Thursday, October 11, 2007

Review

SONATA ARCTICA
“Unia”
[CD – Nuclear Blast/Compact]

Saber parar, avaliar e tomar a opção certa quando necessário, mesmo quando esta ameaça a ruptura com uma tendência, é com certeza um acto lúcido de quem é audaz e empreendedor. Desde 1999 a fazer um power metal melódico rápido e muito redondinho, sem vermos sinais de ambição numa perspectiva de progresso, começava a ser preocupante. Ainda assim, o presságio de que algo podia estar prestes a ebulir veio com o anterior “Reckoning Night”, de 2004, pois já aí os Sonata Arctica começaram a demonstrar uma ligeira tendência para abrandar o ritmo. Com “Unia” temos a confirmação de que estes finlandeses não andam afinal obstinadamente de “palas nos olhos”.

Neste novo disco, respira-se ar fresco no universo destes senhores do power metal europeu e abre-se espaço para podermos também constatar a capacidade da banda em explorar outras faces musicais. Claro que quem gosta de power metal não prescinde da rapidez alta e constante do duplo bombo ou dos riffs sempre cavalgados e solos ultra-técnicos de guitarra, mas há que manter a mente aberta sob pena de ficarmos parados no tempo a “chafurdar” sempre na mesma fórmula. Haverá uma coisa a preservar em qualquer boa música, independentemente do género: a dinâmica. Não sou obviamente reprovador daquilo que os Sonata Arctica fizeram até hoje, muito menos do power metal, mas certas incursões por este género fazem-se, muitas das vezes, de forma demasiado “séria” – entenda-se, tradicionalista – e acaba-se por perder a oportunidade de inovar.

Relativamente a “Unia”, podemos entendê-lo, decididamente, como uma injecção rejuvenescedora nos princípios de composição dos Sonata Arctica. Vemos aqui o aprofundar de alguns elementos mais pesados e balançados que surgiam, aqui e ali, em “Reckoning Night”. De facto, e apesar de isso chocar certamente os indefectíveis do género e da obra da banda, a velocidade foi aqui remetida quase por completo para segundo plano, à excepção de “The Harvest”, em detrimento de riffs mais concisos, encorpados e alguns até balançados, e a composições mais complexas, progressivas e com ambientes mais dark e até góticos. As melodias e os arranjos vocais continuam soberbos, os pianos são mais contidos mas mais penetrantes – oiçam a entrada de “Caleb” – e, no geral, o ritmo a meio-tempo que predomina no álbum acaba por beneficiar a eficácia dos temas, sem necessariamente significar que o som dos Sonata Árctica tenha ficado mais comercial, pois, afinal de contas, se há algo que sempre marcou o seu som foram as suas melodias muito radio friendly.

Contudo, se por um lado temos um andamento mais fácil de digerir, temos também exercícios capazes de nos obrigar a várias audições para que a sua essência seja assimilada. Talvez o melhor destes casos seja “My Dream’s But A Drop Of Fuel For A Nightmare” com uma dinâmica de arranjos, passagens e ambiências absolutamente absorvente. Aliás, neste tema vem também ao de cima a costela sinfónica do colectivo e um sentimento clássico e teatral, com seus coros à Broadway destacados. Tecnicamente o grupo continua irrepreensível, com um Toni Kakko sempre esplendoroso na voz, ainda que no que toca a solos de guitarra Jani Liimatainen tenha mantido as coisas mais discretas, excepção feita aos excelentes solos de “In Black And White” e “Caleb”.

“Unia” consegue então reunir elementos novos na paisagem estilística do grupo, abonando em favor da salvaguarda da longevidade da sua carreira numa inteligente acção de gestão. Se ouvirmos este trabalhando à distância adequada daquilo que eram os Sonata Arctica há uns anos atrás, seremos capazes de perceber que a sua qualidade continua plena de efervescência. [8/10] N.C.

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