Wednesday, July 13, 2005

Live Zone [report]

RAMP
08.07.05 - Festas do Nordeste


O fim-de-semana de 8 a 10 de Julho deste ano revelou-se, mais uma vez, um fim-de-semana altamente festivo e, como não podia deixar de ser, rodeado de muita música. Enquanto que, sensivelmente a meio da ilha, decorria a famigerada Festa do Chicharro, actualmente a decair sobre o cenário da previsibilidade mercantilista caracterizado por um cartaz cada vez mais “popular” e menos criativo, acontecia que na ponta nordeste da ilha, precisamente nas Festas do Concelho do Nordeste, comemorava-se o regresso dos Ramp a solo açoriano. Claramente a tentar constituir uma alternativa ao cartaz da Ribeira Quente e ao carisma exponencial das Festas do Chicharro, o presidente da Câmara do Nordeste teve o extremo bom senso estratégico e inteligência para encontrar uma alternativa válida no dia que trazia paralelamente os aclamados Blasted Mechanism a território insular. Sendo que se continua a não perceber a razão destas duas grandes e importantes festas de S. Miguel coincidirem na mesma data, resta-nos a nós, metaleiros, mostrar-nos extremamente gratos aos responsáveis nordestenses pela solidariedade demonstrada pelos jovens e, particularmente, pelos que gostam de música mais alternativa.


Perante tão grande “ameaça”, havia a hipótese de se assistir a uma casa muito pouco preenchida, mas mesmo assim, e em cima da hora do espectáculo, lá surgiu, quase sem darmos por nada, um batalhão de amantes do “som eterno” que encheram por completo o recinto. E foi perante este cenário e perante a avidez dos presentes em reverem tão boa banda como os Ramp, que soaram os primeiros acordes de “Clear”, um dos seus mais recentes sucessos. Logo logo implodiu no público a adrenalina e o mosh desencadeou-se em massa para acompanhar a potência, tanto de som que tão perfeito e pujante se encontrava naquela noite, como a força indiscutível dos temas dos Ramp. Desde 97, na altura do Festival Rock de Garagem – um concerto absolutamente devastador com grades a voarem e o público a invadir o palco – que a banda não punha os pés em S. Miguel, e daí a situação crescer de simbolismo, e toda a gente, mesmo a própria banda, a não querer perder um segundo do concerto para dar o seu máximo. Rui Duarte constantemente a incitar o público e este a responder incansavelmente, ao longo de uma autêntica visita de hora e meia à sua carreira e discografia, já com mais de dez anos. Desde os temas mais antigos como “Try Again” do velhinho “Thoughts” (92), tocado já em regime de encore, a “Black Tie” do álbum “Intersection” (95) a grandiosos clássicos como “How”, “Noone”, “Apathy” e “Hallelujah” do álbum “E.D.R.” (98), este último tema com uma curiosa representação onde todos os membros muniram-se de umas pequenas lanternas, colocadas na cabeça de forma a que os olhos parecessem substituídos por duas luzinhas, dando-lhes um look futurista e maquinal, tal como acontece no videoclip deste mesmo tema. Para além disso, o incontornável “Nude” que teve em maioria no concerto, através de “Clear”, como já enunciamos, “Prime”, “In Sane”, “S.H.O.U.T.”, “Drop Down” e o inevitável e belíssimo single “Alone”. Houve ainda tempo para o seu mais recente lançamento, o EP “Planet Earth”, do qual interpretaram o tema "Anjinho da Guarda" – um original de António Variações – e “Planet Earth” dos Duran Duran.


Em suma, um concerto absolutamente demolidor e que deixou de alma completamente “lavada” e saciada todos os metaleiros presentes. Com um público a não querer deixar a banda abandonar o palco e um Rui Duarte manifestamente agradado e comovido por voltar a S. Miguel e encarar um público tão caloroso, a banda finalizou a noite com uma sessão de autógrafos intensa e entusiasticamente vivida pelos fãs, que não quiseram perder a oportunidade de sacar uns autógrafos à banda e apertar a mão aos heróis do metal nacional que são os Ramp. Um grupo de talento inato com uma obra de valor histórico indiscutível e o qual esperamos voltar a encontrar em breve. Uma breve nota de fecho: só lamentamos o facto de não termos tido uma banda açoriana a abrir o espectáculo… Isso quando o apoio continua a ser ínfimo às bandas de metal açorianas.

Texto: Nuno Costa
Fotos: André Frias [www.contratempo.com]

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