Thursday, August 28, 2008

Review

MISERY SIGNALS
“Controller”

[CD- Ferret Music]

Depois de dois anos atarefadíssimos na estrada, com passagens pela Europa, Reino Unido, Japão e Austrália, os Misery Signals estão de volta com o terceiro longa-duração da sua carreira. Embora analisar obras Metalcore, actualmente, seja tarefa árdua, quer pelo beco criativo a que o estilo se circunscreveu em função de um sufoco mercantil e consequente dificuldade que se gera até para distinguir os projectos desta categoria, reside, no entanto, pelos Misery Signals uma simpatia especial pelo ainda que fraccionado universo que foi capaz de criar.

Aquando do lançamento do anterior “Mirrors”, de 2006, a banda de Wisconsin conseguiu fazer gravitar vários elogios em primazia de um som forte e melódico com relevo principal para uma vocação matemática e progressiva. Afinal de contas, e embora hoje em dia não seja novidade nenhuma, é este o pormenor que nos faz acenar a este projecto no meio um pote transbordante de escolhas.

Neste terceiro trabalho, o quinteto dos irmãos Morgan [Ryan e Branden, guitarrista e baterista, respectivamente] garante-nos à partida que [quase] nada mudou ou pretende mudar na sua sonoridade. È verdade que a banda exala uma leve sensação de que cresceu em termos de composição, mas por outro fica a clara ideia de que perdeu alguma irreverência, ou pelo menos aquela que nos fez ficar surpreendidos aquando do lançamento de “Mirrors”.

Contudo, “Controller” dispõe de bons temas para que quem já era fã dos Misery Signals continue a sê-lo. A inteligência continua a revelar-se na mistura súbita de peso, breaks, melodia e compassos compostos, com as guitarras a alcançarem, várias vezes, considerável brilhantismo nas suas texturas. Quem regista a maior evolução no seu desempenho é, sem dúvida, o vocalista Karl Schubach. Em registo berrado o resultado é agora ainda mais cheio e hostil e na hora de cantar soa ainda mais refulgente.

Dez novas composições num capítulo que pode representar pouco em termos evolutivos para a carreira dos Misery Signals mas que, afinal de contas, assegura a preciosa cota de protagonismo que o grupo dispõe dentro da descomedida esfera “Metalcoreana”. [7/10] N.C.

Estilo: Metalcore/Mathcore

Discografia:
- “Misery Signals” [EP 2003]
- “Of Malice And The Magnum Heart” [CD 2004
- “Mirrors” [CD 2006]
- “Controller” [CD 2008]

www.miserysignals.net
www.myspace.com/miserysignals

Wednesday, August 27, 2008

Entrevista Jeff Loomis

ZERO GENERATIVO

Aos 37 anos e com aproximadamente 20 anos de uma carreira coroada de êxitos, já se justificava plenamente um álbum a solo para o norte-americano Jeff Loomis. Sobretudo conhecido pela sua brilhante carreira nos Nevermore e pelas suas capacidades técnicas de proa, aliada a uma insigne forma de visionar riffs e texturas musicais, eis que chegou a hora do “pássaro” sair do “ninho” e voar em nome próprio. “Zero Order Phase” é o primeiro capítulo da aventura a solo do músico de Seattle que volta a confirmar um virtuosismo sublime e um peso a quem todos lhe reconhecerão as raízes. Fã confesso de Jason Becker, Marty Friedman e Yngwie J. Malmsteen, o ex-guitarrista dos Sanctuary conta-nos porque é saudável este momento na sua carreira e porque, apesar do estatuto, não se considera um “guitar hero”.

A conclusão deste projecto é uma ideia de longa data ou representa uma forma de ocupar-se com algo produtivo enquanto os Nevermore atravessam uma pausa nas suas actividades?
Sim, eu desejava fazer algo como isto há muito tempo. Após a tournée do “This Godless Endeavour” tivemos muito tempo sem nada para fazer, daí que tenha aproveitado a oportunidade para consumar este projecto. Também tive que assinar um contracto separado com a Century Media, por isso as coisas levaram mais algum tempo até estarem prontas. Digamos apenas que estou contente por lançar o meu primeiro disco a solo e estar a dar entrevistas para ele.

De facto, a pausa com os Nevermore tem-se revelado muito produtiva para os seus membros. Depois do Warren é a sua vez de se lançar em nome próprio…
Eu acho bom mantermo-nos ocupados a fazer música. Os Nevermore estão juntos há muito tempo e eu queria muito fazer algo diferente. Pela mesma razão o Warrel decidiu lançar o seu primeiro trabalho a solo. Ambos tivemos a hipótese de pôr em prática um trabalho que soasse diferente dos Nevermore. Isto é algo muito saudável para a banda. Far-nos-á voltar ainda mais fortes para um próximo CD dos Nevermore. Aliás, neste momento, já tenho metade do material para o próximo CD dos Nevermore composto. Contamos entrar em estúdio no início do Inverno.

Será só pelo facto de quererem experimentar sons novos que acharam saudável incitar esta paragem com os Nevermore? Imagino que o excesso de tempo em tournée e o stress que lhe é inerente tenha forçado também este hiato…
Exactamente! Havia algumas questões “médicas” dentro da banda a resolver. Por isso, tornou-se importante tirarmos uns dias de folga e restabelecer algumas coisa para decidirmos o que vamos fazer no futuro. Esses dias separados têm sido bons, mas vamos continuar a actuar ao vivo mesmo durante este período, para continuarmos a manter-nos unidos. É engraçado, muitas pessoas pensam que nos estamos a separar por causa do meu projecto a solo e do do Warrel, mas isto não corresponde minimamente à verdade. Os Nevermore serão sempre a nossa maior prioridade.

Desde muito pequeno revelou um grande potencial técnico. Porém, alguma vez lhe passou pela cabeça que se pudesse tornar naqueles “guitar heroes” referenciais para os putos e que gravam os seus próprios álbuns?
Eu não olho para esta questão de forma tão intensa. Eu penso que se algo como isso acontece, é porque é suposto acontecer. Simplesmente, toco o que sinto. Se as pessoas ou os fãs dos Nevermore gostam da minha forma de tocar fico contente. Tenho tido pessoas a chamarem-me “guitar hero”, especialmente putos. Isso só me leva a querer praticar mais e aperfeiçoar-me. Se eu consigo ser alguém para um puto que toca ao ponto de ele olhar para mim como um “guitar hero”, então isto é muito mais do que eu alguma vez podia pedir. Eu penso que praticar e trabalhar arduamente é realmente a chave para se ter sucesso. Ambos levaram-me a onde estou hoje em dia.

São então estes os conselhos que dá aos jovens que estão acabando de pegar num instrumento para aprender…
Número um: tentem não ouvir apenas um estilo de música. Abram as vossas mentes para o Jazz, a Música Clássica, etc. Pratiquem também devagar e a partir daí trabalhem a vossa velocidade. Muitos guitarristas querem tocar depressa de um momento para o outro e isso, simplesmente, não funciona. Toquem também com outros músicos o máximo possível. Podem aprender muito apenas fazendo jams com outros bons músicos.

A ideia inicial com este projecto foi sempre gravar um álbum integralmente instrumental? Alguma vez sentiu que isso o pudesse tornar de alguma forma indigesto para algumas pessoas?
Claro, é muito desafiador escrever um álbum instrumental e conseguir que seja excitante durante toda a sua duração. Eu poderia ter posto algumas vozes em “Zero Order Phase”, mas a minha decisão de não as colocar foi, simplesmente, porque não quis. Foi apenas uma escolha pessoal. Quem sabe se o meu próximo álbum não pode soar muito diferente? Trata-se tudo, apenas, de uma questão de como me estou a sentir no momento. Tenho esperanças de que os fãs dos Nevermore vão gostar de ouvir este disco.

Na sua opinião este disco agradará tanto ao público comum como a músicos?
Eu penso que agradará um pouco mais a músicos mas, como disse, penso que os fãs dos Nevermore vão gostar muito dele também. É um disco muito diversificado, com muitas texturas musicais.

Foi preciso muito tempo para ter “Zero Order Phase” composto? Oiço tantas notas nele que me pergunto se não terá sido preciso um “grande plano” para o conceber! [risos]
Comecei a escrever para ele há oito meses atrás, portanto, tudo é muito novo. Eu encarei este processo de composição como se estivesse a compor para os Nevermore. Eu compus todos os dias e juntei tudo como peças de um puzzle. É um processo de composição que me consome muito tempo, mas, para ser honesto, foi concluído em poucos meses!

O que acha que um álbum a solo pode oferecer à carreira de Jeff Loomis?
Espero que sirva para mostrar outra faceta da minha forma de tocar guitarra, não apenas que sou bom tecnicamente, mas que também consigo escrever bons temas.

Caracteriza-se como aquele tipo de guitarrista que passa muitas horas a praticar técnicas ou que prefere dedicar todo o seu tempo à composição?
Eu não costumo passar muito tempo a aperfeiçoar técnicas. Isto aborrece-me. Eu prefiro muito mais despender o meu tempo a escrever uma peça musical. É assim que passo a maior parte dos meus dias a tocar guitarra.

Será que já não está nos seus planos a edição de um DVD instrucional?
Sim, estou a trabalhar no sentido de fechar um contracto com uma companhia para este propósito. Apenas não sei quando será lançado. Vamos esperar que esteja disponível no início do próximo ano.

No tema “Miles Of Machines” penso que é evidente a sua admiração por Yngwie Malmsteen. Que opinião tem da sua carreira nos últimos tempos e que qualidades mais admira no músico sueco?
O Yngwie sempre foi uma influência para mim. Fiquei completamente deslumbrado na primeira vez que o vi ao vivo. Lembro-me de ver alguém a chorar na plateia porque ele era tão bom! Estou muito ansioso por ouvir material novo dele. Eu tendo a pensar que ele repete-se um pouco hoje em dia, por isso, vamos esperar que o seu material novo seja um pouco mais “refrescante”. Yngwie “Fucking” Malmsteen!

Embora as suas influências mais clássicas, consegue ter um toque muito moderno na sua forma de tocar. Talvez o facto de tocar com uma guitarra de sete cordas ajude-o a atingir um som mais pesado e actual…
Não sei… Apenas toco o que me vai na alma. Eu sou um músico do “momento”, por assim dizer.

Embora “Zero Order Phase” seja um álbum sem letras, estou certo que existem motivações por trás dele. Que nos pode adiantar em relação a este aspecto?
Para dizer a verdade, não. Este é, de facto, um álbum completamente instrumental. Trata-se pura e simplesmente de nos sentarmos e deixarmos elevar tudo a um nível totalmente musical. Os títulos dos temas foram a última coisa com que me preocupei durante a concepção do álbum. A questão de escrever letras não é bem para mim. Apenas tentei criar títulos que encaixassem bem com cada tema.

Para quando prevê estar novamente a 100% dedicado aos Nevermore?
Os Nevermore são a nossa principal preocupação neste momento. Planeio fazer alguns workshops para promover “Zero Order Phase” nos Estados Unidos e fora dele, mas, para já, estamos muito empenhados na composição do novo álbum dos Nevermore.

E quando se pode esperar um novo capítulo da sua aventura a solo?
Eu assinei com a Century Media para três discos, por isso, certamente aparecerei com mais trabalhos instrumentais no futuro. Quem sabe se será com a mesma vibração do “Zero Order Phase”? Dependerá apenas do que estiver a sentir no momento.

Nuno Costa

www.jeffloomis.com
www.myspace.com/jeffloomis

Tuesday, August 26, 2008

Review

SOUL STEALER
“Soul Stealer”

[CD – Ledo Takas]

Graças à Ledo Takas ficamos a conhecer melhor como se movimenta o underground lituano. Com um catálogo maioritariamente composto por bandas de black metal, a editora irrompe, entretanto, com um projecto bem mais translúcido e “soft” - os Soul Stealer. 2003 viu-os nascer para o mundo e com a projecção que o vocalista Jeronimas Millius concedeu ao projecto, com uma vitoriosa participação no concurso nacional da Eurovisão, o grupo deu o salto para a gravação do seu primeiro longa-duração. Esquivando-se à fase de gravação de maquetas, o quinteto muniu-se da experiência de Enrikas [guitarrista dos Obtest] e Vytautas [teclista dos Ruination e Shadowdance] e rapidamente subiu para o top das bandas de Hard’N’Heavy mais importantes dos países de leste.

Todavia, prestando atenção à sua estreia homónima é difícil fugir-se ao desalento que é encontrar um típico trabalho de Power Metal, fortemente inspirado na herança germânica e com todas as agravantes que fizeram o estilo estagnar há longos anos. Há quem alegue que depois dos Helloween tudo o resto são tentativas de clonagem. Talvez não seríamos tão drásticos, até porque este é, por outro lado, bem capaz de ser um dos estilos que gera mais lealdade por parte dos fãs. É, de facto, uma questão de paixão ou ódio e aí não há como discutir sentimentos.

Interessa talvez, sim, encontrar o ponto em que os Soul Stealer se poderão ancorar para sobressair no meio de tamanha concorrência, sendo que mesmo após quase 30 anos de o estilo ter vivido o seu apogeu continua a “fabricar” para o universo Power Metal um leque enfartado de bandas. O país dos Soul Stealer também, e pelo que se conhece, não possui raízes neste espectro, o que sempre poderia ajudar se analisarmos que a forte tradição que países como a Alemanha ou a Finlândia têm no Power Metal concede de forma quase preconceituosa um dístico de qualidade aos seus projectos, mesmo que isso não passe de um complexo “virtual”.

Os Soul Stealer estão, por assim dizer, sozinhos nessa luta. Contudo, não ficam atrás de muitas bandas que por aí andam, a não ser na produção. Outro invólucro sonoro ajudaria bastante a que este material tivesse outro impacto. Grande voz de Jeronimas, solos competentes, um teclado inteligente e uma adequada secção rítmica pautam este material. Alguns desvarios melódicos/ambientais ajudam a quebrar a típica velocidade cavalgada deste tipo de sonoridade que é sempre susceptível de criar algum aborrecimento.

Numa análise conjectural poder-se-á dizer, com à vontade, que o forte deste estilo continua a estar na mestria das suas composições e no magnetismo dos seus riffs e refrões. Com todas as capacidades técnicas que os Soul Stealer se podem orgulhar de ostentar, faltam aqui apenas mais uns “pozinhos” de imaginação na forma de erigir a sua música. Resta ainda mencionar – e elogiar, já agora – o facto da banda não se intimidar minimamente com o facto do lituano ser uma das línguas menos faladas no mundo. Aqui esperaram-nos muitos versos na sua língua báltica. Complica a absorção da mensagem, mas confere-lhes, indiscutivelmente, identidade. Embora toda e qualquer nota de cansaço que o Power Metal tenha dado até hoje, estamos, ainda assim, convictos de que os Soul Stealer não defraudarão os fãs incondicionais do género, principalmente do interminável contingente teutónico. [6/10] N.C.

Estilo: Power Metal

Discografia: "Soul Stealer" [CD 2008]

Amon Amarth - Novo tema online

“Twilight Of The Thunder God”, é o primeiro tema do novo álbum, com o mesmo nome, dos Amon Amarth a estar disponível para audição. Para o efeito, visite www.myspace.com/amonamarth. O sétimo longa-duração dos viking metallers suecos tem edição prevista para 22 de Setembro em toda a Europa. Recentemente, a banda regressou da Polónia, onde gravou o videoclip de “Twilight Of The Thunder God”. A acção do videoclip decorre no antigo local viking Jomsborg, casa dos Jomsvikings em Wolin, os quais deslocaram-se de várias partes do mundo para fazerem parte do videoclip. Em declarações a banda diz que parece ter sido ajudada pelo “Deus Trovão”. “Passou um furacão/tempestade no sítio e na altura em que gravávamos, criando a atmosfera caótica e violenta que desejávamos para o videoclip. Foram as condições mais difíceis em que alguma vez gravámos um videoclip”, acrescenta. Em outras notícias dá-se conta que está já confirmada a presença dos Amon Amarth na edição 2009 do festival Summer Breeze, a ter lugar de 13 a 15 de Agosto em Dinkelsbühl, na Alemanha.

If Lucy Fell - Tournée europeia em Setembro

Sob pretexto do seu segundo disco, “Zebra Dance”, os lisboetas If Lucy Fell apontam Setembro para rumar novamente à Europa e cumprir algumas datas. A banda de Makoto Yagyu passará, nomeadamente, por Espanha, França, Luxemburgo, Alemanha, Áustria e Itália, num total de 16 datas a arrancar já no dia 31 de Agosto em Don Benito, em Espanha, e a terminar no dia 20 de Setembro em Madrid. Pelo meio, a 19 de Setembro, o público nacional poderá vê-los actuar na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa. A acompanhar a banda pela Europa estarão os bobadelenses Suchi Rukara. Confira todas as datas em www.myspace.com/iflucyfellrock.

Monday, August 25, 2008

Review

EAK/CRUSHING SUN
“Bipolar”

[Split CD – Major Label Industries]

Juntar EAK e Crushing Sun num split CD é manifesta boa estratégia editorial e prova de bom gosto. E, já agora, porque não dizê-lo, atitude de bom-senso e justiça para com estes dois grupos nacionais. Isso para não falar de que o seu resultado é similar ao impacto de um “cocktail molotov” em que nos fere tanto os seus vidros estilhaçados como o seu núcleo inflamável. Um resultado explosivo, portanto, de duas bandas que representam o que de melhor hoje Portugal oferece no campo do metal musculado e moderno.

Para quem ainda nunca ouviu falar de EAK [sigla para Extraterrestrial Alternative Knowledge], há a reter que fundaram-se em 2001, em S. João da Madeira, e atravessaram, logo após, um hiato de cinco anos forçados por falta de espaço para ensaiar. Descomprometidamente, voltam-se a reunir e enchem-se de garra e balanço para continuar. Resultam daí dois EP’s. Os Crushing Sun nascem em 2003 e desde aí têm sido das bandas mais activas ao vivo no underground nacional, mostrando que são feitos de fibra sólida e de um potencial significativo. Igualmente, dois EP’s sugerem a sonoridade da banda de Vila do Conde que chega a 2008 com provas mais do que dadas para fazer parte de uma estrutura editorial como a da Major Label Industries.

Em poucas palavras podemos descrever os E.A.K. como uns filhos bastardos dos Converge vendidos à esquizofrenia de uns Architects. O título do tema “Musclecore” é o B.I. perfeito para a banda. Os Crushing Sun conseguem ser mais sóbrios, e até certo ponto menos exuberantes, desbravando caminhos que esbarram no metalcore, death metal e até no black metal. O groove em alternância com ritmos furiosos e rápidos sobressaem na receita musical do grupo e as coisas tornam-se,efectivamente, bem interessantes graças à audácia com que a banda mistura, baralha e “confunde” variadas e díspares influências. A dissonância de uns Gojira, aqui e ali, também se faz sentir, e percebemos com o decorrer do alinhamento que os Crushing Sun são muito mais do que jovens deslumbrados com tendências “maneiristas”.

Não servindo este trabalho para comparar ninguém, mas sim para dar conhecer [e tanto que estas bandas já mereciam um suporte discográfico como este], fica a certeza “vergada” de que tanto os EAK como os Crushing Sun podem implodir a qualquer momento! [8/10] N.C.

Estilo:
EAK – Death/Thrash/Metalcore
Crushing Sun – Death Metal/Metalcore/Experimental

Discografia:
EAK
- “3 Steps To…” [EP 2003]
- “Musclecore” [EP 2006]

Crushing Sun
- “Crushing Sun” [Demo 2005]
- “Paradox” [Demo 2006]

Jason Bonham - Compõe com Jimmy Page e John Paul Jones

Jason Bonham, filho do lendário baterista John Bonham, garantiu na passada sexta-feira numa entrevista ao programa de rádio norte-americano “JJ & Lyne” que tem estado a fazer jams com Jimmy Page e John Paul Jones, dos Led Zeppelin. “Fui a Inglaterra duas vezes para trabalhar com o Jimmy e o John Paul em novo material. Não sei como vai resultar, mas vai sair algo…” afiança o baterista. Na mesma ocasião o baterista aproveita para comunicar a sua saída dos Foreigner, banda fundada por Mick Jones e Ian McDonald [ex-King Crimson] em 1976, na qual ingressou em 2004, com um pequeno interregno em 2007. “O meu tempo com os Foreigner está a chegar ao fim. Abandono a banda no final deste mês”. O músico justifica: “Tenho ideia de passar algum tempo com a minha família. Desde que me mudei para a América que tenho estado na estrada, por isso, a minha primeira prioridade agora é voltar a casa para ver os meus filhos crescer, pois eles cresceram muito rápido nestes últimos quatro anos”.

Spylacopa - Membros de Candiria, Isis, The Dillinger Escape Plan e Made Out Of Babies reunidos

O projecto experimental/ambiental Spylacopa que reúne estrelas como John LaMacchia [Candiria], Jeff Caxide [Isis], Greg Puciato [The Dillinger Escape Plan] e Julie Christmas [Made Out Of Babies, Battle Of Mice] faz a sua estreia em Novembro, com um EP de cinco temas, pela Rising Pulse Records. Este projecto foi uma ideia de LaMacchia, o qual vem trabalhando nesta estreia desde 2006. O guitarrista dos Candiria garante: “Estes são alguns dos melhores músicos com quem já trabalhei e a música deste EP revela enorme talento. Os fãs vão, com toda a certeza, ficar agradados”. Entretanto, embora os membros deste projecto tenham uma agenda muito preenchida com os seus projectos principais, LaMacchia não descura a hipótese de uma reunião para a realização de um ou dois concertos.

Friday, August 22, 2008

Review

IN THA UMBRA
“Thvs Open Thine Eerie Wings Like An Eagle And Soar The Winds Of Chaos”
[CD – Agonia Records]

Paradoxalmente, vindos do ponto mais solarengo de Portugal, os veteranos In Tha Umbra continuam a ser uma das bandas mais obscuras e íntegras do underground nacional. Como tal, uma invejável carreira, sempre marcada pela autonomia das suas ideias e ideais, atinge mais um ano e acrescenta mais um álbum à sua “prateleira”. Com o complexo nome “Thvs Open Thine Eerie Wings Like An Eagle And Soar The Winds Of Chaos”, o, agora, trio vindo de Estombar, no Algarve, descobre a sua costela mais progressiva e aplica-a com pompa e circunstância neste quarto longa-duração. Embora não tenham abandonado parte das características que os enalteceram ao longo de já 12 anos de carreira, os In Tha Umbra são hoje uma banda muito mais moderna e progressiva e experimental no sentido do espírito aventureiro que agora se lhes configura.

Peso distorcido e ritmos acelerados ainda aqui se testemunham, mas a melodia, ambientes serenos e detalhes complexos de composição sobressaem como a “nova” cara destes algarvios. E ainda bem que assim o é. Se há pouco falávamos de personalidade, com este novo tomo o grupo comprova que é uma entidade virada para si própria e a alimentar-se absolutamente da singularidade da sua conjectura criativa. Não deixa os seus créditos por mãos alheias, portanto. Outra coisa não seria de esperar de um grupo já com muita experiência. Mas mesmo assim não nos deixam de surpreender, quer pelos pormenores que já enunciámos, quer pelo facto de agora até cantarem e vociferarem em português.

Grande destaque vai ainda para os ambientes de teclado, da responsabilidade de Fernando E. [amigo próximo do grupo] que aceitou o convite para participar nesta obra e para seu enorme benefício, diga-se. O músico foi capaz de costurar uma roupagem progressiva impressionante que, por vezes, nos remete para o universo excêntrico de uns Opeth ou para o psicadelismo de um qualquer grupo de rock avantgard, dando-se ainda ao sarcasmo de ir alternando com paisagens orquestrais. As várias vezes em que Célia Ramos [Mons Lunae] empresta a sua voz graciosa a temas de “Thvs Open Thine Eerie Wings…” são outros dos pontos mais válidos deste regresso. Dá-nos a entender que Os In Tha Umbra tiveram a preocupação de tornar este disco minimamente “interactivo”, e se, não raras vezes, se convida por convidar, aqui a aposta foi perfeitamente válida e justificada.

São nove novas composições de um grupo de quem o público português se orgulha há bastante tempo. E, com certeza, assim vai continuar a sentir-se. [7/10] N.C.

Estilo:
Death/Black/Progressive Metal

Discografia:
- "Descend Supreme Sunset" [CD 1998]
- "The Goatblöd 666" [EP 7' 1999]
- "Midnight In The Garden Of Hell" [CD 2000]
- "Pentagramma" [EP 2002]
- "Nigrium Nigrius Nigro" [CD 2005]
- “Thvs Open Thine Eerie Wings Like An Eagle And Soar The Winds Of Chaos” [CD 2008]

The Haunted - Contra o sistema

O regresso dos The Haunted, marcado para 17 de Setembro para a Suécia e até dia 24 de Setembro para toda a Europa, com o seu novo disco “Versus” é um dos momentos mais aguardados deste ano. Enquanto o tempo não chega, o grupo sueco publica no seu Myspace o primeiro tema de “Versus” – “Moronic Colossus – bem como a capa do disco. “Versus” foi gravado novamente por Tue Madsen nos PUK, Antfarm e IF Studio, desta vez sem “click, triggers e nada que o pudesse tornar falso”. É assim que banda descreve a sua atitude em estúdio desta vez, na busca de um som condicente com a verdadeira essência do grupo, segundo um método de captação “live”.

Skewer - Na MTV Brasil

Os barreirenses Skewer têm alcançado alguns feitos notáveis nos últimos meses de que damos conta nas próximas linhas. Hermes “Hem”, director da animação “Urban Jungle”, uma produção da italiana Plasmedia, escolheu um tema dos Skewer para sonorizar o seu novo trabalho. O videoclip “Stayed” do quarteto rock/grunge, estará a rodar no programa MTV Lab Now da MTV Brasil e no MTV Overdrive a partir de 27 de Agosto. Fará também parte da programação da MTV Reino Unido, França e Adria entre Setembro e Outubro deste ano. Igualmente “Stayed” está seleccionado para fazer parte do Festival Vimus 2008, certame que visa distinguir e promover vídeos musicais, concertos e documentários musicais, a ter lugar de 4 a 7 de Setembro na Póvoa do Varzim. O último trabalho da banda da margem sul chama-se “Whatever”. Entretanto, o grupo já prepara novo material com vista à edição do seu sucessor.

Extreme - De regresso aos discos e a Portugal

Treze anos após o lançamento de “Waiting For The Punchline”, o último disco de estúdio dos Extreme, a banda liderada pelo luso-descendente Nuno Bettencourt e Gary Cherone estão de volta aos discos e à estrada. Uma das bandas mais marcantes do rock’n’roll dos anos 90 brinda-nos agora com “Saudades do Rock”, um conjunto de 13 novas composições gravadas, produzidas e misturadas pelo próprio Nuno Bettencourt. No âmbito da sua “Take Us Alive Tour 2008”, o grupo de Boston actua no Coliseu de Lisboa no dia 29 de Outubro e promete reunir grande euforia junto de velhas e novas gerações de fãs. Os bilhetes já estão à venda a valores entre os 25€ e os 30€ na Worten, FNAC, Coliseu de Lisboa e Porto, Agências de Viagens Abreu, Agências ABEP e Alvalade, Megarede Bulhosa [Oeiras Parque e C.C. Cidade do Porto], Bliss [Fórum Montijo], www.plateia.pt e www.ticketline.pt. O início do espectáculo é às 21h00.

Thursday, August 21, 2008

Six Feet Under - Novo álbum este ano

O sucessor de “Commandment”, disco de 2007 dos Six Feet Under, está neste momento em fase de masterização. O colectivo de Death Metal da Florida, liderado por Chris Barnes, ainda não anunciou o título nem a track-listing do seu novo trabalho, mas já garantiu que “os novos temas estão a soar muito bem e todos os fãs da banda vão gostar deles”. O instrumental do seu novo álbum foi registado nos Morrisound Studios, na Florida, por Chris Carroll com a ajuda de Bill Metoyer para a captação da bateria [o qual já trabalhou com a banda em “Warpath”] e a parte vocal nos The Hit Factory Criteria, em Miami, com a orientação de Chris Carrol. A mistura e masterização estão a cargo de Toby Wright que já trabalhou com bandas como Slayer, Soulfly e Alice In Chains. O oitavo álbum da carreira dos Six Feet Under estará disponível no final deste ano pela Metal Blade.

Metallica - Novo sample de "Death Magnetic" online

“The Day That Never Comes” é o quarto tema de "Death Magnetic", o muito aguardado novo álbum dos Metallica, a ser alvo de uma edição em sampler e publicado no site oficial do grupo - www.metallica.com. O nono disco de originais dos “The Four Horsemen” chega aos escaparates no dia 12 de Setembro, na mesma altura em que estará disponível para download para o jogo “Guitar Hero III: Legends Of Rock”. “Death Magnetic” estará disponível em variadas edições, entre as quais se destacam uma “Coffin Box” composta por CD, DVD, T-Shirt, palhetas e mais alguma parafernália. Nos dias 12 e 15 de Setembro os Metallica fazem a apresentação oficial de “Death Magnetic” na Europa em concertos em Londres e Berlim, respectivamente. As receitas de ambos os concertos reverterão para instituições de caridade locais.

Wednesday, August 20, 2008

Review

CATACOMBE
“Memoirs”

[EP – Edição de Autor]

É com um orgulho bastante sentido, pelo seu resultado e pela sua nacionalidade, que atendemos a este trabalho de estreia do projecto a solo de Pedro Sobast, de Vale de Cambra. “Memoirs” é daqueles trabalhos arrepiantes em análise imediata, cumpridos escassos minutos de escuta, pelas características arrebatadoras das suas notas, ritmos, ambiências, paisagens e, sobretudo, sensações. Trabalhos ditos “vulgares” fazem-se de “simples” composições, mas aquelas que marcam para a posteridade são as que são capazes de carregar uma aura “mágica”. São espectros de melancolia, introspecção, suavidade, inocência, entre muitas outros que pairam sobre a interpretação e estado de espírito de cada ouvinte, que adornam este disco concebido de forma espontânea e ao mesmo tempo com a inteligência cirúrgica que quem sabe que não vai falhar a abordagem aos nossos centros sensoriais.

É verdade que este tipo de trabalho experimental, ambiental e com um espírito rock [ou post-rock como agora preferem chamar-lhe] é susceptível de nos envolver facilmente, mas vemo-nos mesmo obrigados a lhe prestar homenagem pela aura que transmite que é tão incisiva, visceral e profunda quanto possam imaginar. Para além disso, este tipo de composição é feito com conta, peso e medida para que tenhamos tempo para nos embrenharmos nele e até nos esquecermos do nosso próprio plano de existência.

Em “Memoirs”, inclusive, não se ouvem vozes, o que ajuda ainda mais a uma interpretação pessoal. O truque é deixarmo-nos levar pelo som, simplesmente, o que é aqui muito fácil, acreditem. A classe da composição de Pedro Sobast é superior e já a podíamos comprovar nos Looney Tunes, projecto de índole mais progressiva. Estão então reunidos todos os ingredientes para que este disco, com apenas seis temas, nos fique [bem] gravado na memória e cravado na alma.

Muito se tem falado de que o “fado” e o espírito melancólico portugueses têm ajudado à criação de obras sublimes dentro deste género [como são exemplos Katabatic ou mesmo Riding Pânico], ou mesmo do doom [com Process Of Guilt ou Before The Rain à cabeça], e queremos acreditar que há lógica nesse raciocínio, embora esta tendência tenha sido popularizada por colectivos pertencentes a realidades muito diferentes da nossa. A verdade é que a importação assenta-nos como uma luva e conseguimos-lhe dar um cunho bastante pessoal. Obrigatório para fãs de Isis, Cult Of Luna, The Ocean Collective, Anathema ou mesmo Neurosis. Uma das surpresas nacionais do ano. [8/10] N.C.

Estilo:
Post-Rock/Ambiental/Experimental

Discografia:
"Memoirs" [EP 2008]

www.myspace.com/catacombeband

Tuesday, August 19, 2008

Angriff e Unbridled - Nas Festas da Cidade de Mangualde

No próximo domingo, 24 de Agosto, os thrashers Angriff e os death metallers Unbridled actuam nas Festas da Cidade de Mangualde, pelas 21h30. A relembrar que os Unbridled estão neste momento a promover o seu primeiro EP, “Corrupting The Core Of My Soul”, lançado este ano pela própria banda, enquanto os Angriff militam desde o início do Verão com Cliff e Samuel nos lugares de vocalista e baterista, respectivamente, enquanto José Rocha deixou a bateria para assumir o baixo do grupo.

Friday, August 15, 2008

Entrevista Resposta Simples

LEMAS URBANOS

A força, a atitude e o instinto conquistador colocaram os açorianos Resposta Simples na lista de bandas punk/hardcore nacionais mais convincentes da actualidade. Por um buliçoso percurso de edição de demos, EP’s e participações em inúmeras compilações, o trio da ilha Terceira abriu um sulco que coage um grande sentido de respeito tanto da parte da imprensa como daqueles que vivem este movimento urbano. A grande novidade é “Sonho Peregrino”, dístico do seu primeiro álbum que nos chega pela própria editora da banda, a “Impulso Atlântico”. Felicitámos Paulo Lemos, guitarrista e vocalista, por esse feito e ficámos a saber como se sente em relação a esse “sonho" consumado.

Como se sentem em relação a este primeiro longa-duração ainda mais atendendo há longa luta de promoção que fazem desde 2003 com a edição de EP’s, maquetas, compilações?
Sentimos que realizamos o trilho natural a percorrer por um projecto musical do género. Desde 2003 que andamos a espalhar a mensagem e a promover a nossa banda e sonoridade e pensamos que o trajecto comum de “demo-EP-álbum” foi o melhor a seguir para os Resposta Simples. Além disso, também participámos em diversas colectâneas, que são também uma importante fonte de divulgação.

Sentiram de alguma forma especial que este era o momento certo para apostar forte num disco?
Sim, definitivamente. Sentimos que nesta altura somos um projecto mais coeso e maduro, principalmente com a entrada do novo baixista, Gouveia, que veio consolidar, definitivamente, a sonoridade dos Resposta Simples. O lançamento do “Sonho Peregrino” fez todo o sentido para nós nesta altura

Os Resposta Simples continuam a ser um “segredo” bem guardado ou um caso evidente de popularidade no continente?
Acredito piamente que as opiniões de terceiros são muito mais objectivas e neutras, por isso penso que não serei a melhor pessoa a responder a essa questão devido ao meu envolvimento com o projecto. Contudo, posso dizer que sentimos que os Resposta Simples têm um maior reconhecimento a nível continental do que propriamente insular.

Acha que o ditado “Santos da casa não fazem milagres” encaixa particularmente bem com a mentalidade dos açorianos? [risos]
Completamente! [risos] Os açorianos, tal como o resto da população portuguesa, não dão valor aos projectos nacionais. Mas isto não é um “problema” local, mas sim nacional. Vejamos o caso dos músicos The Parkinsons e Slimmy. Estes só conseguiram reconhecimento em Portugal depois de irem viver para a Inglaterra e lá demonstrarem a sua arte. Enquanto banda, já compreendemos há algum tempo que esta é uma mentalidade que certamente irá demorar algum tempo a alterar.

Sentia algum preconceito em relação à banda enquanto vivia nos Açores?
Como é do conhecimento geral, os Açores têm um movimento metaleiro muito forte e o underground do Punk e do Hardcore tem muito pouca relevância no arquipélago. Assim, penso que é natural que devido a tal facto os Resposta Simples não tenham encontrado durante os dois anos de permanência no arquipélago um grande reconhecimento. Mesmo assim, penso que alguns dos “nossos feitos” de que falas passaram, infelizmente, despercebidos à maioria dos açorianos. Deste modo, o tipo de reconhecimento que sentimos actualmente na nossa banda e no nosso arquipélago é o mesmo de que quando formámos a banda em 2003.

Depois disso, o facto de terem alcançado algum reconhecimento no continente tem vos aberto portas para os Açores ou mesmo para o estrangeiro?
Decididamente abriu-nos mais portas para o estrangeiro do que para os Açores. O estilo Punk/Hardcore não é dos mais apreciados no arquipélago e aí os Resposta Simples não têm muita margem de manobra. Já por várias vezes surgiram-nos oportunidades e convites para tocar no estrangeiro, só que, infelizmente, devido ao factor disponibilidade dos membros da banda não nos foi possível realizar tais actuações. Talvez num futuro próximo, esperemos.

Contudo, onde se sentem melhor ao estar e tocar?
Embora tenha um grande apreço pela nossa terra, os melhores espaços e actuações dos Resposta Simples são no continente português, em terras como Coimbra, Porto e Lisboa.

Os membros dos Resposta Simples continuam a viver muito longe uns dos outros e a obrigarem-se a uma grande “ginástica” para manterem os ensaios e a banda a funcionar?
Sim, penso que essa é a nossa maldição! [risos] Encontro-me a viver em Coimbra e o Tiago e o Gouveia em Vila Real. Assim, temos que fazer um maior esforço que a maioria das bandas para ensaiar e actuar. É normal que tenhamos que nos deslocar ao Porto ou a Coimbra para um simples ensaio e quando existem concertos normalmente o Tiago e o Gouveia vão juntos para tal sítio e como partimos de cidades diferentes só depois é que me encontro com eles.

Para além desse handicap, os Resposta Simples têm que lidar com mais algum?
Só mesmo com a adversidade do dinheiro, pois esse nunca é suficiente! [risos]

O punk em si é uma forma de expressão musical com muitos adeptos em Portugal? Sentem facilidade em fazer chegar às pessoas a vossa música e mensagem?
Sim, de facto o Punk tem diversos adeptos em Portugal. Contudo, tal como o Metal, o Punk divide-se em várias vertentes, como o crust, youth crew sxe, hardcore ou mesmo o pop-punk. Assim, pode-se dizer que o apogeu do nosso estilo, ou seja, o Punk Hardcore, já aconteceu nos anos 90 com bandas como os Ratos de Porão, X-Acto, Alcoore, Trinta e Um e também nos anos 80, com os Crise Total. Hoje em dia, o dito Hardcore mais popular é o vulgo Emocore e o NYC Hardcore. Mesmo assim, após levar uma enorme “esfrega” de dificuldades em querer fazer chegar a nossa música aos ouvidos açorianos, acabamos por sentir uma maior facilidade em promover a nossa música a nível continental. Embora o nosso estilo musical não seja, actualmente, dos mais populares do underground, encontramos ainda muitas pessoas que são fiéis ao som da “velha escola”!

“Sonho Peregrino” pode ser interpretado como?
Gostamos de pensar que cada pessoa sente-se livre o suficiente para dar a sua interpretação pessoal quanto ao título do disco. Quanto a nós, é o culminar de um longo trabalho a ser desenvolvido pelos Resposta Simples e a concretização de um sonho; “peregrino” pois este disco é algo que significa imenso para cada membro da banda e que, de certa forma, acaba por ter um significado muito pessoal e único para cada um.

Este disco levou ainda algum tempo a preparar, certo? Já desde inícios de 2006 que falavam em entrar em estúdio…
Sim, isso é verdade. Mas nestas andanças da música imprevistos acontecem e na altura em que tínhamos planeado a gravação do disco, o nosso baixista abandonou a banda, o que veio a atrasar o processo. Tivemos vários músicos à experiência para tomar esse cargo, mas foi, decididamente, com a entrada do Gouveia que os Resposta Simples ficaram “completos” novamente. Então decidimos qual era a altura perfeita para editar o disco.

Também incluíram em “Sonho Peregrino” temas dos vossos EP’s. Porquê?
Achamos que os temas do EP “Revolução Pessoal” tinham potencial para estar no disco. Após alguns anos da edição do EP melhorámos as músicas e sabíamos que em termos de qualidade sonora as músicas no álbum iriam superar de longe as do EP. Tivemos isso em consideração e ficámos muito contentes com o resultado final.

Por outro lado, parecem ter retirado temas ao alinhamento inicialmente anunciado para o CD. Acabaram por ficar pelos nove…
Tínhamos planeado editar inicialmente 12 faixas para o “Sonho Peregrino”. Contudo, temos a noção que a audição de um disco Punk pode-se tornar enfadonha caso seja muito extensa a playlist. Decidimos assim seleccionar os melhores temas para o álbum. Quanto às faixas que foram deixadas de fora, vão ser utilizadas em exclusivo para algumas compilações.

Um videoclip também estava na forja. Como estão os seus planos?
Éramos para gravar um videoclip na escola de artes “Restart”. Tínhamos já tudo acordado com a direcção, mas mais uma vez, infelizmente devido ao factor da distância e disponibilidade social, acabámos por não poder concretizar este projecto.

Em termos estilísticos os Resposta Simples parecem caminhar progressivamente para um som cada vez mais cru e “rasgado”. É assim que também vê a evolução da banda?
Sim, para nós o som dos Resposta Simples está cada vez mais sujo e agressivo. Há até quem diga que estamos com um som “rasgado” demais, mas continuamos a achar que poderia ser ainda mais rápido. [risos]

É de alguma forma complicado “experimentar” no punk/hardcore sem ferir os seus princípios? Isso interessa-vos de alguma forma?
Nós sentimo-nos livres o suficiente para criarmos música sem nos subjugarmos a rótulos musicais. Não nos sentimos limitados quanto a isso, pois não é a nossa intenção recriar uma “fórmula musical”, mas sim, antes, tentar atingir o limite da nossa criatividade. Claro que temos por base o Punk e o Hardcore, pois é esse o estilo que nós gostamos de tocar, mas não nos cingimos a regras ou tentamos aproximar-nos de tal banda ou de tal sonoridade. Gostamos de pensar que o nosso som é muito particular dos Resposta Simples; já nos disseram isso várias vezes, o que é um elogio para nós!

A vossa editora – Impulso Atlântico – continua a dar-vos muito trabalho?
Cada vez temos menos tempo para poder concretizar projectos como gostaríamos de o fazer. Estamos a envelhecer e não há tempo para tudo! [risos] Embora ainda dediquemos tempo ao projecto e continuemos a editar discos da nossa banda e de outros projectos musicais, a Impulso é hoje mais um hobby do que uma “top priority”, o que acontecia há alguns anos atrás.

Quais são os seus planos editoriais para o futuro?
Temos editado alguns discos nos últimos tempos e podem ver a lista destes em www.impulsoatlantico.com. Estamos agora a concentrar-nos na promoção do “Sonho Peregrino”, mas para um futuro breve, esperemos, gostaríamos imenso de editar um vinil 7’ dos Resposta Simples.

Nos próximos tempos poderemos ver os Resposta Simples a promover em massa o seu trabalho na estrada?
Realizámos uma tour de promoção do disco onde actuámos um pouco por todo o continente. Fechámos a tour no final de Julho, em Coimbra, onde demos um dos nossos melhores concertos, com muito mosh, a presença de um público que conhecia as nossas músicas e com um ambiente extraordinário. Sentimos que esta foi a melhor forma de fechar a nossa tour de promoção e o nosso trabalho na estrada nos próximos tempos.

Nuno Costa


Thursday, August 14, 2008

Live Summer Fest 08 - Urban Tales de regresso a S. Miguel

Depois do festival Coliseu ANIMA Rock, em 2006, os lisboetas Urban Tales regressam aos Açores para um concerto no dia 31 de Agosto no bar Tuká Tulá, no areal de Santa Bárbara, na cidade da Ribeira Grande [S. Miguel]. Este evento contará ainda com o workshop de bateria de João Freitas [Massive Sound Of Disorder, Rock’N’Kovers] e a actuação dos locais Hiffen que aproveitam o momento para celebrar os seus 12 anos de carreira. No caso dos Urban Tales fica a expectativa de ouvir “Diary Of A No”, o seu aclamado disco de estreia lançado em 2007, bem como o single “Alive” que faz parte de uma campanha de solidariedade sobre doenças raras em Portugal e que será apresentado em estreia absoluta. O evento tem início às 21h30 e as entradas são gratuitas.

Heavenwood - Primeiro tema de "Redemption" online

“Bridge To Neverland” é o primeiro “aperitivo” do próximo álbum dos nacionais Heavenwood disponibilizado no seu Myspace [www.myspace.com/heavenwood]. Neste tema podemos escutar a participação do guitarrista Jeff Waters [Annihilator]. Em jeito de ficha técnica, há ainda a indicar a autoria do artwork de “Redemption” para a JMello Design [Brasil], foto da capa por Sophia Moriendi [Açores] e fotos promocionais por Rita Carmo [Portugal]. “Redemption” é aguardado para Setembro de 2008 pela Recital Records.

Gwydion - Na Europa na Ragnarok's Aaskereia Tour 2008

Os viking folk metallers lisboetas Gwydion fazem parte da “Ragnarok’s Aaskereia Festival Tour 2008”, evento especialmente dedicado ao folk metal, com origem na Alemanha, e que percorrerá, entre 8 e 26 de Outubro, países como a Alemanha, Dinamarca, Holanda, Bélgica, República Checa, Itália, Áustria e Hungria. Do seu cardápio fazem parte, para já, os Týr, Hollenthon, Alestorm, Korpiklaani, Kivimetsän, Finsterforst e Svartsot. Contudo, para suportar esta tournée a banda nacional apela à ajuda de todos, solicitando donativos/patrocínios em dinheiro. Os interessados deverão entrar em contacto com a banda através de info@gwidion.org.

In Ria Rocks! - Hyubris são cabeças em Vagos

No dia 13 de Setembro decorre na Quinta do Ega em Vagos, Aveiro, o In Ria Rocks!, festival que contará com as presenças dos nacionais Hyubris, Oblique Rain, Gwydion, Echidna e The Godiva. O evento contará ainda com área de tendas de roupa, merchandising e restauração. Os espectáculos têm início às 21h00.

Tuesday, August 12, 2008

Review

PROMETHEVS
"From Our Hearts"
[EP – Edição de Autor]

Num cenário de crescente massificação da cultura emo numa interpretação mais áspera – vulgo screamo – em associação com o punk/hardcore, acaba por não nos surpreender o aparecimento dos viseenses Promethevs. Este movimento tem conhecido forte expansão nos últimos tempos também em Portugal e encontra símbolos em bandas como More Than A Thousand, Eleven Miles Apart, My Cubic Emotion ou One Hundred Steps.

Contudo, o valor cotado a estas cinco faixas está ainda muito distante do dos seus directos “competidores” e nem a experiência que a nota de imprensa deste lançamento reclama aos seus autores parece trazer muito de positivo ao seu resultado final. Partindo também de que este é um estilo com pouca margem de progressão, já nem podemos falar em inovação. Mas resta sempre a esperança de que os propósitos do estilo sejam servidos com coesão, o que aqui, infelizmente, também não acontece.

Ora, reunidos há apenas um ano como banda, também não seria de exigir muito aos Promethevs, por mais que os seus membros já se conhecessem de outros projectos. Mas a verdade é que se torna complicado entrar em grandes euforias ao ouvir este registo de estreia quando a originalidade é nula e a execução pouco brilhante e versátil.

Para além disso, há um pormenor estranho no campo da produção neste trabalho: será que a bateria aqui registada é orgânica? Ficamos praticamente convictos que não. Se a sua concepção obedeceu a recursos informáticos, ficamos ainda mais desiludidos por constatar que o seu “desenho” foi mal concebido e remetido a algum descuido. A bateria soa, definitivamente, atabalhoada.

Sendo, invariavelmente, desconfortável tirar mérito ao trabalho de músicos e artistas, não temos, mesmo assim, como tapar os olhos a algo que está mal. E neste trabalho encontramos outros pontos a precisar de urgente reflexão: as letras demasiado banais e básicas, as vozes limpas pouco convicentes e alguns coros completamente falhados, como são exemplo os de “Promethevs”.

Se uma banda espera sempre com muita expectativa reacções a um primeiro trabalho, ao mesmo tempo estas podem ter um efeito tão moralizador como desmoralizador, consoante o rating que conseguir “sacar” aos media e ao público e a forma como a banda está preparada para as receber. Porém, não deixa de ser menos verdade que são as próprias bandas que têm que ter um grande poder introspectivo para perceber o que há a melhorar, manter ou modificar naquilo que é capaz de criar. Fica, para já, a nota de que os Promethevs têm que transformar a sua garra jovial em algo que, artisticamente, seja mais eficaz, profundo e profissional. O mercado não dá muitas tréguas a trabalhos mais descuidados, como todos bem sabemos. Falhas à parte, de um trabalho que [e é preciso não esquecer] é debutante e proveniente de uma banda muito jovem, fica a esperança de que o tempo se encarregue de fortalecer as faculdades artísticas, técnicas e criativas desta banda. [4/10] N.C.

Estilo:
Screamo/Punk/Hardcore

Discografia:
"From Our Hearts" [EP 2008]

Monday, August 11, 2008

Heavenwood - Anunciam lançamento oficial de "Redemption" ao vivo

Um dos álbuns nacionais mais aguardados do ano, "Redemption" dos portuenses Heavenwood, tem já prevista apresentação oficial ao vivo. Assim sendo, os fãs terão oportunidade de constatar "in loco" as novas composições do veterano grupo nacional nos dias 22 de Novembro na Casa da Música, no Porto, e a 29 do mesmo mês no Cine-Teatro de Corroios. Para além destas datas, o grupo de Ernesto Guerra, Ricardo Dias e Bruno Silva tem já confirmada uma passagem pelo Club Fabrica, em Bucareste [Roménia], a 18 de Outubro naquela que se prevê a primeira apresentação de “Redemption” fora de Portugal. O terceiro longa-duração do trio luso é ainda marcado pelas ilustres participações de Jeff Waters [guitarrista dos canadianos Annihilator], Gus G. [guitarrista dos gregos Firewind], Tijs Vanneste [vocalista dos belgas Oceans Of Sadness] e Daniel Cardoso [baterista dos nacionais Head Control System e ex-Sirius], tendo sido captado nos Ultrasound Studios, em Braga, por Daniel Cardoso e misturado e masterizado nos Fascontaion Street Studios em Orebro, na Suécia, por Jens Borgen.

SuffocHate - Banda de Matosinhos grava primeira demo

Os SuffocHate, banda de thrash/death metal com laivos progressivos de Matosinhos, formada em 2007, encontra-se neste momento a registar a sua primeira demo. Ainda sem nome definido, este registo promete contar com quatro temas – dois antigos e dois mais recentes –, alguns interlúdios e uma intro. O seu lançamento está previsto para Setembro próximo.

Saturday, August 09, 2008

Review

BURNING SUNSET
“Bruma”
[EP – Edição de Autor]

Aí está o registo de estreia dos Burning Sunset, colectivo de Aveiro que tem vindo a despertar curiosidade pela forma como mistura instrumentos clássicos e tradicionais [violoncelo, guitarra portuguesa e cavaquinho] com death/black metal melódico e de cunho progressivo. Embora traga consigo pouca quantidade de música – três temas com pouco mais de 18 minutos de duração – “Bruma” serve perfeitamente para adoçar a boca àqueles que já haviam sido despertados pelas capacidades deste sexteto luso e que ansiavam por ver o resultado da sua música em disco.

Em termos de produção bastante aceitável para um primeiro trabalho e ainda auto-financiado, “Bruma” revela uma banda com ambição, sublinhada pelo inserir de elementos que tentam atribuir-lhe uma identidade própria, embora a sinergia entre elementos eléctricos e eruditos já tenha sido testada, bem como a adopção do português como vocalização, como podemos atender no tema “Ventos Arrepiados”. Fica apenas a sensação de que é preciso limar-se alguns pormenores de composição naturais de quem ainda toca junto há relativamente pouco tempo.

Para além disso, experimentar é um desafio, mas é um esforço absolutamente louvável quando atingido com sucesso. A calmaria embaladora a meio de “Ventos Arrepiados”, sem dúvida o melhor destas três propostas, com a guitarra portuguesa e o violoncelo em evidência, comprova que a banda tem competência e apuro no modo como procura inovar e construir estruturas complexas. Os dois outros temas de “Bruma” concentram-se mais no peso e melodia do death metal e, em alguns momentos, na crueza do black mais tradicional. A lacuna está apenas em alguma falta de dinâmica rítmica e no abuso de solos, embora se compreenda que a banda lute por evidenciar uma costela progressiva, mas é preciso mais algum estofo técnico para isso. As vozes limpas também devem ser especialmente cogitadas.

Apesar disso, só podemos ficar agradados pelo esforço da banda em apresentar variedade. Com algumas escutas apercebemo-nos da quantidade saudável de detalhes por absorver e isso deixa-nos antever a abundância de ideias que a banda possa ter a empregar em futuras composições. Estamos convictos que o passar dos anos, o intensificar da rodagem e consequente “olear” de máquina, vão tornar os Burning Sunset num dos colectivos mais interessantes a seguir do underground luso. [7/10] N.C.

Estilo: Death/Black Metal Progressivo

Discografia: "Bruma" [2008]

My Enchantment e ThanatoSchizO - No In Live Caffe

Os My Enchantment e os ThanatoSchizO actuam no dia 20 de Setembro no In Live Caffé, na Moita, pelas 22h00. Esta será uma das últimas oportunidades do público ver os My Enchantment ao vivo este ano, já que a banda se prepara para entrar em estúdio brevemente para a captação do seu segundo longa-duração.

Undersave - Lançam primeiro EP

“After The Domestication Comes The Manipulation” é o título do primeiro EP dos Undersave, banda de Loures praticante de death metal com influência grindcore. Este sucessor da demo “Domestication Of The Human Race” de 2005, foi gravado nos Bruno Sound Studios com Hugo Camarim e é composto por cinco temas que perfazem um total de 30 minutos de música. Este trabalho está disponível por encomenda a 5€ [mais portes de envio] através do e-mail undersave@gmail.com. Entretanto, fica um aperitivo deste trabalho no myspace da banda.

Friday, August 08, 2008

Thee Orakle - Com guitarrista de Orphaned Land

Yossi Sassi-Sa’ron é convidado de honra dos nacionais Thee Orakle para constar num dos temas do seu primeiro álbum. Yossi é guitarrista dos israelitas Orphaned Land e promete emprestar o seu talento a este trabalho com recurso à Bouzouki, guitarra tradicional grega. Após cerca de dois meses de pré-produção, os Thee Orakle vão a partir da segunda quinzena de Agosto iniciar as gravações do seu primeiro álbum com Daniel Cardoso nos Ultrasound Studios, em Braga, devendo demorar pouco mais de um mês. Continua ainda por anunciar o título e a temática deste primeiro longa-duração.

Tuesday, August 05, 2008

Entrevista Aborted

VENENO EM “SÉRIE”

Uma das mais influentes forças do death metal mundial actual, os belgas Aborted, estão de regresso para mais um demonstração gratuita de violência visual e musical. Ao seu sexto longa-duração, o quinteto sedeado na Bélgica, mas contando com membros da França e Reino Unido, já pouco tem a provar para além daquilo que a sua vincada personalidade lhes fez alcançar ao fim de 18 anos de carreira. Aqui temos mais uma prova, já que a banda envereda, em “Strychnine.213”, por uma produção mais crua mas mantendo a receita equilibrada de peso, balanço e melodia que tem caracterizado os seus últimos trabalhos. Se a qualidade já é indissociável de tudo o que os Aborted façam, também no regresso “Strychnine.213” o sangue, a tortura e as atrocidades “gore” fazem-se sentir no ar na plenitude de uma força trituradora como há poucas hoje em dia. Sebastien Tuvi [guitarrista], em directo da “Summer Slaugther Tour” com Vader, Kataklysm, The Black Dahlia Murder, Cryptopsy, só para mencionar alguns, dos Estados Unidos .

Para uma banda com uma carreira longa e extrema como a dos Aborted, será que a melhor maneira de evoluir é tentar algo mais melódico e “leve”?
Bem, se ouvires bem todos os álbuns dos Aborted vais aperceber-te de que a melodia sempre foi um elemento presente no nosso género desde o “Goremageddon: The Saw And The Done”. Penso que, neste momento, apenas desenvolvemos o que, efectivamente, já estava lá. Eu não diria que nos tornámos mais melódicos, diria sim que estendemos o nosso leque de influências trazendo mais diversidade para a mistura brutalidade, groove e melodia.

Em primeira análise, podemos dizer que “Strychnine.213” é a continuação natural de “Of Slaughter & Apparatus: A Methodical Overture”?
Podemos dizer que sim, a partir do momento em que “Slaughter & Apparatus…” foi uma espécie de álbum de transição já que tínhamos acabado de operar uma grande mudança de line-up, mais precisamente em 2005. Este álbum pretendia manter a banda viva e mostrar às pessoas que nós continuamos a mesma banda de death metal, apesar de tudo. Agora, com “Strychnine.213” tentamos dar um passo em frente e adicionar mais personalidade ao nosso som ainda que tenhamos feito um esforço para manter a identidade que é reconhecida aos Aborted.

Sentem algum “medo” de enervar os vossos fãs de longa data com isso, embora seja indubitável que os Aborted continuam uma banda extrema?
Qualquer disco que lançamos recebe muitas “queixas” dos fãs mais hardcore do “verdadeiro” underground. Não consegues contentar toda a gente. Se gravássemos outro “Goremageddon”, por exemplo, haveriam pessoas descontentes na mesma e seria ainda menos honesto da nossa parte se o fizéssemos, pois evoluímos como músicos e queremos experimentar e criar coisas novas, não enganar os nossos fãs oferecendo-lhes sempre o mesmo álbum! Por isso, escolhemos ignorar a crítica porque sentimos que continuamos a criar música que se encaixa no universo dos Aborted. Se as pessoas preferem os álbuns antigos, ninguém as proíbe de os escutar, certo?

Será que o facto de terem passado a fazer parte de uma grande estrutura como a Century Media afectou, de alguma forma, a vossa forma de composição?
A nossa forma de composição não, de maneira nenhuma! Apenas mudaram os planos de “negócio” que tínhamos, o que nos obrigou a fazer mais digressões, mais sacrifícios pessoais para tornar a banda maior. Em termos artísticos, eles deixam-nos completamente libertos, o que é muito importante para nós!

Como é que é possível que, por exemplo, uma etiqueta discográfica peça um single a uma banda extrema? Como é que se visualiza um conceito desses?
Bem, não sei. Nós nunca tivemos um “hit single”, mas a editora sempre pega em um ou dois temas que prefere para servir de "sampler" promocional, embora não os considere assim.

Hoje em dia ouvem bandas muito diferentes das que ouviam no início das vossas carreiras? Assimilam, actualmente, influências muito diferentes?
Pessoalmente, não. Sou um metaleiro “old-school”. Cresci ouvindo Slayer, Metallica, Sepultura e tendo a ficar preso aos sons dos anos 80. Contudo, confesso que, actualmente, descobri bandas muito boas como os The Dillinger Escape Plan, Deathspell Omega, Stolen Babies, mas continuo muito agarrado aos clássicos.

Se actualmente os Aborted tentassem desprender-se das suas origens, será que os poderíamos ver a escrever sobre outra coisa qualquer que não violência, sangue e entranhas?
Para ser sincero, não sei. Penso que as nossas letras “gore” e violentas, bem como a nossa imagem, são algo que define a nossa identidade, daí que sintamos que seja natural invocar esses tópicos quando escrevemos. Continuamos a ser uma banda de death metal e não pretendemos abordar assuntos românticos, políticos ou outro tipo de treta nas nossas letras. Simplesmente, não iria encaixar com o feeling da banda, na minha opinião.

O novo “Strychnine.213” aborda a história de um assassino, certo? Será que se trata de uma espécie de recriação de um assassino em série ao estilo “Saw”?
“Strychnine” é uma espécie de veneno e “213” é o número do apartamento do assassino Jeffrey Dahmer. O conceito geral das letras do álbum é baseado em investigações policiais e assassinos em série reais. O Sven [Caluwé – vocalista] foi, inclusive, consultar reportagens e documentação do FBI para se inspirar em crimes verídicos para escrever.

Que mais me pode dizer das vossas influências “gore”? Imagino que tenham que ler e estudar bastante para saberem, com fundamento, sobre o que estão a escrever…
Sim, o Sven estuda muitos casos criminais, ele é apaixonado por assassinos em série. Inclusive, ele já trabalhou numa morgue, portanto, tem uma certa "sabedoria" sobre morte que, certamente, o inspira bastante na altura de escrever letras.

Será que filmes tão violentos como o “Saw” vos inspiram? Já agora, é um grande filme ou não?
[Risos] Simplesmente, digo que todos os meus colegas na banda gostam deste filme, excepto eu! Penso que é uma má cópia do “Seven”, que o velhote vilão não tem credibilidade nenhuma e que o rumo da história é muito infantil. Contudo, admito que num nível puramente visual este filme transporta grandes ideias. Apenas desgosto da forma como foi escrito. Mas mais uma vez, esta é apenas a minha opinião. Eu sou muito “miudinho” quando se trata de avaliar cinema.

Aos poucos começam a abolir dos vossos discos aqueles samples arrepiantes tão comuns nos vossos primeiros trabalhos. Há alguma razão especial para isto?
Na verdade, existem alguns samples assustadores no nosso novo álbum. Acontece apenas que em vez de serem retirados de filmes de terror são extraídos de entrevistas com pessoas como o Jeffrey Dahmer e Charles Manson. Os samples e as faixas atmosféricas fazem parte do nosso universo musical e nunca os vamos abolir. Aliás, vamos mesmo usá-los cada vez mais ao vivo!

Deixemo-nos agora viajar um pouco na “mayonnese“: alguma vez pensaram em fazer uma espécie de disco de death metal com uma orquestra que gerasse um ambiente bem "horror movie"?
Só se conseguissemos a participação da Jenna Jameson! [risos] Agora falando a sério, a ideia atrai-me, mas precisaríamos de suportar um orçamento bastante grande para que um projecto como esse não soasse leviano e feito sem grande profissionalismo. Mas para isso precisamos de nos tornar uma banda muito maior do que a que somos hoje em dia.

Em relação ao vosso line-up, sentem-se mais descansados por o terem assegurado novamente neste disco? Sentem-no a respirar melhor que nunca após tantos anos de constantes mudanças?
Bem, sentimos o mesmo que sempre: na realidade odiamo-nos todos e parece um inferno estarmos mais do que um mês fechados numa carrinha juntos. Na verdade, estou realmente a considerar matar-me depois de matar todos os meus restantes colegas. Estou a brincar! [risos] Na verdade, está a correr bem e sente-se um espírito de equipa genuíno na banda neste momento. Toda a gente está no mesmo “barco”, pelas mesmas razões, e vive-se a melhor atmosfera que a banda alguma vez viveu!

Como é que a banda trabalha hoje em dia?
Na realidade, não é muito fácil trabalharmos em grupo, porque durante o processo de composição todos nós gravamos demos em casa, partilhamo-las via internet, trocamos ideias através do nosso fórum interno e só quando tudo está praticamente pronto juntamo-nos e ensaiamos para procedermos aos últimos arranjos. Também ensaiamos antes da maioria dos concertos. Encontramo-nos na nossa sala de ensaios na Bélgica e passamos alguns dias juntos antes de voar para uma digressão ou para uma série de espectáculos.

Como acha que se sente o Sven [único membro fundador ainda presente na banda] quando faz uma retrospectiva de todos esses anos? Será que estranha relembrar os seus antigos colegas e sentir que, aparentemente, eles não acreditavam tanto no sonho de chegar longe com a banda como ele?
Eu posso responder por ele porque temos a mesma visão sobre esse assunto. Penso que todos os que abandonaram a banda ao longo desses anos não se sentiam, simplesmente, suficientemente motivados para fazer os sacrifícios que exigem levar uma banda extrema a um nível superior. Nós somos todos pessoas muito trabalhadoras, disciplinadas e com vontade de fazer uma banda como essa funcionar. Nós quase nem fazemos dinheiro suficiente para pagar as nossas contas quando regressamos de uma tournée e temos que nos ausentar muitos dias dos nossos empregos. Por isso, não é mesmo nada fácil sustentar essa situação. Eu não posso culpar algumas pessoas por desistirem devido a essas dificuldades. Mas outras estavam na banda por razões erradas, por procurarem fama – o que é rídiculo -, ou para fazerem muito dinheiro, o que é ainda mais ridículo.

Em relação ao vosso novo disco encontramos ainda mais algumas mudanças. Por exemplo, a produção parece menos elaborada…
O “Strychnine.213” parece menos cheio porque não está tão produzido como costumávamos fazer no passado. Este soa mais como uma banda a tocar efectivamente: duas guitarras, um baixo e uma bateria acústica. Este é o verdadeiro som dos Aborted. Não há edições nem truques. Pode soar diferente da maior parte das bandas actualmente, mas soa a nós próprios e não a qualquer outra banda. Sinceramente, prefiro ouvir produções mais naturais.

Fazendo um pequeno balanço dos vossos últimos anos de carreira, creio que se pode dizer que a legião de fãs dos Aborted tem realmente crescido e se solidificado. Uma das maiores provas será a formação do “Aborted Army”, um grupo de fãs que se faz apresentar em todos os vossos concertos vestidos a rigor, mais propriamente com roupas de cirurgião aludindo à capa de “Goremageddon”. Sentem-nos como vossos discípulos?
É muito agradável constatar como algumas pessoas são mesmo fãs dos Aborted. Nós sempre tivemos uma relação muito próxima com os nossos admiradores e tentamos envolvê-los com a banda. Por exemplo, com o “Archaic Abattoir” solicitamos-lhes o envio de cabelos e unhas para fazer uma espécie de “saco de provas” e para este último trabalho demos-lhes a hipótese de darem um nome a um tema.

Por fim, como vos está a correr a tournée pelos Estados Unidos?
Esta tournée tem sido, simplesmente, espectacular! Estamos a passar uma temporada muito boa nos Estados Unidos, tocando frente a muitos putos, todas as noites, divertindo-nos imenso. Tem sido uma experiência muito fixe e uma das coisas muito boas dessa tournée é que temos levado a nossa música a muitos fãs novos que nunca tinham ouvido falar de nós ainda. Tem sido um ambiente puro “rock’n’roll”!

Nuno Costa

www.goremageddon.be

Saturday, August 02, 2008

"Super Blog Awards" - Votações já decorrem

Já estão a decorrer as votações do concurso “Super Blog Awards” que visa eleger o melhor blog nacional em categorias como música, desporto, educação, humor, sociedade, tecnologia, etc. Este concurso é promovido pela Super Bock e conta com um grande número de blogs inscritos. O “Blog do Ano” receberá um cheque de 3000€ e o vencedor em cada categoria um cheque de 500€, ambos oferta da Worten. Para votar basta clicar aqui e registar-se preenchendo uma curta ficha identificativa. O blog da SounD(/)ZonE está presente neste certame. Se está disposto a ajudar-nos, vote. Ficar-lhe-emos muito agradecidos!

As votações decorrem apenas até ao dia 30 de Agosto!

Friday, August 01, 2008

O "F.I.M."?

Cá estou [tentando] estar de volta! Como devem imaginar, a produção/organização de um festival não termina com o fim dos espectáculos, por isso ainda se tratam dos últimos detalhes e se fecham as últimas “contas”. Mais alguns dias e prevejo ter a SounD(/)ZonE a funcionar em pleno [pode-se pensar que a rotina das entrevistas, reviews e artigos é aborrecida, mas foi aqui que tudo se criou e tudo se gera - o gozo é enorme].

Que se poderá dizer de mais esse capítulo na vida de uma pacata região “metaleira” e de [pelo menos] alguns jovens que viveram entusiasticamente mais este festival de calibre internacional nos Açores? A alegria desmedida aliada à troca de experiências com os músicos internacionais que gera o crescimento – vital - de mentalidades e de um movimento local que há muito necessitava de um tão grande balão de oxigénio, crê-se que é o mais importante. Em jeito de análise/conclusão fica mais uma vez a convicção de que o futuro é dos “putos” e não, propriamente, e por mais que isso possa ferir susceptibilidades, dos auto-proclamados militantes da “Velha Guarda”. Esses parecem perder fulgor, fibra e apego à causa com o passar dos anos e deixa cada vez mais de ser composto por esses o grosso da plateia que dá cor e vida aos espectáculos do lado de cá do palco.

Não é também novidade que o mercado açoriano é deveras restrito, embora seja reconhecido no país como uma das regiões com mais bandas de Metal por “metro quadrado”. A explicação para uma “tímida” adesão de público neste evento fica, indiscutivelmente, ligada à falta de convicção e princípios das pessoas. Não querendo parecer antiquado, mas o Metal ou qualquer outro movimento artístico, ideológico, social ou mesmo político tem que ser vivido de alma e coração. Tem que vir de dentro. Daí que esta continue a ser a maior batalha a travar por quem, como a SounD(/)ZonE e outras honrosas entidades locais, promove o Metal nos Açores. A quantidade de bandas e músicos neste género musical nos arredores é enorme, como já se disse, mas estes, e está à vista, ainda não saberão bem o que estão aqui a fazer. Bastariam os músicos locais para garantir uma casa justa para com a grandeza deste evento. Ainda se compreenderá, até certo ponto, a fragilidade das convicções de muitas pessoas que durante anos nunca viu algo assim se passar perto da sua "porta" ou acreditou que este movimento viesse a atingir pontos tão altos como esse e outros que tiveram lugar nos últimos anos… A minha teoria é a de que esses foram criados em “má escola” e agora já têm vícios que são quase impossíveis de tirar.

Resta-nos, portanto, acreditar na renovação. Na renovação de pessoas e condutas que, pelo que se vê [nem que seja pelos gentis e-mails que me chegaram, de jovens, mais concretamente] deixam transparecer que são lúcidos em relação à importância destas mudanças e destes eventos que têm havido na região e ao que isso pode proporcionar-lhes no futuro. Para isso, basta manterem-se lá, na plateia; nós tentaremos continuar a corresponder-vos.

A par disso tudo, sabe-se, de consciência muito firme, de que o caminho é muito longo a percorrer. Mas é incontornável que algo de bom se começa a antever, atentendo à alegria dos mais novos que acorrem às salas de espectáculos hoje em dia. É por esses mesmos que sentimos vontade de continuar. São por esses que mais tarde este estilo pode crescer e rever-se num outro manual de crenças e convicções. Quem ficou de fora, está mesmo “out”! Não interessará à causa.

Que este texto não soe a despejo de “azias” por algo que se tenha passado mal. De maneira alguma. Da nossa parte temos a humildade como lema, e, sem esquisitices, achei, bem como outros, esse um grande festival (com todas as letras)! O melhor foi mesmo o que se passou lá dentro e não cá fora, na casa de outros ou noutras festas a poucos quilómetros. Só fazem falta os que lá estão. E assim foi. Se uns insistem em falar em quantidade, eu falo em qualidade. Parafraseando as palavras de alguns músicos internacionais: “Vi a sinceridade nos olhos dos putos. De onde venho isso já pouco acontece”.

A impressão de todos foi a melhor e os Açores ficaram timbrados a “ouro” na agenda intensa e nas carreiras dos músicos que vieram de fora. Podemo-nos orgulhar, com toda a certeza! Para mim, como membro da SounD(/)ZonE, músico e “sonhador”, como sou e sempre serei, continua a ser surreal verificar que se conseguiu, não interessa por quem nem porquê, algo tão bom nesta região. Só consigo discernir que a persistência e a fé levou-nos a outros patamares. Os meus votos são, portanto, que esta vontade se aglomere e nos traga muitas mais alegrias no futuro. Esperamos estar por aqui mais vezes a falar de assuntos agradáveis como esse. Um muito obrigado por tudo e a todos… os que acreditam!

Keep it [really] Heavy!

Nuno Costa