Wednesday, December 07, 2005

Entrevista IRA

MITOLOGIA HISPÂNICO-ÁRABE

Detentora de uma voz forte, melodiosa e com uma ligeira sujidade rock, Célia Lawson é a cantora que venceu o Festival RTP da Canção em 1997 e se notabilizou pela chegada à final do “Chuva de Estrelas” em 1996. Passou por várias bandas, para além de muitas presenças na televisão e até mesmo em anúncios e spots publicitários, sempre acompanhada pelo seu espírito esotérico e multiétnico. De descendência Irlandesa, Célia Lawson chega agora ao seu segundo trabalho intitulado “On The Road To The Unknown”, sucessor de “Faith” de 2002. Olhando para o seu currículo, não se pense estranho termos aqui um trabalho como o de Célia na nossa fanzine. E se lhe dissermos que “On The Road To The Unknown” é distribuído pela Recital? E se lhe dissermos que Gonçalo Pereira é o guitarrista e produtor deste trabalho? Bem, não se espere um trabalho demasiado pesado deste disco, como é óbvio, quanto muito rock, mas acima de tudo um trabalho muito experimental, exótico, de muito bom gosto, cruzado com a World Music e o conceito da profetisa IRA (séc X.) que dá o nome a este projecto. Para vocês, uma admirável artista surpreendida pela nossa abordagem – Célia Lawson.

Para quem ainda tem dúvidas de quem é a Célia Lawson conta-nos lá um pouco do teu percurso como artista...Que começou bem cedo por sinal!
Sim, comecei tocar guitarra aos 11 anos. Aos 14 tinha a banda na escola e já fazia as minhas músicas e registava-as na SPA! Depois toquei em bares, coros, com a Adelaide Ferreira em digressões, e mais tarde televisão.

De certa forma não será estranho vermos-te agora a assinar um trabalho um pouco mais rock daquilo que são as tuas apetências mais naturais, pois ao longo dos anos tu passaste por algumas bandas de rock, certo?
Exactamente. Nos Mital - uma banda hard rock feminina – onde era guitarrista e segunda voz, nos V12 onda era terceira voz... Fiz parte também dos Crash - um projecto de covers - , gravei o meu álbum “Faith” e ainda - quando o seu vocalista está de férias - canto com os Rockover.

Já agora, de que lado te sentes melhor?
Não tenho qualquer escrúpulo em dizer que, apesar de neste país nos apelidar-mos de azeiteiros, drogados e malucos - isto até na primeira pessoa -, que sou apenas genuína quando canto este estilo e pronto. Acabou. Mas queria ainda acrescentar que a minha honra é tanta que quando canto sinto que sou a “Ira”.

Quem é a Ira? Explica-nos melhor qual é este conceito místico inerente ao teu projecto.
As bandas escandinavas de metal são coerentes nas suas origens - deuses eslavos, influências eslavas, até financiamentos eslavos! Li um artigo na “Loud!” que me fez roer de inveja... Claro que quando um compositor norueguês pediu um fundo de maneio ao governo para gravar um álbum de metal com a intenção de falar das raízes da Islândia, sobre o seu povo, isto é utópico para mim que quis falar das influências hispânico-arabes no “On The Road To The Unknown”... Ira - que lê-se Aira - é uma profetisa do Sec X. Ela canta, dança e voa no universo tal qual uma Ira como ela quis ser. Tem asas, é incólume, atribuí-lhe todos os dons árabes de encantar, com a vingança no olhar que traz da Inquisição espanhola quando lhe chamam de pecado. É eterna e faz-nos sonhar com o conceito mitológico de ressurgir ciclicamente no tempo com o exemplo mais imediato do imaginário vampírico.

Quanto à composição... É fácil pensar nas coisas num lado rock e mais world music quando crias as tuas canções ?
Nós vivemos no ano V do séc. XX, posso misturar World Music com lã (risos) e isso gerar música... A tecnologia no rock pode-me influenciar e escrever poesia moralista e gerar o conceito avangart-pós Seatle. Não querendo ser original, beber em duas fontes tão distintas como Ozzy Osborne e Kaleb, se os situarmos geograficamente, estamos a ouvir praticamente o mesmo.

Li também que és capaz de cantar em italiano, espanhol, francês, para além do português e inglês. De onde te vem essa “polivalência” linguística?
Sim, e para além dessas também em árabe e alemão. Estudei algumas línguas, fui hospedeira da nossa companhia aérea em tempos. Para além disso, sou do tipo de comprar cursos de línguas e, por hobbie, aprendê-las .

Sei que já trabalhaste com muitos artistas... Mas como surge agora a participação do Gonçalo Pereira contigo neste trabalho? E já agora, quem são os restantes membros que trabalham contigo neste disco?
Mauro Ramos - um excelente baterista, um dos melhores que já conheci e com quem trabalhei. Dikk - um virtuoso baixista que também me encantou quando as suas qualidades de guitarrista foram demonstradas no tema Budapest, totalmente gravado por ele, não posso deixar escapar este pormenor... E o Gonçalo Pereira - um dos melhores músicos que já conheci até hoje... Ele queixa-se se de quando eu era vocalista dos V12 e nós precisámos de um condutor para levar a carrinha chamámos o Gonçalo e eu nem lhe disse obrigado! Quem diria que este gajo se tornaria num dos maiores guitarristas de Portugal e com quem ainda não toquei? Acho que foi uma maneira de lhe agradecer.

Este álbum já te tem trazido algumas surpresas?
Ter o “On The Road To The Unkown” nas Fnacs é uma grande surpresa... E esta entrevista, claro!

A nível de influências, diz-me que artistas te mais inspiram. Deixa-me que te confesse que me fazes lembrar por momentos a Alanis Morissette, a vocalista dos extintos 4 Non Blondes ou mesmo a Dulce Pontes!
Muito obrigada! Influências?... Bem, Metallica, Rammstein, System Of A Down , Cradle Of Filth, U2, Ozzy Osbourne, Robbie Williams e a minha mãe musical - Tina Turner.

Uma curiosidade! Esclarece-me: na página de agradecimentos no booklet do “On The Road To The Unknown” vejo-te mencionar que vocês usam um riff de Killswitch Engage e ainda excertos dos Gipsy Kings em determinados temas vossos! Fala-me disso.
Em vários temas da Pop que tenho verificado a utilização de samplers de outras músicas, como por exemplo a Madonna com o som dos Abba... Eu achei ideal samplar, o riff dos Killswitch Engage no tema “On The Road”. É apenas uma actualização, suponho... Exceptuando no “Andaluzia” em que o laire é do tema “Vento Del Arena “ um saborosíssimo tema instrumental andaluzo dos Gipsy Kings... Eu cantava o laire sempre que ouvia esse tema.

Agora, como vai decorrer a promoção a este álbum? O que há planeado?
É segredo, é segredo…(risos)

Célia, tu que já fizeste tanto na tua carreira, em diversos ramos, o que esperas ainda vir a concretizar na tua vida?
O DVD do “On The Road To The Unknown” ao vivo, é o que há-de vir, esperemos.

Para terminar, uma palavra para definir este álbum e que “caminho” é esse para onde te estás a dirigir?
Eu semeei, quero plantar, quero voltar a plantar, um não ás secas!!... O “Unknown” que me indique o caminho.

Nuno Costa

Playlist Célia Lawson:
- "My Last Seranade" –
Killswitch Engage
- "Planet Hell- Nightwish
- "Cigaro" – System of Down
- "New Blood" - Lvpercalia
- "Violent Pornography" – System of a Down