Tuesday, November 29, 2005

BYZANTINE
“...And They Shall Take Up Serpents”

[CD – Prostethic Records/Recital]

Ora aqui temos uma verdadeira surpresa, pelo menos para mim, vinda de West Virginia, Estados Unidos – os Byzantine. Este trio composto por Chris “Oj” Ojeda nas vozes, guitarras e piano, Tony Rohbrough nas guitarras e baixo e Matt Wolfe na bateria, percussão e dando também um cheirinho na guitarra acústica, lança agora o seu segundo álbum e, pelo menos para aqueles que não tiveram conhecimento do debutante “The Fundamental Components”, este “...And They Shall Take Up Serpents” revela-se realmente uma agradável surpresa. Se olharmos para o catálogo da Prosthetic Records, rápido nos apercebemos da política de contratações da mesma – metalcore e novas tendências da música extrema. Mesmo assim temos que lhes reconhecer o devido mérito por algumas das valiosas peças do seu catálogo como Lamb Of God, HIMSA ou All That Remains, o que só vem demonstrar os bons olheiros de que a editora dispõe. Estes Byzantine são, sem dúvida, outra excelente aquisição, talvez das melhores do catálogo, e quando, pelo que se disse, se possa pensar que eles não passam de uma vulgar banda de metalcore, então aí enganam-se. É verdade que neste álbum há muito metalcore pulverizado, mas mesmo para mim que não sou um confesso apreciador do género, esta banda conseguiu-me cativar. Isto porque a banda de Chris é suficientemente dinâmica, criativa e audaz para conseguir criar álbuns e temas que vão para além das concepções típicas do metalcore. Senão vejamos.

“Justicia” abre com o peso tremendo e os compassos de uns Meshuggah para logo à frente demonstrar o enorme potencial técnico dos seus músicos com solos de guitarra a fazerem lembrar Dimebag Darrel ou Dave Mustaine. O travo a Meshuggah, num exercício neo-thrash tão agradavelmente aqui injectado, continua a surgir nos temas enquanto alusões a Lamb Of God dão personalidade metalcore ao disco. A voz de Chris Ojeda acaba por ser uma das maiores surpresas deste trabalho, ao demonstrar ao terceiro tema - “Jeremiad” – que também sabe cantar e tem uma voz limpa fortíssima, na onda altiva de Howard Jones. Este tema revela-se dos mais interessantes do disco, e apesar de chegar a assustar com um refrão mais melódico, a sua construção, peso inerente e leads de guitarra de extrema beleza – isso já para não falar no subtil piano que aparece na recta final do tema – revela que os Byzantine não constróem temas à toa, tentando fugir sempre à banalidade e incutindo sempre uma imprevisibilidade que nos desperta constantemente os sentidos. Exemplos disso temos ainda a passagem acústica, com travo meio oriental meio tribal [graças à inclusão das congas] em “Ancestry Of The Antichrist”, ou ainda o piano melancólico inicial de “Five Faces Of Madness”, ou mesmo a viola acústica e delicada a iniciar “Red Neck War”. Vozes e coros limpos também marcam presença como por exemplo em “Temporary Temples” ou ainda no final “Salem Ark” onde Chris nos faz recordar Burton C. Bell nos seus refrões melódicos. Com tudo isto já poderão ter percebido do que se trata aqui, ou pelo menos aguçado o vosso apetite para descobrir essa banda. Muito peso, muita dinâmica, solos apreciáveis e melodia q/b num preparado capaz de agradar aos fãs de Lamb Of God e Chimaira, mas também aos de Pantera, Slayer, Clutch e Meshuggah. [9/10] N.C.

Monday, November 28, 2005

JAMES LABRIE
“Elements Of Persuasion”
[CD – InsideOut/Megamúsica]

Como é tradição nos músicos de metal e rock progressivo acumularem às suas funções nas suas bandas de raiz outras em projectos paralelos, também James Labrie não fica distante do comboio. Iniciando a sua carreira a solo em 1999 sob a designação Mullmuzzler, Labrie chega agora ao seu terceiro trabalho desta vez sob designação própria. O vocalista reconhecidíssimo pela sua aliança com os Dream Theater junta-se de novo a uma nova companhia de estrelas para erguer este trabalho muito curioso. Falamos do teclas Matt Guillory [Dali´s Dilemma] que aliás co-produziu este álbum com Labrie, o baixista Brian Beller [Steve Vai], o mago da bateria Mike Mangini [Extreme, Annihilator] e o ilustre desconhecido Marco Sfogli, guitarrista italiano responsável pela grande coesão deste disco. Ora desde já convém adverter para o facto de que este álbum não é nenhuma cópia de Dream Theater, salvo alguns riffs mais pesados e especialmente passagens de solos onde aí Sfogli se demonstra grande seguidor de Petrucci. Mas em todo o resto, e apesar da voz de Labrie, toda a envolvência deste disco se apresenta muito longe da complexidade dos trabalhos dos Dream Theater ou de outras de natureza prog mais intricada. Este disco de Labrie apresenta-se surpreendentemente orientado para o peso com momentos de tremendo groove. Os riffs de Sfogli fazem lembrar por vezes Metallica [como no tema de abertura “Crucify”] ou até mesmo Korn com a simplicidade do riff de “Oblivious”. Mas com isso não se pense que atinge uma superficialidade nu-metal, pois todo o virtuosismo de Sfogli e a presença das teclas realçam todo o pressuposto progressivo destas composições. Superiormente condensadas e equilibradas, com uma produção assombrosa, os temas de “Elements Of Persuasion” apresentam um magnetismo mágico, demonstrando uma rara apetência para se ser pesado, progressivo e ao mesmo tempo orelhudo. Não há definitivamente aqui um tema em que o refrão nos passe despercebido ou não fique retido no ouvido. Deveras um resultado difícil de atingir, ainda mais no meio de riffs tão pesados como os que desfilam neste álbum. Mas ainda assim temos lugar sempre a muita melodia, especialmente nos temas “Alone” e “Smashed”, duas baladas onde se evidenciam bem as teclas de Matt Guillory e a suavidade da voz de Labrie. Voz de Labrie que surpreendentemente se encaixa muito bem no meio do poder da distorção das guitarras. Em suma, um álbum muito requintado, fértil em peso e melodia numa mistura perfeita que faz destes doze temas uma peça valiosa, fortalecida pela importância fulcral de cada uma das suas parcelas, construindo assim um álbum excelente. [9/10] N.C.

Thursday, November 24, 2005

O sucessor do EP "…from the ashes" (edição de Autor - 2004) dos QUETZAL'S FEATHER é o Maxi Single "...Where And How The Past Still Echoes..." e será lançado num concerto de apresentação a 2 de Dezembro no bar Blá Blá em Matosinhos pela Corpos Editora. Este terá 5 novos temas, e a produção esteve novamente a cargo de Rodolfo Cardoso. A banda deposita grandes esperanças neste seu novo trabalho!

Entretanto a banda vai iniciar a rodagem dos novos temas por vários concertos. Ficam aqui as datas confirmadas e prometem-se novidades para muito breve:

- Whisky Bar em Braga (Prado) a 26 de Novembro;
- Blá Blá em Matosinhos a 2 de Dezembro – apresentação do Maxi Single;
- Bar Fashion em Vila Real a 17 de Dezembro.

Wednesday, November 23, 2005

MESHUGGAH
“Catch Thirtythree”
[CD – Nuclear Blast/Mastertrax]

Se alguém por ventura achar as nossas críticas invariavelmente perniciosas para as bandas, ficará aqui então a prova de que, quando necessário, colocamos em louvor todo o potencial e génio de uma banda. Ora para isso creio que não seria tarefa fácil a não ser que estivéssemos a falar de uma banda como os Meshuggah. Uma banda que apesar de muito popular, gera ainda assim alguns comentários menos consensuais, tal como tive oportunidade de testemunhar na internet quando pesquisava sobre este disco, mas que por aquilo que percebi só vem demonstrar a incapacidade e fragilidade de algumas pessoas em suster a complexidade e o extremismo do universo Meshuggah. Se alguma vez me passou pela cabeça testemunhar uma banda tão original e complexa no mundo, então a surpreendente resposta está nos Meshuggah. A nível rítmico a banda foge completamente a todos os conceitos pré-concebidos de compassos musicais, elevando ao cume absoluto aquilo que havia até então visto, quase por exclusivo, em bandas de rock progressivo. Sendo assim, ganharam toda a minha devoção uma vez que criaram a absoluta e derradeira perspectiva sobre questões rítmicas numa malha tão intricada que é quase capaz de nos deixar loucos. A nível de peso a banda não sacrifica nem uma única parcela da sua monstruosa equação, o que torna tudo mais interessante ainda. Quando as mentes destes suecos parecem funcionar como uma autêntica máquina desgovernada, um autêntico asilo de ideias enfermas mas sempre controladas [e aí é que está a beleza], toda esta loucura faz com que se quebre toda e qualquer barreira pré-concebida a nível musical e a nível de ideologia do que é um trabalho discográfico. Isto fez com que começassem a entrar num caminho épico e apocalíptico com o EP “I” e com este “Catch Thirtythree” os Meshuggah procedem ao estender deste conceito e elevam este álbum a uma monstruosa peça de 47 minutos, dividida em 13 temas. Estilisticamente não haverá muito a acrescentar para quem conhece a banda e a sua tendência matemática, aguçada a partir do álbum “Nothing”, mas tudo o que aqui se faz continua a ter a estranheza e o brilho que faz dos Meshuggah uma das bandas mais geniais e originais do planeta. Sem dúvida, para mentes muito resistentes e abertas, “Catch Thirtythree” continua o legado da banda de Thordenthal, Kidman e Cª, num percurso que vai para além do nosso estado físico, mental e intelectual. [10/10] N.C.
AT VANCE
“Chained”

[CD – AFM Records/Recital]

Formados em 1998 pelo guitarrista e mentor Olaf Lenk, os At Vance têm vindo, antes de mais, a surpreender com uma regularidade editorial impressionante. Seis discos em seis anos é obra. “Chained” é o último a sair do génio criativo de Lenk, que se faz acompanhar agora do baixista John ABC Smith e do baterista Marc Cross [ex-Metallium e ex-Helloween], para além de Mats Leven [vocalista ex-Yngwie Malmsteen] que veio substituir Oliver Hartmann desde “Evil In You” [2003]. Como já sabemos, o virtuosismo de Olaf Lenk poderia fazer tudo neste preparado neoclássico muito próximo dos requintes suecos de Yngwie J. Malmsteen. No entanto, como nem tudo é técnica, a nível de composição a inspiração de Lenk parece ter vindo a fraquejar, principalmente desde “Only Human” [2002]. E a prova está mais uma vez aqui patente em “Chained”. Mais um trabalho muito bem executado tecnicamente, com melodias atraentes mas onde no cômputo geral o disco continua a estar aquém do que Lenk pode e sabe fazer. Mesmo assim, temos, obviamente, aqui temas com qualidade – “Rise From Hell”, “Tell Me” ou Run For Your Life” no plano dos temas speedados e “Chained” e “Heaven” como bonitos temas mais calmos. Como não poderia falhar, a veia clássica de Lenk está aqui representada no pequeno interlúdio “Invention #13” e na versão de “Vivaldi Winter”, num exercício que, confesso, soa sempre bem e é indispensável já nos trabalhos de At Vance. Mas tudo isso sabe ainda assim a pouco para aquilo que este virtuoso das seis cordas pode fazer. Talvez com tanto frenesim editorial, Lenk devesse agora dar tempo e espaço ao seu cérebro para fermentar novas ideias e até mesmo dar espaço a novas ideias vindas de outros músicos, pois assim poderá surgir outra fertilidade e frescura que parece ter vindo a perder-se. No entanto, uma escutadela a este disco não será, de longe, uma perca de tempo. [7/10] N.C.
TOTAL DEVASTATION
“Reclusion”

[CD – Firebox/Recital]

Dois anos após a estreia com “Roadmap Of Pain”, os Total Devastation trazem da Finlândia mais um esforço de furioso death metal com influências industriais na forma do novo “Reclusion”. Como o próprio nome da banda indica, o pressuposto aqui é provocar devastação total com os seus momentos death metal a fazerem lembrar Grave, Morbid Angel ou Carcass. Já no plano electro/industrial temos inevitavelmente que enunciar NIN ou Industry. Esta mistura começa logo no início de “Murderer”, com uma brutal descarga rítmica seguida por uma quebra incitada por um breve sample obscuro. Estes apontamentos ao longo do disco vão tornando a audição de “Reclusion” uma experiência agradável, mesmo que não se trate de algo original. Mesmo assim, temas como “They Stand On 3” consegue causar-nos boa surpresa pela forma como mistura uma entrada mais hardcore com a agressividade death e, logo de seguida, quebrando para uma passagem melódica e jazzística. “Reclusion” é o tema com mais groove do disco, gerado por um ritmo muito downtuned e uma marcação simples de bateria mas tão eficaz para um valente mosh. “Ground Zero”, que conta ainda com a participação de G, vocalista dos Rotten Sound, inicia-se com um, diria eu, quase alegre sample para depois alternar entre ritmos death e outros puramente punk/hardcore. “Well Of The Dead” é dos temas mais geniais e marcantes do disco, ou não tivesse uma abertura com viola acústica e uns samples bem sinistros por trás. Ainda assim conta com o peso das guitarras e da voz de Jaako Heinonen, mas inesperadamente volta a surpreender-nos no fim com a inclusão de um piano clássico delicadíssimo, cortesia do convidado Markus Haimelin. O penúltimo “No Surrender” chega-nos ainda a mostrar uma certa veia sueca graças às vibrações melódicas incutidas pelas guitarras a este tema. Com tudo isso, chegamos ao final do disco a reconhecer algum mérito e esforço a estes Total Devastation. Muito peso misturado com alguma ousadia e experimentalismo a valer-lhes bons pontos a seu favor. [7/10] N.C.

Monday, November 21, 2005

STRAPPING YOUNG LAD
“Alien”

[CD – Century Media/Mastertrax]

Se seria escusado que Devin Townsend lançasse um álbum chamado “Alien” para que desconfiássemos da sua natureza extraterritorial e intelectual, então este novo “Alien” vem dissipar todas as nossas dúvidas. Devin Townsend é realmente um ser de outro mundo e estes Strapping Young Lad são produto da sua máquina mental absolutamente insana... Claro que estou a brincar, mas sei que bem percebem o que estou a falar, especialmente para aqueles que conhecem a carreira dos Strapping Young Lad. Com uma voz como a de Devin, que vai desde os berros mais agrestes a arranhados à voz mais limpa de uma qualquer vocalização heavy metal, e um método de composição regido por [quase] um único pressuposto – o caos musical – então temos aqui qualquer coisa de alienígena e insano... E isto para não falar nas teclas ocasionais, nas programações, nos coros e nas melodias, tão fulcrais neste preparado sarcástico de Devin, mas que só fazem sentido porque são preparados por um “cozinheiro” muito especial. Juntamente com “assistentes” como Jed Simon [guitarra], Byron Stroud [baixista Fear Factory] e o transcendente Gene Hoglan [baterista ex-Dark Angel, ex-Death, ex-Testament] o resultado não podia ser mais devastador. Temos “Imperial” a abrir com uma investida muito directa, extrema claro está, a aguçar o apetite para o apocalipse musical que ainda haveria de vir. Com “Skeksis” a violência continua a desfilar, desta vez com riffs próximos de uns Meshuggah. Os coros femininos e os efeitos sonoros a nos fazerem lembrar vozes alienígenas, começam a surgir e a nos deixar completamente de boca aberta perante a completa esquizofrenia musical que reina na mente deste compositor. Logo de seguida a brutalidade atinge proporções bíblicas com “Shitstorm” um dos temas mais pesados do disco e que mostra uma bateria completamente endiabrada! A total loucura e sarcasmo de Devin Townsend vem ao de cima em “Two Weeks”, uma balada em violão acústico que só demonstra que este músico não está minimamente preocupado com as susceptibilidades que possa ferir mas sim com a preservação de uma loucura muito própria e controlada. Ainda assim, a violência dos SYL desce a meio tempo e incute alguma melodia em temas como “Love?”, “Possession” ou “Thalamus”, mas é essencialmente de momentos de extremidade, não só sonora mas também conceptual, que Devin e companhia constrói a sua música. A fechar, para que a “loucura” se enalteça ainda mais, temos “Info Dump” – um ruidoso instrumental de onze minutos construído à base de ondas hertzianas que parecem vir do espaço para nos ensurdecer. Com isto, fecha-se mais um capítulo no estado clínico [leia-se musical] do mestre do metal extremo canadiano. Ele veio de outro planeta tentar passar a sua mensagem... Deixe-se contagiar! [9/10] N.C.
SUPREME MAJESTY
“Elements Of Creation”

[CD – Massacre Records/Mastertrax]

Temos que admitir que no espectro power metal melódico já pouco ou nada surge para nos impressionar ou renovar a esperança de uma possível revolução no género, ou que lhe seja injectado novos elementos, novas perspectivas. O power metal melódico vive da sua agradabilidade harmoniosa, do seu magnetismo, das suas melodias e letras cantaroláveis, do seu peso, rapidez e técnica sempre apurada. Sendo assim temos aqui uma fórmula, que apesar de sempre muito rígida, envolta em algum conservadorismo até, consegue arrancar-nos sempre [ou quase sempre, claro] boas reacções e sensações, isto se se cumprir bem a mistura que se apontou atrás. Deste modo, trabalhos como este “Elements Of Creation” [o terceiro dos Supreme Majesty] pode ser apontado como mais um [bom] elemento dentro do vasto e saturadíssimo espectro do power metal melódico. Quero com isto dizer, que mesmo assim, o potencial destes suecos é mais que suficiente para nos despertar a atenção para este disco. Do power metal típico que encontramos logo à entrada com “Soulseeker”, podemos ainda acrescentar a veia épica e neo-clássica dos Supreme Majesty com “Spellbound” e “King Of Warriors” [o nome já diz tudo, Raphsody ressalta-nos à mente] respectivamente. Para além destas características encontramos ainda umas dinâmicas progressivas, particularmente salientadas no despique entre guitarra e teclas presente no pequeno instrumental “The Quest Part 1”. Felizmente, o factor baladas não tem aqui tanto peso como, já enjoativamente, nos acostumou a maioria dos trabalhos de power metal melódico hoje em dia. Isto significa que este trabalho acaba por sair ileso à passagem da power ballad “One More Promise” a meio do disco. Logo regressa a rapidez típica dos bombos e dos riffs de guitarra e assim o trabalho acaba por não soar enfadonho, agradecendo-se o cirúrgico equilíbrio entre peso, rapidez e melodia. Para terminar, não poderia fechar esta review sem falar do [alto] potencial técnico dos músicos aqui intervenientes! Falamos do recém- chegado guitarrista Tobias Wernersson, um autêntico portento de talento, capaz de “rasgar” com solos à lá Malmsteen. O vocalista Joakim Olsson é outra das estrelas desta companhia, demonstrando categoria internacional e potencial para ir muito mais além no futuro, não obstante as suas grandes semelhanças vocais com Joakim Larsson dos Europe. Em suma, um trabalho de grande qualidade dentro do power metal, muito agradável mesmo para aqueles que acham que já não vale a pena ouvir trabalhos de power metal. [8/10] N.C.
SUCH A SURGE
“Alpha”

[CD – Nuclear Blast/Mastertrax]

Apesar de andarem nessas lides há já dez anos, esta é a primeira vez que entro em contacto com estes germânicos. De longe um nome que anda ainda à procura do seu lugar ao sol no meio metaleiro europeu, os Such A Surge são já uma banda muito badalada, especialmente no seu país, e para que se compreenda isso basta referirmos que os seus dois últimos trabalhos foram lançados, nada mais nada menos, que pela Epic e pela Sony Music. Ou seja, temos já aqui um caso de banda que já não está no plano underground mas sim num “mainstream”. Mesmo assim este estatuto ainda não lhes valeu o suficiente para que estejamos aqui em Portugal a delirar com o som dos Such A Surge. De qualquer maneira, acredito que este seja sempre mais um caso de sucesso caseiro do que propriamente à escala global, até porque, por mais que não queiramos aceitar este facto ou nos tentemos demonstrar de espirito o mais possível aberto, ouvir música cantada em alemão é sempre uma experiência algo desconfortável. Logo por aí compreende-se a dimensão restrita da popularidade dos Such A Surge. Porque acredito até que se cantassem em inglês poderiam chegar muito mais longe. Porque de facto o que fazem está bem feito. Sendo assim, os Such A Surge mostram musicalmente uma abordagem que vai desde o puro rock’n’roll – cru e sujo – ao stoner de uns Queens Of The Stone Age, até ao mais melódico nu-metal, passando pelo hardcore e pelo metal. Contudo, com a ameaça inicial e saborosa de um álbum pleno de atitude rock’n’roll – indiciadas por “Ueberfall”, “O.K.” [com um solo hard rock delicioso] e “Was Jetzt”, logo logo começamos a entrar nas baladas e nos temas mais radio friendly, alternando ocasionalmente com temas mais agressivos. No plano dos temas suaves temos “Alles Was Mir Fehlt” que – convínhamos – até nos cativa, com a curiosidade dos violinos subtilmente inseridos no fim do tema. Temos ainda uma guitarra country a complementar os raps de Oliver Schneider e Michel Begeame em mais um tema de potencial orelhudo. Logo de seguida podemos conferir como soariam os Such A Surge se cantassem em inglês com o tema “Instant Replay” e logo de seguida mais um tema calmo – “NachtAktiv”. “Mission Erfuelt” é um tema calmo na tradição das bandas de nu-metal, e não fosse os temas iniciais e o curto mas potente “Blender” e teríamos aqui um disco muito trendy com perspectivas muito comerciais. De qualquer maneira os Such A Surge são indiscutivelmente bons compositores e conseguem em alguns momentos demonstrar boas ideias. De qualquer maneira estas soam pouco ousadas e tudo isto resulta numa pálida amostra daquilo que uma banda já tão experiente como os Such A Surge pode e deve fazer. [6/10] N.C.
SHADOW CUT
“Pictures Of Death”
[CD – Firebox/Recital]

Prolifera em termos de metal, a Finlândia traz-nos mais um acto de black/death metal proveniente de vultos bem conhecidos do meio metaleiro finlandês. Falamos de Repe F.W. Misanthrope [baterista ex-Impaled Nazarene] e M. Harvilahti [baixista dos Moonsorrow] que para aqui foram recrutados por Omnio [vocalista, guitarrista e mentor da banda] para a formação dos Shadow Cut e para a concretização deste “Pictures Of Death”. De imagens de morte e violência se faz a maior parte do black/death metal que por aí circula, e este “Pictures Of Death” não foge claramente à regra. No entanto, não se pense que o facto de termos aqui membros dos Moonsorrow e dos Impaled Nazarene nos garanta à partida uma aproximação ao género de som que estes praticam/praticavam nas suas bandas de origem, pois este disco vive essencialmente de ritmos balançados, velocidade q.b. e alguma melodia. Como exemplos de verdadeiro groove temos “Pictures Of Death” [um dos melhores temas do disco] e o inicial “Drug/Murder/Them”. A nível de rapidez e cariz black metal mais vincado temos “My Sweet Cult”. Quanto a melodia, ainda que muito esporádica, verifica-se a meio de “Throatcuts Nine” e “The End Of Humanity”, em exercícios não muito complexos mas de cativante conjectura, melodias que contribuem preciosamente para alguma dinâmica do disco que aqui se salva por raras ocasiões. Apesar de agradável em alguns momentos, é esta a razão porque este trabalho tende facilmente a cair no aborrecimento e no desinteresse – falta de dinâmica e irreverência que pudesse tornar estas malhas em algo mais desafiante para as nossas mentes. Tudo muito previsível, onde falta a garra e o alento que dê mais brilho a estas composições. Um disco que não se pode classificar como medíocre mas que também está longe de ser considerado um disco de relevo dentro do género. [6/10] N.C.

Friday, November 11, 2005

Monday, November 07, 2005

CROWBAR
“Lifesblood For The Downtrodden”
[CD – Candlelight/PHD/Recital]

Quem nunca ouviu falar nos Crowbar? Este é um dos colectivos mais marcantes do movimento underground norte-americano, fundado em 1989 [já lá vão 15 longos anos] onde o carismático vocalista e guitarrista Kirk Windenstein originou aquilo a que se convencionou chamar sludgecore ou doom core. O som dos Crowbar é pioneiro e impulsionou um movimento próprio em New Orleans. Os Crowbar surgem na crista deste movimento com o debutante “Crowbar” e anos depois, e com sete álbuns editados, chegam a 2005 com este excelente “Lifesblood For The Downtrodden”. Este álbum é um exemplo de poder artístico para as bandas que em tão poucos anos de carreira se esgotam facilmente de ideias, e ainda mais um exemplo de garra pois os Crowbar contaram ao longo dos anos com uma série de mudanças de formação e problemas editoriais que poderiam ter deitado por terra a persistência e o alento de Kirk Windstein. Mas este mentor, após quatro anos de hiato, concebe este magnífico álbum e grava-o com o baterista Craig Nunemacher [Black Label Society] e o baixista Rex Brown [ex-Pantera, Down]. Um regresso que não incute nenhuma revolução sonora no som dos Crowbar mas onde o poder de composição e da própria identidade única da banda nos empolga os sentidos. Os riffs continuam muito balançados e arrastados e a voz de Kirk empresta uma profundidade emocional a estes temas capaz de nos arrepiar – especialmente em temas como “Slave No More”, “Coming More”, “Fall Back To Zero” ou “Dead Sun”. O final acústico “Life’s Blood” é um dos momentos mais altos do disco com o piano e a guitarra acústica a construírem uma lindíssima peça melódica carregada de melancolia para se ouvir nos momentos de maior introspecção e solidão. Um álbum de elogiar, de uma banda de vangloriar pela “saúde” musical com que ainda constrói álbuns hoje em dia. Um exemplo de talento e perseverança a seguir. [9/10] N.C.
DESPISED ICON
“The Healing Process”

[CD – Century Media/Mastertrax]

Os canadianos Despised Icon representam aquilo que é o extremar da tendência metalcore. Muitas vezes caracterizado por ritmos potentes mas também refrões demasiado orelhudos – talvez para não perder a possibilidade de vender mais uns discos – a maioria das bandas metalcore não demonstram a ambição de atingir novos patamares dentro do seu espectro e o que encontramos são inúmeras bandas a repetirem-se umas às outras. No entanto, há outras como os Despised Icon que apostam em quebrar barreiras e o que encontrámos neste “The Healing Process” é uma devastadora descarga de death/grind com os ritmos mais balançados do metalcore. Mas que fique explícito que este é um disco muito mais death do que metalcore. A velocidade vertiginosa dos ritmos de bateria e a brutalidade técnica das guitarras tornam este disco uma experiência verdadeiramente extrema. Também os grunhidos de Alexander Erian e as mudanças esquizofrénicas de ritmos ajudam a acrescer de agressividade este trabalho. Algumas passagens mais balançadas são muito bem injectadas como uma forma inteligente de dar a este material alguma versatilidade. No entanto, esta versatilidade nunca é almejada através de melodias, pois isto é coisa que aqui quase não existe, tirando uma pequena quebra de som limpo – ainda assim muito sinistro – em “Immaculate” para logo depois dispararem em fúria com ritmos rapidíssimos. Sendo assim, podemos incluir este “The Healing Process” na mesma categoria de trabalhos como os dos The Red Chord, Psyopus ou ainda com alguns mais antigos dos Dying Fetus. Resumindo, a enorme capacidade técnica e coesão destes músicos fazem deles os autores de um dos discos mais devastadores do ano. [9/10] N.C.