Sunday, January 01, 2006

Entrevista Vencedores

Tal como prometido, a SounD(/)ZonE deixa aqui o relato das primeiras reacções dos grandes vencedores do Concurso Guitarrista Metalicídio. No meio dos festejos, a SounD(/)ZonE abordou Rodrigo Raposo e Luís Silva e encontrou dois músicos muito satisfeitos com a vitória...

RODRIGO RAPOSO

O que representa esta vitória para ti?
Bem, acima de tudo a questão de vir aqui tocar e curtir com o pessoal. Não foi tanto pelos prémios nem nada que se pareça, mas pela questão de vir aqui mostrar o meu trabalho e transmitir energia às pessoas.

O que achaste da iniciativa do Metalicídio?
São de louvar estas iniciativas, porque neste momento não há ninguém cá a fazer este tipo de eventos. O último concurso de guitarristas que houve foi à cerca de 4 ou 5 anos... Acho até que isto deveria ser uma iniciativa anual, uma vez que ajuda imenso os músicos a evoluírem. No meu caso, só pelo facto de me ter preparado para esse concurso, evoluí tecnicamente, porque estamos a ensaiar todos os dias...

...Esta era uma pergunta que te ia fazer mais à frente: como decorreu a preparação para este concurso?
Bem, eu estou a estudar no continente, vim no dia 17... Tive precisamente 10 dias para me preparar para este evento. Portanto, baseou-se nisso, tive que ensaiar todos os dias, já tinha as ideias mais ou menos preestabelecidas do que ia fazer e, no fim, foi só juntar a banda e as ideias deles às minhas.

Possuis formação musical?
Sim. Iniciei a minha carreira musical quando tinha 11 anos numa filarmónica onde estudei com amigos.

E conservatório?
Tive lá um ano mas, sinceramente, não gosto dos métodos que eles lá usam. Pessoalmente, acho que quem sai dos conservatórios são meros executantes. São capazes de ler qualquer pauta que lhes ponhas à frente e executar as coisas mais difíceis, mas, como músico, é preciso saberes libertar-te do papel, criar coisas diferentes, inovar. Pois a música, em si, não se escreve, mas é sim uma maneira de transmitir aquilo que tu sentes.

Alguma vez pensaste em seguir uma carreira a solo?
Hmmm... Bem, sinceramente o mundo da música não está fácil... Tu vês, por exemplo, músicos que não são muito evoluídos tecnicamente e que são muito famosos. Eu acho que a música é mais uma questão de teres sorte... e um bocadinho de talento também. Mas às vezes acontece que tens muito talento mas não tens sorte nenhuma, como, pelo contrário, tens gente que toca meia dúzia de acordes, vende e vai para os tops nacionais. Por isso digo que é muito uma questão de sorte.

E de estilo musical também, não?
Exacto, isto também é muito importante. Há pessoas que tocam para vender e outras que tocam por gosto. Pessoalmente, toco por gosto, faço aquilo que gosto...

O que achaste dos outros concorrentes?
Sinceramente, a única coisa negativa que eu encontrei foi o timbre das guitarras. Geralmente, o pessoal usa distorções muito estridentes. É preciso aprender a definir o som e moderá-lo melhor.

De facto, o teu som estava bem cristalino...
Sim, isso tem a ver com equalizações... Normalmente, o pessoal usa as distorções no máximo, com o máximo de gain... Isso deve-se evitar para que possamos ter uma definição boa. Por outro lado, acho que existe um outro problema em relação ao pessoal que dá aulas cá. Normalmente, eles usam as aulas só para mostrarem aquilo que sabem e ensinam pouco aos alunos, na minha opinião. Conheço casos de pessoas que me dizem que tiveram aulas e não aprenderam nada, pois passavam as aulas a olhar para o professor a vê-lo tocar. Acho que isso é uma situação que os próprios professores têm que rever... A outra, é a maneira como o pessoal faz o seu som.

LUÍS SILVA

O que representa esta vitória para ti?
Bem, representa alegria... Desta forma, o esforço foi recompensado, pois estivemos esta última semana sempre a trabalhar...

Fala-me de como decorreu a tua preparação para este evento.
Bem, eu demorei mais um pouco a preparar-me para este evento por causa da época festiva que atravessamos. Há sempre muita diversão nesta época e muitas vezes acaba-se por não fazer muito. Inclusive, cancelei algumas festividades lá em casa para poder trabalhar e me concentrar.

Quanto horas ensaiaste para isto?
Bom, ensaiei com o Freitas [baterista] três vezes... De resto, e como isso foi tudo feito num curto espaço de tempo, fiz as partes da bateria no computador para lhe dar a base daquilo que eu queria, e ele quando ouviu apanhou com muita facilidade.

O que achaste da iniciativa do Metalicídio?
Muito boa!! E também a aderência do público, pois desta vez este não se ficou pelas intenções e compareceu realmente em massa!

Já a agora, o que achas da questão dos concursos, no sentido em que há muita gente que os preconceitualiza pelo facto de ser uma competição?
Na minha opinião, estes concursos são uma maneira de dar a conhecer os músicos que andam na região e de ver o estado em que as coisas andam. Estas são sempre excelentes oportunidades de mostrares o teu trabalho pois, pelo contrário, tens muitas poucas para mostrar que, efectivamente, és músico e guitarrista. É pena porque existe muito potencial mas poucos apoios para este tipo de eventos. O pessoal tem que fazer tudo pelas suas mãos...

Como é o caso do Metalicídio, porque se fosse por iniciativa das entidades culturais não se fazia nada...
Exacto, e isso já se sabe há muito tempo... Inclusive, estava para pegar no micro e agradecer ao Presidente Carlos César por ter aparecido...!!! (risos) De facto, guitarradas não é cultura em S. Miguel... é quase contra-natura!!! (risos)

Tens alguma formação musical?
Nenhuma, sou completamente autodidacta. Aprendia através de revistas que mandava vir de Inglaterra, que é um país muito bom a esse nível. Aprendia com os CD’s que traziam e ia ensaiando com eles, bem como partituras que arranjava na internet, entre muitas outras coisas.

Fala-nos das tuas influências...Achei curioso estares a tocar um tema na onda de Meshuggah num momento, e noutro, uma balada em viola acústica...
Bem, esta é uma das minhas maiores influências, bem como tudo o que seja metal experimental. Toquei violão também porque, simplesmente, gosto de tocar violão! (risos)

Gostarias um dia de seguir uma carreira a solo?
Bem, a solo gostava na medida em que poderia fazer exactamente aquilo que gosto... E receber dinheiro por isso também seria muito bom!! (risos) Seria de facto muito melhor do que estares fechado em casa a ouvir sempre a tua mãe a dizer “não tocas nada”! (risos)

Para finalizar, com que opinião ficaste dos outros concorrentes?
Acho que a maioria estava toda ao mesmo nível...Mas de facto, não presenciei bem o espectáculo porque havia muita gente no recinto à minha frente. Mas de qualquer maneira, acho que houve também alguns que entraram por razões menos coerentes... Mais numa de “picar” apenas...

Nuno Costa

Fotos: André Frias [www.contratempo.com]

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