Tuesday, May 17, 2005

Live Zone [report]

ROQUEFEST 2005
Azorian Heavy Metal Festival
09-10 / 05 / 05 - Poço Velho, S. Roque [S. Miguel]

Dia 1
Aguardado com imensa expectativa [talvez como há muito não se assistia por estas paragens], a primeira edição do Festival Roquefest, realizado na freguesia micaelense de S. Roque, teve o condão de trazer ao rubro o underground metaleiro desta ilha. Juntando muitos dos nomes que perfazem o staff actual deste movimento, o cartaz foi repartido por dois dias num total de seis bandas de S. Miguel e duas exteriores ao arquipélago – os veteranos Requiem Laus [Madeira] e os Sick Souls [Cascais] – como cabeças-de-cartaz. Com um primeiro dia algo prejudicado pelo mau tempo, a afluência de público ficou ainda assim aquém das expectativas, talvez pelo facto deste evento se realizar no início da semana, algo a que o público açoriano não estará ainda habituado, e ainda pelo facto de a maior parte do público afecto a estas sonoridades [essencialmente jovens] se encontrarem num período congestionado a nível de actividades escolares.

Apontando agora “luzes” para o palco e para as actuações propriamente ditas, foi aos Psy Enemy a quem coube as honras de abertura do festival. Uma banda que começa a denotar uma certa evolução a nível musical e que é fruto de um processo de crescimento natural e sustentado. Embora acabassem por parecer algo deslocados a nível de cartaz, numa noite em que o restante cardápio era bem mais obscuro, ainda assim foi das bandas que mais atenção dispensou do público. Talvez pela sua irreverência e comentários em palco, alguns até bem excedidos para o horário nobre [como a alusão à “p*** da velha que lhes tirou a sala de ensaios”], os Psy Enemy “incendiaram” de certa forma a plateia e foram capazes de atenuar um pouco a apatia que se fazia sentir entre os presentes. Explanando uma sonoridade para muitos dada como morta, o nu-metal destes jovens micaelenses carece ainda de alguma originalidade, mas pelo que demonstram a nível de garra e empenhamento, acredita-se que o tempo se encarregará de os transformar num colectivo mais sólido e personalizado. Nota saliente para o enorme talento do jovem baixista Fábio Cerqueira, de apenas 17 anos, para o qual conseguimos vislumbrar um futuro extremamente promissor.

De seguida e de volta aos palcos, ao fim de um período de cerca de três anos, os In Peccatvm [uma das bandas mais antigas dos Açores ainda no activo] entram em cena para demonstrar se calhar aquilo que não era bem o que estávamos à espera. Para um regresso tão aguardado pedia-se se calhar uma atitude mais dinâmica e virada para o futuro enquanto que na minha opinião a banda continua a tentar viver do passado. Embora se compreenda a aposta nos velhos clássicos, já se sente se calhar o cheiro a mofo e a necessidade de mudar para algo mais moderno e inovador. Para desajudar ao quadro, os pequenos imprevistos de palco, vulgo “pregos”, mancharam um pouco a sua actuação num sinal óbvio de que a banda necessita de começar de novo a pisar os palcos com maior frequência. De seguida, e a jogar em casa, os Zymosis foram a banda que mais desfrutou da empatia do público nesta noite. A banda de black metal de S. Roque tem se revelado numa das mais dinâmicas no seu âmbito aqui na região, também muito graças ao bom trabalho que o seu manager Paulo Jorge tem desenvolvido no comando do grupo, e que tem servido para voltar a por o black metal na lista de interesses dos apreciadores de música mais extrema em S. Miguel. Não obstante as imensas arestas que ainda faltam limar, nomeadamente a nível de originalidade, os Zymosis sabem muito bem compensar tudo isto com uma apreciável prestação em palco, carregada de obscuridade e profanatismo, que nos leva a tê-los como uma banda um pouco acima da média no que diz respeito a solidez no nosso arquipélago. Sente-se que aqui sabe-se o que se quer.

Para finalizar, e perante as horas [demasiado] tardias que marcavam o relógio, o staff da SounD(/)ZonE não pude assistir por completo ao concerto dos Requiem Laus, mas fica a breve nota de que se “cheirou” outra rodagem nos doomers Madeirenses, outra experiência. Para além de que o próprio som melhorou bastante e se pude ouvir qualquer coisa de cristalino, definido e potente naquela noite. Sem conhecer bem a carreira deste colectivo, apesar dos seus já cerca de 16 anos de existência, a SounD(/)ZonE compromete-se no entanto a partir de hoje a ir rebuscar o seu historial e trazer-vos em breve notícias sobre a banda. Até porque quando o produto é bom o esforço vale sempre a pena.

Nuno Costa
Fotos: André Frias [www.contratempo.com]