Saturday, January 31, 2009

Review

SATANS REVOLVER
“The Circleville Massacre”

[EP – Raging Planet]

É cada vez maior o nosso motivo de regozijo perante o profissionalismo que as bandas portuguesas adoptam no processo de concepção das suas obras e principalmente as de estreia. “The Circleville Massacre” tem tudo para que lhe confundamos com um trabalho importado, mas esta é uma situação com que começamos a estar habituados a lidar, pois, claramente, Portugal começa a deixar de ser o parente pobre e “coxo” do Metal internacional.

Num cenário de embuste e promiscuidade westerniano, chega-nos os Satan Revolver, descendentes de experiências acumuladas em projectos como Twentyinchburial, Aside, As Good As Dead, Before The Torn, Reptile e Forgodsfake. Como tal, não é de todo de estranhar a superior qualidade com que este trabalho de estreia se apresenta, nem mesmo dentro de um catálogo altamente graduado como é o da Raging Planet.

Desde o excelente grafismo à soberba produção [do quase omnipotente Daniel Cardoso] passando, obviamente, pela qualidade dos temas, “The Circleville Massacre” é daqueles trabalhos em que se topa desde o primeiro instante todo o cuidado melindroso que rodeou a sua criação, potenciando, assim, um futuro auspicioso aos seus autores. O stoner rock é a insígnia cravada nesta roleta “sulista” da qual ninguém sai ileso aos seus efeitos. Sem novidades, mas a preservar todos os ingredientes que fazem deste um estilo especialmente cativante, baseado em fortes e contagiantes riffs, o grupo de Lisboa está perfeitamente colocado para agradar a fãs de Maylene And The Sons Of Disaster ou Everytime I Die.

Perante um balanço tão positivo, só fica mesmo como pesar a curta viagem musical – 16 minutos. Mas pela velha máxima de que quantidade não é qualidade, este pequeno excerto do que os Satans Revolver podem oferecer no futuro acaba por ser suficiente para, a partir de agora, termo-los atentamente debaixo de olho. [7/10] N.C.

Estilo: Stoner Rock

Discografia:
- “The Circleville Massacre” [EP 2008]

www.myspace.com/satansrevolver

Friday, January 30, 2009

Infâmias & Truanias

Banda: Urban Tales
Local: Bar Tukátulá, Ribeira Grande, Açores
Data: 30 de Agosto de 2008
Evento: Live Summer Fest 2008

A nossa segunda ida à paradisíaca ilha de S. Miguel nos Açores ficou marcada, para além do concerto, claro, por um episódio engraçado que começou quando os Urban Tales desafiaram os Hiffen – banda açoriana que partilhou o palco connosco – e o dono do bar Tukátulá para um jogo de futebol. Os Hiffen amedrontaram-se e escapuliram-se. Ficámos, portanto, a jogar entre nós e o dono do bar, o senhor Pedro. As equipas eram: eu, o Pedro [homem grandalhão e amante do F.C. Porto] e o Jon [teclista]; o Tiago [baixista], João Maia [guitarrista] e o João Coelho [baterista]. Pelo seu poderio físico e manifesta falta de apuro para a coisa, o gerente Pedro começou sucessivamente a cometer faltas. Ora uma “gravata” para o Jony, ora uma rasteira para o João Coelho que quase lhe levava um pé. O João foi, portanto, coxo para o concerto. Entretanto, começou a chover. Em vez de nos abrigarmos fomos, imagine-se, apanhar ondas. Previsível que à minha vulnerabilidade biológica estivesse com 39º de febre no dia seguinte e a garganta totalmente inchada. Contudo, o concerto acabou por correr muito bem. Embora não saiba, ainda hoje, bem o que se passou a verdade é que eu estava sem voz 30 minutos antes do concerto começar mas na hora "H" recuperei-a e ninguém do público se apercebeu do problema que me atormentava momentos antes.

Marcos César [vocalista Urban Tales]

Se já foi vítima, cúmplice ou testemunha de um episódio similar, envie-nos os seus relatos para
nuno_soundzone@yahoo.com.br.

Thursday, January 29, 2009

Loud! #96 - Brevemente

Já na gráfica, o número 96 da revista Loud! reserva o seu grande destaque aos veteranos do heavy/speed metal Grave Digger, mercê de uma entrevista de três páginas com Chris Boltendahl. Esta edição conta ainda com entrevistas a Saxon, Napalm Death, Sepultura, 16, Devian, Vreid, Iron Fire, Mind Odissey, Unitopia, Frost, Genesis Rewired, Lunatica, Orplid, Soziedad Alkoholika, Adágio, Architects, The Blackout Argument, Rumpelstiltskin Grinder, Wardruna, Cantata Sangui, Crimfall e HDK. Está também de volta o Loud!mail enquanto o “Portugal de Metal” debruça-se desta vez sobre a cena do Douro Litoral. Como habitualmente, estarão disponíveis as secções de Notícias, Playlists, DVD’s [de Moonspell, U.D.O., Turisas e Firewind], Breves, Eternal Spectator, Nacionais, Demolição [com Assassinner, Equaleft, Sawyer TrYangle], Passatempos, Tesourinho Pertinente [com um olhar sobre “The Hollowing” dos Crisis] e Agenda. Este número de Fevereiro conta ainda com uma reportagem exclusiva [e muito especial] de digressão dos Primordial, escrita pelo próprio vocalista Alam Nemtheanga. Na secção reportagens de concertos, o espaço é reservado aos Monarch! e Sunshine Parker, Danny Cavanagh e ao espectáculo que juntou os Satans Revolver, Hell In Heaven e We Are The Damned. Por fim, sujeitos a análise estão os novos discos de Adagio, Guns’N’Roses, Decayed, Divine Lust, Extreme Noise Terror, Hammerfall, Iron Fire, Kreator, Obscura, Revolting Cocks, Sepultura, Tankard, Vreid, entre muitos outros. Tudo boas razões para que monte guarda à papelaria [ou à caixa de correio, se for assinante] a partir do final da próxima semana.

Wednesday, January 28, 2009

Review

CINEMUERTE
“Aurora Core”

[CD – Raging Planet]

Os Cinemuerte bem se puderam recostar, pelo menos por instantes, com o impacto positivo que teve “Born From Ashes”, o seu álbum de estreia editado em 2006. Estava desbravado, com apenas um registo, o caminho normalmente austero e sinuoso da afirmação de um nome. Mas nestes casos há um natural revés: a responsabilidade de dar seguimento a um arranque auspicioso. Talvez por isso os Cinemuerte devam ter abordado este novo trabalho com uma atenção redobrada… ou talvez não, já que se tratam de músicos muito experientes e que sabem lidar com a pressão.

Especulações à parte, uma das verdades indiscutíveis em relação a este segundo disco é que grandes eram as expectativas em seu torno. Atendendo às capacidades artísticas inatas da dupla Sophia Vieira e João Vaz, a qualidade mantém-se mas desta vez é notório o assédio a vertentes musicais mais “duras” numa presumível tentativa de evitar a estagnação. Com a voz de Sophia sempre encantadora, é mesmo na opção da distorção em vez da electrónica que reside a grande diferença entre “Aurora Core” e o seu antecessor. Vinca-se também um ambiente melancólico e obscuro, por vezes quase gótico [prestem atenção a “The House Of Past”] que, aliás, é também uma das características dos Cinemuerte. Esta aproximação faz todo o sentido já que Sophia mantém uma próxima relação com os Moonspell [participando em “Night Eternal” com as The Crystal Mountain Singers] e temos aqui Fernando Ribeiro a assinar a letra para “The Night Of Every Day” e Ricardo Amorim responsável pela gravação das guitarras, bem como Waldemar Sorychta a misturar e masterizar “Aurora Core”.

Contudo, como falávamos atrás, superar uma estreia como “Born From Ashes” não se antevia tarefa fácil. Embora seja louvável a tentativa da banda em não oferecer mais do mesmo, o que só prova da capacidade de gestão de uma carreira e maturidade dos seus responsáveis, talvez falte aqui só alguma da excentricidade do seu antecessor e claramente um sucessor para o hino que é “Underwater”. De resto, “Aurora Core” está longe de ser um passo atrás na carreira destes lisboetas. Aliás, a roupagem mais roqueira de “Aurora Core” só lhes fica bem. São uns Cinemuerte, contidamente, mais rebeldes. E dúvidas não restam de que é por passos inteligentes e convincentes que se concebem as grandes carreiras. Os Cinemuerte são um claro manifesto de independência e know-how. Mantemos [toda] a confiança neles. [8/10] N.C.

Estilo: Rock Alternativo

Discografia:
- “Born From Ashes” [CD 2006]
- “Aurora Core” [CD 2008]

www.cinemuerte.net
www.myspace.com/cinemuerte

* Escuta "Air" no nosso player

Gory Blister - Anjos da morte

Os Gory Blister lançam o seu terceiro álbum a 6 de Abril pela Mascot Records. A banda italiana assina mais nove temas “que atingem um death metal muito técnico misturado com raiva old school”, segundo a banda. O sucessor de “Skymorphosis”, de 2006, terá como designação “Graveyard Of Angels”.

The Crucified - 25 anos celebrados com edição de coleccionador

A Tooth & Nail Records irá lançar este ano uma edição especial comemorativa dos 25 anos em que os The Crucified se fundaram. Esta peça de coleccionador promete muita música, vídeos e registos históricos da banda. Os The Crucified foram uma banda de thrash metal/crossover da Califórnia formada em 1984. Lançaram dois álbuns e três demos antes de se separarem, por divergências pessoais, em 1993.

Brutal Truth - Lendas de regresso aos discos

Dez anos depois, os lendários Brutal Truth preparam o lançamento de um novo longa-duração. “Evolution Through Revolution” é o título do quinto álbum destes nova-iorquinos, gravado nos Watchman Studios em Lockport, Nova Iorque, com Doug White [Psyopus]. Nas palavras de Danny Lilker [baixista] a banda “trabalhou imenso para compor e fazer os arranjos para algum do grindcore mais doentio e inumano alguma vez criado.” Na óptica de Richard Hoak [baterista] este “é o melhor disco dos Brutal Truth até à data.” O disco chega às lojas no dia 30 de Abril pela Relapse Records.

Tuesday, January 27, 2009

Review

ASSASSINNER
“Other Theories Of Crime”

[Demo CD – Edição de autor]

O passado musical destes três músicos apresenta-nos pontos dignos de realce, quer com os Crackdown com quem gravaram algumas maquetas, uma delas considerada a melhor do ano em 1997 num evento onde constaram como júris membros do Blitz, Antena 3, Promúsica, entre outros, isto para além de uma marcante presença no festival Paredes de Coura, quer com os Str@ain com quem lançaram o álbum “Purge”. Contudo, o destino ditou a sua separação e ficou para trás um projecto que, na opinião de muitos, tinha capacidade para voos mais altos. À semelhança de muitos outros casos, a química parece não se ter extinguido e em 2007 Alexandre Santos [voz, baixo], Ary Elias da Costa [guitarras, voz] e Raul Cruz [bateria] reuniram-se novamente numa sala de ensaios para uma jam que rapidamente resultou nos Assassinner.

“Other Theories Of Crime” é mais tradicional e objectivo que o caminho que perfilhavam com os Crackdown [uma mistura de thrash metal com rock alternativo, música electrónica, hip-hop, etc]. Mantiveram-se fiéis ao thrash [mais compassado] e adicionaram-lhe uma costela hardcore na veia “clássica” nova-iorquina. Uma escolha legítima mas sujeita a algumas contemplações pela forma como é aqui confeccionada. Se é verdade que a arte não se faz de uma disputa de protagonismo nem de faculdades técnicas, mesmo assim, pela exigência dos padrões actuais, é difícil colocar-se ao alto composições que estão num ranking algo débil de riqueza musical. Indiscutivelmente injusto avaliar-se o potencial de uma banda por três temas apenas, é de se tolerar também que estes são os nossos únicos pontos de análise e no nosso papel não há como não confessarmos a nossa sensação de fugacidade e minimalismo em relação às composições e riffs deste trabalho. Há muito pouco que nos fique na memória escutado “Other Theories Of Crime”, para além da notável visceralidade das vozes e de solos bem executados, mas não há nada aqui acima da média.

Pouco mais de um ano de existência pode servir para desculpar alguma falta de operacionalidade, mesmo que os seus elementos já se conheçam bem. Mas fica o alerta de que mesmo num estilo rígido em alguns princípios e por mais retro que alguns o queiram conservar, consegue oferecer bastante mais. [5/10] N.C.

Estilo: Crossover

Discografia:
- “Other Theories Of Crime” [2008]

www.myspace.com/assassinner

Monday, January 26, 2009

Entrevista The Firstborn

O NOBRE EQUILÍBRIO

Aos 13 anos de carreira a procura de uma identidade singular culmina em um disco pleno de virtudes e simbolismo e que faz dos The Firstborn, indiscutivelmente, um dos projectos mais entusiasmantes do panorama nacional. “The Noble Search” vinca o cruzamento entre música extrema e étnica que a banda lisboeta começou a dissecar com “The Unclenching Of Fists”, adoptando desta vez o Budismo como ponto filosófico de análise. Isto tudo só podia resultar num disco diferente e a mestria técnica e de composição do colectivo faz o resto. Bruno Fernandes [vocalista] indica-nos o caminho para o equilíbrio sensorial e espiritual.

Entre a gravação de “The Noble Search” e o seu lançamento vai quase um ano. Foi, única e exclusivamente, a procura de uma editora que motivou este atraso?
Não foi, de facto, a única razão que conduziu ao atraso... uma sucessão de pequenos infortúnios que quase nos levavam ao desespero limitou-nos bastante, e quando finalmente tivemos o trabalho finalizado e a edição negociada, eis que nos surgem mais alguns entraves. Com perseverança tudo foi ultrapassado, mas cheguei a temer não ver o disco editado antes de 2009 – e pouco faltou, diga-se.

Tirando isso, ainda contamos cerca de dois anos e meio entre a edição de “The Unclenching Of Fists” e a gravação do vosso novo trabalho. Este foi um tempo normal de gestação devido à preparação meticulosa de novo material?
Cheguei a pensar que teríamos o disco pronto em tempo recorde – pelos nossos padrões – mas acabou por ser um período normal de composição e pré-produção. Não esqueçamos que estivemos ainda bastante tempo a promover o “The Unclenching of Fists” em palco, o que não nos permitiu concentração total na escrita de novos temas, mas quando realmente esta se iniciou acabou por ser um processo relativamente célere.

Nos The Firstborn quer a música, quer as letras parecem ter enorme peso na criação do seu universo. Podemos falar em uma atenção acrescida para configurar qualquer um destes aspectos? Há, por ventura, um lado mais trabalhoso que outro?
Não consigo conceber uma parte isolada do seu todo, já que ambas interagem de forma íntima e acabam por completar-se. Se no registo anterior a temática lírica surgiu após os primeiros temas, no “The Noble Search” deu-se o oposto; comecei por escrever as letras na íntegra para apenas depois me debruçar na componente musical. Digamos que descrevo nas letras a paisagem sónica que depois procuramos atingir ao criar o tema.

Faz parte do seu perfil interessar-se por questões étnicas, religiosas e culturais de outros países ou isso acontece mais afincadamente quando tem que conceber um conceito para as letras dos The Firstborn?
O interesse começou apenas pela exploração de um novo universo que moldasse a nossa música, mas depressa evoluiu para uma constante na minha percepção da realidade. Ao escutar o que as outras culturas têm para nos transmitir, depressa nos apercebemos que as diferenças que nos separam são consideravelmente menores que os traços que nos unem, de um ponto de vista não somente étnico ou cultural, mas também interpessoal. Creio que ao percebermos quão facilmente o nosso universo musical encaixou em algo à partida tão distante como todo o folclore oriental, compreendemos também que a música, expressão base e ferramenta de comunicação por excelência desde tempos imemoriais, serve também um propósito didáctico e estimulante. Sei de muita gente que partiu do nosso disco anterior para a descoberta do throat-singing de Tuva ou a Sitar indiana, e isso é muito gratificante.

O País de Gales como pano de fundo para a gravação de “The Noble Search” foi um suporte importante para o seu resultado final, para além do potencial dos Foel Studios?
Sem dúvida, já que sem termos noção disso antes de partirmos, acabámos por ficar um mês em relativa reclusão, isolados do mundo até através da tecnologia que por ali teimava em falhar. Isso foi perfeito – embora por vezes enervante – para o trabalho que ali fomos desenvolver, permitindo-nos uma concentração total na criação do “The Noble Search”. Toda a atmosfera e paisagem em nosso redor era extremamente plácida e relaxante, o que terá sido importante para suportarmos todo aquele tempo ali encerrados, num vale de Gales.

Tiveram tempo de conhecer algumas bandas, a cultura local ou até mesmo estabelecer alguns contactos que vos permitam actuar lá mais tarde?
Nem por isso, estávamos a trabalhar quase 24 horas por dia no disco, já que quando o engenheiro de som residente, Chris Fielding, era finalmente vencido pelo cansaço ao fim de 14 ou 16 horas seguidas de trabalho, o nosso guitarrista Paulo Vieira pegava no “leme” e aproveitava para adiantar algum trabalho, de forma a melhor rentabilizar a nossa estadia. Nas poucas vezes que saímos, fomos apenas a um pub na aldeia mais próxima, a 15 quilómetros do estúdio, e pouco mais. Dito assim soa até um pouco deprimente, mas pese embora houvesse sempre quem quisesse sair, o trabalho acabava normalmente por falar mais alto... e tendo em conta o meio rural em que estávamos inseridos, pouco mais haveria para fazer.

Sem querer apelar a um discurso presunçoso, mas como descreveria os The Firstborn num contexto nacional? Serão, por ventura, das bandas mais originais? Preocupam-se com isso?
É algo que me deixou de preocupar há bastante tempo, já que a nossa realidade é tão diminuta que esses rótulos – já ocos por natureza – carecem ainda mais de sentido... poucos são os músicos que se mantiveram neste género todo este tempo, logo é difícil os projectos terem a longevidade necessária para amadurecer e encontrarem o seu caminho. Como tal, há capacidade – como nunca antes, creio – mas não há ainda muita identidade, salvas as devidas excepções.

O cerne lírico de “The Noble Search” é o Budismo. Teve apenas que ler sobre essa temática para ter bases para a concepção de “The Noble Search” ou foi mais além e participou, por exemplo, em cerimónias budistas, contactou a União Budista Portuguesa, etc?
A nossa postura relativamente ao Budismo é bastante simples, já que retiramos da sua filosofia e não da componente litúrgica a inspiração que nos move... se de uma perspectiva religiosa o Budismo é riquíssimo, acaba também por alienar um pouco os leigos por algumas premissas que dificilmente se enquadram no axioma judaico-cristão em que a maioria de nós cresceu. Já a sua perspectiva filosófica é mais acessível, encontramos nela várias correlações com alguma filosofia ocidental e é, como tal, de mais simples assimilação.

Tornou-se muito mais interessado nesta filosofia de vida enquanto trabalhava em “The Noble Search” ou, pelo contrário, a abordagem a esta temática surge, precisamente, porque já vivia desperto para estas crenças?
Como já admiti no passado, o interesse pelo Budismo partiu de um propósito meramente “estético”, já que procurava algo que encaixasse nas ideias que começavam a ganhar forma e que se tornariam no “The Unclenching of Fists”. Daí surgiu um encanto que foi crescendo com o estudo e com a leitura, sendo que encontrei aqui muitas respostas e também novas questões a colocar.

Aconselharia os seus princípios à “tensa” realidade ocidental?
Sem dúvida, creio que hoje – mais que nunca – os princípios do Budismo nas suas mais variadas vertentes contrastam de forma muito positiva com a nossa ocidentalidade. A isso não será alheio o crescente interesse por parte de muitos ocidentais nos seus ensinamentos que aqui procuram o escape ideal para uma vida cada vez mais virada para o imediato e para o materialismo.

Já agora, em jeito informativo ou até “propagandista”, importa-se de esmiuçar mais um pouco sobre o que são as “Quatro Nobres Verdades” e o “Nobre Caminho Óctuplo” do Budismo para os que possam vir a interessar-se pelo tema?
As “Quatro Nobres Verdades” lidam com o sofrimento e como nos apegamos cegamente às próprias raízes desse sofrimento. O nosso apego ao que está em constante mutação resulta invariavelmente num sentimento de perda que nos distrai do que realmente deveria importar-nos, o desfrutar da própria existência. Para aí chegarmos, os cânones budistas sugerem o “Caminho Óctuplo”, um compêndio de oito pequenas normas de percepção e de convivência que conduzirá ao que é definido como o “Caminho do Meio”, entre a sabedoria e a compaixão, entre o hedonismo e o ascetismo, entre a ilusão e o desapego total. Já o nosso velho adágio refere que “no meio está a virtude”, certo?

Pratica algum dos seus ensinamentos? Recorre, por exemplo, ao ioga ou à meditação para encontrar a serenidade necessária para resolver alguns dos seus problemas?
Medito quando sinto predisposição para tal, mas nunca impus a mim mesmo uma revisão total do meu quotidiano, nem creio que fosse esse o meu caminho. O fascinante de tudo isto é que após alguma leitura, rapidamente se percebe que não há uma resposta nem um caminho a seguir. Tal como cada um de nós percebe a realidade de forma distinta, cabe também ao indivíduo encontrar o seu próprio rumo.

As vendas de “The Noble Search” estão a contribuir para o que creio ser a Associação Portuguesa para a Libertação do Tibete. Como surge essa ideia e como está a funcionar mais concretamente esta campanha?
A iniciativa partiu da nossa editora, Major Label Industries, e foi imediatamente aceite por nós, visto tratar-se de algo que já pensáramos pôr em prática com o disco anterior mas que por motivos vários não veio a concretizar-se. É um apoio simbólico em que 50 cêntimos de cada cópia vendida reverterão para a associação Free Tibet. Não é uma afirmação política, já que nunca fomos nem jamais seremos uma banda activista, mas uma chamada de atenção para a situação vigente que escapa a muitos de nós, no conforto dos nossos lares enquanto vemos o mundo através do ecrã.

Deve ser um atento seguidor da situação social e política no Tibete. Como vê o futuro da região em termos de autonomia?
O Tibete é apenas uma das muitas regiões que viram a sua maneira de ser quase “apagada” pela Revolução Cultural... a China perdeu em alguns anos milénios de cultura, muita da qual de forma irremediável, e quase todas as minorias viram-se despojadas da sua língua e folclore e, no fundo, da sua identidade. Presumo que apenas assim um “gigante” como a China evite desagregar-se, pelo que será muito difícil – por muita pressão que se exerça – que abdiquem da sua posição de força.

De volta à música; continua envolvido com outros projectos musicais?
Infelizmente, o tempo escasseia cada vez mais e o pouco que me resta prefiro dedicar aos The Firstborn do que dispersar-me em outras bandas... não obstante, é muito gratificante trabalhar com outros músicos, dentro dos moldes de um estilo dentro do qual não estamos habituados a trabalhar, e aprendi imenso quando o fiz com, por exemplo, os We Were Wolves.

Como serão os próximos meses dos The Firstborn?
Espero que muito atarefados, com a promoção a “The Noble Search” e os concertos que optarmos por fazer. Ainda é muito cedo para pensar muito além disso, pelo que, por ora, a prioridade será dar a conhecer o novo álbum.

Nuno Costa


* Escute "Flesh To The Crows" no nosso player

Friday, January 23, 2009

Infâmias & Truanias

Banda: Sedative
Local: Livramento, S. Miguel, Açores
Data: 2002
Evento: Festa de Império

Fomos parar a uma Festa de Império para tocar com uma banda… de rock/grunge, o que já por si não é uma situação muito normal. Quanto muito o corte das carnes do gado, feito à vista desarmada, podia ter algo a ver com a violência que ali depois se presenciara. Com idades muito tenras, os Sedative davam o seu último concerto com David Melo na bateria e Paulo Santos numa das guitarras. Este último comunicou a sua decisão, inesperadamente, no final do concerto, o que me deixou realmente muito revoltado. Contudo, três dias depois já tinha novo baterista e guitarrista e decidido deixar de tocar grunge para começar a, pelo menos tentar, tocar música mais pesada como que a desafiar o David e o Paulo que nos haviam deixado para formar os Torment e seguir outra orientação musical. Contudo, recuando ao concerto no Império, pelos motivos já mencionados fizemos uma “proposta” a David: “Podemos partir-te a bateria?”. Ele não nos contradisse e, portanto, partimos para a “violência”. Eram sticks a perfurar peles e investidas que embora não deixassem o instrumento inutilizável [esta bateria chegou até Neurolag, minha actual banda] deixou-o em mau estado - os tímbalos que já não se suportavam, etc. E o mais interessante é que isso tudo aconteceu enquanto o público nos via. Claro que este não tardou a chamar-nos “drogados”!

Aliás, os Sedative eram dados a momentos “adornados” com violência. Numa outra ocasião, num concerto ao vivo nos Arrifes, em Ponta Delgada, fomos surpreendidos com um grupo de desordeiros munidos de catanas que chegaram à zona e perguntaram: “Quem foi?”. Apontaram ao técnico de som e logo se puseram a correr atrás dele. Antes disso, ainda um deles bateu, ameaçadoramente, com o objecto cortante no chão sacando algumas faíscas. Perante isso, não havia muito mais que devêssemos fazer: acabámos um tema e em cinco minutos guardámos o material e demos o fora assustados.

José Oliveira [guitarrista Neurolag]

Se já foi vítima, cúmplice ou testemunha de um episódio similar, envie-nos os seus relatos para
nuno_soundzone@yahoo.com.br.

Spank Lord - Álbum de estreia na forja

26 de Janeiro marca a entrada dos Spank Lord em estúdio para a gravação do seu álbum de estreia. Bruno Santos é o produtor escolhido para conceber este registo nos seus SPS Studios, em Ponta Delgada. A banda de hard/stoner rock açoriana prevê a captação de 10 a 13 temas num trabalho ainda com título e data de lançamento por definir. Bem ao jeito descontraído da banda, Cristóvão Ferreira [vocalista] garante que esta “já conhece bem o que vai encontrar pela frente [em estúdio] e daí que entra nesse capítulo como sempre tem feito: “pelo ar”." Acrescenta ainda que esta entrada prematura em estúdio é o resultado directo de um fértil momento criativo: “Fabricámos produto em demasia nestes poucos meses de existência e chegámos à conclusão que os temas já compostos apresentam qualidade e "fermentação" suficientes para serem registados.” O colectivo micaelense promete “uma track-list com faixas heavy, stoner rock e alguns temas mais calmos, mantendo praticamente todo o repertório habitualmente tocado ao vivo com destaque para “Rollercoaster” e “Spank Lord”” que, segundo o seu frontman, “irá apresentar a qualidade merecida e não parte do tema gravado no WC como da última vez… e claro alguns “sexy-edits”.”

Thursday, January 22, 2009

The Datsuns - Regressam a Portugal

A Prime Artists promove a actuação dos The Datsuns em Portugal a 28 de Fevereiro no Santiago Alquimista, em Lisboa. A banda neo-zelandesa regressa assim a solo nacional depois da sua estreia em 2003 em Paredes de Coura. Desta vez trazem na bagagem “Head Stunts”, o seu mais recente trabalho, lançado em 2008. Os bilhetes custam 18€ e podem já ser reservados em www.ticketline.pt ou adquiridos nas FNACs e no local do espectáculo.

Review

BLOOD CEREMONY
“Blood Ceremony”

[CD – Rise Above Records/Recital]

Chega a ser arrepiante a forma como, com o século XXI a avançar, ainda continuamos a poder ouvir discos como este que salta directamente do ouvido para o espírito ao primeiro riff. Para além disso, sentimo-nos a perder a completa noção de espaço e tempo e embarcamos num transe de memórias que nos leva aos anos 60 e 70, épocas douradas para o firmamento daquilo que temos hoje como Rock e Heavy Metal.

A culpa é, certo, destes canadianos, mas também de Lee Dorian [Cathedral, ex-Napalm Death] que continua a apostar no material menos ortodoxo imaginável num panorama mercantil actual com a sua Rise Above Records. Há aqui uma herança seminal e tão nobre quanto possam imaginar e este quarteto presta-lhe vassalagem com uma devoção religiosa. Enfeitiçados pela mística ríffica de Tony Iommi e pelo encantamento da flauta de Ian Andersson [Jethro Tull], em profana aliança com o ritualismo oculto dos Witchcraft e Pentagram, juntando ainda a isso uma obsessiva devoção por filmes “série Z” de magia negra e horror, temos aqui um quadro que pode estar claramente deslocado no tempo, mas que ficará, certamente, para marcar o presente e recordar no futuro. Pelo seu espírito tradicional, este é um disco com um poder altamente hipnótico. Até mesmo a produção está em perfeita sintonia com a sua música. Sendo uma autêntica raridade nos dias que correm, não admira que “Blood Ceremony” seja, unanimemente, considerado uma enorme surpresa e um trabalho de extensiva aura.

Ficamos, ao certo, sem saber se estes naturais de Ontário venderem a sua alma ao diabo, mas a verdade é que a tocar assim, nenhum dos precursores do género se podem envergonhar, mesmo aqueles que já não estão entre nós, estando, aliás, certamente orgulhosos pelo efeito que o seu legado teve em seus discípulos. Podiam ter nascido noutra época, mas é plenamente reconfortante tê-los no novo século a transportar o “Santo Graal” do Rock/Metal. [8/10] N.C.

Estilo: Rock/Heavy Metal

Discografia:
- “Blood Ceremony” [CD 2008]

www.myspace.com/bloodceremony

Brutal Ballet - Heavy Metal com Ballet vindo da Austrália

No próximo fim-de-semana a companhia de ballet, Brutal Ballet, realiza o espectáculo Dethballet no Twelfth Night Theatre, em Brisbane [Austrália]. O seu conceito passa por misturar ballet clássico com Heavy Metal o que, para a sua coreógrafa, é o par perfeito. “Sou fã de Heavy Metal há muito tempo. Sempre dancei ao som do Metal”, confessa Bridie Mayfield ao site News.com.au. “Quando pergunto às pessoas que gostam de ballet o que acharam do trabalho, elas olham para mim com um ar de riso, mas os fãs de Metal parecem adora-lo. Penso que percebem a relação com a música clássica”, comenta Bridie. Conheça melhor o projecto aqui.

Dr. Zilch - De regresso aos palcos

Os Dr. Zilch actuam no dia 31 de Janeiro no Side B, em Benavente, pelas 22h00. Após dois anos de ausência, o grupo de Metal Industrial da Amadora regressa aos palcos onde promete apresentar o baterista Sérgio Pereira, bem como um set renovado de temas de “Artcore XXI” e “A Little Taste Of Hell Vol. 1”. A primeira parte do espectáculo estará a cargo dos Cryptor Morbious Familly.

Tuesday, January 20, 2009

Review

BATTLELORE
“The Last Alliance”
[CD – Napalm Records/Recital]

Não obstante o cenário competitivo e expansível da música “fantasista”, os finlandeses Battlelore têm já um lugar cativo junto dos adeptos do género, embora se comparados com outros nomes possam parecer, de um modo estranho, algo desconhecidos. A banda já milita nestas andanças desde 1999 e este é o seu quinto longa-duração numa carreira pautada por um sucesso interessante.

Este regresso acaba por, no entanto, não oferecer grande novidade ao prospecto curricular da banda. O que parece fazer apenas é pegar numa das suas faces características – a mais sinfónica e melódica – e dar-lhe uma dimensão nunca antes assumida. Talvez por aí este disco soe facilmente como o mais acessível de sempre na sua carreira, sem nunca renegar a sua personalidade, já de si bem vincada. Com este disco fica para plano de fundo o peso e a costela mais folclórica de “The Third Age Of The Sun”, por ventura o seu disco mais rico e versátil, e passa perto de uma monotonia que não se sentia em anteriores trabalhos. Ao mesmo tempo, é inegável que estes finlandeses estão num ponto alto de maturação no que diz respeito a composição, mas perde-se neste “The Last Alliance” a versatilidade e a espontaneidade de outros tempos. Talvez a banda se tenha tornado demasiado cerebral para seu bem e a magia perdeu-se significativamente.

Sendo um disco mais rectilíneo e inclinado para andamentos mais a meio-tempo não sabemos se o objectivo da banda desta vez era atingir um maior número de ouvintes ou até mesmo de outra natureza. A verdade é que não sendo um disco desastroso, “The Last Alliance” encontra-se uns bons furos abaixo dos seus antecessores, demasiado sereno e, principalmente, sem fulgor que o torne de alguma maneira memorável. Ficamos a especular se este poderá ser também o reflexo de que a banda atingiu a sua autonomia e pretende, sobretudo, não estagnar e ir mudando minimamente de cara à medida que o tempo avança, sem nunca ser muito radical neste exercício, de forma a abrir novos horizontes e ir satisfazendo os ímpetos dos seus músicos.

Será, eventualmente, um aglomerar de situações que fazem deste um disco… essencialmente, diferente no universo Battlelore. Porém, esta diferença deixa em aberto muitas interpretações, algumas [talvez muitas] num sentido negativo. Ficamos, sem dúvida, com um ligeiro sabor a desilusão… [5/10] N.C.

Estilo: Metal Épico/Sinfónico

Discografia:
- “…Where Shadows Lies” [2002]
- “Sword’s Song” [2003]
- “Third Age Of The Sun” [2005]
- “Evernight” [2007]
- “The Last Alliance” [2008]

www.battlelore.net
www.myspace.com/battleloremusic

* Escuta "Third Immortal" no nosso player.

Insaniae + Mourning Lenore - Em split-CD

No âmbito das comemorações do terceiro aniversário do blog DaemonivM é lançado o split-CD com os projectos doom nacionais Insaniae e Mourning Lenore. A salientar que os dois temas dos Insaniae presentes neste registo são inéditos e os jovens Mourning Lenore, formados no início de 2008, fazem aqui a sua estreia absoluta. Este trabalho foi gravado, misturado e produzido por Fernando Matias [Moonspell, [F.E.V.E.R.], If Lucy Fell] nos Urban Insect Studios, em Lisboa. Saiba como adquiri este trabalho através dos e-mails demonium.blog@gmail.com,
insaniae@sapo.pt ou mourning.lenore@gmail.com.

Monday, January 19, 2009

SWR Warm Up Sessions - Agenda

As Warm Up Sessions do festival SWR Barroselas Metal Fest XII, que tiveram início no passado dia 14 com a presença dos norte-americanos Magrudergrind e dos nacionais Esclerose no Puzzle Bar, em Braga, prosseguem já nos próximos dias 23 e 24 de Janeiro com os espanhóis Proclamation a serem cabeças-de-cartaz nas duas noites, primeiro no Side B, em Benavente, e depois na Junta de Freguesia de Panoias. Os My Enchantment e Hacksaw farão a abertura na primeira data e os Alcoholocaust, Koltum e Scarificare na segunda. O périplo de peso continuará nos fins-de-semana de 30 e 31 de Janeiro com as actuações dos Equaleft, Decay e Anifernyen no Momentus Bar, em Guimarães, e dos Basiliades e Rotten Animals de Espanha e dos Koltum no Havana 20, em Vigo. A 8 e 11 de Fevereiro será a vez dos Löbo, Los Hermanos Mascarados e Assassiner actuarem no Puzzle Bar e os Yacopsae [Alemanha], Jesus Cröst [Holanda] e ainda uma banda convidada no Metal Point, no Porto. Para já está anunciada mais uma data a 4 de Abril com os A Storm Of Light [E.U.A.] e Catacombe no Passos Manuel, no Porto. Relembramos que a 12º edição do mítico festival português SWR Barroselas Metal Fest terá lugar entre 30 de Abril e 2 de Maio tendo já como grandes atracções os The Haunted [Suécia], Esoteric [Reino Unido], Dornenreich [Áustria], Unmerciful [E.U.A.], Machetazo [Espanha], entre outras, num total de mais de 40 bandas. Mais informações em www.swr-fest.com.

Entrevista Order Of Ennead

A ORDEM DOS SÁBIOS

Parar, reformular, avançar, podem ser as três palavras mais correctas para descrever o processo que levou à criação dos Order Of Ennead. Como que uma segunda vida dos Council Of The Fallen, o líder Kevin Quirion decidiu encerrar o capítulo com o seu antigo projecto uma vez já não encontrar sentido para continuar com um projecto que tinha entrado em mutação estética e já não guardava na sua formação mais nenhum elemento original. E é neste espectro que surge o primeiro disco dos Order Of Ennead. Uma descarga poderosa de death/black metal salpicado de alguma melodia de que são exemplo os ocasionais e impressionantes devaneios de Steve Asheim [Deicide] ao piano. Foi precisamente com este veterano baterista que fomos descobrir esta nova ordem.

Acredito que ande a ser bombardeado por esta pergunta ultimamente, mas a ocasião assim o exige. Porque sentiram a necessidade de mudar o nome de Council Of The Fallen para Order Of Ennead?
Existem algumas razões. Uma tem a ver com querermos distanciar-nos do antigo nome para nos estabelecermos como um acto à parte e porque, simultaneamente, começaram a vincar-se diferenças musicais. Portanto, foi por múltiplas razões.

É da opinião de que qualquer banda devia extinguir-se após perder os seus membros basilares?
Não sei bem, mas acho que as pessoas têm que trabalhar quando investem muito tempo numa banda. Elas ganharam o direito de fazer a vida com isso. Quanto ao público, sempre pode escolher comprar bilhetes ou não para os seus espectáculos. Ao menos têm essa opção.

O teor lírico dos Order Of Ennead é substancialmente diferente daquilo que é o padrão neste tipo de banda. Não se sente minimamente inspirado em escrever sobre sangue ou sobre a situação política e social dos Estados Unidos, portanto…
Não, não sinto atracção por esse tipo de coisa nem nunca me inspirou musicalmente. Sou guiado apenas pela música e pelo poder da sua criação.

Os Order Of Ennead transportam uma carga positiva pelas suas letras e até pelas suas passagens de piano. Isto explica-se pelo facto de quererem construir algo menos óbvio e ao mesmo tempo descansar de alguma brutalidade?
Não, as coisas tomaram estes contornos porque foi assim que sentimos que as coisas deviam ser feitas. Queríamos dar uma hipótese a este material e ver o que as pessoas achavam.

Como tem sido conciliar a actividade intensa de uma banda como os Deicide com os Order Of Ennead?
Na realidade, a actividade dos Deicide não é assim tão intensa. Até me deixam muito espaço para os Order Of Ennead e mais algum projecto que queira ter.

Tem ideia se o Quirion guarda algum desgosto por ter que acabar a sua anterior banda por uma presumível falta de partilha de convicções entre os seus colegas? Talvez funcionasse tudo como um hobby para os restantes membros…
Não, penso que ele apenas não sentiu o “click” com os restantes membros. O Kevin pode sentir-se mal por ter que deitar abaixo o velho nome do projecto, mas penso que andar em digressão e lançar álbuns sob o nome Order Of Ennead vai fazê-lo sentir-se muito bem.

Li-o comentar que não haveria qualquer problema em relação a tocar duas vezes numa noite [algo que aconteceu recentemente]. Portanto, confirma que foi uma tarefa muito fácil?
Sim, foi fácil. O alinhamento dos Order Of Ennead é mais como que um aquecimento, é apenas cerca de meia-hora. Portanto, toco-o, faço um intervalo de meia-hora e depois toco o alinhamento dos Deicide. Qual é o problema? [risos]

Deduzo então que pelo avançar da sua idade não sinta fadiga acrescida por ter que tocar rápido?
Posso dizer-te que sinto-me sortudo até agora. Ouve-se falar sobre o “Sindroma do Túnel Carpal” [compressão do nervo mediano no punho que leva a dormência, “formigueiro” e falta de força na mão] mas mantenho-me ainda isento destes problemas. De vez em quando sinto algumas dores na mão, mas a erva ajuda-me a suportá-las! [risos]

Será que os Deicide vão tirar uns dias de folga antes de compor um novo álbum ou será tudo feito enquanto estão em digressão quer com os Deicide, quer com os Order Of Ennead?
Nós temos a pré-produção do novo álbum dos Deicide pronta e, como já tinha dito, arranjo sempre tempo para tudo. Tenho apenas que manter tudo devidamente agendado. Já nasci “preparado”, um homem de barba rija! Estou no gozo… [risos]

Não sabia que tocava piano tão bem!
Obrigado. Toco piano desde 1997, sensivelmente. O que me despertou para este instrumento foi a vontade de adquirir maior conhecimento musical e de me tornar um melhor compositor. Eventualmente, comecei a apreciá-lo pelo que verdadeiramente é – o melhor instrumento para composição, aprendizagem e solos.

Quem assina as letras dos Order Of Ennead?
O Kevin assina as letras e penso que ele apenas quer expressar a sua busca interna e externa pela sabedoria.

“Ennead” refere-se à mitologia egípcia. Quem é o afeiçoado pela matéria na banda?
Todos sentimos algum interesse pelo esotérico. “Ennead” pertencia a um mito egípcio, mas o conceito da banda não tem a ver com o Egipto. Dizia-se que “Ennead” tinha morrido para controlar o universo dando ao Homem a sabedoria para ter uma vida próspera. Portanto, o título da banda refere-se mais a esta infinita sabedoria e a busca dela, bem como a sua adaptação para as vidas e trabalhos do Homem.

Que outros interesses tem para além da música… e das armas?
Trabalhar, fazer algum exercício físico, gozar os pequenos prazeres da vida… Enfim, nada de muito maluco. Nada de pára-quedismos e coisas parecidas! [risos]

26 anos dedicados à bateria e mais uns tantos dedicados à carreira de uma banda. Qual a principal coisa que guarda depois desses anos todos?
Olhando para trás e fazendo um grande “quadro”, não tenho a registar grandes queixas. Considerando todas as circunstâncias que enfrentei, penso que dei o meu máximo com aquilo que estava a lidar. Sinto-me muito bem em relação a tudo!

Nuno Costa

Crossfaith - Lançam "Mixed Emotional" este mês

No dia 31 de Janeiro é lançado “Mixed Emotional”, o EP de estreia dos açorianos Crossfaith. O lançamento é efectuado no bar H2O, em Ponta Delgada, pelas 22h00 [com entrada livre], acompanhado da actuação da banda e será também transmitido em directo pela Rádio Atlântida [com emissão online]. O grupo de Hard Rock Melódico de S. Miguel formou-se em 2004 e após alguma reestruturação ao nível do line-up e da sonoridade brinda-nos com cinco temas originais gravados, produzidos e misturados por Paulo Melo nos estúdios PFL. O trabalho conta ainda com as participações especiais do baterista Marco Camilo [Carnification, ex-Spitshine] e do guitarrista Paulo Bettencourt [Morbid Death, One Second]. Para além desta data, a banda tem já agendadas actuações a 17 de Março no Teatro Ribeiragrandense e a 14 de Março em local ainda a confirmar.

Headstone + Godog - Na Fábrica de Som

Os Headstone e Godog actuam no dia 31 de Janeiro na Fábrica de Som, no Porto. O espectáculo tem início às 22h30 e as entradas custam 4€. O evento conta ainda com a participação do DJ DY:OX:YD da Bizarre Corp..

Saturday, January 17, 2009

Band Aid - M9Events promove evento de apoio às bandas açorianas

A M9Events é uma nova entidade açoriana na área da organização de espectáculos. Como primeiro compromisso na sua agenda, a produtora, dos mesmos responsáveis pelo festival October Loud, leva a cabo o projecto “Band Aid” que tem como principal objectivo ajudar financeiramente as bandas de Metal açorianas. O formato consiste em cinco espectáculos, no primeiro sábado de cada mês, em que actuará um cabeça-de-cartaz, escolhido por votação do público, e duas bandas suporte, escolhidas pela banda mais votada pelo público. A banda cabeça-de-cartaz será lograda com as receitas de bilheteira. Os bilhetes estarão disponíveis a 10€ no local com direito a finos durante toda a noite. A noite será ainda preenchida com a presença de Metal DJ’s. Qualquer banda açoriana de Metal poderá inscrever-se neste evento até 25 de Janeiro pelo e-mail m9events@gmail.com indicando nome, estilo, line-up, tempo máximo de concerto e uma frase criativa em que demonstrem porque devem ser uma das bandas escolhidas. Depois deste processo será disponibilizado em www.myspace.com/m9events a lista de bandas em que o público poderá votar. Para o primeiro acto, a 7 de Fevereiro, estão já seleccionados os Spank Lord como cabeças-de-cartaz, ficando ainda por anunciar as duas bandas suporte. Os restantes actos decorrerão a 7 de Março, 4 de Abril, 2 de Maio e 6 de Junho. O local de “culto” será o Bar Académico, em Ponta Delgada. Consulte o regulamento na íntegra aqui.

Friday, January 16, 2009

Infâmias & Truanias

Banda: Spank Lord
Local: Teatro Ribeiragrandense, S.Miguel, Açores
Data: 20 de Junho de 2008
Evento: III Concurso de Música Moderna da Ribeira Grande

Concorríamos ao prémio “Heavy Metal” da 3ª edição do Concurso de Música Moderna da Ribeira Grande. Tocavam naquele momento os Karma, última banda a mostrar os seus préstimos na outra categoria a concurso – a “Pop/Rock”. Enquanto isso, vivia-se a habitual azáfama e o “nervoso miudinho” no backstage. Porém, não entrámos em palco sem antes, inadvertidamente, Félix Medeiros, guitarrista da banda Anjos Negros que havia também participado, entrar às corridas nos camarins e exclamar: “A guitarra dos Karma “explodiu”, literalmente! Saltaram pickups e botões de volume! Vou emprestar-lhes a minha”.

A surpresa foi grande e ficámos durante uns instantes a olhar uns para os outros incrédulos com o que se passava. O mais estranho nessa história é que nunca chegámos a saber, realmente, o que se passou. A verdade é que, naquele momento de efectiva tensão, houve alguém mais descontraído que lançou um sarcástico: “Quem teve a ideia de colocar bombinhas de Carnaval nas guitarras dos participantes?” Foi a risada total e deu realmente para descomprimir!

Cristóvão Ferreira [vocalista Spank Lord]

Se já foi vítima, cúmplice ou testemunha de um episódio similar, envie-nos os seus relatos para
nuno_soundzone@yahoo.com.br.

Thursday, January 15, 2009

Review

KHOLD
“Hundre År Gammal”

[CD – Tabu Recordings / Recital]

Após o anúncio do congelamento da banda em 2006, justificado pelos planos de Gard e Sarke em reavivar os seus Tulus [banda anterior aos Khold] e de Rinn construir o seu próprio estúdio e continuar com os Sensa Anima, eis que, com alguma surpresa, o infame projecto norueguês, conhecido pela sua incaracterística forma de debitar black metal de forma rudimentar e groovy, “quebra o gelo” para mais um trabalho bem ao seu jeito – único até, diríamos.

É precisamente por esse prisma que podemos destacar imediatamente os Khold como uma identidade autónoma até pela sua atitude anti-progressista. Enquanto que nos dias que correm o black metal assume-se em várias ramificações exaltadas pela técnica, rapidez, experimentalismo e produções cheias, o grupo liderado por Gard continua, obstinadamente, a defender a “bandeira” do minimalismo e do misantropismo que caracterizavam os primórdios do género. No entanto, o seu som não fica arredado a acomodar-se no quadro do século XXI já que, cada vez mais, o destaque faz-se pela diferença e em volta dos Khold acreditamos que haja um “culto” que lhes permitirá ter quem os apoie durante muito tempo. Para além disso, o seu som não é demasiado extremo, apenas em atitude, e embora apelando a uma postura primitiva, a verdade é que nem a gravação dos seus discos apresenta a sujidade daqueles clássicos underground que nos intimidavam [ou causavam alguma dor de ouvido] pelas débeis produções. Sem dúvida que o trunfo dos Khold são os seus riffs básicos e as suas batidas, normalmente, pausadas [raramente aqui se ouve um blast beat], em alguns casos a atingirem uma dinâmica doom.

Num balanço geral, podemos dizer que “Hundre År Gammal” não afasta os Khold um milímetro que seja do caminho que tomaram em 2000, mas verdade seja dita que este novo rebento, tal como o seu antecessor, não conseguiu igualar o potencial de obras como “Masterpiss Of Pain” ou “Phantom”. Avaliando apenas num plano pessoal, naturalmente, susceptível a discussões, o grupo continua mesmo assim a impressionar já que não parece minimamente interessado em olhar para o “lado” quando compõe, resumindo-se o seu prazer ao facto de estar numa sala de ensaio, com os amigos, de preferência num bosque norueguês, como que sorvendo a mística e os genes da essência black metal. Enquanto assim for, será difícil um disco dos Khold desiludir. [7/10] N.C.

Estilo: Black Metal

Discografia:
- “Masterpiss Of Pain” [2001]
- “Phantom” [2002]
- “Mørke Gravers Kammer” [2004]
- “Krek” [2005]
- “Hundre År Gammal” [2008]

www.khold.com
www.myspace.com/kholdblackmetal

Wednesday, January 14, 2009

Studio Update

SUMMONED HELL

O “inferno” permaneceu em “lume brando” mais de um ano enquanto os Summoned Hell tentaram resolver alguns problemas internos que os levaram a operar profundas mexidas na sua formação e sonoridade. Na tentativa de rasgar com o passado e projectar um futuro sem "cicatrizes", o grupo de S. Miguel aposta, neste momento, forte na gravação do seu primeiro registo e até pelo balanço do seu regresso ao vivo, no passado mês de Dezembro, as expectativas subiram consideravelmente. Para trás fica um Heavy Metal moduladamente Black Metal e abre-se agora espaço a um som muito mais vasto de influências e difícil de catalogar. A SounD(/)ZonE foi tentar saber mais alguns pormenores sobre os trabalhos que decorrem nos SPS Studios com Bruno Santos e o lançamento que nos aguarda.

ESTÚDIO
Bruno Santos começa a ser uma das escolhas mais óbvias e fiáveis para as primeiras gravações das bandas underground açorianas que, por razões óbvias, têm demarcadas limitações orçamentais. Os caseiros SPS Studios são, assim, o local escolhido para inflamar de novo o inferno dos Summoned Hell. O grupo dedicou-se aos primeiros passos da gravação no final do ano transacto, estando de momento concluídas as primeiras "faixas-piloto". Ao ritmo de quem é forçado a conciliar a sua vida privada e profissional com a actividade musical, o grupo já confessou que o processo deve desenrolar-se lentamente até ao final. Contudo, garantem que o mais importante é “o grande passo” que foi entrar em estúdio, pois “era um dos grandes objectivos a alcançar". “Passámos por muita coisa até termos conseguido chegar a este ponto devido às constantes trocas de elementos, mas agora temos tudo controlado e estamos esperançados de, finalmente, conseguir progredir e realizar o sonho de lançar um álbum”, explicam.

FORMATO DA EDIÇÃO
O registo de estreia dos Summoned Hell deve assumir o formato de longa-duração. “De momento, temos sete temas concluídos mas queremos chegar aos dez”, afiançam. A banda diz estar a estudar várias ideias para concluir o repertório do seu disco, mas que não avançará enquanto estas não estiverem a soar exactamente como querem. Contudo, este período será altamente oscilatório em termos de duração já que a banda esclarece que “há dias e dias” e que se num não compõe nada, o outro pode ser extremamente produtivo. Por tudo isso e também pela fase de adaptação ao estúdio, a banda mantém como incerto o término da gravação, inicialmente previsto para daqui a quatro meses.

ORIENTAÇÃO MUSICAL
Genericamente, o primeiro registo dos Summoned Hell promete “agressividade, melodia… e algumas paranóias”. É assim que o grupo define, ainda que de que forma muito subjectiva, o teor musical das suas novas composições. Em vez de abrir muito o "jogo", o grupo prefere indicar as influências de cada membro como um valioso contributo para a música dos Summoned Hell que, no entanto, não converge declaradamente para o que seria o fruto natural das suas inspirações. Mesmo assim, fica a nota de algumas das bandas de que os membros dos Summoned Hell são fãs: Children Of Bodom, Amon Amarth, Symphony X, Evergrey e Dark Tranquility.

CONCEITO
“Não seguimos cegamente um conceito”, é a garantia que nos dão os Summoned Hell sobre o teor lírico do seu futuro registo. “Ao invés, falaremos de vários temas independentemente, como corrupção, política, histórias, sentimentos...” Quanto à escolha de um título para o seu disco, à semelhança do que acontece com muitas outras bandas, será deixada para os “retoques” finais. Porém, alguns nomes já foram lançados para o ar como “A Perfect Tragedy”, ou “Drink, Drink, Drink”, mas… apenas em jeito de brincadeira, garantem. “Talvez no fim quando ouvirmos o álbum tenhamos inspiração para lhe atribuir um nome”.

Nuno Costa

www.summonedhell.com.sapo.pt

Monday, January 12, 2009

Entrevista The Haunted

MORAL AMPUTADA

Falar de The Haunted é falar de classe, thrash transposto para o séc. XXI, background brioso – pelo passado de alguns dos seus elementos com os At The Gates – e uma atitude excêntrica e provocadora que não deixa ninguém indiferente. Em constante espírito interventivo, estes suecos regressaram em Setembro do ano passado com o seu sexto álbum de originais. “Versus” é mais um manifesto mordaz ao estado declinatório da moral social tendo como base musical um cruzamento harmonioso entre o sentimento obscuro e experimental do anterior “The Dead Eye” que, aliás, dividiu muitas opiniões, e uma atitude mais directa e crua recuperada, em parte, aos seus primórdios. Mas no meio disso tudo, o mais interessante é termos aqui um grupo de pessoas de discurso destemido que vive sem “capas” e nos garante pensamentos muito lúcidos e também… polémicos! Ou não tivessem nas suas fileiras uma pessoa como Peter Dolving [vocalista].

À primeira vista, “Versus” é um regresso à vossa faceta mais “áspera”. Sentiram-se mais “raivosos” a compor este novo álbum?
Raivosos? Não, possivelmente mais tristes. A raiva apenas atinge certos níveis até ao ponto em que cessa funções como emoção protectora que é. Este é um mundo feio repleto de pessoas bonitas, comandada por indivíduos moralmente corruptos e emocionalmente perturbados que deviam ser detidos e tomados para tratamento. Raivosos? Não.

Um dos aspectos louváveis de “Versus” é a sua produção crua. Contudo, aqui que ninguém nos ouve, é verdade que aboliram completamente qualquer truque de estúdio? Gravaram “ao vivo”, sem cliques, edições, etc?
Tudo o que ouvem no “Versus” foi gravado em estúdio e tocamos tudo o que ouvem. Isto serve de resposta?...

A falta deste tipo de produção “realista” e mais orgânico pode ser a causa da falta de alma da grande quantidade de trabalhos que ouvimos hoje em dia?
Sim, isto e o facto de muita gente pensar que lançando discos vai tornar-se uma estrela de rock e que ser uma estrela dá-lhes poder, dinheiro, reconhecimento e sexo. Não dá! No entanto, ter um pénis grande e gostar dele dá!

Posso estar a desviar-me um pouco o contexto da conversa, mas por acaso gostou do “Chinese Democracy”? Será que todas as complicações que envolveram o seu lançamento fizeram-no perder credibilidade ou este resultado é antes causado pelo facto de a “espinha dorsal” da banda já não lá estar? Será esta mais uma atitude desprovida de carácter já que talvez o mais sensato fosse dar por terminada a banda ao invés de fazer o que, aparentemente, parece ser o aproveitamento do seu peso histórico?
Eu odeio o Axl Rose e tudo o que tenha o seu “vapor” a estrume fétido mortífero. Ele e todos os que andam por aí como peixe-peregrino para um tubarão merecem cancro. Se eu conhecer o Axl Rose algum dia vou violá-lo e espetar-lhe uma bandeira no cu como os astronautas fizeram quando pisaram pela primeira vez a lua. A minha bandeira dirá “caçado”!

O que nomearia como a coisa mais falsa, actualmente, no mundo?
Os Guns’N’Roses e todos aqueles que continuam a acreditar em valores transpostos por figuras como a Britney Spears, os Avenged Sevenfold, etc. Basicamente, tudo o que é propagado pelos media – insinceridade. Não há mistério, no fundo. Estamos sob um mecanismo baseado no capitalismo e este leva à insinceridade. E não, não estou enganado. Estou dolorosamente certo quando se trata destes assuntos e se sentirem que estou errado, obviamente é porque são parte do problema que está a destruir o planeta e a vida como esta poderia ser.

No último ano alguns dos seus colegas devem ter estado extremamente ocupados, nomeadamente com a reunião dos At The Gates e os compromissos com a gravação de “Versus”…
Foi apenas mais um dia “Metal”…

Acumularam os trabalhos da digressão de reunião com a composição do “Versus”?
Não estive, naturalmente, na digressão de despedida dos At The Gates, mas posso dizer que terminámos tudo antes deles partirem em digressão. Romantizar os bons velhos tempos do death metal soa estúpido. Não foi um bom período. Os anos 90 foram uma “seca”.

A digressão dos At The Gates poderá ter-vos revitalizado de modo a ficarem com inspiração extra para trabalhar com os The Haunted?
Sim, sem dúvida. Graças a Deus que temos esta banda e nos temos uns aos outros.

Será que eles têm planos para uma futura digressão dos At The Gates?
Deus, espero que não!

Recentemente, fizeram uma digressão pela Ásia, Austrália e América Latina. Li sobre o quão ficaram surpreendidos pela quantidade de fãs que têm em cada canto do mundo…
Nós temos mais sucesso e mulheres do que a quantidade de paus que pudessem apontar a essas partes do mundo. O backstage dos The Haunted parece-se, literalmente, com uma orgia romana “pansexual” antes, durante e depois dos espectáculos em qualquer parte do mundo por que já tenhamos passado, excepto na Alemanha. Aí nós tentámos falar com um gordo e a sua “cerveja” sobre death metal e ganhámos uma leitura do mesmo idiota gordo sobre o que fazemos errado. Jesus Cristo!

Após tantos anos a terem a vossa arte exposta e a serem reconhecidos globalmente [eu queria evitar a palavra “famosos”, mas acho que é a que vos encaixa melhor], continua a haver alguma coisa com que tenham dificuldade em lidar? Eventualmente, ameaças à vossa privacidade?
Nós temos problemas em fazer os alemães entenderem que não estão no jardim-de-infância quando vão a um espectáculo dos The Haunted. Colónia, Hamburgo e Munique são as excepções até agora. Aí o público vem para se divertir! A questão é: nós não vamos estar a perguntar ou a dizer ao nosso público para ficar maluco, pular, fazer isto ou aquilo. Nós respeitamos a sua inteligência. Contudo, frequentemente na Alemanha parece que o público está “danificado” pelas bandas americanas que parecem pensar que um espectáculo de Metal é uma espécie de pista de dança. Outra coisa: também não tentem aceder ao backstage a não ser que, realmente, pertençam a ele. Se vierem para foder, está tudo bem. Se vierem para trazer drogas e uma grande atitude, está tudo bem. Se são amigos da banda, tudo bem. Se pensarem que algo excitante se está lá a passar e tiverem a ideia maluca de lá irem assistir ao “circo”, simplesmente, desistam. Apenas verdadeiros excêntricos podem lá entrar!

No dia 1 de Maio vão estar em Portugal no SWR – Barroselas Metal Fest. Expectativas?
Já tocámos em Portugal várias vezes e algumas das mulheres e homens mais picantes da Europa aparecem lá. Vai ser de loucos, como sempre. Já sinto saudades só de pensar!

Está relatado que “Versus” vendeu apenas metade do que o seu antecessor na sua primeira semana nas lojas nos Estados Unidos. Interessam-se minimamente por estes factores?
Blah, blah, isto é apenas conversa… Pensam que as primeiras semanas de vendas são representativas de alguma coisa? Nem mesmo as vendas em geral! Em 2009 são as assistências ao vivo que contam. As pessoas “descarregam” música e para nós parece esquisito e, na verdade, é um desrespeito para com a nossa editora, uma vez que temos uma vasta audiência. Contudo, todos eles parecem pensar que compraram o disco e muitos até o têm, pois todos cantam os temas connosco ao vivo.

Apoia os “downloads” ou é dos que pensa que estes estão a “matar” a música e a sua indústria?
Os “downloads” não podem matar a música. Arruínam, sim, a indústria musical. Pessoalmente, sinto que se querem que as editoras pequenas e independentes sobrevivam devem comprar discos. Se não suportam toda a treta que a Sony, por exemplo, lança, então lixem-nos! A questão é: acho que o público, em geral, não pensa muito sobre isso. Muitas pessoas da classe média e classe trabalhadora ouvem lixo, têm o seu cérebro cheio de lixo e as suas vidas são uma merda! Então, passam a porcaria da sua vida a fazerem “downloads” de música porque é a coisa correcta a fazer. Pedes um empréstimo, compras um computador e “descarregas” todo e qualquer disco ou série de TV e enfias em cada buraco da tua vida ainda mais merda! Aquele que consumir mais porcaria, vence! Que se foda o mundo!

Bom, e 2009 está apenas a começar. Desejos para este novo ano?
Espero que mundo arda e que façamos quantidades ridículas e distintas de dinheiro e tenhamos sexo com muitas pessoas bonitas de espírito livre e independente por esse mundo fora. Nós merecemo-lo, porque somos bons!

Nuno Costa

Saturday, January 10, 2009

God's Fall - "Dark Sunrise" disponível na SounD(/)ZonE

A SounD(/)ZonE disponibiliza para escuta no seu player o tema “Dark Sunrise” dos açorianos God’s Fall, produzido durante o mês de Dezembro por Bruno Santos nos SPS Studios, em Ponta Delgada. Este tema faz parte de uma primeira amostra oficial da banda em disco. O trabalho, que ainda inclui o tema “Torture”, tem por título “Warning! Metal Inside” e está disponível para encomenda a 2.50€ [mais portes de envio] pelo e-mail godsfall@hotmail.com.

Friday, January 09, 2009

Anomally - Participam em duas compilações

Os açorianos Anomally, que lançaram o seu primeiro álbum – “Once In Hell…”- a 31 de Outubro, participam nas compilações “30 Bands Unleashed Vol. 1” da webzine e promotora Hell On Fire e “Círculo de Fogo #7 Livre” do ex-programa de rádio Círculo de Fogo, com os temas “Legacy Of Blood” e “Apocalyptic Signs”, respectivamente. A compilação “30 Bands Unleashed Vol. 1” é composta por bandas da Alemanha, Suécia, Israel, Brasil, Rússia, Polónia, Itália, entre outros, em que se destacam bandas como os Agathodaimon da editora Nuclear Blast e os portugueses W.A.K.O. e Process Of Guilt. Esta compilação pode ser adquirida aqui por 10€ [com portes incluídos]. A compilação “Círculo de Fogo #7 Livre” contém bandas como Painstruck, Capitão Fantasma, Vertigo Steps, Waste Disposal Machine e Divine Lust e está disponível para download gratuito aqui.

Thursday, January 08, 2009

Via Latina - Recebe noite de Metal em Janeiro

Os Anonymous Souls, Echoes Of The Fallen Messiah e Strikeback actuam no dia 17 de Janeiro no Via Latina, em Coimbra, a partir das 22h00. As entradas custam 5€.

Switchtense - Teaser de novo álbum online

Enquanto não chega às lojas “Confrontation Of Souls”, o álbum de estreia dos Switchtense, agendado para 2 de Fevereiro pela Rastilho Records, a banda da Moita disponibiliza agora um novo teaser do seu próximo trabalho em vídeo. Pode vê-lo aqui na SounD(/)ZonE ou em www.myspace.com/switchtense.

Headstone - Gravam EP em Fevereiro

Os Headstone entram nos estúdios Soundvision, em Vila do Conde, no dia 7 de Fevereiro para a gravação do seu EP de estreia. Este trabalho da banda portuense promete quatro temas de Thrash Metal old school. Enquanto está por definir a sua data de lançamento e título, será possível ir acompanhando por reportagens fotográficas e de vídeo as sessões de gravação em www.myspace.com/headstonemetal.

Wednesday, January 07, 2009

Infâmias & Truanias

Banda: Requiem Laus
Local: Poço Velho, S. Roque, S.Miguel, Açores
Data: 9 de Maio de 2005
Evento: Roquefest

Era segunda-feira e o tempo apresentava-se chuvoso. Talvez por isso, a afluência de público era pouca e o ambiente pouco acolhedor. Contudo, o convite para participarmos nesse evento lisonjeava-nos e tentámos ser o mais profissionais possível e cumprir com o nosso trabalho, como habitualmente. Se o ambiente não era muito “risonho”, então começou-o a ser quando nos apercebemos de dois travestis atrás dos camarins a gritar por nós! A situação tomou contornos absolutamente hilariantes quando começámos a actuar. As figuras masculinas “trés femme” [com perucas e saias] chegaram-se para a frente do palco e começaram a dançar. Nesta altura, já fazíamos esforços para conter o riso enquanto tocávamos. É que ainda por cima, a dança estava um pouco descontextualizada. Não, não faziam headbanging nem mosh, como seria o mais apropriado atendendo ao Death Metal que debitávamos. Os “passos” de dança eram, sim, próprios de quem estava a curtir um qualquer hit Pop. Para além disso, só pensávamos: “Raios, atraímos gajos?” A verdade é que numa noite fria como aquela, em todos os sentidos, este episódio acabou por garantir-nos alguma boa disposição.

Miguel Freitas
[Requiem Laus]

Se já foi vítima, cúmplice ou testemunha de um episódio similar, envie-nos os seus relatos para nuno_soundzone@yahoo.com.br.

Skewer - Gravam álbum de estreia

Os barreirenses Skewer encontram-se, neste momento, em estúdio a registar o seu primeiro álbum a chamar-se “Time Patience And Hopes”. Composto por dez temas a serem gravados nos Maddog Studios [Filli Nigrantium Infernalium, Eternal Bond] por Paulo Vieira [guitarrista dos The Firstborn], este trabalho da banda grunge nacional ainda tem data de lançamento e editora por definir. Entretanto, pode ir acompanhando os studio reports da gravação de “Time Patience And Hopes” em www.skewer.com.sapo.pt.

Tuesday, January 06, 2009

Review

BREED DESTRUCTION
“It’s Only The Beginning Of…”

[Demo CD – Edição de Autor]

Do underground nacional continuam a sair bandas muito jovens que rapidamente atingem a fasquia da gravação do seu primeiro “cartão de visita” que os permite, ou não, dar as primeiras passadas [importantes] em termos de mediatização. Um sinal claro dos novos tempos em que as demos são gravadas com maior facilidade, em virtude da expansão dos estúdios caseiros, e de uma vontade premente de dar a conhecer a sua arte. Formados em 2007 e subscritores de uma demo de estreia com três temas um ano mais tarde, é caso para dizer que garra não falta aos Breed Destruction até porque os elementos da banda dizem-se cansados de algumas “aventuras” falhadas e devem estar sedentos por dissipar dúvidas sobre o seu valor.

Se é verdade que ninguém pode prever o futuro deste novo capítulo na vida destes quatro músicos, é também inegável que o trabalho que estão agora a desenvolver nos Breed Destruction tem bases sólidas para se aguentarem mais uns tempos, pelo menos dentro de um certo contexto. Um thrash/hardcore sem propagar qualquer ideia nova para o género, contudo raivoso e bem executado o suficiente para nos despertar o interesse, “It’s Only The Beginning Of…” parece revelar-se isso mesmo – um princípio.

Num plano muito concorrido e até algo esgotado de criatividade, este garante, ainda assim, às bandas que por esse desfiladeiro musical decidem passear-se uma mais ou menos assegurada aceitação por via de um género que sempre teve algo de especial ou por questões históricas ou pela natureza insurgente da sua música. Importante é ainda salientar que os Breed Destruction estão muito mais perto de ser uma fusão thrash com sonoridades modernas e/ou suecas [na sua abordagem mais melódica] do que uma banda de thrash clássico. Ainda assim esta simbiose acaba por revelar-se apelativa, nem que seja porque se trata de um preparado de uma banda ainda muito jovem. Talvez tenham mesmo razão – este parece ser apenas o princípio… [6/10] N.C.

Estilo: Thrash/Hardcore

Discografia: “It’s Only The Beginning Of…”

www.myspace.com/breeddestruction

Irmandade Metálica Vol. III - Nova compilação já disponível

Já se encontra disponível para download mais uma compilação da autoria do fórum Irmandade Metálica. Ao todo são 18 temas de bandas nacionais onde se destacam Dinosaur, Phazer, Angriff, Anonymous Souls, Artworx, Endamage, Disassembled, Goldenpyre, Powersource, Vertigo Steps, entre outros. A compilação pode ser “baixada” aqui.

Colhões de Ferro IV - Em Janeiro nas Caldas da Rainha

No dia 24 de Janeiro decorre o festival Colhões de Ferro IV no Centro de Juventude das Caldas da Rainha. Nesta quarta edição actuam os Revage, Pussyvibes, Fungus, Theriomorphic e Vizir. O bilhete custa 4,5€ e as "hostilidades" abrem-se às 22h30. Mais informações em www.colhoesdeferro.pt.vu/.

Infernal Kingdom - Lançam primeiro álbum

Está já disponível pela Herege Warfare Records o primeiro álbum dos black metallers portuenses Infernal Kingdom, “The Black Throne Of Hell”. Este trabalho é composto por 40 minutos de black metal “demoníaco” em formato cassete limitado a 333 cópias numeradas à mão. “The Black Throne Of Hell” pode ser adquirido por 4€ [para Portugal], 4,5€ [para o resto da Europa] ou 5€ [para o resto do mundo], já com portes incluídos, por encomenda através dos e-mail hwprod@gmail.com e heregewarfareprod@gmail.com.

Luctus - O "fim" chega em Fevereiro

O projecto black/thrash metal letão liderado por Kommander L., Luctus, lança “Feeling The End Is Near”, a tradução em inglês para “Jaucient Pabaiga Arti”, a 16 de Fevereiro pela Ledo Takas Records. O segundo longa-duração desta one-man-band foi gravado parcialmente nos Phoenix Studio em Kekava, na Letónia, e nos Quadraro Basement Studios em Roma. Kommander L. é aqui responsável por toda a composição e pela gravação das vozes, guitarras e baixo, ficando a gravação da bateria a cargo de Kingas. No tema final do álbum podemos ainda escutar as colaborações de músicos dos Ivs Primae Noctis e Wertham, projectos conhecidos da cena industrial/noise local. “Feeling The End Is Near” é um disco conceptual que retrata os últimos minutos na Terra antes do seu final e o que e quem sobreviveria a ele.