Thursday, September 21, 2006

Review

SACRED TEARS
"Whispers Of Loneliness"
[DCD - Edição de autor]

A década de 90 ficou marcada nos Açores pelo despontar de inúmeros valores gerados por um espectro mais dark que reinava na altura no âmbito do heavy metal. Falamos de todo um conjunto de bandas que hoje em dia ainda servem de estandarte aos sons pesados oriundos dos Açores, como os Morbid Death, Obscenus, Gnosticism, Prophecy Of Death ou In Peccatvm e que, curiosamente, nunca foram suplantados a nível de estatuto e respeito pelas bandas vindouras. Como verdadeiro ciclo comercial e gerador/reciclador de modas que é a indústria discográfica, também as tendências “nu” chegaram aos Açores e instalaram-se no fechar do século, persistindo até hoje. Mesmo assim, e ao longo deste período, existiram sempre músicos obstinados e movidos por uma grande vontade de contrabalançar estas tendências usando o seu carácter mais tradicionalista.

Os Sacred Tears surgem nesta conjectura, em 2002, e na altura já demonstravam grande vontade, apesar de uma jovialidade clarividente, em agir e fazer pelo panorama metaleiro [uma das provas foram as duas edições do “Sacred Fest” que organizaram independentemente]. No entanto, faltava ainda muita experiência à banda e muita estabilidade interior. Foram inúmeras as mexidas no seu seio, mas hoje quase que se podia apostar que tinham encontrado a equipa ideal não fosse as gravações de “Whispers Of Loneliness”, a sua demo de estreia, terem sido assoladas por inúmeros abandonos e conflitos que puseram em risco a sua própria edição e ainda fazem do futuro da banda uma verdadeira incógnita.

Contudo, e após ouvida “Whispers Of Loneliness”, podemos dizer que os açorianos podem se sentir afortunados por esta ter, de facto, chegado aos escaparates, porque no espectro death/goth metal este é certamente um dos melhores lançamentos de sempre nesta região. Quatro temas perfazem “Whispers Of Loneliness”, logo abrilhantada na sua entrada com a curta, mas excelente, intro ambiental com o mesmo título da demo, da autoria de Bruno Santos [teclas]. Com “New Blood”, apesar de alguns apontamentos cliché, reforça-se a preponderância das teclas. As guitarras revelam-se também coesas e inteligentes na forma como doseiam peso e melodia, embora o som obtido na gravação não seja, de facto, o melhor. A secção rítmica apresenta-se pouco ousada mas coesa, cumprindo bem o seu papel. O mesmo já não se pode dizer de António Neves [vocalista In Peccatvm], chamado às pressas para substituir Nélio Tavares [ex-Prophecy Of Death]. Talvez por esse motivo não tenha tido tempo de trabalhar devidamente a sua prestação vocal, fazendo-a aqui cair facilmente na monotonia. Por outro lado, a voz da também recrutada à pressa Joana Cabral, presta um delicioso contributo a “The Return Of Winter” que nos deixa a questionar sobre o motivo de sua tão subtil presença neste trabalho.

Resumidamente, e como já foi aqui dito, este é um trabalho ao nível do melhor que já se fez nos Açores e que aguça em muito as expectativas em relação a um futuro trabalho da banda. Mas para que se aí chegue é preciso que a banda resolva, urgentemente, todas as suas questões internas e existenciais. [7/10] N.C.

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