Wednesday, June 25, 2008

Stampkase - Na Festa do Chicharro

Os Stampkase actuam no dia 4 de Julho na Festa do Chicharro, na Ribeira Quente [S.Miguel], pelas 21h30. O grupo furnense sobe pelo segundo ano consecutivo ao palco da popular festa açoriana que este ano comemora a sua 20ª edição. Os Stampkase continuam, de momento, a registar o seu disco de estreia nos estúdios PFL, na Vila das Capelas, tendo já as baterias e guitarras registadas.

Sanctus Nosferatu - Amanhã na Lagoa

Amanhã, 26 de Junho, os Sanctus Nosferatu actuam nos Remédios da Lagoa, em S. Miguel, com uma banda convidada ainda a designar. Os concertos têm início às 21h00 e a entrada é gratuita.

Rock'N'Kovers - Anos 90 revisitados

Na próxima sexta-feira, dia 27 de Junho, decorre uma sessão de covers com repertório inspirado na década de 90 até aos tempos mais recentes, no bar Cantinho dos Anjos, em Ponta Delgada, a partir das 22h00. Os interpretes serão Filipe Vale [Oppressive] na voz, Tiago Franco na guitarra, Nuno Pacheco [ex-A Different Mind, Banda Larga] no baixo e João Freitas [Massive Sound Of Disorder] na bateria. O grupo promete 19 temas, entre autores como Soundgarden, Red Hot Chilli Peppers, Nirvana e The White Stripes. A entrada é livre.

Tuesday, June 24, 2008

Review

MURDERING TRIPPING BLUES
“Knocking At The Backdoor Music”

[CD – Raging Planet]

É cada vez mais saboroso degustar o catálogo da nacional Raging Planet. Tanto aberta a peso moderno como a coisas mais experimentais e vintage [neste caso], pegar em “Knocking At The Backdoor Music” é, para além da constatação de mais uma feliz aposta editorial, a prova da qualidade dos músicos nacionais. Rock na sua essência [e produção, aqui tão importante] com uma veia stoner e bluesy é o que se nos encosta aqui à cara e invade o espírito com sensações nostálgicas e vibrantes. A imagem e som retro da banda lisboeta, impregnada ainda numa deteriorante veia “homicida” e no declínio de um estilo de vida regado de sexo, drogas e rock’n’roll, criam um universo ainda mais peculiar.

O travo a fumo e álcool quase se faz sentir na medida dos dez temas que aqui rolam. A voz distorcida mas quente de Henry Leone Johnson encaixa na perfeição com os riffs de guitarra plenos de espírito sessentista que o próprio executa e isto aliado a uma secção rítmica simples, mas muito eficaz, tornam os Murdering Tripping Blues em algo de aditivo.

As cadências ao longo do disco também são um primor. Se no tema título e “Extramentalisticnoisyfucksticating” temos umas guitarras rock bastante cheias e pesadas, em “Man That Never Was” temos uma dose analgésica de blues muito lento e quase decadente [ao jeito de uns The Doors] que nos faz imaginar naquelas alturas em que o mundo desabou sobre nossas cabeças e o único remédio é entregarmo-nos a algo que altere o nosso estado de consciência.

E é sob uma abordagem revivalista e algo descomprometida, mas muito empenhada e sem soar datada, que os Murdering Tripping Blues constroem um trabalho de estreia viciante e rebelde. É importante o aparecimento de projectos destes para o alargar do raio de oferta criativa dos músicos portugueses. E é com vontade de ser cúmplices dessa jornada “assassina” que ficamos depois de escutar “Knocking At The Backdoor Music”. [8/10] N.C.

Estilo: Rock/Blues

Álbuns:
- "Knocking At The Backdoor Music" [2008]

Monday, June 23, 2008

Music Interview - Dico lança nova newsletter

A conhecida personalidade do Heavy Metal nacional, Dico, responsável pelos blogs Metalincandescente, A a Z do Metal Português ou Reflexões Musicais e, outrora, baterista dos Dinosaur, Powersource e Sacred Sin, entre outros, cria agora uma newsletter digital, intitulada Music Interview, disponível para download gratuito - em formato PDF - e escrita em inglês, com o intuito de apresentar entrevistas com autores de livros sobre música, realizadores de filmes e/ou documentários sobre este tema, bem como outras personalidades que promovam a cultura musical no mundo. O seu primeiro número já está disponível aqui e oferece cinco páginas de entrevista a Albert Mudrian, jornalista e escritor norte-americano, editor-chefe, desde 2004, da revista “Decibel”, e autor do livro “Choosing Death – The Improbable History of Death Metal and Grindcore”. Dico explora esta obra de Albert Mudrian e levanta questões sobre o presente e o futuro do Death Metal e do Grindcore. O intuito de Dico com este novo projecto é oferecer algo de novo em termos editoriais, advertindo que neste “não irão encontrar entrevistas com bandas, reportagens de espectáculos, críticas a CD’s, maquetas ou DVD’s ou studio reports”. Nas palavras do ex-músico o intuito é “fazer a diferença e ir muito para além do óbvio”. A Music Interview não terá periodicidade fixa.

Saturday, June 21, 2008

Review

THE HOTTNESS
“Stay Classy”

[CD – Ferret Music]

Já nos sentimos inoperantes e mesmo aborrecidos por termos que levar constantemente com a vontade voraz das discográficas nos incutirem algo que, pura e simplesmente, não existe! Os The Hottness vêm, também eles, apelidados de “salvadores da pátria”, neste caso da pátria punk/rock/southern/metal core e tudo o que tenha berros, riffs áridos e melodias teenagers. A vontade de pegar num trabalho à partida sob impacto de textos promocionais tão falaciosos já sai prejudicada, pois já não se consegue, hoje em dia, ser suficientemente ingénuo para ainda acreditar em sensacionalistas comunicados de imprensa que mais não são do que a própria auto-revelação do medo que as próprias discográficas vivem perante uma débil situação artística e económica. A confirmação vem logo a seguir, passados uns míseros segundos, de que este, afinal, é um disco igual a tantos outros!

A verdade nua e crua é que se os The Hottness tocam e cantam bem, as composições, essas são meras fracções de um mundo sobrexplorado e sem nada, absolutamente, nada de novo a oferecer. Ok, a musiquinha até pode soar muito bem, guitarras fortes, melodias de encher o ouvido, produção bombástica, mas o “bolo”, o geral, o cunho artístico, a personalidade? Bandas como os The Hottness – e que mais uma vez refiro, têm bons músicos e sabem muito bem movimentar-se dentro do seu perímetro musical - existem aos “pontapés”. Se alguns riffs poderiam ser, e são, memoráveis, como, por exemplo, os de “This City Is Ours” ou “Thrashy”, não podemos esconder a frustração de ouvir um disco que, no seu todo, é uma amostra clara de falta de personalidade da parte de músicos que não estão, no fim de contas, minimamente preocupados em vencer o marasmo que asfixia essa vertente musical muito popular nos Estados Unidos. Até nos chega a dar náuseas a forma como este tipo de disco se multiplica como autênticas fotocópias sem, aparentemente, ninguém levantar grandes vozes.

O remédio para esta autêntica “doença” só os próprios músicos saberão encontrar. Perante isto, até me faço recordar de alguns músicos de projectos nacionais, credíveis e plenos de personalidade, que a dada altura decidem deliberadamente mudar de orientação musical, para uma mais trendy e “cifrónica”, porque acham que assim vão mais facilmente conseguir viver da música. E eu digo: será que estes não se lembram que, embora este seja um mercado que ofereça mais garantias de sucesso, por outro lado é muito mais efémero por estar, precisamente, super, hiper lotado? Será que vale a pena lutar por umas manchetes, temporárias, nos jornais e algum air-play, em vez de tentar criar bases para uma carreira sólida e duradoira? Pergunto-me até quando este tipo de bandas pode sobreviver? [4/10] N.C.

Estilo: punk/pop/southern rock/metalcore

Discografia:
- "Stay Classy" [2008]

Judas Priest - Revelações proféticas

Os lendários Judas Priest estão de volta com um novo álbum, desta vez duplo e conceptual. Chama-se “Nostradamus” e tem como base lírica, precisamente, a vida do famoso profeta francês, com o mesmo nome, do século XVI, analisando acontecimentos que os peritos em Nostradamus interpretaram como sendo as previsões de algumas das suas profecias como, por exemplo, o grande incêndio de Londres em 1666, a subida ao poder de Adolf Hitler e, mais recentemente, o ataque às torres gémeas a 11 de Setembro. Mas, acima de tudo, “Nostradamus” promete manifestar a arte de contar histórias épicas aliada ao Heavy Metal muito próprio do grupo de Rob Halford. O 16º álbum de estúdio da banda britânica é lançado pela Sony/BMG e estará também disponível, para além da normal jewel case, em edição Deluxe dupla com um livro de 48 páginas, para além de uma Super Deluxe Box-set contendo um triplo vinil, duplo CD, booklet mais extenso e um poster.

Burning Sunset - "Bruma" disponível

Já se encontra disponível o EP “Bruma” dos aveirenses Burning Sunset. O primeiro trabalho do grupo de Death/Black Metal “étnico” pode ser encontrado nos concertos ao vivo que a banda vai efectuar a 28 de Junho na Mostra de Música Moderna Soure e a 19, 20 e 26 de Julho no Improviso Bar, Bar+Porto e Vieira Rock, respectivamente, ou encomendado através do e-mail burningsunsetpt@hotmail.com por 4€ mais portes de envio. “Bruma” é composto por três temas que contam com a participação de instrumentos clássicos e tradicionais como a viola portuguesa, o cavaquinho e o violoncelo. A gravação teve lugar nos estúdios Forgefarm e a mistura e masterização nos estúdios Home Alone por Nuno Seco.

Friday, June 20, 2008

Entrevista Nableena

JORNADAS GELADAS

Após a noite de próximo sábado, dia 21 de Junho, os Açores vêm confinado a um hiato de cerca de quatro meses uma das bandas mais proeminentes do seu cenário de peso. Os Nableena, formados em 2003, actuam na referida data, no bar Black Code, em Ponta Delgada, a anteceder e a marcar a partida do seu guitarrista e mentor Petr Labrentsev, por motivos pessoais, por uma temporada, para o seu país natal, a Rússia. Por esta razão, a banda de death metal experimental da ilha de S. Miguel preparou com todos os cuidados o seu próximo espectáculo, que promete um repertório mais extenso, que revisita toda a sua carreira, e a presença de vários convidados [ilustres]. Tentando antever esse momento especial e ao mesmo tempo homenagear um dos projectos mais credíveis da região, a SounD(/)ZonE falou com Petr Labrentsev, um músico apaixonado, multifacetado, viciado em trabalho e muito consciente do mundo que pisa. Uma longa mas envolvente entrevista que fizemos questão de apresentar na íntegra. A não perder!


Como está o seu estado de “saúde” musical? O vínculo a vários projectos tem-lhe posto cabeça a “ferver” para manter tudo a funcionar?
De facto, torna-se complicado sustentar um desempenho máximo, de um modo contínuo, nos diversos projectos em que me encontro, actualmente, envolvido. A “saúde” parece ser suficiente para mantê-los em “boa forma e vigor”, mas já não me posso dar ao luxo de enveredar e explorar mais correntes musicais, o que faria com muito gosto.
Para o bem ou para o mal, tenho de recusar a participação em qualquer outra proposta ou iniciativa, pela simples falta de tempo e a recente exaustão que tenho sentido. Adoraria explorar muitos outros géneros musicais, como por exemplo, o blues, música étnica e mesmo música electrónica, assim como aprender a dominar muitos outros instrumentos musicais. Infelizmente, reconheço que não disponho de tempo, nem de recursos para tal.

O termo workaholic encaixa-se cada vez melhor com a sua maneira de estar na música, concorda? [risos]
Bem, talvez o complemento circunstancial “cada vez melhor” seja dispensável [risos], pois desde os meus primeiros passos na música procurei sempre empenhar-me ao máximo no que faço. É vencer ou morrer [desistir, entenda-se].
É verdade que um grande acréscimo de responsabilidades neste campo tem levado, inevitavelmente, a um trabalho diário quase obrigatório. Tenho noção de que se não fizer determinadas coisas, se não avançar com ideias, se não resolver certos problemas e não tomar certas iniciativas, mais ninguém o fará. Felizmente, tal não acontece em todos os projectos em que estou envolvido, claro, mas há muito tempo que me habituei a ter que “puxar a caravana toda”… No entanto, não me queixo disso e, simultaneamente, não paro de o fazer, não só porque simplesmente adoro o que faço, mas também porque tenho uma total confiança em mim e naquilo que consigo fazer na música. Se assim não fosse, limitar-me-ia a brincar com o violão em casa, de vez em quando. Por outro lado, em certas ocasiões, não posso permitir que uma momentânea falta de empenho ou dedicação de alguém possa por em causa todo um trabalho desenvolvido. Infelizmente, isso leva a que, por hábito, tenha de fazer a mais o que outros fazem a menos, de modo a compensar esta desigual divisão de tarefas.

Portanto, o que o faz aceitar abraçar tantos projectos musicais é o seu grande amor pela música e um grande sentido de trabalho…
Desconheço, na verdade, quão grande é o meu sentido de trabalho, pois é um dado relativo. [risos] O amor pela música é, realmente, o dínamo fundamental para um desempenho bem sucedido. No entanto, o amor não basta. É vital uma boa organização, tanto do tempo, como dos recursos disponíveis, assim como a consciência das metas e objectivos concretos a que me proponho, em cada caso.
Por outro lado, uma das principais razões pelas quais aceito, com muito gosto, a participação em diversos projectos musicais e, especialmente, quando estes têm um carácter muito distinto uns em relação aos outros, é o desejo de aprender. Percebi isso há muito tempo, cada vez que me cruzava com novos grupos e/ou músicos. Por mais que aprendamos, nunca é suficiente, e certamente há sempre algo novo a conhecer. Não tem que ser, necessariamente, conhecimento técnico na interpretação de um instrumento. Muitas vezes são coisas pequenas e simples, como saber enrolar correctamente um cabo, porque, afinal, até para isso existe uma maneira correcta! [risos] Falo também dos métodos de trabalho e organização dos vários grupos, dos processos de composição, etc. Tudo isso enriquece-nos e contribui para um crescimento como músicos.
Outra razão também se prende com o meu desejo de compreender, na sua essência, as diferentes vertentes musicais com que tenho lidado. É um desafio que adoro e, também, um grande factor de desenvolvimento pessoal como músico e apreciador desta.

Em algum momento sente que algum dos seus projectos fica a perder por falta de tempo para lhe dar atenção?
A problemática da falta de tempo que posso dispensar a todos os projectos tem sido uma constante. Quem trabalha comigo sabe isso muito bem. Exemplos não faltam: a “Lacerate” dos Askara foi gravada somente oito meses após o debut. A tão esperada demo dos Nableena será lançada em Outono e não inícios do Verão, como estava previsto. Os cerca de seis temas de Son Of Awacha, prontos a serem gravados há seis meses, ainda “não viram a luz do dia”. Por este mesmo motivo, não só se revela complicado assegurar a presença em todos os ensaios dos Stampkase, mas também comparecer regularmente aos ensaios e actuações da Tuna Académica da Universidade dos Açores, onde canto no naipe de tenores e toco bandolim.
Não é fácil fazer os preparativos de equipamento e mixagem sábado de manhã para o ensaio dos Askara na segunda-feira, indo logo para o ensaio da TAUA, para imediatamente ir à Ribeira Grande ensaiar com Nableena e, já a noite, chegar a casa, continuando a trabalhar nas gravações ou, em alternativa, ir actuar com a tuna que, a nível de exigência musical, é tudo menos brincadeira. Isto tudo sem hora de almoço e sabendo do ensaio, no domingo, nas Furnas… Repentinamente, ocorre-me o facto de ser ainda aluno da universidade, como se fosse já um extra às actividades musicais! [risos] Recentemente, tive de tomar decisões difíceis de me ausentar temporariamente da música, pois os estudos têm sofrido. Felizmente, o pessoal tem sido impecável e flexível, nesse sentido, o que tem ajudado imenso.
No último ano, quase que me esqueço do que é simplesmente ficar no sofá a ver televisão ou fazer algo trivial como isso. Muitas pessoas que me conhecem é que não se apercebem disso, pois não sou daqueles que passam o tempo todo a queixar-se.

Acha que, por exemplo, o que algumas pessoas têm a menos você tem a mais numa terra em que é preciso esforço redobrado para se atingir resultados substanciais? Acha que deve servir de exemplo?
Em primeiro lugar, dificilmente me vejo na condição de servir de exemplo, seja para quem for. Quem precisar de modelos para seguir que vá à Igreja ou então que conheça de perto os mui nobres músicos da Orquestra Filarmónica de Ponta Delgada, que estes sim, são grandes músicos, com muito para ensinar!
Na verdade, o que atingi até hoje, na música, se deve ao empenho contínuo, à seriedade no trabalho, ao grande nível de exigência comigo mesmo e para com os meus colegas, à fé em mim próprio e nas minhas capacidades e, por fim, ao liberalismo ou flexibilidade na maneira de encarar todos e quaisquer géneros musicais. Impor limites na apreciação da música, especialmente nova e pouco familiar, é meio caminho andado para matar a fonte essencial da criatividade. Não acredito nas capacidades inatas; aquilo que somos e conseguimos é resultado da nossa dedicação e educação [na música, entenda-se], e esta não cabe aos amigos ou à televisão, mas sim a nós próprios.
Penso que o elemento-chave é racionalizar o tempo, os recursos e as energias, para alcançar um objectivo do modo mais eficaz possível. É preciso não dispersar e saber muito bem que método de trabalho tem de ser adoptado para cada situação. Isto porque, quando queremos atingir resultados substanciais, é crucial ter a postura adequada às metas propostas. Cada banda é diferente e assim deve ser o seu método, particular.
Ainda na sequência disso, quando não se trata de projectos a solo, é imperativo reunir uma equipa capaz e experiente. Penso que bandas com objectivos sérios têm de ser, em primeiro lugar, equipas de trabalho bem organizadas. O resto vem por acréscimo. Se houver grande amizade, melhor ainda, mas com certeza que não é a amizade que produz resultados finais convincentes, mas sim a capacidade de trabalho em grupo e para o grupo. Infelizmente, sempre que num conjunto há pelo menos um elemento com prestações abaixo dos outros, é como um cancro num organismo. Força os outros a fazer um esforço redobrado e leva a um progressivo desgaste geral. Daí ser necessário trabalhar numa equipa equilibrada e dedicada, em que cada um é competente não só na sua própria tarefa, mas também é capaz de perspectivar as necessidades do todo. É com bastante segurança que posso afirmar que, nos últimos tempos, tenho trabalhado com pessoal firme e capaz, embora acredite que é sempre possível fazer mais e melhor. Como diz o ditado: “Junta-te aos bons e serás melhor que eles, junta-te aos maus e serás pior que eles”.
Por fim, a exigência é extremamente importante. Falo, em primeiro lugar, da exigência comigo próprio. Não gosto de queixas ou lamentações sobre o cansaço ou sobre o longo tempo de ensaio ou prática de tocar um instrumento. Sou grande opositor da postura do “esforço mínimo”. Nunca é demais rever, mais uma vez, uma certa parte de um tema ou, por exemplo, aperfeiçoar uma escala ou uma linha vocal. Obviamente, tem de haver o bom senso de equilibrar as tarefas, para não chegar a situações anormais e extremas, mas não vejo, realmente, com bons olhos o “suficiente” e o “satisfatório”. Todavia, sei que isso nem sempre garante que os resultados sejam excelentes. Lembro-me constantemente da famosa frase do general russo Alexandr Suvorov, responsável pela derrota das tropas napoleónicas: “Quanto mais difícil for a estudar, mais fácil será a combater”. Isto aplica-se especialmente às preparações para concertos.
Já por falar no trabalho em bandas, e reafirmando, mais uma vez, a qualidade das pessoas com quem toco, tendo a esperar dos outros um empenho igual ao meu. No caso dos Nableena, estou contente por termos uma equipa coesa e experiente. No entanto, a falta de tempo revela-se, muitas vezes, obvia, o que dificulta as coisas. Acho que devemos ser tão exigentes com os outros como somos connosco próprios, mas nunca esperar dos outros mais do que aquilo que fazemos. Frequentemente, tenho noção de contrariar uma das facetas intrínsecas à cultura portuguesa, o que torna o assunto delicado, mas aí não há realmente muita coisa a fazer, a não ser aceitar.

Como se sente ao tocar estilos tão diversos? É difícil repartir-se em termos emocionais para conseguir envolver-se naquilo que está a tocar?
Sinto-me muito bem! [risos] Na verdade, qualquer variante estilística em que me envolvo é abordada apenas com uma única perspectiva, – é música! Acredito que música mais música não há. Não, não vou dizer, como é costume, “excepção feita à música popular”. Isto pela simples razão de que até mesmo este tipo de música tem uma clara origem na música tradicional, da qual temos uma grande dádiva, chamada “refrão”! Temos também aquelas progressões do baixo, tão simples e tão óbvias, mas que, devidamente aplicadas, podem tornar um tema de Metal agressivo e aparentemente caótico, num mais perceptível e “apresentável”. [risos] Portanto, tudo isto são coisas que não devem ser ignoradas e que podem coexistir ou marcar presença noutros estilos, por mais irrealizável que isso possa parecer à primeira vista!
Respondendo à segunda pergunta, não é difícil repartir-me emocionalmente. Exactamente da mesma forma que as pessoas se repartem emocionalmente quando estão na missa, quando estão com a namorada, quando visitam os avozinhos ou quando encontram, de repente, um grande amigo de longa data. Provavelmente na música acontece o mesmo.

Estabelece hierarquias ou prioridades no “catálogo” de bandas de que faz parte?
Esta seria, realmente, uma questão delicada e problemática, caso me encontrasse envolvido em projectos por outra razão sem ser a afeição e a estima que sinto por cada um deles. Todos diferentes, mas todos iguais. É verdade também que cada projecto está num patamar próprio, com avanços diferentes e também, em certos momentos, uns exigem maior atenção que outros, o que é natural. Portanto, se há alguma hierarquia, esta é temporária, consoante as épocas e a realização de certos objectivos a curto prazo.

Contudo, imagino que os Nableena lhe despertem especial sentimento, correcto?
Desta vez acertaste! Fica uma cerveja por minha conta! [risos] Sim, embora o sentimento seja tão especial como em relação aos outros projectos, Nableena acaba por ser a banda central. Entre muitas razões para tal, posso salientar o facto de o seu crescimento se identificar com o meu crescimento pessoal e musical, assim como o tempo de existência da banda, caminhando já para os seus seis anos. É uma parte tão integrante de mim próprio que se tornam em duas realidades indistinguíveis. Penso que o Gualter, baterista da banda, também sente o mesmo, pois somos, presentemente, os únicos dois membros fundadores da banda e sabemos bem toda a merda que tivemos de ultrapassar, desde o início. Os outros quando chegaram, já tiveram a “papinha feita”, felizmente para eles. [risos]

É precisamente por estes que teremos uma despedida muito especial no próximo dia 21 de Junho, no bar Black Code, em Ponta Delgada, a marcar a sua partida, por uma temporada, para a Rússia. Surpresas são, obviamente, surpresas, mas é-lhe “permitido” adiantar algo do que está reservado para esta noite?
Querendo, obviamente, conservar o factor surpresa deste evento, posso adiantar que, além de planearmos um repertório mais extenso do que o habitual nos nossos concertos, iremos interpretar temas nunca antes tocados e iremos contar com vários músicos e vocalistas convidados, alguns dos quais sobejamente conhecidos do panorama de peso açoriano.
Antevendo o atraso do lançamento da demo e tendo em conta a minha ausência até meados de Outubro, decidi ser esta a oportunidade perfeita para presentear o pessoal e a própria banda com um evento especial, procurando desta forma compensar aqueles dois factores desfavoráveis.

Afigurando-se um afastamento periódico da terra onde mantém toda a sua vida musical, o que podemos esperar dos seus projectos neste entretanto?
Exceptuando os Stampkase, em que me encontro a título de músico convidado, tanto Son of Awacha, como Askara ou Nableena estarão em modo de espera para reiniciarem as suas respectivas actividades aquando do meu regresso. No que toca à TAUA, esta irá realizar algumas actuações nas várias ilhas dos Açores, durante o Verão. Pensando bem, talvez faça uma visita ao baterista dos Askara para uma jam session lá na China. Sempre são menos uns milhares de quilómetros até à China do que até Portugal… [risos]

Sendo que a gravação do primeiro trabalho dos Nableena está a seu cargo tem planos de a continuar na Rússia?
A conclusão e o lançamento do tão aguardado registo da banda estavam previstos para o mês de Junho do corrente ano. No entanto, por diversas razões, entre as quais a indisponibilidade de tempo, assim como a limitação em alguns recursos técnicos, o atraso tornou-se claro há cerca de dois meses atrás. Assim sendo, o lançamento do registo planeia-se para o Outono ainda deste ano, não sendo possível, por agora, precisar datas concretas.

É-lhe possível adiantar algo do que virá a ser este trabalho? Segundo se conhece da banda, os pormenores são chave. Adivinha-se uma grande produção, eventualmente…
Ao fim de tantos anos de trabalho e da ultrapassagem das dificuldades que qualquer banda desconhecida encontra no inicio do seu percurso, assim como a nossa constante ambição em elevar a fasquia da qualidade cada vez mais, decidimos que esta demo não seria apenas um bom registo áudio dos temas da banda. À semelhança do trabalho exaustivo feito no registo do tema “The Coming of Past”, em que parece não haver mais espaço para desenvolver, melhorar e preencher, mas que também pouco se identifica, actualmente, com a banda, a demo irá condensar todo o potencial dos Nableena até à máxima exaustão. A utilização de instrumentos adicionais será patente e os arranjos, impraticáveis ao vivo, estarão lá em bom peso. A aposta é feita, também, numa boa qualidade sonora. O objectivo é, de facto, presentear o ouvinte não com Nableena, mas com uns “super-Nableena”, seja lá como for que cada um os possa interpretar e o que este termo possa significar. [risos]

O ramo da engenharia de som é algo a que também está ligado há algum tempo. Como ingressou nesta área e como se tem cultivado desde então?
Há muito que o aspecto técnico da esfera do áudio me tem despertado um grande interesse, desde o mundo da alta-fidelidade ou high-end, passando pelo equipamento musical propriamente dito e, por fim, o universo da gravação, do equipamento e dos respectivos processos envolvidos.
Na verdade, iniciei-me neste último por pura necessidade. Cedo compreendi a urgência em gravar o que compunha. Perspectivando sonoridades complexas, com várias vozes de instrumentos e estes mesmos diversos, adquiri o meu primeiro gravador multi-pistas e ai tudo começou.
É certo que os primeiros passos não foram fáceis, no entanto nem pretendia gravações de qualidade. O objectivo era mesmo a composição e a salvaguarda das ideias que me ocorriam. Grande parte dos temas dos Nableena resultou, exactamente, assim. Aquando da presença do André “Caroço” Tavares na banda, podia dar-me ao luxo de compor para as três guitarras, facto que era, por si só, um ex-libris dos Nableena.
Como é sabido, a prática deve andar de mãos dadas com a teoria [belas metáforas…]. [risos] Por esta razão, há longos anos que recorro à literatura específica de produção áudio e consulto inúmeros sítios na Internet, relativamente a esta área. No entanto, quanto mais aprendo, mais me apercebo do pouco que sei. Nunca é demais estudar e aprender, pois este universo de gravação e produção parece não ter limites.
Actualmente, a minha aposta orienta-se, claramente, na qualidade, mas a verdade é que os próprios padrões de qualidade, neste ramo, estão a crescer constantemente, facto que me leva a afirmar que, para alcançar resultados excelentes, nada melhor que um estúdio profissional, com especialistas profissionais da área.

Inclusive, recentemente, foi requisitado para registar temas de outras bandas locais. Como está a decorrer esta experiência?
Tive a oportunidade de gravar Duhkrista, banda do “Krpan”, meu colega nos Askara. Os temas dos Askara são também gravados por mim. Recentemente, recebi o convite para uma gravação singular dos Zymozis. Embora a experiência tenha sido boa, a grave falta de tempo disponível, este ano, impossibilitou a finalização desta gravação, para grande pena minha.

Os trabalhos em questão têm intentos mais sérios? Incluir-se-ão em produtos a lançar para o público?
Não querendo falar em nome dos grupos, deixarei essas questões para os seus membros, até porque algumas datas de que tinha conhecimento parecem sofrer constantes alterações. Gostaria, obviamente, de ver os trabalhos lançados.

Para quem ainda não está suficientemente surpreendido com o seu perfil pessoal, resta ainda dizer que você é estudante de “Ciências Políticas”. Alguma razão especial?
Quero ser ministro da cultura e direccionar 90% do orçamento para eventos de Metal! [risos] Brincadeiras à parte, é, de facto, uma área académica muito interessante e que engloba uma grande diversidade de outras esferas das Ciências Sociais, tais como o Direito, a Filosofia, a Sociologia e a Ciência Política propriamente dita, entre muitas outras. Não querendo adiantar relativamente ao meu futuro percurso profissional, posso afirmar, com muita segurança, que as Ciências Políticas têm proporcionado uma percepção das Relações Internacionais em profundidade e em detalhe incomparavelmente superiores àquilo que, comummente, se vê do mundo político.
Por outro lado, sendo a política uma esfera evidentemente negativa, porque assim ela realmente é, achei interessante conhece-la para compreende-la. É que muitas vezes é preciso conhecermos algo em profundidade para chegarmos à conclusão que, afinal, o pior faz todo o sentido em ser assim ou que a coisa até nem é assim tão má quanto parece, por mais aberrante que esta afirmação possa parecer… [risos]

Encontra alguma cumplicidade entre a música e a política? [risos]
Por mais difícil que seja aceitar tal ideia, é fácil identificar, por vezes, a música com a política, quando a primeira é aproveitada e explorada em função de outros fins. Refiro-me ao uso da música ou de qualquer outra forma de expressão artística em proveito dos corrompidos interesses individuais. Infelizmente, isso é uma realidade que se constata muitas vezes.

Embora esteja radicado em Portugal há nove anos, teve ainda tempo de viver experiências musicais quando vivia na Rússia?
Na realidade, vivo em Portugal há 17 anos, estando há 8 nos Açores. Na Rússia participava, desde que me lembro, em grupos de canto, com digressões na região onde vivia. Eram coisas de putos, mas era fixolas! [risos] Pena não oferecerem bebida, diziam que éramos muito novos… [risos]

Acompanha especialmente o que se passa em termos de música extrema no seu país natal?
O Myspace tem sido um recurso extremamente útil não só para conhecer novos grupos e acompanhar os conhecidos, de todo o mundo, mas também para me encontrar a par do panorama de Metal na Rússia. De facto, o movimento metaleiro neste país é muito forte, com toda a diversidade de vertentes de Metal que é por nós conhecida. Organizam-se grandes eventos e com grande frequência, e as digressões de grupos internacionalmente conhecidos é constante. Várias pessoas, com as quais mantenho um permanente contacto, informam-me de um tal abismal número de concertos de Metal, que é de fazer inveja. Infelizmente, nota-se a tendência de um constante fluxo dos grupos de Metal regionais para as duas maiores cidades da Rússia, – Moscovo e São Petersburgo, pois é aí que conseguem, efectivamente, exercer a actividade musical a um nível verdadeiramente profissional, com todas as condições e recursos intrínsecos às grandes metrópoles.
Um aspecto curioso que me dá uma grande satisfação é o facto de, cada vez mais, os grupos de Metal russos optarem pela língua materna, nas suas vocalizações. Na minha opinião, isto resulta muito bem em termos musicais. Por outro lado, é preciso ter em conta que o grande público-alvo destes grupos é o próprio do país e o das antigas repúblicas da URSS, onde a língua russa é a predominante, criando, desta forma, um vínculo maior e, provavelmente, uma melhor interacção entre os grupos e o público.
Neste contexto, é importante referir que, sendo a Rússia o maior país do mundo pela sua área territorial e com uma população de cerca de 200 milhões de pessoas, o seu mercado para consumo de Metal é auto-suficiente, bastando-se a si próprio. Isto diz respeito não só ao Metal, mas a todos outros géneros musicais. Contrariamente aos grupos europeus, que têm de fazer tournées por vários países fora o próprio de origem, uma tournée pela Rússia basta para atingir, por completo, os mesmos fins das bandas russas, tais como a venda de um determinado número de discos, o financiamento de toda a actividade da banda e a mobilização das “legiões de fãs”, entre outros. É como um mundo à parte, que não precisa do resto.
Por vezes, perguntam-me o porquê de, em Portugal, não se conhecer grandes actores de cinema russos ou de grupos de Metal ou de “cantores Pimba russos”… [risos] Na verdade, tudo isso existe na Rússia tal como no Ocidente, simplesmente não é conhecido cá, pois eles têm mercado mais que suficiente para preencher lá. E isto tendo em conta que um qualquer “Quim Barreiros” ou “Marco Paulo” russo tem 60-80 milhões de donas de casa como adoradoras devotas, ao contrário das, provavelmente, 2-3 milhões, no caso português! [risos] Penso que isto explica tudo. [risos]
De entre muitas, algumas das bandas que me ocorrem de momento são os Abominable Putridity [Grindcore], uma das influências do meu grupo Askara, os Ordalion [Black Metal], os Scrambled Defuncts [Death Metal] ou os Save [Metalcore].

Que experiências traz do exterior que lhe permitam traçar paralelos ou diferenças para com o meio musical açoriano? A diferença de mentalidades, por exemplo, sente-se muito?
Embora as diferenças sejam perceptíveis, o tempo que lá vivi não foi suficiente para poder traçar uma comparação entre os dois meios, a nível musical.

Atendendo ao seu percurso académico, imagino do seu apurado sentido analítico. Não puxando desta vez para a política, que cenário pinta do metal açoriano e que processos acha que devem ser adoptados para que as complicadas contingências açorianas sejam ultrapassadas?
Deixando para futuras reflexões o quão apurado é o meu sentido analítico [risos], relativamente à questão colocada devo demarcar, em primeiro lugar, a problemática mais pertinente e as suas consequências. Falo do isolacionismo geográfico, próprio da região, e portanto um cerrar do mundo artístico açoriano em si mesmo. A “síndrome do umbigo” é por demais perceptível. As iniciativas no campo da música parecem existir apenas em função do microscópico mercado regional que, como bem sabemos, é perfeito para música como hobby, mas nunca para alcançar metas maiores. Frequentemente, tenho a sensação de ser um universo que se vive a si próprio, em que a noção da existência do resto do mundo parece irrelevante. Se bem que isto seja uma atitude natural, não podendo, por isso, ser condenável, trata-se, também, de um entrave para uma profissionalização e actividade das bandas regionais, num nível internacional. Isto no caso de tal ser um verdadeiro objectivo das mesmas.
Na sequência do dito, é importante que as bandas definam, claramente, o objectivo concreto que pretendem atingir e que lhes dá vida. Umas como hobby, embora tal não implique, necessariamente, uma fraca qualidade destes projectos [muitas vezes bem pelo contrário]; outras com vista a um lançamento no mundo da música profissional, que é possível apenas fora dos Açores e, a bem dizer, fora do próprio país.
Neste ponto, importa salientar o simples facto de a actividade musical no género de Metal, nos Açores, simplesmente não poder oferecer o usufruto de um nível de vida minimamente satisfatório, o que aliás não é novidade alguma. Até podermos ver músicos de Metal açorianos a comprar uma casa, pelo menos um carro, proporcionar uma boa educação aos filhos e estarem financeiramente seguros da sua vivência na terceira idade com apenas os rendimentos desta actividade musical nos Açores, não podemos colocar a hipótese de uma profissionalização a tempo inteiro, na região. Esta enumeração até soa de uma forma ridícula, quando sabemos que os ganhos das actividades das bandas de Metal regionais nem sequer cobrem uma fracção dos investimentos em equipamento. Duvido que tal alguma vez venha a acontecer e, portanto, o caminho é só um. Como disse um velho amigo e colega de banda meu, André Tavares, hoje um reconhecido producer em Portugal continental, “isto de tocar em bandas de Metal e irradiar o espírito metaleiro é muito bonito, mas um gajo tem que pensar na vida…”
O perfeito seria poder realizar regularmente tournées, por vários meses, correndo outros países, com vínculo a uma boa empresa discográfica e regressar aos Açores, a casa, para descansar, compor e ganhar força para a próxima tournée. Mas isto seria, como disse, perfeito…
Ainda relativamente a esta primeira problemática e abordando as soluções para a mesma, é essencial a exposição dos trabalhos regionais de Metal ao “exterior”, procurando fazê-lo junto das instituições e entidades, com capacidade de proporcionar um verdadeiro carácter laboral ou profissional para os grupos. A gravação de demos de qualidade é, portanto, o elemento-chave e isto diz respeito não apenas àqueles grupos que ambicionam passar ao “nível seguinte”, mas a todos os outros.
A par disto, é imperativo que os “ses” deixem de fazer parte do léxico dos músicos. O receio de tentar e arriscar é tanto, que o discurso é pautado por condicionalismos. O comodismo fortemente enraizado anula quaisquer iniciativas, nesse sentido. “E se formos para fora e não gostarem de nós? Se estiver lá fora, não vou aguentar estar longe da família. Se eles pagarem todas as despesas, até pensaria no assunto…” Isto são apenas alguns exemplos, embora válidos e que devemos respeitar. No entanto, quando é esta a forma de abordar o assunto, não se pode esperar muito mais que o palco do Coliseu Micaelense. Acho que, no fundo, isso agrada à grande maioria dos músicos de cá. Pois bem, cada um sabe o que realmente quer.
Gostaria também de relembrar o grande exemplo dado pelos Tolerance 0, aquando da sua partida para o estrangeiro. Foi um acto digno de uma banda séria e que demonstrou que é preciso grandes acções, para chegar a grandes resultados. Embora tivessem que regressar algum tempo depois, pois garantias nunca há nestas coisas, acho que foi uma atitude de louvar.
Um aspecto que, a meu ver, se reflecte de uma forma negativa, no mundo do Metal açoriano é o radicalismo e as fortes delimitações, relativamente aos estilos que se ouvem e que se aceitam e, também, que se cultivam. Noto uma forte intransigência, tanto por parte dos próprios músicos metaleiros, como de outros músicos, o que nada tem de bom. Procurando exemplificar isto com casos reais, assiste-se muito a um radicalismo estilístico na “virtual comunidade metaleira açoriana”, em que me deparo com músicos que tocam estilo “X”, que só ouvem musica do estilo “X”, só se interessam por grupos locais que tocam o respectivo estilo e chegam ao ponto de desprezar outras correntes de Metal ou géneros musicais. Isso não é saudável. É essencial saber distinguir o gosto pessoal ou as preferências individuais, da capacidade de apreciação da qualidade de um conjunto musical. É preciso saber dar oportunidade, o que não passa por ouvir uma ou duas faixas momentaneamente, mas sim explorar pelo menos um ou dois álbuns de um grupo que, aparentemente, não nos desperta interesse. Mais uma vez, é uma questão de educação própria, o cultivar musical que apenas nos pode ser proporcionado por nós próprios, se tal desejarmos, verdadeiramente.
Por outro lado, penso que o problema fundamental de alguns projectos regionais de Metal, especialmente aqueles que parecem viver um permanente desalento, deve-se ao simples facto de os seus membros parecerem desperdiçar “energias” em coisas dispensáveis, em tretas que, frequentemente, nem tem nada a ver com a única coisa que realmente importa – a música! É em função da música e para o bem dela, que se deve pautar a atitude e o comportamento, não o contrário. É preciso ser flexível e ter de “engolir sapos” para que a música viva e as coisas funcionem, em vez de usar a música para atingir ambições pessoais ou satisfazer egoísmos próprios.
Parece-me que o mais importante, a música, a arte, é frequentemente usado apenas como pano de fundo, à frente do qual muitos procuram satisfazer seus apetites ou vontades individuais. Uns procuram afirmar-se, com os seus egos pequeninos, perante outros e perante si próprios, parecendo nada mais ter na vida de que se orgulhar, a não ser o título de “fulano da banda XPTO”; outros têm a música como motivo para demonstrar orgulhosamente o seu “museu” de guitarras, que parecem nunca ser em número suficiente; outros ainda acreditam piamente que se encontram no caminho certo para arrebatar corações femininos… Infelizmente, esta lista é infindável. Ocorre-me agora o fenómeno ridículo de alguns demonstrarem uma disparatada ânsia de pertencer a um pseudo-grupo elitista de “pessoal de bandas de Metal”, como se de algum restrito Clube VIP se tratasse, o que não tem cabimento nenhum, pois tal coisa nem sequer existe. Mais uma vez, nada disto é saudável para o Metal.
Tenho de apontar ainda para o triste facto de os músicos não ligados ao Metal demonstrarem um grande desinteresse ou mesmo menosprezo, face ao género. Isso acontece também de uma forma recíproca por parte de muitos metaleiros. Falo disto com conhecimento de facto, pois vejo-me muitas vezes entre dois mundos tão diferentes e ambos tão bonitos, como são o Metal e a música de tuna, sendo que esta última busca uma forte componente de música tradicional, altamente respeitável e muitas vezes exigente. Isto tem sido, sem dúvida, uma das coisas mais amargas que tenho vivido há vários anos. Ao longo dos anos que assisto a isso, fiquei farto de defender cada um perante o outro lado, pois quando as pessoas não querem, não há muita coisa que se possa fazer. E, apesar disso, a TAUA conta, no seu longo historial, com personalidades de Metal altamente respeitáveis, como o Tiago Dias dos Obscenus, João “Jam” Dâmaso dos Gnosticism, Marco Mirco dos Obscenus ou o António Feijó, violinista que fez as digressões com os Obscenus no continente português. Será que isto tem algum significado? Deixo aqui um ponto para reflexão. Felizmente, noto que alguns meus colegas de tuna acabaram por ser suficientemente tolerantes em relação a minha condição de músico de Metal, o que já por si só é um facto agradável.
Acabando numa nota positiva, a verdade é que os Açores e muito principalmente a ilha de São Miguel, vivem um fortíssimo movimento de grupos de Metal e que não é recente. Organizam-se festivais, eventos, contamos com várias entidades que promovem o género, como a SounD(/)ZonE e o Metalicidio, entre outros. Podemos contar também com veteranos devotos ao estilo, como o José F. Andrade e ainda o programa de rádio do João Goulart.
É excelente a organização de eventos que tem trazido grupos tanto de Portugal continental como do estrangeiro, oferecendo uma verdadeira “lufada de ar fresco” ao Metal nos Açores. Saliento também o benéfico facto de podermos contar, em São Miguel, com grupos de Metal das outras ilhas, como tem sido o caso dos Anomally, da Terceira. E por falar nesta ilha, é de louvar a recente organização do Beer Metal Fest, organizada pelo meu amigo e colega Nuno “Terceirence” e pelo bem conhecido Bruno dos Zymozis. Poderia aqui continuar a lista, o que só demonstra que o Metal nos Açores, embora sofra limitações, continua bem vivo e em progressão.

Dia 21 será um dia, imagino, algo sentido para si – embora, naturalmente, a sua partida não seja definitiva. O que diria às pessoas para as convencer a estar presentes neste espectáculo?
Os preparativos para o concerto dos Nableena, no Black Code, tendem a reunir alguns ingredientes para torna-lo “O concerto” do grupo! Há muito que desejava organizar uma actuação que presenteasse o público com a imagem mais completa e uma melhor demonstração do potencial musical dos Nableena, relativamente aos concertos passados. Este evento prenuncia conseguir exactamente isso, embora acredite que a demonstração de todo o real potencial do grupo estará patente na demo.

Nuno Costa

Echidna - Álbum de estreia lançado amanhã

Um dos mais aguardados lançamentos nacionais deste ano é dado a conhecer amanhã, dia 21 de Junho, na festa de lançamento de “Insidious Awakening”, o disco de estreia dos Echidna, no Porto Rio Bar, no Porto. A acompanhar os anfitriões da festa estarão os Coldfear, numa celebração que pode ser partilhada por 3€ ou 8€ com “Insidious Awakening”, a partir das 22h30. Este trabalho chega-nos pela Rastilho Records e estará à venda nas lojas no dia 14 de Julho em Portugal e na Holanda e Alemanha a partir de 5 de Setembro. “Insidious Awakening” surge da boa aceitação que o projecto de Vila Nova de Gaia tem tido nos últimos tempos, motivada por vitórias em concursos, poderosos concertos e pela demo “Tearing The Cloth”, lançada em 2007. Este primeiro longa-duração conta com nove temas de death/thrash metal moderno capaz de agradar a fãs de Arch Enemy, Soilwork e The Haunted, tendo sido gravado nos estúdios Fábrica de Som por Daniel Carvalho e misturado e masterizado nos UltraSound Studios por Daniel Cardoso. O grupo terá uma grande data no dia 9 de Agosto, em Lisboa, no festival Alliance que faz deslocar a Portugal nomes tão sonantes com Arch Enemy, Exodus, Anathema, Marduk ou 3 Inches Of Blood. Depois disso, em Setembro, a banda inicia a sua digressão de apoio a "Insidious Awakening" pelas principais salas do país.

Wednesday, June 18, 2008

O Afinador

E porque é sempre enriquecedor reflectir sobre aquilo que está à nossa volta, nomeadamente o que nos deixa intrigados ou que fomenta o debate de ideias, aqui fica um espaço onde personalidades de vulto darão o seu parecer, com base na sua experiência profissional e pessoal, sobre questões que muitas vezes colocam o público, concretamente o amante de música e em particular o do Heavy Metal, sob dúvidas e equívocos que, sempre que possível, devem ser esclarecidos para o respirar saúdavel desta comunidade. Aqui fica uma nova rubrica onde se espera deixar "afinadas" muitas mentes e que, embora reflectindo apenas uma posição pessoal, tentará convencer pela credibilidade e validade do percurso de quem se movimenta há anos neste meio, quer como músico, jornalista ou promotor. A SounD(/)ZonE lançou o primeiro tema ao mui respeitável Fernando Reis [jornalista da revista Loud! e responsável pela editora Major Label Industries] e propôs-lhe que abrisse as mentes de quem... vive mal com os rótulos musicais! É uma realidade com a qual convive diariamente e que muitas vezes gera mal-entendidos. Qual a necessidade dos rótulos musicais? Como interpretá-los? A palavra a quem sabe!

COMO INTERPRETAR RÓTULOS MUSICAIS

Os géneros musicais são frequentemente olhados como limitadores, castradores e/ou pura e simplesmente simplificadores por parte dos músicos, criadores de arte per se. Compreende-se como para um músico que queira deixar todas as suas opções criativas em aberto possa ser frustante pensar em termos de denominações de géneros musicais (na mesma medida em que um pintor com a tela em branco se sinta limitado pelo facto de saber que os primeiros traços podem “engavetá-lo” num movimento específico que, enquanto manifestação artística, não lhe diz absolutamente nada). No entanto, os géneros musicais e os termos pelos quais são conhecidos são de importância comercial e estética capitais, pois permitem uma descrição mais rápida e “categorização” mais fácil. Apesar de tudo, estamos a falar de arte e, por isso, as regras que definem os estilos não são estanques nem firmes, mudando à medida que a própria arte – entidade viva e activa – se vai desenvolvendo e metamorfoseando.

Em termos jornalísticos, a “catalogação” da música serve o propósito da rápida descrição. A comparação de artistas serve o mesmo propósito, mas demoninar um artista como “artista jazz” envia uma ideia imediata geral ao público-alvo, aos leitores, usando um termo universalmente conhecido e aceite de modo a que, a partir daí, toda a descrição vá no sentido do detalhe. Se falarmos em termos meramente metal, uma banda de metal industrial será consideravelmente diferente de uma que pratique doom metal, mas por exemplo dentro deste último estilo bandas como Witchcraft ou Morgion, sendo geralmente aceite que praticam ambas doom metal, têm sonoridades e identidades musicais bem diferentes.

O mesmo se passa a nível comercial. À medida que as lojas se vão transformando em superfícies maiores, entregues a grandes redes multinacionais como a que opera em Portugal sob o nome de FNAC, torna-se essencial “separar as águas”, de modo a que públicos à partida diametralmente diferentes saibam exactamente onde se encontra a “sua” música. Deste modo, o público que gosta de música clássica tem o seu próprio departamento especializado à disposição, assim como o público que aprecia música étnica, jazz, electrónica, metal ou pop/rock. Os responsáveis pelos diferentes departamentos são diferentes, há editoras especializadas em cada um dos estilos, códigos internos para cada um deles, vendedores e jornalistas que trabalham apenas dentro de cada um desses estilos. Toda uma hierarquização construída com base em estilos universalmente aceites, “criados” e denominados frequentemente pela cultura popular.

Tratando-se de uma tentativa de aplicar uma certa ordem e ciência a uma arte que, como fim, se rebela contra isso, obviamente os estilos musicais e as suas demoninações sofrem frequentes subversões – quer voluntárias, quer involuntárias. Comercialmente, um colectivo como Ulver, cujo passado inclui black metal, folk nórdico, música electrónica de laptop e rock progressivo, tem que continuar a ser “vendido” dentro das prateleiras do metal, porque a sua principal base de fãs está dentro desse estilo – e foi aí que começou – e não “funcionará” nas prateleiras a que cada disco corresponde na realidade em termos estilísticos, quer porque os fãs de metal não os procuram aí, quer porque os habituais frequentadores dessas prateleiras não reconhecem Ulver como um verdadeiro artista desse estilo. O mesmo se passa em termos jornalísticos... se os Cradle Of Filth fizessem este ano uma obra de música contemporânea/clássica, dificilmente seriam levados a sério por um qualquer jornalista especializado em escrever sobre interpretações de Bach, Mozart ou Vivaldi. O mesmo se poderia passar com Ana Malhoa, proeminente personagem da música ligeira portuguesa que, se por qualquer milagre da natureza fizesse hoje uma obra-prima do death metal brutal e técnico, teria sérias dificuldades em ser aceite num meio que se habituou a vê-la do outro lado da barricada estilística. Uma vez “catalogados” dentro de um estilo, os artistas têm sérias dificuldades em sobreviver fora dele porque comercial e estéticamente os estilos são necessários para que exista um mínimo de organização – nem que seja mental – dentro de todo o espectro musical.

Assim, a única forma de olharmos para os estilos musicais – sejam eles quais forem – sem deixarmos que os preconceitos a eles ligados nos toldem a percepção é encará-los como meros marcadores, etiquetas que alguém lhes cola e que, como em tudo, podem estar perfeitamente erradas mas também podem ajudar-nos a organizar a nossa mente em “pilhas”. Se, por exemplo, a diferença entre “heavy” e “power” metal está, actualmente, em pormenores tão pequenos como a produção e a forma como se usa o duplo-bombo da bateria, temos que pensar nos milhares de bandas de cada estilo que se guiam por cada um desses pormenores para criar a sua sonoridade no início de carreira, antes de considerarmos tal categorização ridícula. Depois, quando essa mesma banda evolui e lhe cresce uma alma musical própria, talvez a sua música deixe de poder ser descrita com um termo universalmente reconhecível e aceite e venha a ter dificuldades em libertar-se do seu anterior “rótulo”. Mas essa é uma luta antiga da arte que faz com que os músicos se esforcem ainda mais para que o seu trabalho seja reconhecido por aquilo que verdadeiramente é. E, em última análise, faça desenvolver e evoluír uma arte que, sem inconformismo perante os estilos e terminologia instalados, nunca teria passado daquele drone africano feito com um ramo no tronco de árvore.

Fernando Reis

Sunday, June 15, 2008

Concurso Angra Rock 2008 - Public Seven vencem

Os terceirenses Public Seven são os grandes vencedores do Concurso Angra Rock 2008. A grande final decorreu na passada noite de 14 de Junho, no auditório do Centro de Congressos de Angra do Heroísmo, onde foram também distinguidos com segundo e terceiro lugares os Nomdella e Cysma. Participaram ainda na final os Anjos Negros e 4Saken. Ao primeiro lugar foi atribuida a quantia de 1500€, ao segundo 1000€ e ao terceiro 500€, para além de ganharem a possibilidade de participar no Festival Angra Rock a decorrer nos dias 29, 30 e 31 de Agosto no Cerrado do Bailão, em Angra do Heroísmo. São já confirmados para o evento David Fonseca, Brian Melo, Suzerain e Parkinson.

Saturday, June 14, 2008

Benediction - Regresso mortífero

Os veteranos death metallers ingleses Benediction regressam aos discos no dia 22 de Agosto com “Killing Music” através da Nuclear Blast. Segundo a banda, este regresso aos discos sete anos depois de “Organised Chaos”, promete ser mais “duro”: “Fartamo-nos das produções muito polidas”, confessa o baixista Frank Healy. “Killing Music” marca ainda a estreia de Nicholas Barker [Leaves’ Eyes, Atrocity, Lock Up] atrás do kit de bateria e é ainda contemplado com as participações especiais de Karl Willets [Bolt Thrower], Kelly Shaefer [Atheist], Billy Gould [ex-Faith No More], The Fog [Frost], Markus Staiger [patrão da Nuclear Blast] e Thorsten Zahn [Metal Hammer]. A produção ficou a cargo do mentor dos Anaal Nathrakh, Mike Kenney e o artwork é da autoria da Smoking Beagle Designs.

Friday, June 13, 2008

Concurso Angra Rock 2008 - Encontrados finalistas

4Saken, Cysma, Public Seven e Nommdela da ilha Terceira e Anjos Negros de S. Miguel são os finalistas do Concurso Angra Rock 2008. A final decorre amanhã no grande auditório do Centro Cultural de Angra do Heroísmo, a partir das 21h30, onde também actuarão os Amnezia, vencedores da edição 2007 do concurso. Participaram também nas duas eliminatórias os Black Nails, Quasar, System Failure, ZeroKilled, Anéis de Marfim e Angels Wings.

Thursday, June 12, 2008

Review

POSIDOM
“A Deeper Kind Of Hate”

[Demo CD – Edição de autor]

Incorremos no risco de parecer ríspidos, insensíveis e arrogantes quando temos que apontar o dedo [para a ferida] de um trabalho que nos cai em desagrado. Mas pior seria o cinismo de ocultarmos aquilo que realmente sentimos por conveniência, por medo de represálias ou até para não desmanchar amizades. Por outro lado, ainda nos arriscamos a ser apelidados de anti-underground, mas a verdade deve ser madrasta precisamente para que as coisas possam evoluir.

O que temos aqui é uma demo de estreia bem primitiva e podre. Em todos os sentidos. Desde a logística [capa e produção “home made”, mas de muito mau gosto] até ao produto musical – um death metal muito cru, directo e sujo, mas que deixa ainda lugar a alguma melodia e a interlúdios compostos com o sintetizador. Uma introdução minimamente auspiciosa ainda nos deixa curiosos quanto ao que pode vir a seguir, mas passados alguns temas caímos numa entediante rede de riffs e batidas demasiadamente banais. Se a péssima qualidade de gravação poderia ser desculpa devido à desfavorecida posição da banda no underground [fica ainda a dúvida se será descuido ou vontade de soar, lá está, underground], já desculpa não será a falta de ideias que por aqui reina.

As limitações técnicas do grupo também são por demais evidentes, embora em termos rítmicos a banda demonstre gana. As “tentativas” de solos chegam a nos deixar confusos [será que era aquilo mesmo que a banda queria fazer – o exemplo maior é “First Meeting With Yourself”]. Neste campo a banda tem realmente que se esforçar muito mais, até porque, como já se disse, na criação de ritmos a banda não é propriamente tosca. O que nos acaba por deixar mesmo intolerantes são os moldes desleixados com que a banda nos oferece esta demo. Será funcional lançar-se demos “antes da hora”, sem o mínimo de meios e ainda com os músicos em fase bastante precoce de desenvolvimento? Percebe-se a ânsia das bandas jovens em se darem a conhecer, mas a prudência e o bom-senso devem ser palavras de ordem para qualquer projecto que queira algo mais na sua carreira. Até os nomes dos temas soam levianos – “Filthy Demoniac Creatures” é um exemplo - e o que é certo é que ficamos sem grande margem de manobra para poder tirar uma radiografia positiva deste trabalho.

Ao mesmo tempo estes temas parecem ter sido registados ao primeiro ou segundo take já que são perfeitamente perceptíveis os erros de execução, as irregularidades rítmicas ao ponto de algumas passagens parecerem autênticos “tiros ao lado”. Uma gravação minimamente cuidada, é certo, podia dar outro brilho a “A Deeper Kind Of Hate” [até se respeita que a banda não queira soar muito “polida” e “limpinha”], mas é irrefutável que quando esta prejudica a percepção do trabalho musical ou a sua consistência, não deviam ser dadas tréguas à nossa inexperiência, à nossa teimosia ou o que quer que tenha levado a banda a apresentar este trabalho com este aspecto.

Sentimo-nos numa posição desconfortável por ter que atribuir classificações negativas, ainda mais quando uma banda é muito jovem e está efervescente por mostrar a sua arte ao mundo. Mas a verdade é que salva-se a palpável atitude da banda, mas isso, de momento, não chega… por muito que queiramos recusar. [3/10] N.C.

Estilo: Death Metal

Discografia:
- "A Deeper Kind Of Hate" [2008]

Monday, June 09, 2008

Inhuman - Regresso uma década depois

Os Inhuman, regressados de um hiato de mais de nove anos depois do seu último disco editado, encetam a sua primeira aparição ao vivo nesta sua segunda encarnação no dia 5 de Julho no Man’s Ruin Bar [antigo Culto Club] em Cacilhas, acompanhados dos Sacred Sin, Theriomorphic e VS777. O grupo do Algarve foi um dos mais emblemáticos da face gótica nacional dos anos 90 tendo editado uma demo – “Pure Redemption” – e dois álbuns – “Strange Desire” e “Foreshadow”. Em 2002, oficializaram o desmembramento da banda numa altura em que já tinham composto alguns temas para o seu terceiro longa-duração. Para este novo milénio a banda promete uma nova sonoridade e confessa que “este regresso é entendido como uma necessidade pessoal de realização artística”.

Sunday, June 08, 2008

Review

MAHATMA
“Perseverance”

[CD – Listenable/MLI]

Soou-nos estranho uma banda formada há 15 anos e apenas agora estar a lançar o seu segundo longa-duração. A pesquisa pelos motivos saíram frustradas, mas, mesmo assim, o que interessa é que a espera valeu bem a pena para estes Mahatma. Depois da estreia, em 2005, com “The Endless Struggle Against Time” o quarteto coreano apurou vários aspectos e apresenta agora melhorias quer em termos técnicos, quer de produção e composição. Falamos aqui de um thrash perfeitamente empenhado e inspirado nas raízes dos anos 80. Slayer, Testament, Sepultura e Metallica são nomes que imediatamente nos ocorrem à memória, mas se isso poderia servir para pensar que os Mahatma eram apenas uns “teimosos” do old school e obsessivos na sua missão de glorificar as raízes do thrash porque, simplesmente, sim, a verdade é que a sua competência e a convicção sobrepõem-se a tudo isso.

“Perseverance” é um disco com muita garra. Temas normalmente rápidos, plenos de virtuosismo nas guitarras, vozes sempre rasgadas e um espírito, claro está, bem retro. “Beginning Of The End”, “Violence” ou “Falling To Hell” são tão Slayer que nos deixam a questionar sobre a origem geográfica destes Mahatma. A identidade Bay Area respira aqui em grande pulmão e perante tão grande – e bem feita – homenagem à Era e nomes tão emblemáticos do thrash metal, escusado será dizer que este disco dará um prazer enorme de ouvir aos fãs desta primeira geração - “de ouro” - do thrash. [8/10] N.C.

Estilo: Thrash Metal

Álbuns:

- "The Endless Struggle Against Time" [2005]
- "Perseverance" [2008]

Phazer - Registam álbum de estreia

Os lisboetas Phazer entraram no passado mês de Maio em estúdio para o registo do seu primeiro longa-duração. Com o sucesso do EP de estreia “Revelations”, acompanhado por uma substancial digressão nacional, o grupo não perdeu tempo e ainda nesta fase criou novo material que poderá ser ouvido no seu novo trabalho. Para além de temas novos, os Phazer confirmam registar temas dos primeiros tempos da banda para edição neste disco. O estúdio escolhido para a sua gravação fica em Lisboa, os Urban Insect Studios, e tem à frente da produção Fernando Matias [F.E.V.E.R.]. A sua data de lançamento continua uma incógnita já que os planos da banda é editar este trabalho sob um selo discográfico, o que a obrigá-los-á a convencer uma editora depois da gravação estar finalizada. Quanto ao seu novo material, os Phazer anunciam que este será mais pesado e maduro. Entretanto, continua disponível para download gratuito o tema “Benediction”, um dos maiores símbolos de “Revelation”, aqui.

KYPCK - Contos submersos

O álbum de estreia dos finlandeses KYPCK, “Cherno”, será editado em todo o mundo a partir de 18 de Julho pela Century Media. O disco havia já sido gravado em 2007 e lançado em Março de 2008 pela UHO Production na Finlândia, mas o recente contracto assinado com a Century Media dá agora oportunidade ao mundo de conhecer o novo projecto de doom/drone metal composto por algumas figuras conhecidas como S. S. Lopakka [ex-guitarrista dos Sentenced] e K. H. M. Hiilesmaa [baterista e produtor de bandas como HIM, Lordi, Sentenced, Moonspell, Apocalyptica, etc]. A designação do grupo traduz-se “Kursk” no alfabeto ocidental e tudo isto relaciona-se também com o facto de a banda cantar em russo. O videoclip para “1971” fica aqui acessível.

Scar Symmetry - Segundo trailer de novo álbum disponível

Está disponível no Youtube o segundo trailer do próximo álbum dos suecos Scar Symmetry, “Holographic Universe”. O vídeo mostra Henrik Ohlsson e Per Nilsson, baterista e guitarrista respectivamente, a desvendar mais alguns pormenores sobre este terceiro trabalho, concretamente o seu conteúdo lírico. O sucessor de “Pitch Black Progress”, de 2006, apresenta 12 novas faixas e será lançado a 20 de Junho pela Nuclear Blast. Aceda ao vídeo aqui.

Arsis - Anunciam novo baterista

Após separarem-se recentemente e amigavelmente do baterista Darren Cesca, o qual trabalhou com a banda no último ano e meio, os norte-americanos Arsis anunciam Alex Tomlin como novo baterista do grupo. Nas palavras do guitarrista/vocalista James Malone “os motivos da saída de Darren prendem-se, simplesmente, com divergências de personalidade e para com a direcção a tomar pelo grupo. O Darren é um excelente músico e não guardamos qualquer ressentimento em relação a ele”, acrescenta. Quanto ao seu novo companheiro na banda, James mostra-se excitado e confessa que “para além de amigo de longa data é um grande músico”. O novo line-up da banda fez a sua estreia na passada quarta-feira na tournée “In Thrash We Trust”.

Exodus - Metalkult.com apresenta vídeo-aula

O site Metalkult.com disponibilizou uma vídeo-aula exclusiva com os guitarristas Gary Holt e Lee Altus dos veteranos Exodus. Esta é referente a um período pós-espectáculo de uma actuação no B.B. King Blues Club & Grill, em Nova Iorque, a 7 de Fevereiro deste ano, em que os dois músicos demonstraram como tocar alguns riffs de alguns dos mais emblemáticos temas do grupo da Bay Area. São exemplo, “Toxic Waltz”, “Bonded By Blood”, “Piranha”, “No Love”, “And Then There Were None” e “Fabulous Disaster”. Para além disso, não foram esquecidos alguns dos temas do seu último álbum, “The Atrocity Exhibition: Exhibit A”, como “Children Of A Worthless God” e “Funeral Hymn”. O vídeo está disponível aqui.

Saturday, June 07, 2008

Sonic Syndicate - Novo álbum em Setembro

O sucessor de “Only Human” dos suecos Sonic Syndicate intitula-se “Love And Other Disasters” e estará disponível a partir de 19 de Setembro pela Nuclear Blast. O disco será composto por dez temas para além de dois extra e um DVD bónus na edição especial em digipack. Até lá a banda continuará a sua massificada apresentação ao vivo em grandes festivais este Verão como, por exemplo, o Rock Am Ring e o Summer Breeze para depois partir novamente em digressão com os In Flames e Gojira. A capa de "Love And Other Disasters" pode ser vista aqui.

Thursday, June 05, 2008

Review

DEBAUCHERY
"Continue To Kill”
[CD – AFM Records]

Olhar para o percurso interino deste colectivo é, antes de mais, dar de caras como uma dança esquizofrénica de entradas e saídas de elementos capaz até de nos deixar azoados. Mas não só por isso é marcada a existência dos Debauchery, como é óbvio. Também muita coisa boa estes germânicos já fizerem, quer através da edição de quatro interessantes álbuns, quer por digressões feitas com Six Feet Under, Dismember e Napalm Death. Os problemas com a consistência do line-up parecem nunca ter resfriado a vontade “sanguinária” do seu vocalista e líder Thomas, que aqui volta com “Continue To Kill”. Como o seu próprio nome indica, as intenções de Thomas parecem ser as de manter a identidade muito peculiar, diga-se, dos Debauchery que aliam a brutalidade do death metal com a energia do thrash e, imagine-se, a irreverência e acessibilidade do rock. Daí muita gente até lhes classifique como banda de death’n’roll. A forma de composição de Thomas [e volto a falar no singular porque a banda, hoje em dia, funciona mais como um projecto a solo] faz com que os Debauchery soem, à primeira escuta, a uma convencional banda de death metal extremo, mas isso só enquanto não nos surpreende com um bombástico tema rock de fazer inveja a veteranos como Motörhead. E isso tudo com a voz gutural de Thomas, o que lhes confere ainda mais interesse.

Posto isto, aqui temos um colectivo com muita atitude… e aparentemente despreocupado com o que possa ser dito pela imprensa ou pelos fãs que não chegam a gostar da banda por esta não se revelar nem uma banda de death metal puro nem de rock. Esta maneira de estar já vem acompanhando o colectivo desde a altura em que lançou o seu disco de estreia – “Kill Maim Burn” de 2003 – e ganhou expressão no anterior “Back In Blood” de 2007, que inclusive, teve uma edição especial com um segundo disco de covers de Genesis, The Beatles, Rolling Stones, Judas Priest, entre outros.

E é muito focada neste universo que a própria banda criou, que esta regressa fiel aos seus princípios, embora “Continue To Kill” se mostre mais pesado e thrashy que o seu antecessor. Os Debauchery fazem por não soar a uma banda muito séria, mas ao mesmo tempo convicta e consistente em qualquer uma das abordagens – extrema, groovy ou mais light – que adopte. São de louvar colectivos desses que não olham a lobbies para expor as suas influências musicais. É, por isso, com determinação que dizemos: é bom tê-los por cá. [7/10] N.C.

Estilo: Death/Thrash/Rock

Álbuns:
- "Kill Maim Burn" [2003]
- "Rage Of The Blood Beast" [2004]
- "Torture Pit" [2005]
- "Back In Blood" [2007]
- "Continue To Kill" [2008]

Metal Of Honor II - Morbid Death encabeçam segunda edição

O bar Black Code, em Ponta Delgada, realiza no dia 21 de Junho a segunda edição das suas noites de Metal sob o título “Metal Of Honor II”. Desta feita os protagonistas são os Strapping Lucy, Nableena e Morbid Death. As entradas custam 5€ [com oferta de um fino] e os espectáculos têm início às 22h00.

Wednesday, June 04, 2008

Vallient Thorr - Viking rock assalta Musicbox em Julho

Depois da actuação em Portugal em 2007 na abertura do concerto dos Fu Manchu, os norte-americanos Vallient Thorr regressam a Portugal desta vez para encabeçar uma data no Musicbox, em Lisboa, no dia 4 de Julho. O grupo de viking rock vem apresentar o seu mais recente trabalho “Immortalizer”, gravado em Seattle pelo responsável de discos de Nirvana, Soundgarden e Mudhoney, o produtor Jack Endino. Na primeira parte do espectáculo subirão ao palco os nacionais Men Eater em mais uma actuação que promete arrastar a sua já vasta legião de fãs. O início do espectáculo é às 23h00 e os bilhetes estarão à venda a 10€ no local.

Alliance Fest 2008 - Grande festival de Metal em Carcavelos

A Prime Artists, em parceria com a espanhola Frontline, produz em Portugal nos dias 8 e 9 de Agosto o festival Alliance Fest composto por nomes tão sonantes como Arch Enemy, Anathema, Marduk, Exodus e 3 Inches Of Blood. O evento sucede ao Marés Negras, realizado o ano passado no Porto, para descer com novo nome ao Pavilhão dos Lombos, em Carcavelos. O evento é ainda complementado pelas presenças dos nacionais We Are The Damned, Echidna, Blacksunrise e Shadowsphere. O preço dos bilhetes e mais nomes para o cartaz serão anunciados muito brevemente.

Tuesday, June 03, 2008

Beer Metal Fest - Heavy Metal e muita cerveja em Ponta Delgada

Nos próximos dias 6 e 7 de Junho a cidade de Ponta Delgada volta a receber um evento de Metal repleto de motivos de interesse. Designado Beer Metal Fest, o evento realiza-se nos armazéns da Melo Abreu [Rua de Lisboa] e dirige-se exclusivamente ao apoio de bandas açorianas, nomeadamente aos Hatin’ Wheeler, Psy Enemy, Sanctus Nosferatu e Zymosis que actuam no primeiro dia do festival, e Duhkrista, Nableena, Anomally [ilha Terceira] e Morbid Death, no derradeiro dia do evento. Para além disso, o festival promete muito entretenimento extra através de workshops de paintball, tatuagens e piercings com arranque previsto para as 19h15 e a ter lugar nas imediações do recinto do espectáculo. Para além disso, serão exibidos videoclips no after-hours e, como hino ao festival, a cerveja estará à venda a 0,50€. Os espectáculos têm início às 20h00 e os ingressos custam 5€ [um dia] e 7,5€ [dois dias] e estarão disponíveis apenas no dia e no local do espectáculo.

Monday, June 02, 2008

V aniversário SounD(/)ZonE

A noite de passado sábado, 31 de Maio, parece ter deixado marcas, para além do enorme cansaço. Já se torna difícil organizar e tocar em simultâneo, digo-vos sinceramente, a idade parece que vai pesando. No entanto, tirando a importância do momento [cincos anos dizem-me tanto, acreditem], não posso deixar de dizer: o Metal açoriano está a regenerar-se de uma forma fantástica! Regenerar, talvez seja mesmo a palavra correcta. Com todo o respeito pela “Velha Guarda” não posso deixar de confessar o quão aprazível é ver, já por sucessivas vezes e cada vez mais, a quantidade de “putos” que neste momento aparecem nos concertos de Metal em S. Miguel e que representam uma nova geração de apoiantes deste género a formar-se. E o suor que deixam na plateia?! Linda a entrega! Sejam quais forem os motivos que tenham gerado este quadro relativamente recente, a verdade é que os concertos de Metal em S. Miguel voltaram a ser verdadeiras celebrações! É para isso que trabalho e muito mais gente que gosta de Metal; para crescermos! Parece que o esforço começa a ser recompensado. Trabalhamos todos para o mesmo e vamos conseguindo pôr as pessoas felizes! Sente-se a alegria nos concertos actualmente, o espírito, a camaradagem [apesar do mosh violento], a fé pela causa, a vontade de viver aqueles momentos ao máximo. É com isso que sonhei quando comecei com este projecto e que, refiro novamente, também muita gente que se dedica a essa causa. Unamo-nos e façamos a força! As provas parecem começar a estar à vista.

Caros leitores, quanto ao evento não podia estar mais feliz. Se as coisas nunca são 100% perfeitas também não estiveram muito longe de ser muito satisfatórias. Ou será que foi isso mesmo? Para mim, na minha humildade de pessoa criada no “campo”, digamos assim, algo deste género e como se tem passado nos últimos anos com o nome da SounD(/)ZonE à cabeça, não pode deixar de ser algo surreal. Nada foi esperado assim, apenas sonhado. Para além disso, o público manifestou toda a sua alegria durante e depois do concerto e há sobretudo um enorme agradecimento a endereçar a todas as pessoas que ajudaram na realização deste evento [dos patrocinadores até aos amigos que prepararam o cattering] e consideração pela solidariedade com que as pessoas me abordaram para dizer o que sentem por esta coisa que não sou eu mas sim algo subjectivo, chamado SounD(/)ZonE, que pretende ser o espaço, a zona, onde todos os amantes do som eterno se reunem! Um abraço estendido a todos sem excepção. Deixem cá os vossos comentários… if you will!;)

Tatoo your blood in Metal!
Nuno Costa