Monday, July 25, 2005

Entrevista Pitch Black

A ERA DA MÁQUINA

Será preciso remontarmos a metade da década passada para percebermos as várias etapas que o colectivo portuense teve que atravessar até chegar aos actuais Pitch Black. Primeiramente denominados Threat - banda de hardcore - passando depois para Withering, atravessaram muitas mudanças de line-up e lançaram várias maquetas, criando um culto à sua volta e fazendo história no thrash metal português. Hoje são uns verdadeiros ícones do género no nosso território e, finalmente, chegam à sua estreia em álbum com a edição de "Thrash Killing Machine", um disco que reflecte bem a atitude demolidora da banda. Foi com o guitarrista Álvaro Fernandes - único membro original da banda - que a SounD(/)ZonE falou sobre o novo disco e a história dos Pitch Black.

Álvaro, tu és o único membro dos Pitch Black presente desde o início da banda, ainda da altura em que se denominavam Threat. Como te sentes ao fim deste longo e atribulado percurso?
Como o aço! (risos) É um longo percurso que está quase a fazer 10 anos. Só agora conseguimos editar o nosso primeiro álbum. Em Portugal é assim que as coisas acontecem a maior parte das vezes. Uma banda demora muito tempo a chegar ao topo! Principalmente por as pessoas, de uma maneira geral, hoje gostarem de uma coisa e amanhã já gostarem de outra completamente diferente. Desde o princípio que tivemos pessoal a seguir e a apoiar a banda. Dez anos depois contam-se numa mão aqueles que ainda nos ouvem e apoiam. Mas o caminho ainda é longo e nós não desistimos, pelo menos tão cedo. Vão sempre ouvir falar de nós e nós vamos sempre tentar provocar “estragos” onde quer que passemos!

É quase exaustivo lermos a vossa biografia e verificarmos a série de mudanças de line-up que atravessaram ao longo destes anos todos… Consegues arranjar uma explicação para isso?
É um bocado como disse na pergunta anterior. As pessoas são inconstantes. Mudam de gostos de um dia para o outro. Ás vezes as prioridades na vida pessoal de cada a um são diferentes de outros elementos da banda. Mas temos de respeitar isso. No meu caso, é isto que eu gosto e é isto que eu quero fazer até morrer. Se me for possível podes crer que o farei! Com um bocado de sorte, fomos sempre conseguindo arranjar músicos para substituir os que abandonavam. Mas passamos por bocados bastante difíceis. Tão difíceis que chegamos a estar dois anos e meio sem dar um único concerto, precisamente por não termos um line-up estável. Mas felizmente conseguimos e estamos por cá ainda!

Já mais recentemente o Sérgio Vilas Boas também abandonou o colectivo! Que foi que se passou?
O Sérgio tinha outro projecto musical. Para além disso, tinha a sua vida pessoal e dois filhos. Ter uma banda gasta-se muito dinheiro do nosso bolso, pois é um grande investimento. E raramente se tem um lucro bom e significativo. Ele teve de escolher e optou por abandonar a banda.

Foi fácil arranjar substituto? O Ricardo Martins [ex-Under Fetid Corpses, ex-Grinder] foi uma aposta ganha?
Por acaso foi um processo bastante rápido. Tivemos sorte! Foi uma aposta ganha, sim. O Sérgio é um músico excelente e aprendemos muito com ele. O Ricardo é um dos que (como mencionei em cima, se contam pelos dedos de uma mão) acompanhou a banda desde o início. Ele conhecia a sonoridade da banda, o estilo, é amigo de longa data e tem o mesmo espírito. Já foi músico noutros projectos, mas nunca neste estilo porque em Portugal praticamente ninguém se interessa em tocar Thrash Metal.

Entretanto, estes anos todos foram também anos de muitas vitórias e alegrias. Quais são os momentos que guardas mais intensamente na tua memória?
De todos eles, o dia do lançamento do nosso primeiro álbum. Aquele momento em que peguei no CD vindo da fábrica e pensei: “Conseguimos!”. A vitória no concurso Rock Music Metal Challenge, a eleição de melhor demo-tape de Metal de 1998 pela única cerimónia oficial realizada na altura, em que nunca mais ninguém teve a coragem de levar para a frente algo semelhante. A partilha do mesmo palco com os The Haunted, Nuclear Assault e Exodus entre muitas outras coisas!

Falando agora do vosso 1º álbum, “Thrash Killing Machine”, o álbum foi gravado há já mais de dois anos. Só agora apareceu alguém interessado em lançar o vosso trabalho. Como foi que vocês se sentiram durante este tempo? Alguma vez chegaram a esmorecer?
Foi muito frustrante mas a esmorecer, nunca! Chegamos, sim, a colocar a hipótese de o disponibilizar na íntegra no nosso site para download, ou a fazer uma edição semi-profissional, com uma tiragem mais limitada e com um layout menos completo, tudo de acordo com as nossas possibilidades financeiras. Mesmo assim, já ia sair muito caro. Mas eram esses os nossos planos se não surgisse a oportunidade que a Recital nos deu.

Entretanto, foi fácil tomar a decisão de lançar estes temas agora? Os temas já são muito antigos e, imagino eu, já não reflectem aquilo que a banda é actualmente…
Ainda reflectem o que a banda é actualmente. Se calhar, até mais do que nunca. Continuamos a tocá-los todos e temos cada vez mais pessoal que vai aos concertos apoiar-nos e que canta as músicas todas! São temas já compostos há algum tempo, como é óbvio! Mas já são dez anos de banda. Não estamos propriamente naquela fase em que nos cansamos das músicas por acharmos que não são suficientemente boas, ao fim de seis meses. Isto é Thrash Metal e ao vivo vê-se bem isso. Todas elas resultam em caos, sempre! Talvez daqui a mais dez anos podemos achar que algumas já não deveriam ser tocadas. Mas algumas, como a “Disturbing the Peace”, nem que seja pelo agrado do público vamos continuar a tocar. Temos meia dúzia delas que nunca retiramos do nosso set-list. São aquelas que já reflectem a imagem da banda e aquilo que o público gosta de ouvir. E nós também.

Como é que a Recital aparece em cena? Na altura não chegaram a mandar a maqueta do álbum para a editora?
Sim, mandamos, mas pelos vistos o timming não foi o melhor. Passado este tempo todo, contactamos a Recital para a distribuição do nosso disco e mostraram-se interessados na edição. Pensamos um pouco e aceitamos a proposta. O objectivo era ver o disco cá fora e conseguimos!

Contudo, como é que têm sido as reacções ao vosso novo álbum?
Muito boas! Para um primeiro álbum são muito boas mesmo. Temos tido algumas notas bastante altas em alguns sítios e lá fora, segundo o feedback que temos, está a ter uma aceitação muito boa!

Normalmente, vocês acompanham as vossas edições de uma série apreciável de concertos. Agora com o vosso primeiro álbum a ocasião é especial! Que há planeado?
Já está a decorrer a 4ª tour da banda. É a “Thrash Metal Dominion” Tour 2005. Com esta estamos a tentar superar o número de concertos de todas as anteriores. Convém, até porque precisamos de promover o disco e, principalmente, de vendê-lo. Por acaso, com os que já se realizaram e com os que já estão confirmados, conseguimos superar esse número. Para já vamos nos 15 concertos. Começou a 18 de Março e talvez terminemos lá para Setembro / Outubro.

Nuno Costa

PLAYLIST ÁLVARO FERNANDES [guitarrista]

- "South Of Heaven" - Slayer
- "Tempo Of The Damned" - Exodus
- "Total" - Seigmen
- "This Godless Endeavor" - Nevermore
- "Doomsday Machine" - Arch Enemy

Thursday, July 14, 2005

Entrevista Forgotten Suns

SONHO PROGRESSIVO

Os Forgotten Suns fazem parte de uma restrita mas honrosa facção do metal. Tal como acontece no mundo inteiro, o rock progressivo vive em expansão e atinge se calhar hoje o maior pico da sua popularidade, muito graças aos nova-iorquinos Dream Theater. Entretanto, em Portugal, tal como na generalidade dos géneros dentro do rock/metal, as coisas são sempre muito difíceis de se porem cá para fora e se afirmarem. No entanto, se “Fiction Edge I” – o primeiro álbum dos lisboetas Forgotten Suns - passou de certa forma despercebido ao público, já o duplo-álbum de 2004 “Snooze” promete afirmar-se como uma das maiores obras jamais feitas dentro do universo progressivo em Portugal e elevar os Forgotten Suns a um patamar de reconhecimento que lhe é devido. A SounD(/)Zone conversou por isso com o guitarrista Ricardo Falcão.

Antes de mais, parabéns pelo vosso trabalho em “Snooze” e pela vossa carreira. De facto, é difícil ser-se uma banda prog num universo tão restrito como o português… Fala-nos um pouco da vossa história.
Obrigado Nuno, obrigado eu em nome dos Suns pela entrevista.
Os Forgotten Suns nasceram da amizade de duas pessoas (Linx e eu) aquando dos tempos de liceu em 92. Tínhamos na altura 17 anos e uma vontade enorme de fazer música “diferente”... Pelo caminho fomos juntando ao grupo o baixista “Johnny”, o teclista Miguel Valadares e, mais tarde, em 1997, o baterista Nuno Sénica. Com esta formação gravámos o primeiro álbum – “Fiction Edge” – e pusémos Portugal no mapa do rock progressivo outra vez. Criou-se uma mailing list portuguesa (prog.pt – agora prog-luso) à volta do entusiasmo deste álbum e o concerto de apresentação teve o apoio de gente de vários cantos do país... Foi muito especial para nós! Infelizmente, algumas pessoas dessa mailing list parecem ter esquecido esses momentos mágicos... Claro que o percurso teve os altos e baixos inerentes ao género de música que fazemos, especialmente por estarmos em Portugal onde não se dá muita atenção à música em geral, quanto mais a um género tão específico. Esses altos e baixos têm a ver com a constante entrada e saída de elementos no que toca a bateristas e teclistas. Essas saídas deveram-se a outras prioridades profissionais ou compromissos de ordem pessoal, creio que sempre soubémos ultrapassar as adversidades da melhor maneira possível e estamos neste momento com 30 anos, fortes, mais maduros e seguros. A entrada do baterista J.C Samora trouxe grande equilíbrio ao conjunto e a próxima relação musical que ele tem com o baixista Johnny moldou bastante a sonoridade FS.

Entre factos, abrimos a nossa própria editora (http://www.magicropemusic.com/), temos o nosso próprio estúdio de gravação em Lisboa (http://www.fxestudio.com/) e temos uma equipa técnica dedicadíssima, mais agenciamento a trabalhar connosco que compreende as empresas Luzisom e Fora D’agua Produções. Pessoas como Paulo Simões, Ricardo Nel e José Manuel são incansáveis profissionais e são como se fossem membros dos Suns.

Todas estas entidades levaram muito tempo, muito sacrifício e alguma sorte para serem realizadas. Tudo gira à volta de uma vontade única de levar a nossa música às pessoas e de nos realizarmos, por isso é que é tão dificil haver mais projectos em Portugal... No entanto, esta é a mensagem do álbum “Snooze” – nunca desistir... Em 2003 entrámos de novo em estúdio para gravar o álbum “Snooze” que arrebatou excelentes críticas em todo o mundo progressivo e não só. O álbum realmente agradou a muita gente, o que nos surpreendeu de certa maneira.

Neste momento decorre a Meet X Tour por vários auditórios na Zona de Lisboa onde promovemos o nosso último álbum – “Snooze”.

Fiquei curioso ao saber que vocês despoletaram de certa forma um movimento no rock progressivo em Portugal. Ouvi-te falar de uma Associação do Progressivo e de uns Marillionados numa entrevista. Explica-nos melhor o que é isto.
A Portugal Progressivo Associação Cultural (http://www.progcds.com/ppac/) é a responsável pelo Festival Gouveia Art Rock (http://www.gaudela.net/gar/) e pela vinda de algumas bandas progressivas a Portugal nos últimos anos (ex: Flower Kings, Arena, Isildurs Bane, etc). É uma Associação sem fins lucrativos e que tem um “amor à camisola” de louvar. Na minha humilde opinião, falta um pouco mais de abertura e compreensão do fenómeno progressivo de massas para que este Festival possa vir a ter lotação esgotada. Passo a citar o facto de o sub-género prog-metal ser mais abraçado neste evento para levar pelo menos o dobro das pessoas ao fim-de-semana do G.A.R.
Aproveito a entrevista para explicar que a ausência dos Forgotten Suns no DVD 2004 do Festival se deve, única e exclusivamente, ao facto de a banda não ter ficado 100% satisfeita com a sua performance o que nos levou, com muita pena, a não autorizar a inclusão de parte do nosso concerto no DVD. Todos os esforços da PP-AC foram feitos para que lá estivéssemos. Acredito que numa próxima oportunidade a banda estará pronta para aceitar o desafio e entrar no DVD do Festival.

Os marillionados (http://marillionados.cjb.net/) são um grupo de pessoas que adoram a banda Marillion, sendo muitos deles também fãs de Forgotten Suns. Foi através dos marillionados que conhecemos pessoas como o Vasco Leiria (o nosso moderador dos Burning Suns – clube de fãs dos Forgotten Suns) e a Mónica. Gente como J.Carlos, J.Blanch, Patrícia ou M.Batista fazem a diferença e qualquer clube de fãs no mundo os gostaria de ter.

Passando agora para o vosso novo álbum… Antes de mais, acho que é incontornável falarmos do seu conceito e da ligação que este tem com o anterior “Fiction Edge I”.
“Snooze” retrata a história de ‘X’ em 80 minutos de puro rock/metal progressivo.
‘X’ é uma personagem que poderia ser qualquer pessoa que vive para realizar os seus sonhos, no nosso caso, é o de sermos músicos (entenda-se criadores de música), mas o que ele faz na vida nada tem a ver com os seus ideais. No início do álbum, ‘X’ acorda ao som do seu despertador e sente uma incrível inércia para ir uma vez mais para o seu trabalho das 9h-17h que ele tanto detesta... Soa-vos familiar? Quando ele pára o despertador de tocar, em vez de o desligar, ele prime o “Snooze” e o álbum são os 9 minutos do sonho em que ‘X’ mergulha de novo...

A ligação conceptual a “Fiction Edge” é musical, pela repetição de alguns temas e também ao nível da própria história. “FE” é uma história que fala sobre assuntos universais como a criação do mundo, o aparecimento da natureza e do homem, as guerras e acaba com uma viagem no tempo até ao presente. Em “Snooze” esse presente é relatado na vida de ‘X’.

Quanto a tudo o que rodeou a composição e gravação do vosso novo álbum, fiquei com uma sensação muito “espiritual” quanto ao que significa este álbum para vocês. Especialmente pelos vossos textos na faixa multimédia que acompanha o disco, muito sentidos… Eu por acaso também já estive em Portalegre a estudar e também concordo no sentido em que aquele é um cenário realmente especial e sereno para se compor um álbum…;)
É verdade Nuno, uma paisagem lindíssima e inspiradora... Mesmo debaixo de um sol de verão escaldante! Poucos dias depois, a Serra que víamos todos os dias de manhã ao acordar foi devastada pelas chamas que assolaram o país inteiro. Ficarão para sempre verdes nas nossas memórias… Este álbum é especial porque é muito autobiográfico e exorciza os nossos fantasmas. É também um album que será sempre actual em termos de conceito/história, embora não aplicado a nós directamente mas a quem o ouvir e estiver numa altura de decidir o rumo certo a dar à sua vida.

Como tem decorrido o período pós-lançamento de “Snooze”? Agora decorridos alguns meses, que balanço fazes dos seus resultados? Boas críticas, muitos concertos, como tem sido?
Temos tido óptimo feedback da imprensa internacional e também nacional. Creio que com este álbum somos uma banda que subiu mais um degrau musical e subiremos ainda mais com o terceiro álbum. Foi também o ano em que tocámos mais e conseguimos que, em termos de promoção/distribuição/agenciamento, tudo corresse bem e com um bom timing. De momento decorre a Meet X Tour com concertos em auditórios e 3 bares de renome. Tem sido uma experiência muito interessante e conhecer novos fãs ao vivo é realmente gratificante.

O rock progressivo encontra-se de que saúde em Portugal?
O rock progressivo nunca teve saúde em Portugal até hoje, tal como outros géneros. Os anos de ouro foram os anos 70, mas que foram abafados com a revolução punk. Creio que o fenómeno global “Dream Theater”, pelas suas características, fez renascer muitas bandas e muitos músicos e que agora a música progressiva encontra-se em expansão. Basta olharmos para o número de novas bandas nos Estados Unidos, Suécia, Alemanha, Holanda, Itália e França... Em Portugal

também se verifica um pouco esse fenómeno mas são poucos os projectos que conseguem ver a luz do dia... É preciso muita força de vontade, sacrificio e... sorte!

Para o futuro, já têm planeadas novas metas?
Sim, temos tudo planeado para uma grande surpresa em breve mas que será anunciada na devida altura. Em relação a álbuns temos planeada a composição do terceiro disco e a re-gravação do “Fiction Edge”. Vamos continuar a tocar ao vivo, provavelmente uma segunda leg da Meet X Tour em Setembro.

Nuno Costa


PLAYLIST RICARDO FALCÃO [guitarrista]

- Elements of Persuasion ( James Labrie Solo album)
- Out To Every Nation (Jorn Lande solo album)
- Live at Budokan (Dream Theater)
- Aeronautics (MasterPlan)
- Live on the Edge of Forever (Symphony X)

Wednesday, July 13, 2005

Live Zone [report]

RAMP
08.07.05 - Festas do Nordeste


O fim-de-semana de 8 a 10 de Julho deste ano revelou-se, mais uma vez, um fim-de-semana altamente festivo e, como não podia deixar de ser, rodeado de muita música. Enquanto que, sensivelmente a meio da ilha, decorria a famigerada Festa do Chicharro, actualmente a decair sobre o cenário da previsibilidade mercantilista caracterizado por um cartaz cada vez mais “popular” e menos criativo, acontecia que na ponta nordeste da ilha, precisamente nas Festas do Concelho do Nordeste, comemorava-se o regresso dos Ramp a solo açoriano. Claramente a tentar constituir uma alternativa ao cartaz da Ribeira Quente e ao carisma exponencial das Festas do Chicharro, o presidente da Câmara do Nordeste teve o extremo bom senso estratégico e inteligência para encontrar uma alternativa válida no dia que trazia paralelamente os aclamados Blasted Mechanism a território insular. Sendo que se continua a não perceber a razão destas duas grandes e importantes festas de S. Miguel coincidirem na mesma data, resta-nos a nós, metaleiros, mostrar-nos extremamente gratos aos responsáveis nordestenses pela solidariedade demonstrada pelos jovens e, particularmente, pelos que gostam de música mais alternativa.


Perante tão grande “ameaça”, havia a hipótese de se assistir a uma casa muito pouco preenchida, mas mesmo assim, e em cima da hora do espectáculo, lá surgiu, quase sem darmos por nada, um batalhão de amantes do “som eterno” que encheram por completo o recinto. E foi perante este cenário e perante a avidez dos presentes em reverem tão boa banda como os Ramp, que soaram os primeiros acordes de “Clear”, um dos seus mais recentes sucessos. Logo logo implodiu no público a adrenalina e o mosh desencadeou-se em massa para acompanhar a potência, tanto de som que tão perfeito e pujante se encontrava naquela noite, como a força indiscutível dos temas dos Ramp. Desde 97, na altura do Festival Rock de Garagem – um concerto absolutamente devastador com grades a voarem e o público a invadir o palco – que a banda não punha os pés em S. Miguel, e daí a situação crescer de simbolismo, e toda a gente, mesmo a própria banda, a não querer perder um segundo do concerto para dar o seu máximo. Rui Duarte constantemente a incitar o público e este a responder incansavelmente, ao longo de uma autêntica visita de hora e meia à sua carreira e discografia, já com mais de dez anos. Desde os temas mais antigos como “Try Again” do velhinho “Thoughts” (92), tocado já em regime de encore, a “Black Tie” do álbum “Intersection” (95) a grandiosos clássicos como “How”, “Noone”, “Apathy” e “Hallelujah” do álbum “E.D.R.” (98), este último tema com uma curiosa representação onde todos os membros muniram-se de umas pequenas lanternas, colocadas na cabeça de forma a que os olhos parecessem substituídos por duas luzinhas, dando-lhes um look futurista e maquinal, tal como acontece no videoclip deste mesmo tema. Para além disso, o incontornável “Nude” que teve em maioria no concerto, através de “Clear”, como já enunciamos, “Prime”, “In Sane”, “S.H.O.U.T.”, “Drop Down” e o inevitável e belíssimo single “Alone”. Houve ainda tempo para o seu mais recente lançamento, o EP “Planet Earth”, do qual interpretaram o tema "Anjinho da Guarda" – um original de António Variações – e “Planet Earth” dos Duran Duran.


Em suma, um concerto absolutamente demolidor e que deixou de alma completamente “lavada” e saciada todos os metaleiros presentes. Com um público a não querer deixar a banda abandonar o palco e um Rui Duarte manifestamente agradado e comovido por voltar a S. Miguel e encarar um público tão caloroso, a banda finalizou a noite com uma sessão de autógrafos intensa e entusiasticamente vivida pelos fãs, que não quiseram perder a oportunidade de sacar uns autógrafos à banda e apertar a mão aos heróis do metal nacional que são os Ramp. Um grupo de talento inato com uma obra de valor histórico indiscutível e o qual esperamos voltar a encontrar em breve. Uma breve nota de fecho: só lamentamos o facto de não termos tido uma banda açoriana a abrir o espectáculo… Isso quando o apoio continua a ser ínfimo às bandas de metal açorianas.

Texto: Nuno Costa
Fotos: André Frias [www.contratempo.com]

Monday, July 11, 2005

Friday, July 08, 2005

BEYOND TWILIGHT
“Section X”
[CD – Massacre/Mastertrax]

Confesso que desconhecia a carreira deste sexteto dinamarquês de metal progressivo. Ás vezes, ou por questões editoriais que subjugam os artistas a distribuições deficientes ou pela nossa própria falta de tempo em estar dentro de todos lançamentos que vão surgindo no mercado, nos passam ao lado grandes talentos. Desta vez, e para nossa imensa satisfação, não deixamos escapar os Beyond Twilight e o seu segundo trabalho intitulado “Section X”. Ao ouvir pela primeira vez esta banda, fiquei com a sensação de que estava a descobrir um daqueles talentos desconhecido e secretos, ainda por cima vindo de uma editora normalmente ligada a metal mais tradicional, que não obstante já nos ter habituado a algumas surpresas, não julgava agora capaz de oferecer uma proposta deste género, dentro do progressivo e com este grau de qualidade. A verdade é que os Beyond Twilight não são propriamente uns desconhecidos, nem muito menos inexperientes [aliás, a coesão e a qualidade destacam-se logo de início], e o disco de estreia – “The Devil’s Hall Of Fame” – foi já um disco aclamado pela crítica. Sendo assim, convém mencionar que a responsabilidade deste projecto cabe maioritariamente a Finn Zierler, teclista e seu principal mentor, e que se revela destacadamente, ao longo da audição do disco, como um dos elementos fulcrais deste colectivo, provando mesmo que as teclas no progressivo são tão importantes quanto o resto dos instrumentos e que depende, efectivamente, muito delas a qualidade de um trabalho deste género. “Section X” funciona como que uma continuação do seu antecessor, recorrendo à reciclagem de riffs e passagens que já vinham de “The Devil’s Hall Of Fame”, criando assim aquela interligação e compatibilidade entre os dois trabalhos invocando uma abordagem que já é apanágio nas bandas de metal progressivo – o conceito e a obra como um todo. Musicalmente, e olhando até para as cores da capa, até nem os julgamos tratar de uma banda de metal progressivo, tal é a obscuridade que ela apresenta. Mas tudo acaba por estar perfeitamente ajustado, uma vez que, os Beyond Twilight desenvolvem um conceito e um tipo de som bastante obscuro, intenso e assente em orquestrações e diálogos que nos fazem sentir como que se estivéssemos a escutar uma banda sonora de um qualquer conto de Halloween – sem nunca chegar a ser maléfico, antes pelo contrário, sempre cheio de fantasia. Por outro lado a melodia está sempre presente e repleta de beleza [como no refrão de “Ecstasy Arise” e “Section X”], a técnica e o peso em doses controladas e muito bem medidas, e as capacidades técnicas de Finn a virem ao de cima no curto instrumental “A Portrait F In Dark Waters”, a demonstrar ainda uma interessantíssima veia sinfónica e neo-clássica. Ainda por cima, tudo fica facilitado quando a música é acompanhada por uma boa voz. É o caso de Kelly Sundown Carpenter [dos Outworld e recém-chegado aos Beyond Twiligth] que nos presenteia com um estilo muito próximo do de Jorn Lande em início de carreira. Em suma, uma excelente surpresa, de uma excelente banda e de uma editora de quem não estava nada à espera. [8/10] N.C.

Thursday, July 07, 2005

AGENDA


Os MASTERPLAN estarão em Portugal no próximo dia 13 de Agosto. O grupo - constituído pelos ex-Helloween Roland Grapow e Uli Kusch e pelo fantástico vocalista norueguês Jorn Lande - actuará num festival de heavy metal a decorrer na Praia de Mira (perto de Aveiro). Para além desta atracção internacional participarão no COSTA DE PRATA os portugueses ARYA, TARANTULA, TIMELESS (a nova super-banda de metal nacional), ORATORY e DIESEL-HUMM!.
TRAIL OF TEARS
“Free Fall Into Fear”
[CD – Napalm Records/Recital]

A formação dos Trail Of Tears remonta já a meados da década passada, mas só em 2000 começaram a emergir no circuito underground com a gravação do seu segundo álbum, o aclamado “Profoundemonium”. Habituados desde o princípio a mostrarem-nos vontade de fazer algo diferente e fugir às barreiras de qualquer cliché, moda ou tendência ocasional, os Trail Of Tears sempre fizeram por se demarcar das restantes bandas que, na altura em que se formaram, tentavam disputar o seu lugar na vertente doom/goth que despoletava na época. Entretanto souberam conjugar variadas facções [mais extremas] do metal, juntando-lhe ainda uma certa dose de experimentalismo e conseguiram criar algo atraente sem ser preciso recorrer aos maneirismos comerciais que caracterizavam as bandas do género na altura. Sendo assim, chegamos a 2005 e ao quarto trabalho destes noruegueses e encontramos uma sequência lógica do trabalho que haviam demonstrado no anterior “A New Dimension Of Might”. Guitarras ainda mais pesadas, com riffs [alguns] absolutamente vorazes e capazes de nos fazer soltar grandes doses de adrenalina, um cruzamento harmonioso entre um extremismo black metal [evidenciado pela velocidade, blast beats e teclados dignos dos álbuns mais antigos dos Dimmu Borgir] e uma melodia requintada, tipicamente gótica, a nível de refrões e vozes que conferem uma importante dinâmica e fluência a este trabalho. Os Trail Of Tears são suficientemente espertos para não nos deixarem cair na apatia revelando constantemente pormenores que nos elucidam claramente que esta banda não é uma banda de mente “curta” e que anda sempre à procura de inovar e não cair, como já se disse, em clichés de qualquer tipo. Não se pense com isso também que estamos perante uma obra absolutamente imaculada [nada disso], mas sabe absolutamente reconfortante uma banda que aqui e ali, hoje em dia, ainda nos consegue surpreender com alguma ousadia e frescura. Sendo assim, e tendo os Trail Of Tears ainda que trabalhar para construírem “aquela” obra, pois esta ainda peca por algum desequilíbrio [temos cerca de metade de um disco muito bom e outra que caí um pouco na monotonia], os Trail Of Tears são no entanto uma banda de respeito, pois dentro de um espectro tão saturado e desgastado conseguem ainda reformular, reinventar e pôr cá para fora ideias originais. [8/10] N.C.
BELEF
“Infection Purification”

[CD – Candlelight/PHD/Recital]

“Infection Purification” é o álbum de estreia dos franceses Belef e, à primeira vista, a capa do álbum deixa logo adivinhar um conteúdo violento, extremo e tortuoso. Apesar de “animado”, o seu visual não deixa de transmitir uma certa agressividade, mas da mesma maneira que esta agressividade não chega sequer para ser convincente e assustadora, a própria música dos Belef e de “Infection Purification” são também um reflexo perfeito da irrisoriedade e da banalidade que o seu próprio layout demonstra. Os Belef são uma banda de black metal extremo, de inspiração necro e de orientação bem tradicional, como o prescrevem nomes como Marduk ou Dark Funeral. Acontece que, por mais absurdo que pareça, há ainda editoras que continuam a assinar bandas que mais nada fazem do que recriar o que outros criaram noutras alturas, e ainda por cima – mais grave – quando este remake é feito sem o mínimo de inspiração ou relevância artística. “Infection Purification” é evidentemente uma tortura extrema, quase tão tortuosa quanto o ferro quente em forma de pentagrama que marca a coxa da menina da capa, pois é de absoluta ausência de dinâmica que se faz a música dos Belef. Riffs de guitarra sem carácter, sempre muito iguais, diabólicos é verdade, mas sem a mínima criatividade ou capacidade de nos deixar a ansiar por uma próxima audição. A bateria quase em absoluto regime de blast beat ao longo de todo o álbum [cerca de 50 minutos] … Como se pode resistir a uma tortura destas? Desligando a aparelhagem sonora ou então adormecendo que, acreditem, perante tanta monotonia, e apesar da violência debitada, não será assim tão difícil. Apesar de apresentarem bons recursos técnicos, os Belef demonstram uma total ausência de ideias e personalidade, o que faz com que só consiga aconselhar este disco a incondicionais do género. E, mesmo assim, falamos de gente com muita paciência e não propriamente de ouvintes exigentes, antes pelo contrário. Exigentes terão que ser urgentemente os Belef, consigo próprios, e repensar rapidamente o que querem da sua carreira. [3/10] N.C.