Monday, May 30, 2005

PITCH BLACK
"Thrash Killing Machine"
[CD - Recital]

“Thrash Killing Machine” é o culminar de um esforço admirável por parte dos Picth Black, um grupo que há muito que pisa os palcos nacionais e que durante este tempo foi lutando contra as adversidades gravando várias maquetas na esperança que alguma editora apostasse neles. Esta hora é chegada, embora a gravação deste material já date de 2002, mas “Thrash Killing Machine” mostra que a nível de força e composição são dos melhores colectivos nacionais do género. Falamos de um thrash metal old school, baseado em guitarras sempre muito enérgicas e solos de apreciável técnica, ritmos de bateria sempre cavalgados, como é típico neste espectro, e uma voz a fazer lembrar ocasionalmente um Max Cavalera por altura de “Chaos A.D.”, embora sem a mesma garra e agressividade. Aliás, Metallica e Sepultura parecem ser mesmo das maiores influências do grupo – “Divine Not Human” não deixa esconder a forte influência que os seminais Metallica exercem sobre a música da banda. Para além disso, consegue-se vislumbrar-lhes alguma perspicácia ao adicionarem elementos mais hardcore e dinâmicas mais balançadas em alguns momentos, e leads de guitarra a remeterem-nos para o imaginário sueco [escutem o início de “Lost In Words”]. Conta quem já os viu que este disco não capta a energia do grupo ao vivo, mas quer-me parecer que nem é preciso muito para percebermos que este material merecia uma produção muito mais “cheia” e poderosa. As guitarras apesar de pesadas soam demasiado cruas e a distorção algo frágil. Mas apesar de tudo, esta é uma excelente oportunidade de por os olhos sobre o trabalho destes portugueses que se revelam já bastante coesos e experientes para merecerem todo o nosso respeito. Se contarmos que este é material com já bastante tempo e que Sérgio Vilas Boas já não faz parte do colectivo, fica a curiosidade em relação ao trabalho que a banda anda a desenvolver actualmente. Pitch Black é concerteza uma máquina muito bem oleada e, tal como o próprio nome do disco indica, esta tem um potencial assassino! Um dos porta-estandartes do metal no nosso país. [8/10] N.C.

Wednesday, May 25, 2005

Live Zone [report]

IN SOLITUDE / HÍFFEN
20.05.05 - 1ª Expomoto de S. Miguel, Ponta Delgada


Este era um evento para os amantes das máquinas e do desporto motorizado, mas como é tradição nestes casos, a 1ª Expomoto de S. Miguel também fez questão de se fazer acompanhar de uma agenda de concertos que lhes proporcionou dinamizar as noites de 18 a 21 de Maio no Hangar da Marinha, em Ponta Delgada. Falámos de música, claro, e de uma noite em que o heavy metal teve um espaço em especial. Sexta-feira, dia 20, trouxe aos palcos açorianos, pela primeira vez, os portuenses In Solitude aos quais se juntaram os micaelenses Híffen, como banda de suporte. Numa noite cheia de focos de interesse, sobre os Híffen descaía a curiosidade de constatar como é que a banda se comportaria após a experiência de estúdio para a gravação do seu álbum de estreia [o qual só espera agora a etiqueta para ser lançado] e, como é óbvio, do potencial dos temas que incluirão o CD. Para nós, que não os víamos em palco acerca de dois anos, foi primeiramente notória a sobriedade do colectivo em relação a esta longínqua data, onde o colectivo se mostrou ainda bastante frágil em vários aspectos e onde, por outro lado, o guitarrista Renato se mostrou demasiado “esquizofrénico”, para bem da própria banda. Hoje, percebendo que não é preciso “comer-se” uma guitarra para provar que se sabe tocar, Renato em conjunto com o resto do grupo mostram bastante mais valor nas suas composições, desfalecendo um pouco a nível de energia em palco. Não fiquem confusos meus amigos, é que o ideal nem é oito nem oitenta. È sim o meio-termo, para uma banda que já tem um disco na calha e precisa de mostrar outra garra ao vivo. E nisto a banda precisa melhorar, e bastante. Para além disso, as vozes [agora duas, sendo uma delas de suporte] mostram-se algo inadaptadas ao género. Não obstante as vozes estarem muito mais afinadas que antes, o contexto das vocalizações anda bem longe do que é o som dos Híffen, aproximando-se muito mais de algo pop do que propriamente do hard’n’heavy melódico que supostamente debitam.


Todavia temos aqui uma banda com muito talento e que promete bastante com o seu álbum de estreia. Com um terceiro álbum já lançado e uma vasta experiência de palco, os In Solitude vieram apresentar-se pela primeira vez ao povo açoriano com o seu mais recente álbum “Nethergod”, de 2004, na forja. Somente uns dos álbuns do ano eleito pela imprensa especializada, os In Solitude transportaram toda a força do seu power metal melódico e do seu novo álbum para o palco. Abrindo com o tema título “Nethergod” arrancaram para uma actuação sem mácula, onde o virtuosismo de Paulo Camisas [guitarrista], a versatilidade de Sérgio Martins [vocalista] e a garra de Lisa Amaral [teclista] marcaram a imagem da banda em palco. De resto, toda a banda é um todo extremamente sólido e todos os elementos demonstraram um à vontade em palco capaz de impressionar [toda a gente a curtir foi bom de ver]. Temas como “Realm Of A Thousand Spears” ou “Angel Of The God” foram alguns dos fortes pontos que deram cara a “Nethergod”, onde houve ainda tempo para revisitar velhinhos clássicos como “Eternal”. E foi basicamente disso que se pautou o concerto dos In Solitude – muita classe, muito talento, muita força, muito profissionalismo… Não fosse uma plateia praticamente inexistente e teríamos um concerto absolutamente memorável…Deixei esta nota para o fim para dizer: onde estão os metaleiros desta ilha? Meus amigos, era quase doloroso constatar que o número da assistência não ascendia às 30 pessoas, num cenário quase desolador para o que merecia uma oportunidade dessas. Mas o ambiente, esse foi bom, as bandas proporcionaram-no. Bem, queixamo-nos da ausência de iniciativas… aqui esteve uma, e de superior qualidade. Falta de divulgação? Insuficiente para justificar. Quem é interessado esteve lá. Sinceramente, só me consigo lamentar…

Nuno Costa
Fotos: André Frias [www.contratempo.com]

Friday, May 20, 2005

Live Zone [report]

ROQUEFEST 2005
Azorian Heavy Metal Festival
09-10 / 05 / 05 - Poço Velho, S. Roque [S. Miguel]

Dia 2

Após um primeiro dia “morno” e marcado pelo mau tempo, o dia dois do Roquefest 2005 pude contar com um clima muito mais ameno e propício à realização dos espectáculos, em que a afluência do público se fez notar em muito maior número e onde era visível a melhor disposição com que as pessoas encaravam este segundo dia. Talvez como que a reflectir o céu bastante mais claro que se fazia sentir. Tal como no dia anterior, a abertura do espectáculo coube a uma banda de sonoridade mais “moderna” como a que apresenta os micaelenses Blasph3my. Não tão “nu” como anteriormente e muito menos “cliché” que nos primeiros tempos [o desuso das máscaras e das pinturas, bem como de determinados instrumentos que mais não queriam parecer que uma perseguição de uma moda, para além de que congestionava imenso o seu som], os Blasph3my de hoje respiram outra saúde, outra alma, proveniente de uma profunda remodelação de line-up, a qual trouxe para o seu interior “sangue” com uma outra experiência, capaz de remodelar e catapultar o som dos Blasph3my para novos patamares, mais altos. Falamos de Dinamite [conhecido entre outras coisas por ter passado há muitos anos pelos Blackmass e Luciferian Dementia] e Rodas, um jovem músico que, no entanto, já conta com o estatuto de tocar numa das bandas mais promissoras e técnicas dos Açores, os Massive Sound Of Disorder. E de facto, o som dos Blasph3my ganhou em técnica, coesão e personalidade.


Eliminaram-se as percussões e os samplers e assim ganhou-se outra clareza de som. O atabalhoamento que marcava a época em que usavam esse tipo de instrumentos deu lugar uma outra clareza musical e estrutural, sendo que agora se nota uma imensa melhoria a nível de composição. Estruturas muito mais bem tratadas, com solos e riffs muito bem entrosados [por vezes a fazerem lembrar aquele típico death metal sueco na veia de uns In Flames ou Soilwork], e refrões, por vezes, com capacidade de nos ficar no ouvido. Não obstante, continuamos a achar que Filipe Vale desempenha um papel muito melhor a berrar do que a cantar – aí as coisas parecem não favorecê-lo muito. Contudo, estes são apenas pequenos reparos. A verdade é que os Blasph3my marcam a entrada numa nova etapa da sua vida, deveras muito mais interessante. De seguida os Septic Miracle, uma banda que tem vindo a demonstrar uma curiosa dinâmica a nível de número de presenças ao vivo nos últimos tempos, mas que na minha opinião de pouco lhes tem servido para angariar alguma maturidade e postura em palco. Infelizmente, não tivemos possibilidade de presenciar o concerto na íntegra, mas chegou para provar que não se operaram nenhumas melhorias a nível de desempenho e sonoridade. Sinceramente, não consigo comungar de algumas opiniões mais optimistas em relação a este colectivo, pois as limitações técnicas do grupo parecem-me mais que óbvias. Vocalmente, tanto no masculino como no feminino, a banda tem muito que melhorar, bem como na generalidade dos instrumentos.


Um autêntico descalabro foi a versão de “My Immortal”, dos Evanescence, em que a voz e o piano, quase ameaçaram deixar o tema a meio, tal era a descoordenação… Ressalvando um ou outro tema de refrão mais intenso e contagiante, a banda precisa na minha opinião de rever muita coisa a seu respeito. Reborn – terceira banda do cartaz. Apresentados como os novos Dark Emotions, os Reborn cilindraram autenticamente os nossos ouvidos com um trash metal old school [na veia de Metallica antigo, Testament ou Pantera] deveras potente e devastador, daqueles capazes de nos meter a ranger os dentes de raiva! Absolutamente energético, o concerto dos Reborn foi, sem dúvida, uma das surpresas maiores da noite e um dos momentos mais altos do festival. Sendo ultrapassados apenas pelos Sick Souls, mas por razões muito diferentes. Tirando estas razões, a que já lá vamos, os Reborn bem que podiam ter sido um dos cabeças-de-cartaz do festival! Valor não lhes falta. E que razões serão essas para que os Sick Souls tenham ultrapassado os Reborn a nível de performance? A vertente ao vivo, meus amigos! Neste aspecto, os Sick Souls, de Cascais, vieram dar um autêntico “show de bola”. Uma lição de postura e de como se entretém o público, transformando o palco e o espaço num autêntico asilo de loucura! Maravilhoso assistir a tanta entrega por parte dos músicos, que pulavam para o público, faziam mosh junto dele, trepavam o PA, os postes da ornamentação da festa… Enfim, uma autêntica “paderada”!;p Pelo meio assistiu-se à pequena Daniela, uma miúda de cerca de 5/6 anos, a subir ao palco e a mostrar aos mais graúdos como é que se faz, num destemido, valente e estiloso headbanging :). Para além da interacção com o público, a interacção com os músicos, com o vocalista dos Zymosis a executar um tema, em jeito de improviso, com os Sick Souls.


E mais à frente já parecia que toda a gente subia para o palco e cantava! Um autêntico festim em que os Sick Souls apresentaram o seu primeiro EP – “Mind’s Edge” -, uma mistura death metal old school, simples e directo, com uma atitude mais punk [ao jeito de uns Napalm Death por altura de “Scum”] que propriamente aquela “carniceira” e sanguinária. Atentem a títulos como “Magnetic Fields Provokes Ass Itch” ou “Masturbation In Church” para que percebam a atitude muito mais descontraída, ressaqueira e sarcástica que os distingue de muitas bandas dentro do género. Longe de serem brilhantes a nível musical ou instrumental, fica a nota de que tudo isso conseguiu ser esquecido, tal o ambiente que se viveu e que deixou “lavados” todos os demónios e tensões que podiam estar dentro de quem presenciou o espectáculo. That’s fuckin’ attitude!! Fica, para finalizar, os parabéns a quem teve a coragem de organizar um festival de metal como esse aqui na ilha, por mais underground que seja, e ainda com dois dias [coisa rara por cá]. E que para o ano fique a promessa de que se retomará e elevará o nível do Roquefest.

Nuno Costa
Fotos: André Frias [www.contratempo.com]

Tuesday, May 17, 2005

Live Zone [report]

ROQUEFEST 2005
Azorian Heavy Metal Festival
09-10 / 05 / 05 - Poço Velho, S. Roque [S. Miguel]

Dia 1
Aguardado com imensa expectativa [talvez como há muito não se assistia por estas paragens], a primeira edição do Festival Roquefest, realizado na freguesia micaelense de S. Roque, teve o condão de trazer ao rubro o underground metaleiro desta ilha. Juntando muitos dos nomes que perfazem o staff actual deste movimento, o cartaz foi repartido por dois dias num total de seis bandas de S. Miguel e duas exteriores ao arquipélago – os veteranos Requiem Laus [Madeira] e os Sick Souls [Cascais] – como cabeças-de-cartaz. Com um primeiro dia algo prejudicado pelo mau tempo, a afluência de público ficou ainda assim aquém das expectativas, talvez pelo facto deste evento se realizar no início da semana, algo a que o público açoriano não estará ainda habituado, e ainda pelo facto de a maior parte do público afecto a estas sonoridades [essencialmente jovens] se encontrarem num período congestionado a nível de actividades escolares.

Apontando agora “luzes” para o palco e para as actuações propriamente ditas, foi aos Psy Enemy a quem coube as honras de abertura do festival. Uma banda que começa a denotar uma certa evolução a nível musical e que é fruto de um processo de crescimento natural e sustentado. Embora acabassem por parecer algo deslocados a nível de cartaz, numa noite em que o restante cardápio era bem mais obscuro, ainda assim foi das bandas que mais atenção dispensou do público. Talvez pela sua irreverência e comentários em palco, alguns até bem excedidos para o horário nobre [como a alusão à “p*** da velha que lhes tirou a sala de ensaios”], os Psy Enemy “incendiaram” de certa forma a plateia e foram capazes de atenuar um pouco a apatia que se fazia sentir entre os presentes. Explanando uma sonoridade para muitos dada como morta, o nu-metal destes jovens micaelenses carece ainda de alguma originalidade, mas pelo que demonstram a nível de garra e empenhamento, acredita-se que o tempo se encarregará de os transformar num colectivo mais sólido e personalizado. Nota saliente para o enorme talento do jovem baixista Fábio Cerqueira, de apenas 17 anos, para o qual conseguimos vislumbrar um futuro extremamente promissor.

De seguida e de volta aos palcos, ao fim de um período de cerca de três anos, os In Peccatvm [uma das bandas mais antigas dos Açores ainda no activo] entram em cena para demonstrar se calhar aquilo que não era bem o que estávamos à espera. Para um regresso tão aguardado pedia-se se calhar uma atitude mais dinâmica e virada para o futuro enquanto que na minha opinião a banda continua a tentar viver do passado. Embora se compreenda a aposta nos velhos clássicos, já se sente se calhar o cheiro a mofo e a necessidade de mudar para algo mais moderno e inovador. Para desajudar ao quadro, os pequenos imprevistos de palco, vulgo “pregos”, mancharam um pouco a sua actuação num sinal óbvio de que a banda necessita de começar de novo a pisar os palcos com maior frequência. De seguida, e a jogar em casa, os Zymosis foram a banda que mais desfrutou da empatia do público nesta noite. A banda de black metal de S. Roque tem se revelado numa das mais dinâmicas no seu âmbito aqui na região, também muito graças ao bom trabalho que o seu manager Paulo Jorge tem desenvolvido no comando do grupo, e que tem servido para voltar a por o black metal na lista de interesses dos apreciadores de música mais extrema em S. Miguel. Não obstante as imensas arestas que ainda faltam limar, nomeadamente a nível de originalidade, os Zymosis sabem muito bem compensar tudo isto com uma apreciável prestação em palco, carregada de obscuridade e profanatismo, que nos leva a tê-los como uma banda um pouco acima da média no que diz respeito a solidez no nosso arquipélago. Sente-se que aqui sabe-se o que se quer.

Para finalizar, e perante as horas [demasiado] tardias que marcavam o relógio, o staff da SounD(/)ZonE não pude assistir por completo ao concerto dos Requiem Laus, mas fica a breve nota de que se “cheirou” outra rodagem nos doomers Madeirenses, outra experiência. Para além de que o próprio som melhorou bastante e se pude ouvir qualquer coisa de cristalino, definido e potente naquela noite. Sem conhecer bem a carreira deste colectivo, apesar dos seus já cerca de 16 anos de existência, a SounD(/)ZonE compromete-se no entanto a partir de hoje a ir rebuscar o seu historial e trazer-vos em breve notícias sobre a banda. Até porque quando o produto é bom o esforço vale sempre a pena.

Nuno Costa
Fotos: André Frias [www.contratempo.com]

Tuesday, May 10, 2005

Entrevista In Solitude

O NOSSO PRÓPRIO DEUS!

Já data de 2004, mas representa uma das maiores "investidas" nacionais dentro dos meandros do heavy metal no ano transacto. Intitulado "Nethergod", este é o álbum que marca o regresso dos portuenses In Solitude, após um longo período de ausência. Sem um conceito propriamente demarcado, ao contrário do anterior "Opus: Universe","Nethergod" reza vários temas, há imagem dos que já vimos o vocalista e letrista Sérgio Martins abordar noutras alturas [e que tanto sabemos que gosta de explorar], como a astronomia, a religião e o sobrenatural, onde a roupagem musical aqui incutida é um excelente power metal de inspiração teutónica. Certamente o disco mais coeso do grupo até à data! Sérgio Martins esteve em contacto com a SounD(/)ZonE para explicar, entre muitas outras coisas, quem é esse "Deus Menor"...



Bem, para quem não sabe, os In Solitude são das bandas de metal mais antigas de Portugal. Atravessaram uma fase em que muitos ficaram pelo caminho e só alguns [poucos] restaram para contar a “história”. Fala-nos do vosso percurso até hoje. Qual tem sido o segredo da vossa perseverança?...
É curioso que faças essa pergunta porque ainda há poucas semanas atrás tive um acesso de revivalismo e fui dar uma olhada em revistas e jornais antigos que ainda guardo entre os quais inúmeras edições do Blitz -daquela altura em que eles ainda se lembravam que o Heavy Metal existe -e fiquei surpreendido com a quantidade de bandas portuguesas que fervilhavam no panorama metálico português há dez anos atrás, e que entretanto desapareceram. Acho que os In Solitude tiveram sempre objectivos traçados, provavelmente estávamos demasiado ocupados com isso para pensarmos em desistir. Nós surgimos no final de 95 e passados seis meses já tinha-mos gravado a promo-track "Children Of The Dark" e dado vários concertos; em 97 editamos a demo "Reflections"; em 98 veio o 1º álbum "Eternal" e consequente promoção; em 99 trocamos de guitarrista e iniciamos a composição do "Opus: Universe" que foi editado em 2000. Na 1ª metade de 2001 o baterista e o baixista saíram o que nos proporcionou uma reformulação criteriosa da secção rítmica de modo a redimensionar todo o som da banda. Retornamos aos concertos ainda em 2001 até meio de 2002. A partir daí concentramo-nos na composição do "Nethergod" que foi gravado em 2003 e editado em 2004. No fundo, acho que o segredo é estarmos ocupados, se assim acontecer é mais fácil resistir à desmotivação provocada pelas adversidades do nosso mercado.

Passando rapidamente ao pretexto desta entrevista, o vosso novo álbum, como é que te sentes, antes de mais, em relação a ele? Deu muito trabalho a lançar, o álbum esteve ali como que “encalhado” durante um ano antes de ser lançado, mas parece que tudo acabou em bem!...
Posso dizer que tenho muito orgulho neste trabalho, porque depois de dois discos gravados no Rec’n’Roll este terceiro álbum foi um autêntico desafio à nossa capacidade como músicos. Antes de irmos para estúdio tudo foi analisado ao pormenor de maneira que tudo aquilo que se ouve no disco ficou definido antes da gravação, no estúdio acabamos por adicionar alguns arranjos que nos pareceram necessários. Já depois de tudo gravado surgiram alguns problemas com a mistura final o que atrasou todo o processo, pelo que a editora decidiu adiar o lançamento do disco por alguns meses.

O que te satisfaz mais neste álbum em relação ao anterior “Opus: Universe”? Sentes que alcançaram os objectivos a que se propuseram para este novo trabalho?
O “Opus: Universe” foi um disco que me deu imenso prazer gravar. Na altura em que foi gravado aquelas músicas pareciam-me pura e simplesmente as melhores músicas que eu alguma vez tinha ouvido, a aliar a isso tinha desenvolvido uma intrincada narrativa que me deu imenso gozo; só que nem tudo correu bem, por um lado, o som não ficou tão pesado como nós queríamos, fomos aliás rotulados como hard rock progressivo por quase toda a gente, e ainda por cima menos de seis meses após o lançamento do disco ficamos sem baterista e sem baixista o que nos impediu de fazer uma melhor promoção ao álbum. Com este novo “Nethergod” foi bem diferente, a responsabilidade e o stress em estúdio foram bem maiores, durante a gravação nunca estive 100% satisfeito com os temas mas a verdade é que o desenlace foi completamente diferente: o som acabou por ficar como nós queríamos, a reacção tanto da crítica (cá e na Europa) como do público está a ser óptima e a promoção do disco está a correr muito bem; neste momento o objectivo é tocar o mais possível, levar o “Nethergod” ao máximo nº de gente possível.

Os In Solitude atravessaram já várias mudanças de line-up ao longo dos anos. Sentes que isso tem prejudicado ou pelo menos dificultado, de alguma forma, os planos que a banda tem traçados para si em determinados momentos? Por exemplo, ainda para este álbum vocês tiveram que se ver com a saída de mais um baixista e recorrer a um convidado de estúdio. Tem sido difícil lidar com essas situações?
Quando alguém sai de uma banda perde-se sempre qualquer coisa, quanto mais não seja perde-se a personalidade e a capacidade técnica do elemento que sai, só que isto pode ser benéfico, certo? Se jogar-mos com estas duas componentes acho que as mudanças foram sempre benéficas, é claro que se perde tempo à procura de substituto mas já que existe um lugar vago, então a atitude tem que ser sempre procurar alguém que traga mais valias e seja mais adaptado às necessidades da banda do que a pessoa que saiu.

Por falar em baixista de estúdio, o Rui Santos dos Oratory, é também ele quem produz o som de “Nethergod”. Novo produtor, nova “casa”. Estão satisfeitos com essa nova experiência? Foi bom gravar com o Rui?
Foi sem dúvida uma experiência diferente, não posso dizer que foi fácil, atravessamos um processo extremamente cansativo, foram muitas directas, eu e o Paulo Camisas chegamos a entrar no estúdio às 17h de um dia e sair às 13h do dia seguinte. No final tudo valeu a pena, estamos gratos ao Rui pelo esforço que fez no sentido do disco ficar o melhor possível e desejamos-lhe tudo de bom tanto para o estúdio como para os Oratory.

Já agora, como está a correr a integração do Eduardo Neves?
A integração do Eduardo não está a correr… já correu. O Eduardo está mais do que integrado nos In Solitude, já pertence à banda desde Abril de 2003. Como ele entrou a dois meses do início das gravações do “Nethergod” teve que ser tudo muito rápido. Na segunda metade de 2004 já tocamos mais de 10 concertos portanto o Eduardo está integrado a todos os níveis.

O conceito de “Nethergod”… Um título no mínimo “forte”!
“Nethergod”… o Deus menor… é possível compreender para quem ler a letra do tema título ou até mesmo olhando apenas para a capa que o tema tem a haver com a igreja católica; a igreja católica actualmente não passa de uma organização retrógrada que continua a ser muito rica e que tenta em vão manter o seu poder nos destinos do mundo, apoiada em conceitos que até a minha avó que tem 89 anos já questiona. A tendência é para que cada vez mais igreja seja um símbolo e não um poder, mas nem sempre assim foi... O conceito “Nethergod” tem a haver mais com a idade média, a altura em que esta organização perseguiu milhares de pessoas e atrasou o desenvolvimento do mundo.

Explica-nos onde fica a ligação entre os vários temas que abordas neste álbum. Temos religião, guerra, sobrenatural, astronomia… Há algum fio condutor que comande?
Bem... nunca pensei nisso; o fio condutor que poderá haver é o facto de todos eles serem temas fortes que mexem com as pessoas e também comigo... é claro, mas apesar de abordar esses temas os conceitos que estão por trás deles são mais abrangentes, eu nunca fui um letrista muito sentimental, prefiro as coisas mais terra-a-terra mas a verdade é que neste disco o que está por trás dos temas que referiste são sentimentos como o ódio, vingança, medo, orgulho, determinação, entre outros. Não posso referir exemplos em todas as músicas sob pena de isto parecer um testamento mas dou-te apenas um exemplo rápido: "The 11th Planet" é sobre a fuga da humanidade para um planeta distante, daqui por 5 biliões de anos quando o nosso sol se extinguir; o conceito por trás dela será seguramente o medo ou, se preferires, o instinto de sobrevivência.

Só por curiosidade: tu és estudante de astronomia ou é puro hobby? O que é que atrai tanto nesta área? De onde vem essa paixão?
Nunca estudei astronomia de forma académica, apenas por hobby. O meu interesse pelo assunto deve-se ao facto de haverem demasiadas perguntas na minha cabeça que eu gostaria de ver respondidas durante o meu tempo de vida, o problema é que quase de certeza vou morrer sem ver essas questões esclarecidas, isso faz-me muita confusão... Eu penso assim: o Universo é vastíssimo e não tenho dúvidas de que existe muita coisa que o Homem ainda não descobriu nomeadamente no que diz respeito a estar-mos sós ou não, a verdade sobre os buracos negros, universos paralelos, até que ponto é possível deformar o espaço-tempo, etc...
Essas e outras questões levaram-me a ler autores como Carl Sagan, Hubert Reeves ou Stephen Hawking para conhecer melhor o assunto mas a verdade é que muitas coisas do passado do Universo e quase todas as que dizem respeito ao seu futuro continuarão a ser um mistério por muito, muito tempo...

Vocês já devem estar em plena promoção de “Nethergod”. Já deram concerteza alguns concertos. Como tem corrido, como é que o público tem reagido?
Depois de tanto tempo sem tocar ao vivo é evidente que não tínhamos muita noção de como as pessoas iriam reagir aos temas novos e à formação actual, por isso, estamos surpreendidos com as óptimas reacções que temos tido nos concertos. Acredito mesmo que presentemente a banda consegue maximizar quase todo o seu potencial quando toca ao vivo, chegamos ao final de cada concerto e sentimos que de uma forma ou de outra conseguimos conquistar gente, pessoas que no futuro ficarão mais atentas à carreira dos In Solitude. Até agora já tivemos 11 concertos de promoção ao "Nethergod" e agora no princípio de 2005 vamos continuar a promover o disco por mais alguns meses.

Para o estrangeiro já há alguma coisa planeada?
O disco está a ser distribuído em vários países, nós não temos representação internacional através de nenhuma editora mas existem várias distribuidoras na Europa e também na América do Sul às quais o disco está licenciado. No que diz respeito a concertos, provavelmente teremos oportunidade de dar alguns concertos em Espanha embora ainda não hajam datas marcadas

Para terminar, vejo pelos vossos agradecimentos no disco que há uma próxima relação com os Açores. Queres falar-nos dela?
Infelizmente nunca tivemos oportunidade de conhecer os Açores muito menos de ir aí tocar (andar de avião não fica nada barato!!!) mas é óbvio que gostaríamos muito de vir a conhecer. A única relação com os Açores é mesmo o facto de sermos amigos do Ruben Correia, guitarrista dos Morbid Death estávamos inclusivamente à espera que surgisse uma oportunidade de eles virem ao continente e nesse caso seria provável que tocássemos com eles… Vamos esperar para ver… Aproveito para saudar os leitores da Sound(/)Zone e desejar felicidades para a fanzine.

Nuno Costa

Monday, May 09, 2005

Live Zone [report]

SPIT SHINE / JAIME GOTH
4 Maio, Campo S. Francisco, Ponta Delgada



No âmbito das comemorações festivas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, a Câmara Municipal de Ponta Delgada, através da ANIMA, escalonou mais uma maneira de dinamizar, de forma saudável e musical, a noite de quarta-feira, dia 4 de Maio, no Campo de S. Francisco. O cartaz musical desta noite fria de Primavera ficou marcado pela presença do experiente e sobejamente conhecido Jaime Goth e sua banda, e dos hard rockers Spit Shine.

O palco dividido por estes dois nomes de relevo do panorama musical açoriano foi estreado pelo veterano Jaime Goth, que nas honras de abertura nos brindou com a classe de uma actuação de inúmeras fragrâncias étnicas e folclóricas. Revisitando imaginários africanos, pop, reggae e até rock, Jaime executou versões de temas bem populares e conhecidos do público, levando-nos numa jornada infindável pelo mundo cultural e estilístico da música. Uma autêntica “viagem ao mundo” sem nunca tirarmos os pés de onde estávamos.

De seguida, e cerca de uns 40 minutos depois, o público mais novo e afecto a sonoridades mais energéticas e efusivas, teve o privilégio de presenciar um dos mais talentosos e promissores colectivos de hard’n’heavy dos Açores. Compostos por músicos de alta craveira, os Spit Shine mostraram desde início porque é que mereceram a aposta da ANIMA e da Câmara Municipal de Ponta Delgada para o desfecho desta noite de música. “Tchill” com um refrão catchy e apelativo lançou os Spit Shine num desfile de temas de óptimo hard rock, por vezes com riffs bastante poderosos [como no final “Rumble”] e uma composição musical suficientemente equilibrada para agradar aos mais diversos gostos e ouvidos. Impressionantes na arte de estar em palco e transmitir coesão e boa disposição, os Spit Shine aliam a tudo isto uma destreza técnica superior, especialmente ao nível das guitarras, ou não estivéssemos a falar do jovem génio das seis cordas açoriano – Luís H. Bettencourt. A banda pisou por vezes territórios alheios, que é como quem diz, revisitou temas [clássicos] de outras bandas pop em versões muito bem adaptadas ao seu género, como “Vénus” dos Banarama e “Larger Than Life” dos Backstreet Boys. Pelo meio, e no seguimento da versatilidade técnica dos seus músicos, encontrámos a excelente balada “Let Go”, executada ao piano pelo próprio guitarrista Luís H. Bettencourt e pelo vocalista Cadi. No final, um público rendido ao talento e segurança de um colectivo que só precisa mesmo de ter a convicção para chegar mais longe. Porque condições artísticas não lhes faltam.

De salientar que são estas iniciativas que continuam a fazer com que os nossos músicos se sintam motivados a seguir o seu caminho musical, ainda mais quando se trata de um estilo como o rock, tão marginalizado, mas que é na realidade a facção onde a maioria dos jovens nos Açores se enquadram e identificam. Numa planície árida e [quase] infecunda como os Açores, isto falando em termos de dimensão artística, são de louvar estes pequenos “oásis” criados pela Câmara Municipal de Ponta Delgada. Esperamos por mais!

Nuno Costa

Wednesday, May 04, 2005

MORBID DEATH
6 de Maio - Feira de Santana, Ribeira Grande

Inserido na sua Master Key Tour, os micaelenses Morbid Death efectuarão mais uma concerto, desta feita em S.Miguel na Feira de Santana, na cidade da Ribeira Grande, no próximo dia 6 de Maio [sexta-feira]. Após uma mini-digressão pelo continente português que os levou a Lisboa, Coimbra e Porto, aos bares Jinx, Via Latina e Hard Club respectivamente, os "emblemas" do metal açoriano terão a oportunidade de voltar ao seu solo e apresentar mais uma vez aos açorianos o seu último trabalho - "Unlocked".

Vendas

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Sunday, May 01, 2005

Entrevista Primitive Reason

REGRESSO PRIMITIVO

Às vezes esquecemo-nos dos Primitive Reason quando se trata de mencionar as bandas mais criativas e internacionais do nosso país. Definitivamente ímpares na maneira de compor e de misturar estilos e culturas, o "melting pot" que é os Primitive Reason está de novo de volta e na forma de um álbum tradicionalmente "primitivo e crú. Foi sobre este novo álbum - "Pictures In The Wall" - e sobre uma longa carreira e experiência de vida que tivemos oportunidade de conversar com o guitarrista Abel Beja, aquando da sua passagem por cá a 23 de Abril na Semana Académica dos Açores.



De regresso aos Açores, que recordações guardas das vezes que tocaram cá?
Pessoalmente, passei por cá há dois ou três anos na Maré de Agosto, em Santa Maria. Sei que a banda esteve cá também em S. Miguel, mas isso foi em 96 ou 97, antes de irmos para os Estados Unidos. Mas sempre boa onda, pessoas simpáticas, bom peixe! [risos] Foi um festival espectacular e espero que hoje seja ainda melhor!

Esta noite os Primitive Reason vão apresentar o seu novo álbum pela primeira vez aos Açorianos. O que podemos esperar deste novo trabalho? Como o descreverias?
Acho que é um trabalho que remonta um bocado às raízes dos Primitive, no sentido em que auto-produzimos o álbum. Estruturalmente, e mesmo em termos de som, tentámos ser um bocadinho mais crus e naturais. Experimentámos novos estilos sempre tentando evoluir, olhando para o passado e ao mesmo tempo olhando para a frente e tentando descobrir novos caminhos. Acho que existe um resultado coeso no disco, ainda mais ao vivo, agora que temos uma banda sólida. Demorou cerca de um ano e meio, dois anos, até descobrirmos as pessoas certas, e acho que o disco mostra isso – uma banda mais madura mas radical ao mesmo tempo, como sempre.

Este álbum anda à volta de um certo conceito, certo?
Sim, o Guillermo escreveu uma história que também tinha a ver com as letras em que cada música é um sonho, e esta história fala de um paralítico que vive através dos sonhos. Ele não está acordado e anda de sonho em sonho sem saber qual é a sua realidade, sendo essa precisamente a sua realidade. No fundo são histórias que têm também a ver com as nossas vidas, o nosso dia-a-dia e situações pelas quais todos passamos. A música funciona aqui como soundtrack, ajudando a perceber a história. As músicas foram feitas separadas, mas como um todo fazem um sentido ainda maior. Passa-se o mesmo com a história – as letras têm também uma história cada, mas o livro em si é uma história muito mais completa.

Portanto, há mesmo um livro a acompanhar a edição deste novo álbum…
Sim, foi escrito em inglês e traduzido para português e espanhol, tal como as músicas estão escritas em inglês, português e espanhol.

Após terem gravado um álbum no estrangeiro e terem passado por muitos países antes de gravar “The Firescroll”, este novo álbum volta a ser composto enquanto residiam em Portugal. Qual foi o sentimento que circundou a composição deste álbum?
Da última vez ainda estávamos ligados à editora em Nova Iorque. Entretanto, viemos fazer uma tournée em Portugal e não estávamos de acordo com a editora, eles tinham outros planos para nós, por isso decidimos ficar em Portugal uns tempos. Depois disso tirámos férias porque já estávamos dois anos na estrada com o “Some Of Us”, cerca de um ano nos Estados Unidos e um ano e meio em Portugal, e então parámos um bocadinho e cada um foi para o seu lado. Claro que sempre absorvemos as culturas, desde putos gostamos de viajar e explorar, fazíamos inter rails e explorávamos outros países, musical e culturalmente. Isto acaba sempre por ser trazido para o “baralho” quando nos juntamos e fazemos música e essa foi uma boa experiência, mas ainda não estávamos “portugalizados”. Agora que já estamos cá há algum tempo, sentimo-nos mais confortáveis para gravar este álbum. Em Setembro, começamos a escrever as músicas e em Dezembro entrámos em estúdio, em Vendas Novas. Podíamos ter gravado no Brasil ou Inglaterra, mas concluímos que Vendas Novas era um sítio perto de casa, podíamos lá dormir durante um mês e durante esse período era só mesmo estúdio e composição. Mas foi especial viver lá o dia-a-dia, ir às tascas... E então acho que foi essa inspiração que também ajudou a fazer deste um disco especial.

E já que estamos a falar do som deste novo álbum, definir o som dos Primitive Reason é sempre muito complicado. Vocês são um autêntico melting pot!
Olha, foi esta a palavra que usei hoje quando falei com alguém sobre o nosso estilo. Estavam a tentar descrever-nos e eu disse que realmente éramos todos de diferentes sítios. Agora finalmente temos dois elementos nascidos cá, mas fora isso temos o Guillermo que é espanhol, mas veio ainda puto para cá, eu e o James que nascemos em Nova Iorque e vivemos sempre lá (só viemos para cá com os Primitive), o Hélder [baterista] que é luso-francês, mas todos temos raízes portuguesas, o que é uma cena engraçada. Por isso é um verdadeiro melting pot.

Desde 1999 que vocês gravam discos com o Marsten Bailey. Desta vez optaram por mudar de produtor. Porquê?
Aliás, desde 1998, altura do “Tips And Shortcuts”, até ao nosso último que foi o “The Firescroll”. Neste disco ele já não participa, em parte porque também foi para Inglaterra, mas porque também queríamos ser nós a explorar, uma vez que já tínhamos gravado muitos álbuns de alta produção e há sempre coisas que aprendemos. Já era o nosso quinto disco e achámos que já conseguíamos fazer as coisas à nossa maneira. Foi só arranjar alguém que captasse bem o som e depois nós, musicalmente, é que fazíamos o resto. Tentámos não equalizar demasiado os instrumentos, mas sim, captar o som que temos em palco para parecermos precisamente mais primitivos! Queremos que as pessoas venham aos concertos e pensem mesmo: yha, o disco soa à banda! E foi isso que fizemos. Depois juntamo-nos ao Nuno que já andava na estrada connosco há um ano e também era dessa filosofia. Ele nem ouviu as músicas antes de entrarmos em estúdio, só chegámos lá com a maquete do disco e dissemos: Nuno, vamos gravar! Ele então achou muito fixe o material e aí partimos para a gravação. Foi então um momento em que pudemos experimentar muitas coisas, fundamentalmente sermos mais crus, tipo banda de garagem, mas também com bom som, acho que não perdemos a musicalidade.

Vocês têm passado por muitos palcos, muitos concertos, muitos países… Quais são as grandes ilações que tiras dessas experiências, por exemplo, em relação a Portugal e aos músicos portugueses?
Acho que existem coisas negativas e positivas em ambos os lados – Portugal e estrangeiro – mas acho que cá é um bocado diferente, apesar de estar cá só desde 2000/2001 apesar de sempre ter vindo cá desde puto. Mas estar cá e viver disso é diferente porque não tocamos tanto, se calhar damos 30 concertos num ano e num de êxito damos 40! Imagina que lá fizemos isso num mês, tocávamos todos os dias! Era do género, 10 dias seguidos para descansar um. Mesmo assim atrofiávamos quando não tocávamos. Cá é do género, concerto de semana há semana e o pessoal faz grande festa, mas a solidez não é a mesma. Então cá começamos a aperceber-nos de que haviam já bandas a fazer um circuito de bares, e acho que isso é que é preciso. No Estados Unidos, uma banda com o nosso nível, com vários discos e já um público criado, consegue tocar quase todos os dias, fazer tournées de dois meses. Depois parar dois meses para compor e voltar de novo a dois meses de tournée, e assim sucessivamente…

E foi fácil vocês implantarem-se nesse circuito? Ou seja, vocês já tinham conhecimento do meio e como se inserir nele, ou caíram mesmo lá de pára-quedas?
Bem, eu voltei para cá em 99, depois de gravar o “Some Of Us” e nessa altura já conhecia o pessoal, desde a altura do “Alternative Prison”, mas eles ainda estavam indecisos se iam continuar cá e se iam continuar alguns membros – por exemplo, o Micas teve para sair e eu é que ia gravar o segundo disco, mas e ele acabou por ficar. Aí então voltei para os Estados Unidos e estava a começar uma banda com o James em Nova Iorque. Entretanto o Jorge liga-me um dia do aeroporto e diz-me: viemos para os Estados Unidos, vem buscar-nos ao aeroporto! Eles chegaram lá, já tinham um contracto com uma editora mas não tinham casa, nada mesmo. Então nós, como luso-americanos que somos, sempre nos ajudamos uns aos outros, e então eles ficaram connosco. Mais tarde arranjaram um apartamento próprio, certos elementos saíram outros entraram… Então depois começaram a entrar no circuito em Nova Iorque, tiveram grande aceitação, tocaram em salas de culto como o The Knitting Factory, Wetlands, etc. Chega então depois o “Some Of Us” e aí começamos logo a tocar no CBGB’s e outras salas de grande renome lá, e começamos uma tournée pela costa leste com uma outra banda também de Nova Iorque. Começamos a tocar em salas com 100 pessoas, 200 pessoas, às vezes eram 30 para 3 bandas! [risos] Mas de repente começou a haver gente mais interessada, do género, tocavas na Florida e quando voltavas lá já tinhas mais público. Quando percorremos o primeiro circuito, mesmo de autocarro, demorámos 30 dias e logo na outra tournée já fomos com os Misfits. Nesta altura, quando regressámos a certas cidades, havia muita gente que já tinha visto os Fishbone e os Misfits, e já iam lá para nos ver a nós. Digamos que começamos a gerar também um certo culto lá. Hoje em dia vem muita gente perguntar por nós e a lamentar por termos voltado para Portugal… Nós queremos é mostrar a nossa música, e acho que as bandas portuguesas também deviam começar a criar esse circuito de bares e tocar mais, experimentar novos sons e ir lá para fora, porque é muito fácil ser grande cá. Uma banda pode ficar só por aqui, o que também não é nada mau, e se estão contentes, tudo bem! Mas deve haver sempre uma certa insatisfação e, por isso, acho que deviam tentar lá fora.

Vocês sentiram mesmo essa necessidade de ir para fora e aproveitar as vantagens de outro mercado? Estava a ser difícil cá?
Vivemos num país pequeno e há certas alturas em que há concertos, festivais, queimas das fitas, etc…Mas não há um circuito em que uma banda possa sobreviver sem ser muito comercial. O “7 Fingered Friend” fez grande sucesso, felizmente, mas apesar de tudo e de termos criado um certo culto, nunca chegamos a ser uma banda muito comercial ou de dar 50 ou 60 concertos por ano. Era bom, mas é a realidade, e achámos que para sobreviver também temos que ir lá para fora. Porque também há público para nós lá fora e em Espanha eles dizem mesmo: “Nós não temos nada disso cá”! Espanha é muito maior e existem muitas mais bandas, há circuitos, mas só que eles também têm aquelas que se parecem com Limp Bizkit e outras bandas, e eles já não os querem. Por isso, também temos que ir mostrar a nossa música. Acho que também temos que mostrar o que Portugal tem de bom, não é só fado e futebol. Acho que a indústria também devia de apoiar as bandas que querem ir lá para fora, representar o país, como também já houve os Madredeus, Moonspell, etc.

Que há planeado para a promoção a este novo álbum?
Tivemos agora uma tournée de apresentação, fizemos duas semanas de concertos. Agora vamos fazer algumas Semanas Académicas, Queimas-das-Fitas, Super Bock Super Rock, Festival TMN… Depois disso, em Junho, vamos lançar o álbum em Espanha e noutros países como a Inglaterra, mas ainda não sabemos se vamos lançar tudo ao mesmo tempo ou paulatinamente. Agora temos a nossa própria editora mas não temos ainda os meios para podermos estar na estrada e gerir estas situações ao mesmo tempo. Mas vamos para Espanha, voltamos para Portugal e vamos lá para fora outra vez… Queremos aproveitar sempre que pudermos para dar um saltinho lá fora, sem nunca esquecer Portugal, claro.

Vão percorrer Europa e América, ou só América, uma vez que são mais conhecidos por lá?
Desta vez vamos começar pela Europa, da última vez começamos pela América. Ainda por cima queremos ir a Espanha, ainda não estivemos lá e já temos o nosso público, bem como em França, Itália, Holanda, Bélgica… Estamos sempre a receber pedidos, mas também tivemos um tempo em que não queríamos ir lá, a banda não estava suficientemente coesa como achávamos que devia estar e não queríamos desperdiçar essas oportunidades. Porque a primeira imagem é que conta, senão as pessoas…

Para terminar, qual o teu grande desejo como músico, e já agora, como ser humano para o futuro?
Acho que são os mesmos para os dois. Estarmos contentes com o trabalho que fazemos, e acho que todos deveriam estar, não haver gente oprimida, gente que ganhe pouco e não receba o suficiente pelo que trabalha. Há dois diferentes níveis: há gente com muito dinheiro e gente com muito pouco, e era bom que esse desequilíbrio se atenuasse. Gostava também que toda a gente trabalhasse naquilo que gosta, seja qual for a área. No meu caso, isso significa tocar mais, ganhar o suficiente para sustentar esse trabalho, e viver na minha quinta e estar na floresta com os animais… Paz, portanto! Uma das coisas que me deixou feliz por ter deixado Nova Iorque, foi ter-me livrado um pouco da angústia e de tanta coisa negativa que rodeava as pessoas depois dos atentados, e que deixavam qualquer um em baixo. Mas não foi só depois dos atentados. As pessoas vivem o seu dia-a-dia no mau sentido, do tipo, que se lixe o ambiente porque eu estou a viver agora e estou-me a cagar para os outros e para quem vem a seguir. Há que viver o dia-a-dia em união, sem egoísmos… Temos trabalho pela frente!

Nuno Costa

Entrevista Blacksunrise

PÉROLAS NEGRAS

São, sem dúvida, uma das maiores revelações do metal em 2004 no nosso país. Oriundos de Alhandra, arredores de Lisboa, os jovens Blacksunrise aparecem-nos no ano transacto com um álbum de metalcore devastador, brutal e cheio de fúria, em proporções pouco comuns para músicos de tão tenra idade. Para Portugal são hoje uma surpresa, mas "The Azrael" já foi um sucesso em Espanha. Um ano depois apareceu finalmente alguém interessado em "trazê-los" para cá, e para bem de nós todos. O guitarrista João Padinha é o interlocutor desta conversa entre a SounD(/)ZonE e as novas coqueluches do metalcore nacional.



Remontando aos vossos primórdios – à altura em que os Blacksunrise se formaram – conta-nos como é que tudo começou, de quem foi que partiu a ideia da formar a banda, como se conheceram, etc, etc…
Os Blacksunrise começaram num ensaio como uma “brincadeira” entre amigos. Nessa altura, todas as pessoas envolvidas tinham outros projectos e, por isso, não avançámos. Mas o bichinho nunca morreu, por isso, em Setembro de 2002 decidimos avançar com a banda.

A vossa média de idades é muita baixa, vocês são todos muito jovens. Fico curioso de saber o que vos inspirou musicalmente a formar a banda, ou melhor dizendo, o que vos acompanhou nos leitores de CD’s ao longo da vossa adolescência…
Inicialmente as bandas que mais nos inspiraram, eram aquelas que praticavam o metalcore europeu, ou seja bandas como arkangel, reprisal e afins, mais tarde os gostos começaram a ficar um pouco mais extremos e ai foi que se descobriu uns At the gates e toda a escola sueca, que hoje tal como muitas outras coisas têm uma grande influência na nossa musica.

Fala-me, o João Pedro tem mesmo apenas 16 anos?
Agora já têm 17, mas sim, ainda é muito novo.

O vosso estilo apesar de estar muito em voga, apresenta já alguns sinais de cansaço. Apesar de mais respeitado que o nu –metal, o metalcore parece confinado a um fim mais prematuro que o esperado. O que pensas dessa situação? Concordas antes de mais…
Concordo, mas na realidade o metalcore não é nada de novo. Como disse, muito antes de toda esta loucura em torno do metalcore (especialmente do americano) já muitas bandas na europa o faziam. O que na minha opinião aconteceu foi a tentantiva de regeneração do meio do metal através deste estilo, e quando demos por isso, todas as editoras começaram a assinar tudo o que fosse metalcore saturando, infelizmente, o mercado.

A sobrexploração da indústria discográfica perante aquilo que é uma potencial fonte de receita dentro de uma moda pré-estabelecida, leva a que se destrua muita da genuinidade que gerou a criação de um novo estilo. E é isto normalmente que leva ao desaparecimento de muitas bandas e ao esquecimento de um estilo. Como é que vocês abordam as políticas editoriais de hoje em dia? Por exemplo, como é que vocês se sentem se uma editora assinar com vocês pensando apenas em tirar partido económico de uma tendência e nem sequer pensa muito se gosta ou não da vossa música ou planeia a vossa carreira a longo prazo?
Se queres que te diga, nunca pensei mesmo muito sobre isso, mas penso que essas coisas têm de ser todas faladas antes de se assinar alguma coisa, para no futuro ninguêm ter más supresas.Pode parecer que estou a conspirar sobre alguma coisa, mas não! [risos] Estou apenas a abordar uma questão importante que afecta a música hoje em dia.

Por cá, o problema continua a ser de falta de auto-estima, de carácter, sensibilidade, inteligência, etc. Aconteceu com outros e aconteceu convosco também – assinaram primeiro no estrangeiro e só depois foram valorizados pelo povo português. Achas que são esses motivos que mencionei que estão por trás dessa situação? Estarei a ser injusto/cruel? Conta-nos como foi esse período e o que pensas sobre isso.
Foi um período bastante complicado… Pois custa muito investir tempo, dinheiro e tudo mais na gravação de um CD para depois o teres um ano na prateleira. Em relação às razões que apontaste, concordo com todas elas. Parece que, por vezes, precisamos de ouvir as pessoas de lá de fora dizerem que é bom para depois termos “luz verde” para apoiarmos o que cá temos.

“The Azrael” era o disco que queriam ter gravado dentro das condições disponíveis e possíveis? Estão contentes com o seu resultado e com o feedback do público?
O “The Azrael” era o disco que queriamos gravar na altura e assim o fizemos. Penso que dentro dos possíveis ficou um bom trabalho. No nosso ponto de vista só é pena não reflectir bem a realidade que se vive hoje na banda pois, como já disse, o álbum esteve um ano na prateleira e durante esse tempo uma banda evolui.

Já te ouvi queixar que o público português nunca soube muito bem como encarar a sonoridade dos Blacksunrise, nem onde encaixá-la. Agora as coisas estão diferentes?
Nem por isso. Sinto que ainda é um pouco complicado… Se tocamos em concertos de metal, fica tudo meio a olhar para os putos novos que só sabem berrar! [risos] Se tocamos em concertos de hardcore, somos vistos como metaleiros... Mas tirando isso tudo, penso que a reacção têm sido boa e não temos de que nos queixar muito.

Como gostas de ver o som dos Blacksunrise?
Basicamento defino o que fazemos como uma abordagem moderna ao death metal melódico (escola sueca) com uma atitude hardcore(questões liricas).

Como está a decorrer o plano de promoção a “The Azrael”? Têm dado muitos concertos, onde, como têm corrido… Há algum plano especial, talvez uma digressão?
Felizmente tem corrido tudo bem, temos tocado quase todos os fins-de-semana, de norte a sul do país, e cada vez aparecem mais convites. Em relação à digressão, este verão vamos fazer uma pela europa.

Para terminar, e até porque tenho sempre curiosidade a este nível, o que pensas ou sabes do panorama metálico açoriano? Imaginas se existe algum movimento, algum circuito, interessas-te por saber o que se passa também deste lado do Atlântico?
Na realidade sei muito pouco, apenas conheço os Morbid death e nada mais... Mas tenho um amigo que é açoriano e já me disse que há bastantes bandas e público, por isso, espero que para breve possamos ir aí.

Nuno Costa