês viverem em West Virginia, um lugar sem um verdadeiro panorama metálico, faz de vocês uma banda com um som muito próprio...
Eu penso que este facto tem contribuído para nos separarmos de uma cena actual algo saturada dentro da musica de peso. Eu penso que temos um som diferente de muitas bandas que andam por aí hoje em dia e ser de West Virginia é de facto uma grande razão para isso.

Tanto quanto sei o Chris Adler [baterista dos Lamb Of God] foi um importante elemento no lançamento da vossa carreira...
Sim! O Chris ouviu algum material das nossas velhas demos na Internet e sacou-os, penso que foi assim... Portanto, sendo o individuo porreiro que é, assinou-nos pela sua antiga editora.

Vocês têem feito muitos concertos com eles, bem como com outros nomes muito conhecidos. Como te sentes em relação a essas experiências?
Têm sido experiências muito enriquecedoras. Penso que nos ajudou muito, como músicos, a pagar as nossas contas...

Falando agora do vosso novo álbum…Como é que ele tem sido recebido?

Estou certo que ele poderá parecer estranho nas primeiras audições. Mas nós quisemos escrever um álbum complexo e denso que fosse crescendo à medida que o ouvinte o fosse escutando.

Quais as diferenças entre este novo álbum e o anterior “The Fundamental Component”? Achas que conseguiram atingir todos os vossos objectivos com este novo trabalho?
Bem, nós somos todos muito perfeccionistas, por isso penso que nunca vamos atingir todos os nossos objectivos à medida que as gravações decorrem, mas chegamos bem perto desta vez. O “The Fundamental Component” podia ter sido muito mais trabalhado a nível de mixagem e da masterização, mas ficamos sem tempo nem dinheiro para isso. Eu penso que ele resultou bem, mas sempre haverão coisas que iremos querer mudar.

Fala-nos dos temas que vocês gostam de abordar... O último “The Fundamental Component” falava muito da religião e dos problemas da sociedade. E quanto a este, o que vos inspirou?
O OJ é que escreve a maioria das letras. Muitas delas são sobre assuntos relacionados com a nossa localidade, porque é o que conhecemos e sentimos. Alguns dos temas têm significados múltiplos e penso que cabe ao ouvinte retirar o sentido que quer de cada tema.

E porquê o nome Byzantine?

O OJ apareceu com o nome porque passou uma vista de olhos pelo dicionário e o significado de Byzantine era “carregado por um cruel e subjugado método” e ainda “complexo”, o que efectivamente encaixa muito bem no nosso som.

Vocês finalmente têm um álbum a circular na Europa. Isto ainda não havia acontecido ou já?
Ambos os nossos álbuns foram editados na Europa, pelo menos assim espero!(risos) É suposto estarem.

E quanto a concertos, já estiveram na Europa?
Tivemos em tournée no Reino Unido duas vezes, mas nunca tivemos oportunidade ainda de ir para o velho continente.

E desta vez há hipóteses disso acontecer?
Bem, nós realmente gostaríamos muito, mas teremos que fazer um grande esforço financeiro para ir para a Europa. Da última vez que fomos para o Reino Unido regressamos a casa num estado financeiro muito debilitado.

Pois, realmente as coisas são difíceis... Pelo que li, o OJ ainda mantém dois empregos, um de entregas de pizza ao domicílio e outro numa empresa de justiça, para poder se sustentar...
Pois...Definitivamente, ainda não ganhamos o dinheiro suficiente para poder viver disto.

No entanto, devem estar ansiosos por aqui vir, pois sabe-se que o público europeu está mais sintonizado com o vosso som do que o americano...
Eu penso que nos íamos dar bem na Europa. Lá as pessoas têm uma melhor apreciação de música.

PLAYLIST MATT WOLF

Forbidden - "Twisted Into Form"
Darkane - "Layer Of Lies"
Overkill - "Horrorscope"
Iron Maiden - "Seventh Son Of A Seventh Son"
Demolition Hammer - "Time Bomb"

Nuno Costa

Wednesday, December 07, 2005

Entrevista IRA

MITOLOGIA HISPÂNICO-ÁRABE

Detentora de uma voz forte, melodiosa e com uma ligeira sujidade rock, Célia Lawson é a cantora que venceu o Festival RTP da Canção em 1997 e se notabilizou pela chegada à final do “Chuva de Estrelas” em 1996. Passou por várias bandas, para além de muitas presenças na televisão e até mesmo em anúncios e spots publicitários, sempre acompanhada pelo seu espírito esotérico e multiétnico. De descendência Irlandesa, Célia Lawson chega agora ao seu segundo trabalho intitulado “On The Road To The Unknown”, sucessor de “Faith” de 2002. Olhando para o seu currículo, não se pense estranho termos aqui um trabalho como o de Célia na nossa fanzine. E se lhe dissermos que “On The Road To The Unknown” é distribuído pela Recital? E se lhe dissermos que Gonçalo Pereira é o guitarrista e produtor deste trabalho? Bem, não se espere um trabalho demasiado pesado deste disco, como é óbvio, quanto muito rock, mas acima de tudo um trabalho muito experimental, exótico, de muito bom gosto, cruzado com a World Music e o conceito da profetisa IRA (séc X.) que dá o nome a este projecto. Para vocês, uma admirável artista surpreendida pela nossa abordagem – Célia Lawson.

Para quem ainda tem dúvidas de quem é a Célia Lawson conta-nos lá um pouco do teu percurso como artista...Que começou bem cedo por sinal!
Sim, comecei tocar guitarra aos 11 anos. Aos 14 tinha a banda na escola e já fazia as minhas músicas e registava-as na SPA! Depois toquei em bares, coros, com a Adelaide Ferreira em digressões, e mais tarde televisão.

De certa forma não será estranho vermos-te agora a assinar um trabalho um pouco mais rock daquilo que são as tuas apetências mais naturais, pois ao longo dos anos tu passaste por algumas bandas de rock, certo?
Exactamente. Nos Mital - uma banda hard rock feminina – onde era guitarrista e segunda voz, nos V12 onda era terceira voz... Fiz parte também dos Crash - um projecto de covers - , gravei o meu álbum “Faith” e ainda - quando o seu vocalista está de férias - canto com os Rockover.

Já agora, de que lado te sentes melhor?
Não tenho qualquer escrúpulo em dizer que, apesar de neste país nos apelidar-mos de azeiteiros, drogados e malucos - isto até na primeira pessoa -, que sou apenas genuína quando canto este estilo e pronto. Acabou. Mas queria ainda acrescentar que a minha honra é tanta que quando canto sinto que sou a “Ira”.

Quem é a Ira? Explica-nos melhor qual é este conceito místico inerente ao teu projecto.
As bandas escandinavas de metal são coerentes nas suas origens - deuses eslavos, influências eslavas, até financiamentos eslavos! Li um artigo na “Loud!” que me fez roer de inveja... Claro que quando um compositor norueguês pediu um fundo de maneio ao governo para gravar um álbum de metal com a intenção de falar das raízes da Islândia, sobre o seu povo, isto é utópico para mim que quis falar das influências hispânico-arabes no “On The Road To The Unknown”... Ira - que lê-se Aira - é uma profetisa do Sec X. Ela canta, dança e voa no universo tal qual uma Ira como ela quis ser. Tem asas, é incólume, atribuí-lhe todos os dons árabes de encantar, com a vingança no olhar que traz da Inquisição espanhola quando lhe chamam de pecado. É eterna e faz-nos sonhar com o conceito mitológico de ressurgir ciclicamente no tempo com o exemplo mais imediato do imaginário vampírico.

Quanto à composição... É fácil pensar nas coisas num lado rock e mais world music quando crias as tuas canções ?
Nós vivemos no ano V do séc. XX, posso misturar World Music com lã (risos) e isso gerar música... A tecnologia no rock pode-me influenciar e escrever poesia moralista e gerar o conceito avangart-pós Seatle. Não querendo ser original, beber em duas fontes tão distintas como Ozzy Osborne e Kaleb, se os situarmos geograficamente, estamos a ouvir praticamente o mesmo.

Li também que és capaz de cantar em italiano, espanhol, francês, para além do português e inglês. De onde te vem essa “polivalência” linguística?
Sim, e para além dessas também em árabe e alemão. Estudei algumas línguas, fui hospedeira da nossa companhia aérea em tempos. Para além disso, sou do tipo de comprar cursos de línguas e, por hobbie, aprendê-las .

Sei que já trabalhaste com muitos artistas... Mas como surge agora a participação do Gonçalo Pereira contigo neste trabalho? E já agora, quem são os restantes membros que trabalham contigo neste disco?
Mauro Ramos - um excelente baterista, um dos melhores que já conheci e com quem trabalhei. Dikk - um virtuoso baixista que também me encantou quando as suas qualidades de guitarrista foram demonstradas no tema Budapest, totalmente gravado por ele, não posso deixar escapar este pormenor... E o Gonçalo Pereira - um dos melhores músicos que já conheci até hoje... Ele queixa-se se de quando eu era vocalista dos V12 e nós precisámos de um condutor para levar a carrinha chamámos o Gonçalo e eu nem lhe disse obrigado! Quem diria que este gajo se tornaria num dos maiores guitarristas de Portugal e com quem ainda não toquei? Acho que foi uma maneira de lhe agradecer.

Este álbum já te tem trazido algumas surpresas?
Ter o “On The Road To The Unkown” nas Fnacs é uma grande surpresa... E esta entrevista, claro!

A nível de influências, diz-me que artistas te mais inspiram. Deixa-me que te confesse que me fazes lembrar por momentos a Alanis Morissette, a vocalista dos extintos 4 Non Blondes ou mesmo a Dulce Pontes!
Muito obrigada! Influências?... Bem, Metallica, Rammstein, System Of A Down , Cradle Of Filth, U2, Ozzy Osbourne, Robbie Williams e a minha mãe musical - Tina Turner.

Uma curiosidade! Esclarece-me: na página de agradecimentos no booklet do “On The Road To The Unknown” vejo-te mencionar que vocês usam um riff de Killswitch Engage e ainda excertos dos Gipsy Kings em determinados temas vossos! Fala-me disso.
Em vários temas da Pop que tenho verificado a utilização de samplers de outras músicas, como por exemplo a Madonna com o som dos Abba... Eu achei ideal samplar, o riff dos Killswitch Engage no tema “On The Road”. É apenas uma actualização, suponho... Exceptuando no “Andaluzia” em que o laire é do tema “Vento Del Arena “ um saborosíssimo tema instrumental andaluzo dos Gipsy Kings... Eu cantava o laire sempre que ouvia esse tema.

Agora, como vai decorrer a promoção a este álbum? O que há planeado?
É segredo, é segredo…(risos)

Célia, tu que já fizeste tanto na tua carreira, em diversos ramos, o que esperas ainda vir a concretizar na tua vida?
O DVD do “On The Road To The Unknown” ao vivo, é o que há-de vir, esperemos.

Para terminar, uma palavra para definir este álbum e que “caminho” é esse para onde te estás a dirigir?
Eu semeei, quero plantar, quero voltar a plantar, um não ás secas!!... O “Unknown” que me indique o caminho.

Nuno Costa

Playlist Célia Lawson:
- "My Last Seranade" –
Killswitch Engage
- "Planet Hell- Nightwish
- "Cigaro" – System of Down
- "New Blood" - Lvpercalia
- "Violent Pornography" – System of a Down

Tuesday, November 29, 2005

BYZANTINE
“...And They Shall Take Up Serpents”

[CD – Prostethic Records/Recital]

Ora aqui temos uma verdadeira surpresa, pelo menos para mim, vinda de West Virginia, Estados Unidos – os Byzantine. Este trio composto por Chris “Oj” Ojeda nas vozes, guitarras e piano, Tony Rohbrough nas guitarras e baixo e Matt Wolfe na bateria, percussão e dando também um cheirinho na guitarra acústica, lança agora o seu segundo álbum e, pelo menos para aqueles que não tiveram conhecimento do debutante “The Fundamental Components”, este “...And They Shall Take Up Serpents” revela-se realmente uma agradável surpresa. Se olharmos para o catálogo da Prosthetic Records, rápido nos apercebemos da política de contratações da mesma – metalcore e novas tendências da música extrema. Mesmo assim temos que lhes reconhecer o devido mérito por algumas das valiosas peças do seu catálogo como Lamb Of God, HIMSA ou All That Remains, o que só vem demonstrar os bons olheiros de que a editora dispõe. Estes Byzantine são, sem dúvida, outra excelente aquisição, talvez das melhores do catálogo, e quando, pelo que se disse, se possa pensar que eles não passam de uma vulgar banda de metalcore, então aí enganam-se. É verdade que neste álbum há muito metalcore pulverizado, mas mesmo para mim que não sou um confesso apreciador do género, esta banda conseguiu-me cativar. Isto porque a banda de Chris é suficientemente dinâmica, criativa e audaz para conseguir criar álbuns e temas que vão para além das concepções típicas do metalcore. Senão vejamos.

“Justicia” abre com o peso tremendo e os compassos de uns Meshuggah para logo à frente demonstrar o enorme potencial técnico dos seus músicos com solos de guitarra a fazerem lembrar Dimebag Darrel ou Dave Mustaine. O travo a Meshuggah, num exercício neo-thrash tão agradavelmente aqui injectado, continua a surgir nos temas enquanto alusões a Lamb Of God dão personalidade metalcore ao disco. A voz de Chris Ojeda acaba por ser uma das maiores surpresas deste trabalho, ao demonstrar ao terceiro tema - “Jeremiad” – que também sabe cantar e tem uma voz limpa fortíssima, na onda altiva de Howard Jones. Este tema revela-se dos mais interessantes do disco, e apesar de chegar a assustar com um refrão mais melódico, a sua construção, peso inerente e leads de guitarra de extrema beleza – isso já para não falar no subtil piano que aparece na recta final do tema – revela que os Byzantine não constróem temas à toa, tentando fugir sempre à banalidade e incutindo sempre uma imprevisibilidade que nos desperta constantemente os sentidos. Exemplos disso temos ainda a passagem acústica, com travo meio oriental meio tribal [graças à inclusão das congas] em “Ancestry Of The Antichrist”, ou ainda o piano melancólico inicial de “Five Faces Of Madness”, ou mesmo a viola acústica e delicada a iniciar “Red Neck War”. Vozes e coros limpos também marcam presença como por exemplo em “Temporary Temples” ou ainda no final “Salem Ark” onde Chris nos faz recordar Burton C. Bell nos seus refrões melódicos. Com tudo isto já poderão ter percebido do que se trata aqui, ou pelo menos aguçado o vosso apetite para descobrir essa banda. Muito peso, muita dinâmica, solos apreciáveis e melodia q/b num preparado capaz de agradar aos fãs de Lamb Of God e Chimaira, mas também aos de Pantera, Slayer, Clutch e Meshuggah. [9/10] N.C.

Monday, November 28, 2005

JAMES LABRIE
“Elements Of Persuasion”
[CD – InsideOut/Megamúsica]

Como é tradição nos músicos de metal e rock progressivo acumularem às suas funções nas suas bandas de raiz outras em projectos paralelos, também James Labrie não fica distante do comboio. Iniciando a sua carreira a solo em 1999 sob a designação Mullmuzzler, Labrie chega agora ao seu terceiro trabalho desta vez sob designação própria. O vocalista reconhecidíssimo pela sua aliança com os Dream Theater junta-se de novo a uma nova companhia de estrelas para erguer este trabalho muito curioso. Falamos do teclas Matt Guillory [Dali´s Dilemma] que aliás co-produziu este álbum com Labrie, o baixista Brian Beller [Steve Vai], o mago da bateria Mike Mangini [Extreme, Annihilator] e o ilustre desconhecido Marco Sfogli, guitarrista italiano responsável pela grande coesão deste disco. Ora desde já convém adverter para o facto de que este álbum não é nenhuma cópia de Dream Theater, salvo alguns riffs mais pesados e especialmente passagens de solos onde aí Sfogli se demonstra grande seguidor de Petrucci. Mas em todo o resto, e apesar da voz de Labrie, toda a envolvência deste disco se apresenta muito longe da complexidade dos trabalhos dos Dream Theater ou de outras de natureza prog mais intricada. Este disco de Labrie apresenta-se surpreendentemente orientado para o peso com momentos de tremendo groove. Os riffs de Sfogli fazem lembrar por vezes Metallica [como no tema de abertura “Crucify”] ou até mesmo Korn com a simplicidade do riff de “Oblivious”. Mas com isso não se pense que atinge uma superficialidade nu-metal, pois todo o virtuosismo de Sfogli e a presença das teclas realçam todo o pressuposto progressivo destas composições. Superiormente condensadas e equilibradas, com uma produção assombrosa, os temas de “Elements Of Persuasion” apresentam um magnetismo mágico, demonstrando uma rara apetência para se ser pesado, progressivo e ao mesmo tempo orelhudo. Não há definitivamente aqui um tema em que o refrão nos passe despercebido ou não fique retido no ouvido. Deveras um resultado difícil de atingir, ainda mais no meio de riffs tão pesados como os que desfilam neste álbum. Mas ainda assim temos lugar sempre a muita melodia, especialmente nos temas “Alone” e “Smashed”, duas baladas onde se evidenciam bem as teclas de Matt Guillory e a suavidade da voz de Labrie. Voz de Labrie que surpreendentemente se encaixa muito bem no meio do poder da distorção das guitarras. Em suma, um álbum muito requintado, fértil em peso e melodia numa mistura perfeita que faz destes doze temas uma peça valiosa, fortalecida pela importância fulcral de cada uma das suas parcelas, construindo assim um álbum excelente. [9/10] N.C.

Thursday, November 24, 2005

O sucessor do EP "…from the ashes" (edição de Autor - 2004) dos QUETZAL'S FEATHER é o Maxi Single "...Where And How The Past Still Echoes..." e será lançado num concerto de apresentação a 2 de Dezembro no bar Blá Blá em Matosinhos pela Corpos Editora. Este terá 5 novos temas, e a produção esteve novamente a cargo de Rodolfo Cardoso. A banda deposita grandes esperanças neste seu novo trabalho!

Entretanto a banda vai iniciar a rodagem dos novos temas por vários concertos. Ficam aqui as datas confirmadas e prometem-se novidades para muito breve:

- Whisky Bar em Braga (Prado) a 26 de Novembro;
- Blá Blá em Matosinhos a 2 de Dezembro – apresentação do Maxi Single;
- Bar Fashion em Vila Real a 17 de Dezembro.

Wednesday, November 23, 2005

MESHUGGAH
“Catch Thirtythree”
[CD – Nuclear Blast/Mastertrax]

Se alguém por ventura achar as nossas críticas invariavelmente perniciosas para as bandas, ficará aqui então a prova de que, quando necessário, colocamos em louvor todo o potencial e génio de uma banda. Ora para isso creio que não seria tarefa fácil a não ser que estivéssemos a falar de uma banda como os Meshuggah. Uma banda que apesar de muito popular, gera ainda assim alguns comentários menos consensuais, tal como tive oportunidade de testemunhar na internet quando pesquisava sobre este disco, mas que por aquilo que percebi só vem demonstrar a incapacidade e fragilidade de algumas pessoas em suster a complexidade e o extremismo do universo Meshuggah. Se alguma vez me passou pela cabeça testemunhar uma banda tão original e complexa no mundo, então a surpreendente resposta está nos Meshuggah. A nível rítmico a banda foge completamente a todos os conceitos pré-concebidos de compassos musicais, elevando ao cume absoluto aquilo que havia até então visto, quase por exclusivo, em bandas de rock progressivo. Sendo assim, ganharam toda a minha devoção uma vez que criaram a absoluta e derradeira perspectiva sobre questões rítmicas numa malha tão intricada que é quase capaz de nos deixar loucos. A nível de peso a banda não sacrifica nem uma única parcela da sua monstruosa equação, o que torna tudo mais interessante ainda. Quando as mentes destes suecos parecem funcionar como uma autêntica máquina desgovernada, um autêntico asilo de ideias enfermas mas sempre controladas [e aí é que está a beleza], toda esta loucura faz com que se quebre toda e qualquer barreira pré-concebida a nível musical e a nível de ideologia do que é um trabalho discográfico. Isto fez com que começassem a entrar num caminho épico e apocalíptico com o EP “I” e com este “Catch Thirtythree” os Meshuggah procedem ao estender deste conceito e elevam este álbum a uma monstruosa peça de 47 minutos, dividida em 13 temas. Estilisticamente não haverá muito a acrescentar para quem conhece a banda e a sua tendência matemática, aguçada a partir do álbum “Nothing”, mas tudo o que aqui se faz continua a ter a estranheza e o brilho que faz dos Meshuggah uma das bandas mais geniais e originais do planeta. Sem dúvida, para mentes muito resistentes e abertas, “Catch Thirtythree” continua o legado da banda de Thordenthal, Kidman e Cª, num percurso que vai para além do nosso estado físico, mental e intelectual. [10/10] N.C.
AT VANCE
“Chained”

[CD – AFM Records/Recital]

Formados em 1998 pelo guitarrista e mentor Olaf Lenk, os At Vance têm vindo, antes de mais, a surpreender com uma regularidade editorial impressionante. Seis discos em seis anos é obra. “Chained” é o último a sair do génio criativo de Lenk, que se faz acompanhar agora do baixista John ABC Smith e do baterista Marc Cross [ex-Metallium e ex-Helloween], para além de Mats Leven [vocalista ex-Yngwie Malmsteen] que veio substituir Oliver Hartmann desde “Evil In You” [2003]. Como já sabemos, o virtuosismo de Olaf Lenk poderia fazer tudo neste preparado neoclássico muito próximo dos requintes suecos de Yngwie J. Malmsteen. No entanto, como nem tudo é técnica, a nível de composição a inspiração de Lenk parece ter vindo a fraquejar, principalmente desde “Only Human” [2002]. E a prova está mais uma vez aqui patente em “Chained”. Mais um trabalho muito bem executado tecnicamente, com melodias atraentes mas onde no cômputo geral o disco continua a estar aquém do que Lenk pode e sabe fazer. Mesmo assim, temos, obviamente, aqui temas com qualidade – “Rise From Hell”, “Tell Me” ou Run For Your Life” no plano dos temas speedados e “Chained” e “Heaven” como bonitos temas mais calmos. Como não poderia falhar, a veia clássica de Lenk está aqui representada no pequeno interlúdio “Invention #13” e na versão de “Vivaldi Winter”, num exercício que, confesso, soa sempre bem e é indispensável já nos trabalhos de At Vance. Mas tudo isso sabe ainda assim a pouco para aquilo que este virtuoso das seis cordas pode fazer. Talvez com tanto frenesim editorial, Lenk devesse agora dar tempo e espaço ao seu cérebro para fermentar novas ideias e até mesmo dar espaço a novas ideias vindas de outros músicos, pois assim poderá surgir outra fertilidade e frescura que parece ter vindo a perder-se. No entanto, uma escutadela a este disco não será, de longe, uma perca de tempo. [7/10] N.C.
TOTAL DEVASTATION
“Reclusion”

[CD – Firebox/Recital]

Dois anos após a estreia com “Roadmap Of Pain”, os Total Devastation trazem da Finlândia mais um esforço de furioso death metal com influências industriais na forma do novo “Reclusion”. Como o próprio nome da banda indica, o pressuposto aqui é provocar devastação total com os seus momentos death metal a fazerem lembrar Grave, Morbid Angel ou Carcass. Já no plano electro/industrial temos inevitavelmente que enunciar NIN ou Industry. Esta mistura começa logo no início de “Murderer”, com uma brutal descarga rítmica seguida por uma quebra incitada por um breve sample obscuro. Estes apontamentos ao longo do disco vão tornando a audição de “Reclusion” uma experiência agradável, mesmo que não se trate de algo original. Mesmo assim, temas como “They Stand On 3” consegue causar-nos boa surpresa pela forma como mistura uma entrada mais hardcore com a agressividade death e, logo de seguida, quebrando para uma passagem melódica e jazzística. “Reclusion” é o tema com mais groove do disco, gerado por um ritmo muito downtuned e uma marcação simples de bateria mas tão eficaz para um valente mosh. “Ground Zero”, que conta ainda com a participação de G, vocalista dos Rotten Sound, inicia-se com um, diria eu, quase alegre sample para depois alternar entre ritmos death e outros puramente punk/hardcore. “Well Of The Dead” é dos temas mais geniais e marcantes do disco, ou não tivesse uma abertura com viola acústica e uns samples bem sinistros por trás. Ainda assim conta com o peso das guitarras e da voz de Jaako Heinonen, mas inesperadamente volta a surpreender-nos no fim com a inclusão de um piano clássico delicadíssimo, cortesia do convidado Markus Haimelin. O penúltimo “No Surrender” chega-nos ainda a mostrar uma certa veia sueca graças às vibrações melódicas incutidas pelas guitarras a este tema. Com tudo isso, chegamos ao final do disco a reconhecer algum mérito e esforço a estes Total Devastation. Muito peso misturado com alguma ousadia e experimentalismo a valer-lhes bons pontos a seu favor. [7/10] N.C.

Monday, November 21, 2005

STRAPPING YOUNG LAD
“Alien”

[CD – Century Media/Mastertrax]

Se seria escusado que Devin Townsend lançasse um álbum chamado “Alien” para que desconfiássemos da sua natureza extraterritorial e intelectual, então este novo “Alien” vem dissipar todas as nossas dúvidas. Devin Townsend é realmente um ser de outro mundo e estes Strapping Young Lad são produto da sua máquina mental absolutamente insana... Claro que estou a brincar, mas sei que bem percebem o que estou a falar, especialmente para aqueles que conhecem a carreira dos Strapping Young Lad. Com uma voz como a de Devin, que vai desde os berros mais agrestes a arranhados à voz mais limpa de uma qualquer vocalização heavy metal, e um método de composição regido por [quase] um único pressuposto – o caos musical – então temos aqui qualquer coisa de alienígena e insano... E isto para não falar nas teclas ocasionais, nas programações, nos coros e nas melodias, tão fulcrais neste preparado sarcástico de Devin, mas que só fazem sentido porque são preparados por um “cozinheiro” muito especial. Juntamente com “assistentes” como Jed Simon [guitarra], Byron Stroud [baixista Fear Factory] e o transcendente Gene Hoglan [baterista ex-Dark Angel, ex-Death, ex-Testament] o resultado não podia ser mais devastador. Temos “Imperial” a abrir com uma investida muito directa, extrema claro está, a aguçar o apetite para o apocalipse musical que ainda haveria de vir. Com “Skeksis” a violência continua a desfilar, desta vez com riffs próximos de uns Meshuggah. Os coros femininos e os efeitos sonoros a nos fazerem lembrar vozes alienígenas, começam a surgir e a nos deixar completamente de boca aberta perante a completa esquizofrenia musical que reina na mente deste compositor. Logo de seguida a brutalidade atinge proporções bíblicas com “Shitstorm” um dos temas mais pesados do disco e que mostra uma bateria completamente endiabrada! A total loucura e sarcasmo de Devin Townsend vem ao de cima em “Two Weeks”, uma balada em violão acústico que só demonstra que este músico não está minimamente preocupado com as susceptibilidades que possa ferir mas sim com a preservação de uma loucura muito própria e controlada. Ainda assim, a violência dos SYL desce a meio tempo e incute alguma melodia em temas como “Love?”, “Possession” ou “Thalamus”, mas é essencialmente de momentos de extremidade, não só sonora mas também conceptual, que Devin e companhia constrói a sua música. A fechar, para que a “loucura” se enalteça ainda mais, temos “Info Dump” – um ruidoso instrumental de onze minutos construído à base de ondas hertzianas que parecem vir do espaço para nos ensurdecer. Com isto, fecha-se mais um capítulo no estado clínico [leia-se musical] do mestre do metal extremo canadiano. Ele veio de outro planeta tentar passar a sua mensagem... Deixe-se contagiar! [9/10] N.C.
SUPREME MAJESTY
“Elements Of Creation”

[CD – Massacre Records/Mastertrax]

Temos que admitir que no espectro power metal melódico já pouco ou nada surge para nos impressionar ou renovar a esperança de uma possível revolução no género, ou que lhe seja injectado novos elementos, novas perspectivas. O power metal melódico vive da sua agradabilidade harmoniosa, do seu magnetismo, das suas melodias e letras cantaroláveis, do seu peso, rapidez e técnica sempre apurada. Sendo assim temos aqui uma fórmula, que apesar de sempre muito rígida, envolta em algum conservadorismo até, consegue arrancar-nos sempre [ou quase sempre, claro] boas reacções e sensações, isto se se cumprir bem a mistura que se apontou atrás. Deste modo, trabalhos como este “Elements Of Creation” [o terceiro dos Supreme Majesty] pode ser apontado como mais um [bom] elemento dentro do vasto e saturadíssimo espectro do power metal melódico. Quero com isto dizer, que mesmo assim, o potencial destes suecos é mais que suficiente para nos despertar a atenção para este disco. Do power metal típico que encontramos logo à entrada com “Soulseeker”, podemos ainda acrescentar a veia épica e neo-clássica dos Supreme Majesty com “Spellbound” e “King Of Warriors” [o nome já diz tudo, Raphsody ressalta-nos à mente] respectivamente. Para além destas características encontramos ainda umas dinâmicas progressivas, particularmente salientadas no despique entre guitarra e teclas presente no pequeno instrumental “The Quest Part 1”. Felizmente, o factor baladas não tem aqui tanto peso como, já enjoativamente, nos acostumou a maioria dos trabalhos de power metal melódico hoje em dia. Isto significa que este trabalho acaba por sair ileso à passagem da power ballad “One More Promise” a meio do disco. Logo regressa a rapidez típica dos bombos e dos riffs de guitarra e assim o trabalho acaba por não soar enfadonho, agradecendo-se o cirúrgico equilíbrio entre peso, rapidez e melodia. Para terminar, não poderia fechar esta review sem falar do [alto] potencial técnico dos músicos aqui intervenientes! Falamos do recém- chegado guitarrista Tobias Wernersson, um autêntico portento de talento, capaz de “rasgar” com solos à lá Malmsteen. O vocalista Joakim Olsson é outra das estrelas desta companhia, demonstrando categoria internacional e potencial para ir muito mais além no futuro, não obstante as suas grandes semelhanças vocais com Joakim Larsson dos Europe. Em suma, um trabalho de grande qualidade dentro do power metal, muito agradável mesmo para aqueles que acham que já não vale a pena ouvir trabalhos de power metal. [8/10] N.C.
SUCH A SURGE
“Alpha”

[CD – Nuclear Blast/Mastertrax]

Apesar de andarem nessas lides há já dez anos, esta é a primeira vez que entro em contacto com estes germânicos. De longe um nome que anda ainda à procura do seu lugar ao sol no meio metaleiro europeu, os Such A Surge são já uma banda muito badalada, especialmente no seu país, e para que se compreenda isso basta referirmos que os seus dois últimos trabalhos foram lançados, nada mais nada menos, que pela Epic e pela Sony Music. Ou seja, temos já aqui um caso de banda que já não está no plano underground mas sim num “mainstream”. Mesmo assim este estatuto ainda não lhes valeu o suficiente para que estejamos aqui em Portugal a delirar com o som dos Such A Surge. De qualquer maneira, acredito que este seja sempre mais um caso de sucesso caseiro do que propriamente à escala global, até porque, por mais que não queiramos aceitar este facto ou nos tentemos demonstrar de espirito o mais possível aberto, ouvir música cantada em alemão é sempre uma experiência algo desconfortável. Logo por aí compreende-se a dimensão restrita da popularidade dos Such A Surge. Porque acredito até que se cantassem em inglês poderiam chegar muito mais longe. Porque de facto o que fazem está bem feito. Sendo assim, os Such A Surge mostram musicalmente uma abordagem que vai desde o puro rock’n’roll – cru e sujo – ao stoner de uns Queens Of The Stone Age, até ao mais melódico nu-metal, passando pelo hardcore e pelo metal. Contudo, com a ameaça inicial e saborosa de um álbum pleno de atitude rock’n’roll – indiciadas por “Ueberfall”, “O.K.” [com um solo hard rock delicioso] e “Was Jetzt”, logo logo começamos a entrar nas baladas e nos temas mais radio friendly, alternando ocasionalmente com temas mais agressivos. No plano dos temas suaves temos “Alles Was Mir Fehlt” que – convínhamos – até nos cativa, com a curiosidade dos violinos subtilmente inseridos no fim do tema. Temos ainda uma guitarra country a complementar os raps de Oliver Schneider e Michel Begeame em mais um tema de potencial orelhudo. Logo de seguida podemos conferir como soariam os Such A Surge se cantassem em inglês com o tema “Instant Replay” e logo de seguida mais um tema calmo – “NachtAktiv”. “Mission Erfuelt” é um tema calmo na tradição das bandas de nu-metal, e não fosse os temas iniciais e o curto mas potente “Blender” e teríamos aqui um disco muito trendy com perspectivas muito comerciais. De qualquer maneira os Such A Surge são indiscutivelmente bons compositores e conseguem em alguns momentos demonstrar boas ideias. De qualquer maneira estas soam pouco ousadas e tudo isto resulta numa pálida amostra daquilo que uma banda já tão experiente como os Such A Surge pode e deve fazer. [6/10] N.C.
SHADOW CUT
“Pictures Of Death”
[CD – Firebox/Recital]

Prolifera em termos de metal, a Finlândia traz-nos mais um acto de black/death metal proveniente de vultos bem conhecidos do meio metaleiro finlandês. Falamos de Repe F.W. Misanthrope [baterista ex-Impaled Nazarene] e M. Harvilahti [baixista dos Moonsorrow] que para aqui foram recrutados por Omnio [vocalista, guitarrista e mentor da banda] para a formação dos Shadow Cut e para a concretização deste “Pictures Of Death”. De imagens de morte e violência se faz a maior parte do black/death metal que por aí circula, e este “Pictures Of Death” não foge claramente à regra. No entanto, não se pense que o facto de termos aqui membros dos Moonsorrow e dos Impaled Nazarene nos garanta à partida uma aproximação ao género de som que estes praticam/praticavam nas suas bandas de origem, pois este disco vive essencialmente de ritmos balançados, velocidade q.b. e alguma melodia. Como exemplos de verdadeiro groove temos “Pictures Of Death” [um dos melhores temas do disco] e o inicial “Drug/Murder/Them”. A nível de rapidez e cariz black metal mais vincado temos “My Sweet Cult”. Quanto a melodia, ainda que muito esporádica, verifica-se a meio de “Throatcuts Nine” e “The End Of Humanity”, em exercícios não muito complexos mas de cativante conjectura, melodias que contribuem preciosamente para alguma dinâmica do disco que aqui se salva por raras ocasiões. Apesar de agradável em alguns momentos, é esta a razão porque este trabalho tende facilmente a cair no aborrecimento e no desinteresse – falta de dinâmica e irreverência que pudesse tornar estas malhas em algo mais desafiante para as nossas mentes. Tudo muito previsível, onde falta a garra e o alento que dê mais brilho a estas composições. Um disco que não se pode classificar como medíocre mas que também está longe de ser considerado um disco de relevo dentro do género. [6/10] N.C.

Friday, November 11, 2005

Monday, November 07, 2005

CROWBAR
“Lifesblood For The Downtrodden”
[CD – Candlelight/PHD/Recital]

Quem nunca ouviu falar nos Crowbar? Este é um dos colectivos mais marcantes do movimento underground norte-americano, fundado em 1989 [já lá vão 15 longos anos] onde o carismático vocalista e guitarrista Kirk Windenstein originou aquilo a que se convencionou chamar sludgecore ou doom core. O som dos Crowbar é pioneiro e impulsionou um movimento próprio em New Orleans. Os Crowbar surgem na crista deste movimento com o debutante “Crowbar” e anos depois, e com sete álbuns editados, chegam a 2005 com este excelente “Lifesblood For The Downtrodden”. Este álbum é um exemplo de poder artístico para as bandas que em tão poucos anos de carreira se esgotam facilmente de ideias, e ainda mais um exemplo de garra pois os Crowbar contaram ao longo dos anos com uma série de mudanças de formação e problemas editoriais que poderiam ter deitado por terra a persistência e o alento de Kirk Windstein. Mas este mentor, após quatro anos de hiato, concebe este magnífico álbum e grava-o com o baterista Craig Nunemacher [Black Label Society] e o baixista Rex Brown [ex-Pantera, Down]. Um regresso que não incute nenhuma revolução sonora no som dos Crowbar mas onde o poder de composição e da própria identidade única da banda nos empolga os sentidos. Os riffs continuam muito balançados e arrastados e a voz de Kirk empresta uma profundidade emocional a estes temas capaz de nos arrepiar – especialmente em temas como “Slave No More”, “Coming More”, “Fall Back To Zero” ou “Dead Sun”. O final acústico “Life’s Blood” é um dos momentos mais altos do disco com o piano e a guitarra acústica a construírem uma lindíssima peça melódica carregada de melancolia para se ouvir nos momentos de maior introspecção e solidão. Um álbum de elogiar, de uma banda de vangloriar pela “saúde” musical com que ainda constrói álbuns hoje em dia. Um exemplo de talento e perseverança a seguir. [9/10] N.C.
DESPISED ICON
“The Healing Process”

[CD – Century Media/Mastertrax]

Os canadianos Despised Icon representam aquilo que é o extremar da tendência metalcore. Muitas vezes caracterizado por ritmos potentes mas também refrões demasiado orelhudos – talvez para não perder a possibilidade de vender mais uns discos – a maioria das bandas metalcore não demonstram a ambição de atingir novos patamares dentro do seu espectro e o que encontramos são inúmeras bandas a repetirem-se umas às outras. No entanto, há outras como os Despised Icon que apostam em quebrar barreiras e o que encontrámos neste “The Healing Process” é uma devastadora descarga de death/grind com os ritmos mais balançados do metalcore. Mas que fique explícito que este é um disco muito mais death do que metalcore. A velocidade vertiginosa dos ritmos de bateria e a brutalidade técnica das guitarras tornam este disco uma experiência verdadeiramente extrema. Também os grunhidos de Alexander Erian e as mudanças esquizofrénicas de ritmos ajudam a acrescer de agressividade este trabalho. Algumas passagens mais balançadas são muito bem injectadas como uma forma inteligente de dar a este material alguma versatilidade. No entanto, esta versatilidade nunca é almejada através de melodias, pois isto é coisa que aqui quase não existe, tirando uma pequena quebra de som limpo – ainda assim muito sinistro – em “Immaculate” para logo depois dispararem em fúria com ritmos rapidíssimos. Sendo assim, podemos incluir este “The Healing Process” na mesma categoria de trabalhos como os dos The Red Chord, Psyopus ou ainda com alguns mais antigos dos Dying Fetus. Resumindo, a enorme capacidade técnica e coesão destes músicos fazem deles os autores de um dos discos mais devastadores do ano. [9/10] N.C.

Tuesday, October 18, 2005

DREAM THEATER
“Octavarium”
[CD – Atlantic/Warner Music/Farol]
Chegado aos escaparates em Junho deste ano, “Octavarium” marca o regresso – sempre tão esperado – dos nova-iorquinos Dream Theater. A banda prog rock que dispensa quaisquer apresentações, regressa de novo aos discos com um trabalho algo diferente dos seus antecessores, tanto a nível técnico como de abordagem estilística. Será verdadeiro afirmar que Labrie, Petrucci, Portnoy e Cª sempre nos habituaram a esperar tudo deles e a ouvir álbuns que vão desde o mais progressivo até ao mais pesado, daí que não seja de estranhar mais esta mudança na sua forma de tocar, pois aliás é isso que os torna a banda genial, impar e inesgotável que é. Desta forma, e após dois álbuns direccionados para ritmos mais pesados – tendência que se começou a evidenciar com “Six Degrees Of Inner Turbulence” e culminou depois com o potentíssimo “Train Of Thought” – os Dream Theater decidem agora “dar a volta”, após já terem explorado quase tudo na sua carreira e construir um álbum mais calmo, ainda assim com alguns momentos mais pesados, mas onde a característica demarcante é mesmo a “simplicidade” técnica com que os DT elaboraram esses temas. Apesar de não estarmos a falar de nada demasiado minimalista, longe disso, este álbum pode chocar alguns fãs mais exigentes, mas é preciso que se tenha em conta que estes músicos têm que gerir muito bem a sua carreira, pois já foram capazes de quase tudo e tocaram já milhares e milhares de notas. Deste ponto de vista, respeita-se essa mudança de atitude.

Como notas a este trabalho, pudemos constatar que os solos de Petrucci são menos predominantes e rasgados que antes, cabendo até mais às teclas este protagonismo. Para além disso, nota-se que as inspirações para este álbum foram bem diferentes das que inspiraram os seus últimos trabalhos – escutem “I Walk Beside You”, com um refrão completamente à U2 ou “Never Enough” onde se notam laivos de Muse, por exemplo. Contudo, estes temas repartem-se com outros mais pesados como o inicial “The Root Of All Evil” ou “Panic Attack” mas, mesmo assim, as peças mais pesadas de “Octavarium” nunca chegam a ser tão empolgantes e energéticas como as que pontuaram em “TOT” ou “6DOIT”. Sendo assim, os destaques acabam por ir para “These Walls”, um bonito tema que abre com bastante potencia mas que depois se vai transformando num tema muito melódico e emocional; “Sacrificed Sons” um tema longo e bem sentido face à sua temática [os atentados do 11 de Setembro] e, por fim, um épico com o tema-titulo, desenvolvido ao longo de 24 minutos, onde tudo se inicia calmamente com um ambiente tipicamente Pink Floyd vindo depois a crescer e a desembocar nos habituais malabarismos técnicos só ao alcance destes músicos. De um modo geral, este álbum até poderá soar a desilusão se comparado com a magnitude e dimensão de outras das suas obras mas, após o impacto inicial e entrando no espírito do álbum, este até se pode tornar muito interessante. No entanto, há que reconhecer que este álbum está, efectivamente, um pouco abaixo da média daquilo que os Dream Theater já fizeram. [8/10] N.C.

Monday, October 17, 2005

Live Zone [report]

HIFFEN / THE GHOST
15.10.05 - Coliseu Micaelense, Ponta Delgada

Finalmente chegou a noite tão esperada por muitos. Sábado, dia 15 de Outubro, actuaram no Coliseu Micaelense os Hiffen no âmbito do lançamento do seu primeiro álbum - “Crashing”.

Como é sabido, o concerto estava agendado para as 22h00, com entrada livre. Contudo, e para não fugir à regra, os ponteiros do relógio marcavam as 23h00 e ainda não se ouvia nada... Temos, portanto, a primeira nota negativa da noite. Durante esse longo compasso de espera, fãs e curiosos dirigiam-se à banca de merchandising onde podiam comprar o debutante CD dos Hiffen e respectivas T-Shirts da banda. Conversa puxa conversa e continuava-se sem sinal dos Hiffen. Por volta das 23h15, ouve-se então uns primeiros sons ambiente provenientes do recinto… Tinha chegado a hora! Altura de apagar o cigarro, dar o último gole… Mas para espanto de todos, não eram os Hiffen, mas sim os The Ghost Band, uma experiente banda de covers convidada pela Câmara Municipal de Ponta Delgada para servir como banda de abertura para este espectáculo. Nesta altura o recinto até que estava “semi-composto”, passe a expressão. Mas logo cedo desnudou-se quando o público se apercebeu que, apesar de talentosos, não eram mais do que uma banda de covers: Bob Marley, Beatles, etc... Ora, não foi propriamente a banda mais indicada para se trazer perante o público que se fazia sentir... Enfim, temos a segunda nota negativa da noite.

Cigarro puxa cigarro e os ponteiros do relógio já marcavam as 00h15. As horas a passar e a tensão a aumentava. O público, em geral, estava a ficar aborrecido e irritado com a situação, pois tinham ido ao Coliseu ver os Hiffen e não uma outra banda qualquer. Esse contratempo ultrapassou por completo os Hiffen que não pensavam, nem de perto nem de longe, que a prestação da banda convidada se fosse alongar como se verificou. Em conversa particular para o METALICIDIO.COM, Renato Medeiros (guitarrista de Hiffen), considerou toda esta situação uma enorme falta de respeito pela banda e pelo público presente.

Por volta da 00h20 os Hiffen sobem, finalmente, ao palco. Apresentados por Emanuel Costa, animador da Rádio Atlântida, abrem o seu concerto com o tema "Blind Toughts". No geral, o som estava bom – primeira nota positiva da noite. Há que fazer somente um reparo para as guitarras que soavam um pouco estridentes. Após a prestação dos The Ghost, e dada a hora, o calor humano no recinto era cada vez menor. No intervalo de cada tema, o apresentador entrava em palco e fazia o seu dever, porém, essa opção tornou-se um pouco cansativa para quem estava a assistir, havendo assim quebras na actuação - o que não favorecia de todo a interactividade entre a banda e o público. Terceiro e último ponto negativo da noite.

O concerto prossegue com "Join of An Angel" - tema cantado em português -, "Para Além do Imaginário", "Empty Sea", o sonante "Look Upon The Rainbow", "Storm of Rain" e "The Never Endless Roads". Para fechar o concerto, Emanuel Costa enumera uma longa lista de agradecimentos e, em especial, para Paulo Melo (produtor), Luís H. Bettencourt (co-produtor), Paulo Bettencourt (guitarrista dos Morbid Death) e André Frias (fotógrafo) que são convidados a subir ao palco. Paulo Melo e Luís H. Bettencourt participaram como segundas vozes no tema final do concerto - "Soul Never Ends". Uma balada que retratou da melhor maneira a amizade que se fazia sentir em palco.

Texto: Rui Melo [www.metalicidio.com]

Fotos: André Frias [www.contratempo.com]

Thursday, October 13, 2005

CRYPTIC WINTERMOON
“Of Shadows... And The Dark Things You Fear”
[CD – Massacre/Mastertrax]
Apesar de já existirem há uma década, os alemães Cryptic Wintermoon só agora chegaram ao conhecimento deste vosso escriba. Segundo a minha pesquisa ao seu passado, os Cryptic Wintermoon eram descritos como uma banda de black metal, mas neste seu novo trabalho o meu primeiro contacto deixou-me demasiado longe de os considerar uma banda deste género. E muito menos se pense que se está a falar aqui de um black metal primitivo e gélido, tipicamente das géneses norueguesas, pois se no seu passado a banda nem chegava a ser assim, hoje em dia são muito mais difíceis de descrever ou inserir dentro de um género isolado, mas sim convindo dividi-los por muitos. Qual manta de retalhos, os Cryptic Wintermoon soam coesos e personificados o quanto baste para lhe prestarmos a devida atenção e se já com os anteriores trabalhos tinham vindo a surpreender, com este demonstram novo passo no seu crescimento como banda. Composições muito sólidas, embrulhada em riffs muito atractivos, numa dosagem muito equilibrada de peso e melodia e uma série de outros elementos que vão desde o gótico, ao dark e ao death metal sueco. O trabalho de teclas cria o preenchimento perfeito para estas composições que andam entre a brutalidade de um black e death metal, principalmente pelas vozes e por ocasionais arranques rápidos de bateria, e uma delicadeza e atmosfera góticas que fazem destes doze trechos um produto perfeitamente acessível a variados amantes do metal. É este, efectivamente, o sinal que fica da escuta deste trabalho – muita coesão e variedade. Desta forma, o trabalho desperta interesse desde o início da sua escuta e mantém-nos atentos em quase todos os momentos do seu percurso. Alguns altos e baixos, principalmente na segunda metade do álbum é que acabam por prejudicar o seu balanço qualitativo, perante uma primeira metade de álbum muito bom, o que nos faz pensar que os Cryptic Wintermoon ainda nos podem dar muito mais no futuro … Só ao alcance dos verdadeiros génios, mas os Cryptic Wintermoon, pelo seu poder técnico e espírito aberto, ameaçam construir álbuns cada vez mais interessantes e coesos ao longo do tempo. Keep in touch. [7/10] N.C.

Tuesday, October 11, 2005

OUTUBRO NEGRO 2005

O festival OUTUBRO NEGRO decorre no Mercado da Ribeira, junto ao Cais do Sodré, em Lisboa. O evento realiza-se nos dias 21 e 22 (sexta-feira e sábado) de Outubro de 2005 com 4 bandas em cada noite, sendo que no dia 21 actuam DESIRE (por), HYUBRIS (por), HORDES OF YORE (por) e HEAVENLY BRIDE (por), e no dia 22 NIGHTRAGE (sue), SHADOWSPHERE (por), THANATOSCHIZO (por) e DAWNRIDER (por), seguidas dos dj´s YGGDRASIL e ANTONIO FREITAS até ás 4 da madrugada. Abertura das portas ás 21:30 até ás 4 da madrugáda. Bilhetes para o primeiro dia 10€ para o segundo dia 15€ para os dois dias 20€.

Mais informações em www.outubro-negro.blogspot.com

Live Zone [report]

UNDERCOVERS
06.10.05 - Bar PDL, Ponta Delgada

Esta é uma iniciativa que já começa a ganhar alguma tradição na nossa ilha. De UNRECOVERS a UNDERCOVERS, passaram-se quase dois anos mas o pretexto e o formato continuou o mesmo – entreter e tocar versões de (alguns) clássicos do heavy metal. Apesar de manter a mesma base que fundou esta iniciativa, este conjunto de músicos foi se sempre alterando, ou melhor dizendo, acrescendo-se de convidados especiais ao longo das suas três anteriores edições. Sendo assim, desta vez também não se quebrou a regra e como surpresas tivemos Zé (This Torsion, ex-Anthropology) na guitarra, Fábio (Psy Enemy) no baixo e Carlos na voz. A estes juntamos os residentes Steven (Hemptylogic) na voz, Honório (Tolerance 0) na voz, Rui (Tolerance 0) na guitarra, Esponja (Tolerance 0) no baixo e Dino na bateria.

Como já repararam, ¾ dos Tolerance 0 está de regresso após cerca de um ano e meio no estrangeiro, tendo sido este, certamente, um dos maiores chamarizes para o público que se deslocou em número razoável ao Bar PDL, em Ponta Delgada. Uma excelente oportunidade para rever algumas das “velhas glórias” do nosso panorama heavy, que tão bons momentos nos proporcionaram no passado. Se este era, de facto, uma das principais curiosidades do espectáculo, o mesmo acabou por não acontecer com os temas que compuseram o repertório desta sessão. Talvez este seja um dos aspectos a ter em conta no futuro, melhorar a diversidade dos temas, na medida em que alguns já começam a soar demasiado “usados”. Ainda assim, é inegável a força de temas como “Territory” dos Sepultura ou “5 Minutes Alone” dos Pantera que, pelo seu carisma e estatuto, justificam sempre uma presença neste evento, nem que seja pela reacção que provocam no público.

Em destaque, os pequenos arranjos talhados para este concerto, a demonstrar que já começa a haver a preocupação de elaborar um verdadeiro espectáculo, sendo exemplo disso o empolgante medley dos Pantera e um cómico remake de “Eye Of Tiger” tocado com letra de Sandro G, misturando-se logo de seguida com “5 Minutes Alone”. Foram realmente estes alguns dos momentos mais interessantes do repertório, uma vez que foram eles que dinamizaram e tornaram este espectáculo imprevisível. Tecnicamente, compreende-se que este grupo de músicos não está propriamente preocupado em recriar – ipsis verbis – os originais dos grupos, o que agradecemos, pois o cunho pessoal empregue é muito importante quando se tocam covers. Mas continua-se sem perceber a ausência do solo em “5 Minutes Alone”, pois não cremos que se trate de um problema de falta de técnica por parte dos executantes. A verdade é que este estranho facto já vem ocorrendo desde outras edições do UNRECOVERS. Para além disso, uma anomalia no micro de Carlos não nos permitiu escutar a sua voz como se desejaria, retirando-nos a hipótese de poder fazer uma análise legítima ao seu potencial, naquela que foi a sua estreia absoluta em palco. Por seu lado, todos os outros músicos confirmaram todo o seu talento, com normal preponderância para os membros de Tolerance 0, com toda a sua experiência, e mesmo Steven que não deixa transparecer minimamente que já não sobe a um palco há cerca de um ano. É caso para dizer que se trata de um talento natural. Outra das surpresas agradáveis da noite foi o guitarrista Zé, surpreendendo pela sua segurança e serenidade, vindo a confirmar a ideia que nos tinha deixado aquando da sua passagem pelos Anthropology, há uns atrás, e que já nos fazia prever que dali sairia um músico com talento. Para terminar, a nota de que este é um evento em evolução, no qual se deve apostar e tentar levar a outro patamar, ao próximo nível. Ver de novo estes músicos juntos foi, no entanto, uma enorme cereja no cimo do bolo. Que se “disfarcem” mais vezes!

Nuno Costa

Fotos: André Frias [www.contratempo.com]

Monday, October 03, 2005

Thursday, September 29, 2005

Entrevista Swallow The Sun

OS NOSSOS FANTASMAS

Surgem em 2000 e três anos volvidos aparecem com o seu primeiro álbum – “The Morning Never Came”. Em 2005, e após uma reacção fervorosa ao seu primeiro trabalho, os finlandeses Swallow The Sun voltam a criar sensação com o novíssimo “Ghosts Of Loss”. Mais uma excelente dose de Doom melancólico e depressivo, bem ao jeito de uns My Dying Bride, a reforçar-lhes o estatuto de nova pérola do Doom Metal europeu. A aproveitar a edição do seu novo CD, a SounD(/)ZonE interpelou o guitarrista e fundador da banda Juha Raivio.

Juha, pedia-te que nos fizesses um breve resumo sobre a formação da banda.
A banda formou-se em 2000 a partir do momento em que tinha temas que não encaixavam no estilo da minha outra banda, os Plutonium Orange. Pedi ao nosso baterista, o Pasi, para tocar estas músicas comigo e, uma vez que tudo estava a soar tão bem, começamos a recrutar mais pessoas para a banda. Levou cerca de dois anos antes até que arranjássemos as pessoas certas e gravássemos a nossa primeira demo em 2003. No mesmo ano gravámos o nosso primeiro álbum – “The Morning Never Came” – e editámo-lo pela Firebox Records.

A banda angariou excelentes críticas com este primeiro álbum…Era algo que estavam à espera, este reconhecimento tão súbito?
Não. Sabíamos que tinhas feito um bom álbum mas, por a nossa música continuar a ser muito underground, tornou-se uma verdadeira surpresa ver como as pessoas nos descobriram e gostaram de nós!

De que forma isto contribuiu para a vossa ascensão como banda? Fizeram muitas datas até agora, conseguem já sentir o respeito do público nos vossos concertos?
Após o lançamento do nosso primeiro álbum fizemos uma tournée pela Finlândia e tocámos em grandes festivais inclusivamente. Por isso, com o sucesso do primeiro álbum conseguimos fazer muitas datas e chegar a milhares de pessoas no nosso país. Tem sido realmente bom ver como diferentes tipos de pessoas parecem gostar de nós ao vivo, apesar de não sermos uma banda de baile…

E agora que o vosso novo álbum está cá fora, com tem sido visto?
As pessoas parecem gostar mais deste do que do primeiro álbum, por isso não poderia estar mais contente ! O novo álbum entrou directamente para o oitavo lugar da tabela oficial de vendas Finlandesas, deixando para trás bandas como os Opeth e Fear Factory. A Century Media vai lançar brevemente o nosso novo álbum nos Estados Unidos e no Canadá, por isso esperamos que este seja o álbum da revelação lá também.
Estás contente com o seu resultado final? Que aspectos fizeram por mudar ou melhorar neste novo trabalho?
Estou completamente satisfeito com o “Ghosts Of Loss”. Queria um álbum que fosse mais doom que o primeiro e que abrangesse outros extremos também. Daí temos um álbum mais melódico, obscuro e bonito do que o “Morning Never Came”.

Fala-nos dos temas e conceitos que o album aborda...
Eu penso que o tema “Gloom, Beauty And Despair” define-o perfeitamente. Existe a grande melancolia no seu som, letras e sentido da própria banda. Não percebo porque insisto sempre em escrever temas sobre a morte, fantasmas e a vinda do fim do mundo…Mas sinto que é como que se me purificasse.

O que dirias às pessoas que pensa que os músicos de doom metal são todos maníaco-depressivos?
Pode haver uma certa ponta de verdade nessas palavras, mas continuo a pensar que todos nós temos o nosso lado obscuro e esta é uma boa maneira de o pôr cá para fora. Dessa maneira, tornamos a vida das pessoas que nos rodeiam muito mais fáceis e para aquelas que tu amas! Nós todos temos os nossos “fantasmas de perda” assombrando-nos dia-a-dia, por isso, escrevendo esse tipo de música encontrasse uma boa maneira de os manter em silêncio. O nosso Inverno dá-nos muita inspiração também. É quase como um cliché, atinge toda a população.

Novo álbum cá fora desde Agosto... O que se segue? Há já alguma digressão agendada? Alguma hipótese de virem a Portugal?
Estamos neste momento em tournée pela Finlândia e vamos manter-nos assim até ao final do ano, até que em Janeiro de 2006 vamos fazer finalmente uma digressão europeia. E sim, vamos ter a oportunidade de passar por Portugal para duas datas – uma a 13 de Janeiro no Culto Bar, em Lisboa, e uma outra a 14 no Porto Rio, Porto.

Bem, tu provavelmente nem conheces os Açores... Apesar de tudo, conheces algo do cenário metálico português?
Bem, conheço os Moonspell claro, mas para além disso não sei muito acerca das vossas bandas, o que é uma pena. Eu espero que os metaleiros portugueses venham às nossas datas em Portugal para que possamos estar com eles e poder conhecer mais sobre a vossa cena heavy.

Algum comentário final para o público açoriano e para os leitores da SounD(/)ZonE?
Se gostam de bandas com os Type O Negative, My Dying Bride e Katatonia, venham constatar a nossa banda. Até à próxima!

Nuno Costa