Friday, December 23, 2005

Entrevista Hiffen

IMPACTO VULCÂNICO

Vencedores do Concurso Angra Rock 2003, os micaelenses Hiffen têm vindo a progredir no sentido musical e a nível de gestão da sua carreira. Se a vitória no Angra Rock já lhes tinha dado uma projecção e prestígio consideráveis, agora com o lançamento do seu disco de estreia – “Crashing” –, os Hiffen ameaçam conseguir um lugar importante no nosso panorama metaleiro nacional. “Crashing” é um disco de estreia bastante coeso, recheado de boas canções e com uma abordagem estilística que vai do power metal, ao progressivo, com algumas nuances góticas e uma agradabilidade pop em alguns momentos. Como mentor deste projecto, o guitarrista Renato Medeiros falou-nos da importância da vitória no Angra Rock, do lançamento deste disco, e das próximas metas a atingir com os Hiffen.


Renato, o vosso álbum está finalmente cá fora! Levou algum tempo até chegar este momento histórico...O facto de vocês terem auto-financiado o álbum é um dos motivos para se ter verificado este atraso?
Não. Este não foi o motivo pelo qual se deu um “atraso” no lançamento do álbum, mas sim outros, principalmente os motivos profissionais de cada um.

Mas porque se encarregaram de financiar todo o álbum sozinhos? Não surgiu nenhum apoio das entidades culturais ou nem se derem ao trabalho de pedir porque preferiram perfazer este percurso com a maior independência possível?
Nós não financiamos o álbum sozinhos, pois tivemos os apoios da Direcção Regional da Juventude, o primeiro prémio do concurso AngraRock 2003, e também através dos nossos concertos. Apenas a edição foi totalmente suportada por nós.

Por falar em AngraRock, sentes que foi a partir daí que ganharam ainda mais confiança para levar este projecto mais à frente? Fala-nos deste momento e já agora do que sentiste naquela altura...
Sim. Foi desde aquele dia que os Hiffen se sentiram ainda mais capazes de “demolir” as “barreiras” e os “limites” da música. Aquele foi e é um momento único e indescritível da minha memória, pois sei que me irei lembrar daquele dia para sempre. Naquela altura senti-me como se estivesse no centro do Universo e que um dos meus sonhos se havia tornado realidade.

Em que outros aspectos sentes que o Angra Rock é importante? O facto de terem convivido com os Paradise Lost trouxe-vos algum beneficio, conseguiram tirar partido disso?
Sem dúvida alguma que o Angra Rock é um concurso/festival bastante importante para lançar uma banda no meio musical açoriano e não só. Em relação ao convívio com Paradise Lost isto é outra coisa. Fez-nos ver que os “grandes” são como nós, sem nos estarem a menosprezar ou a qualquer outra banda, pois falam connosco como se já nos conhecessem há muito. Tiramos o proveito de ter ficado registados em várias páginas de jornais portugueses, e não só, e também em diferentes sites da net ao lado do nome “Paradise Lost” e “Killing Miranda”, que também merece alguma atenção!

E já agora, o que achas do público terceirense?...Estabelece uma comparação com o nosso.
Bem... pergunta difícil... (risos). O público terceirense é bem mais intenso que o micaelense e apoiou-nos como nunca dantes vi! Tivemos mais público que os próprios Paradise Lost e até sabiam algumas canções. O público micaelense também é intenso mas há um pequeno senão: apenas o são com as bandas não micaelenses.


Remontando agora ao vosso início, os Hiffen antes eram uma banda de rock português, certo? Como mudaram tanto ao longo do tempo? Fala-nos um pouco da vossa formação...
Certo. Os Hiffen tocavam um rock típico português do qual eu até nem desgostava, mas é claro que as mudanças são sempre feitas mais tarde ou mais cedo. Primeiro, em 2001, com as saídas do Hugo e do Marco e depois com a minha entrada, a da Catarina, a da Andrea e, finalmente, a do Rui. Com a saída do Hugo, os Hiffen tiveram que abdicar de todos os seus temas pois estes pertenciam a ele. Nada que não tivesse solução pois eu estava em alta e escrevi 7 temas que nos fizeram pelo menos percorrer alguns palcos mesmo em 2001.

Tu é que assinas toda o material do grupo... Porquê? Os restantes elementos da banda não participam no processo de composição?
Bem, eu “assino” todo o material do grupo porque eles assim o desejaram, desde a minha entrada lá, e tudo porque eu era quem mais tempo tinha para escrever e compor, mas todos os arranjos são feitos por todo o grupo, pois há muitas ideias que até eu, por vezes, não consigo ter sozinho!

Falando agora do vosso disco de estreia... Como foi trabalhar com o Luís H. Bettencourt e com o Paulo Melo? Segundo te ouvi dizer houve muito companheirismo e a aprendizagem acabou por ser mútua...
Trabalhar com eles foi algo de extraordinário, ou seja, para os que já os conheciam houve uma maior dinâmica e inteiramento de ideias mas, mesmo para aqueles que não os conheciam, este mesmo inteiramento acabou por se dar por igual. Todos nós ali aprendemos a crescer musicalmente e não só, pois nesta vida estamos sempre a aprender uns com os outros!

Já agora, o aspecto sonoro final do disco satisfaz-te plenamente ou não?
Sendo este o nosso primeiro álbum, no geral, o som final satisfaz-me plenamente pois ainda não ouvi nenhum outro álbum “made in azores” com a qualidade sonora que este propõe. Mesmo além fronteiras, as críticas têm sido excelentes e superaram as minhas expectativas!

Então “Crashing” tem sido bem recebido...
Sim, as críticas têm sido excelentes. Há muita procura do álbum em todo o país, e não só, e espero que assim continue.

Um infeliz ocorrido foi o facto de vocês terem tido pouco público a presenciar o lançamento do vosso CD... A que achas que se deveu isso?
Recebemos uma proposta para que uma outra banda pudesse lançar o seu álbum naquele mesmo dia. Concordei, mas deixei o alerta para que eles iniciassem antes das 22h e terminassem antes das 23h. Assim não aconteceu e a outra banda iniciou para lá da hora que eu propus, 23h25, e terminaram para lá das 00h15. Ficamos nós fulos e o público impaciente também! Não houve sequer um agradecimento nem um pedido de desculpas por parte deles o que não lhes teria ficado nada mal!

Já agora, e aliás como tens bem conhecimento disso, o público de cá é imenso crítico contigo pela forma como tocas e te expressas com a guitarra em palco... O que tens a dizer a essas pessoas? Como reages a essa situação?
Bem, desde novo que sou tímido, ou seja, a música levou-me a poder estar perante as pessoas e tive que perder este medo. Não o perdi ainda por total e já devem ter notado que em palco sou uma pessoa totalmente diferente daquela que sou fora dele. Tento apenas fazer o meu papel como artista e a forma como toco e me expresso é sem intenções secundárias, mas sim por prazer, e não quero que estas pessoas pensem que estou ali para ser exibicionista, mas sim porque estou a fazer aquilo que gosto e do modo como gosto!

Achas que isso tem prejudicado a vossa aceitação cá?
Sinceramente não sei!? Talvez se promoveres no teu site uma votação, isto possa ser esclarecido! Mas se for o caso eu passo a tocar sentado! (risos)

“Crashing” simboliza o quê? Este vosso álbum aborda que temas?
“Crashing” é impacto! É tudo o que queríamos causar com este nosso primeiro álbum e acho que a missão está a ser cumprida! Este álbum conta-nos de tudo um pouco, desde os primeiros passos deste nosso mundo até ao que poderá vir a acontecer. É uma antevisão global dos problemas e como estes devem ser ultrapassados!

A vossa situação contratual com as distribuidoras está em que pé? Já têm “Crashing” a circular pela Europa e pelo nosso país?
Em relação a distribuição, esta ainda está a nosso cargo mas já existem alguns contactos de boas editoras e apenas falta a proposta de contrato. Mesmo assim, “Crashing” já se encontra disponível em alguns países da Europa, e não só, através da net e por catálogos!

E para o futuro, que passos a atingir com os Hiffen?
Para o futuro estamos a preparar uma tournée para apresentação do álbum nos Açores e em Portugal e também, quem sabe, fora destes. Para além disso, já estou a preparar novos temas com vista a uma nova entrada em estúdio, talvez para 2007, mas de certeza que antes disto haverá um ou outro single para manter sempre a “chama” acesa!

E para finalizar, uma análise ao nosso metal açoriano.
Estou a par disto! Espero que com tantos talentos que temos, a nossa região possa começar a circular na “boca do mundo” musical. De ano para ano novas bandas são formadas e com bons valores, mas são necessário ter sempre coragem e inovação e isto eu tenho a certeza que todos serão capazes com esforço e dedicação!

PLAYLIST RENATO MEDEIROS

Hiffen – “Crashing”
Death – “Symbolic”
Control Denied – “The Fragile Art Of Existence”
In Flames – todos!
Labÿrinth – todos!

Nuno Costa