Wednesday, March 01, 2006

Especial - SWR Barroselas Metalfest Attack IX

CATALISADOR DO UNDERGROUND

Na recôndita e pequena vila de Barroselas nasceu, em 1998, aquele que é hoje o mais importante festival de metal underground do nosso país. Fundado por membros dos Goldenpyre em colaboração com amigos dentro da área e membros da fanzine Metalurgia, desde então o SWR tem tomado um papel fundamental na dinamização e desenvolvimento do nosso meio musical. Este ano atinge a sua nona edição e propõe-nos, mais vez, um interessantíssimo cartaz, não reservando desculpas a quem ficar em casa nos dias 28, 29 e 30 de Abril. Orgulhosamente, a SounD(/)ZonE apoia o festival e daí a conversa introdutória que mantivemos com Ricardo Veiga, organizador e baterista dos Goldenpyre.

O Steel Warriors Rebellion é uma ideia de quem e qual o pretexto da sua fundação?
A ideia surgiu de um grupo de amigos que na altura já organizava, esporadicamente, concertos em Barroselas. Entretanto, alguns eram também elementos dos Goldenpyre, outros eram amigos que ajudavam nos concertos ou numa fanzine que tínhamos – a Metalurgia – e também numa newsletter. Isso tudo juntou-se, pois tínhamos vários contactos, e surgiu num determinado ano a ideia de promover algumas bandas com as quais tínhamos contacto e fazer um festival um pouco maior. A ideia era fazer um concerto que fosse diferente dos que já tínhamos organizado anteriormente e que pudesse prosseguir, dando-lhe algum nome, para próximas edições. Quisemos dar “voz” a bandas que nos contactavam para tocar e outras que eram apostas nossas, tanto portuguesas como estrangeiras, e outras menos conhecidas que tinham aqui uma oportunidade de se juntar a bandas mais conhecidas para se promoverem.

Então, parte da vossa versatilidade no meio do management de eventos, pode-se dizer que vem do facto de vocês terem tido uma fanzine... Certamente, ajudou...
A nível underground sim... E hoje em dia, já conseguimos abrir um bocado as “portas” com a ida à Sic Radical e a promoção na Antena 3, entre outras rádios nacionais. Mas no geral, onde nos “mexemos” bem é no underground, porque foi onde crescemos e desenvolvemos os nossos contactos.

No início imagino que tenham tido algumas dificuldades em erguer este projecto. Como foi trazê-lo cá para fora e tentar convencer as pessoas e patrocinadores a aderirem ao evento?
Bem, eu digo-te que se fossemos começar hoje a coisa teria sido, certamente, muito mais fácil. Mas a questão é mesmo essa, são precisos anos para enraizar o festival, para conseguir fundar uma associação, que hoje em dia temos, para organizar este e outro tipo de eventos associados à música, ou mesmo cinema, entre outras. Daí que esta associação nos tenha aberto “portas” para lidar com Câmaras Municipais, IPJ’s, etc, e arranjar alguns apoios. Claro que temos um trabalho que não acaba no festival, pois organizamos várias actividades anuais e isso confere-nos algum impacto junto das Câmaras e IPJ’s, e só aí podemos também “exigir” que nos apoiem. Isto demorou seis anos a construir... Claro que no início era tudo mais difícil porque éramos praticamente desconhecidos e tínhamos que trabalhar com as nossas limitações.

Vocês despendem quanto tempo, aproximadamente, para preparar o festival?
É difícil de contabilizar... Nós temos vários trabalhos na associação e, às vezes, o tempo confunde-se com o tempo que despendemos para a organização de outros tipos de eventos como, por exemplo, a Animação de Verão que realizamos em conjunto com a Junta de Freguesia. Ou seja, muitas coisas estão interligadas. De qualquer forma, o trabalho é praticamente anual, dividido metade entre a associação e o festival.

Voltando um bocadinho atrás e fazendo uma pequena retrospectiva, que diferenças encontras entre o SWR de 1998 e o deste ano?
Eu acho que melhorámos em todos os aspectos, demos quase uma volta de 360 graus... Estamos a fazer o que sempre fizemos, a verdade é essa, só que hoje em dia, para além de termos um cartaz melhor comparativamente ao primeiro ano, o festival tem três dias, ao contrário do primeiro que só tinha um. Temos também 30 bandas enquanto o primeiro só tinha 5 e, em termos de condições, não se compara. A Casa do Povo de Barroselas, onde se efectuou o primeiro SWR tinha capacidade para 300 pessoas, hoje em dia o recinto que usamos tem capacidade para mais de 1000 pessoas, com campismo associado, etc. É muito difícil comparar. No início, não esperávamos ter o desenvolvimento que tivemos, mas aos poucos fomos garantindo esse tipo de condições.

As Warm Up Sessions acontecem desde que ano?
As Warm Up Sessions surgiram, sensivelmente, na terceira ou quarta edição do SWR. Foi quando materializamos a ideia como forma de começar a vender bilhetes, para fazer promoção, distribuir flyers, e foi também onde encontrámos pessoas amigas que pudessem levar esses flyers para mais longe, para além de participações em alguns programas de rádio. Hoje em dia, as Warm Up Sessions funcionam de uma forma diferente porque, para além de terem um impacto mais forte, damo-lhes muito mais valor. Julgo que também da parte das pessoas passou a haver muito mais interesse por elas porque promovem somente o underground e é um evento já com bastante prestigio hoje em dia. Também é agora possível às bandas que participam tocar no festival, ou seja, é mais um ânimo para trazer gente e para movimentar a cena.

Portanto, as Warm Up Sessions têm uma componente de concurso e outra de concerto, propriamente dito...
A ideia principal das Warm Up é promover o festival. É onde fazemos as pré-reservas, distribuímos o cartaz e divulgamos o festival junto das pessoas que realmente interessam. Depois, a coisa funciona como uma “bola de neve”. Nós aproveitamos isso para fazer a melhor promoção ao festival mas dando também a hipótese de algumas bandas passarem para o festival. Nós não lhe gostamos de chamar concurso, porque isso é um termo que implica alguma rivalidade, e o que nós queremos é mesmo promover o evento. É claro que isso implica que as bandas estejam atentas porque a organização também está presente e está a verificar bandas que interessam ao festival. Mas as Warm Up Sessions são mais uma forma de promoção, embora muita gente as veja como um concurso, por isso eu gosto de por algumas ressalvas neste assunto.

Uma vez que as Warm Up Sessions são realizadas em vários pontos do país, até em Espanha, como é que vocês conseguem manobrar a sua organização?

Tudo surgiu através dos contactos que conseguimos com a Metalurgia e, a partir daí, as Warm Up ficaram cada vez mais conhecidas e há mais bandas a tocar. Existe aí um intercâmbio de datas, locais de concertos, bandas e, no fim, é preciso por isto tudo em cima da “mesa” e ver com que podemos jogar. É claro que haviam mais hipóteses de levar as Warm Up a mais sítios, mas também precisamos de ter algum controlo e gostamos de estar sempre presentes para coordenar e promover o festival de forma correcta.

Já pensaram fazer uma Warm Up Session nos Açores, por exemplo?...
Não digo que seja impossível mas é difícil. Nós estamos a fazer Warm Ups em Espanha mas, por exemplo, só vamos até à Galiza que fica a 80 quilómetros de Barroselas. Os Açores e a Madeira estão um bocado “fora de mão”. Mas nós sempre gostámos de apoiar as bandas insulares. Aliás, desde o segundo festival que vêm bandas insulares tocar cá. Agora, a partir do momento em que começámos a fazer as Warm Ups, as bandas dos Açores e da Madeira começaram a achar muito interessante essa perspectiva, só que nenhuma delas ainda se mostrou interessada em vir tocar, nem que seja só nas Warm Ups, porque a ideia principal é participar. Até hoje ainda nunca existiu essa possibilidade, porque quando lhes dizemos isso elas querem é vir tocar ao festival e não querem saber das Warm Ups para nada. Portanto, neste momento ainda não nos é possível realizar uma Warm Up nestas zonas do país. Mas nos próximos anos vamos começar a trabalhar nesse sentido, só que é preciso contar também com o apoio das bandas para podermos controlar uma Warm Up à distância.

Ou talvez um promotor...
Bastava um banda que nos possibilitasse fazer essa “ponte” entre nós e alguém daí. Ou então algum responsável por um bar, uma associação juvenil, uma Câmara... Aliás porque esse intercâmbio das Warm Up, alguns partem de promotores, mas muitas outras partem de bandas amigas, como, por exemplo, a que realizámos na Fnac do Algarve que foi apoiada pelo Bruno de In The Umbra que trabalha lá.

Pedia-te agora que fizesses uma apresentação do cartaz deste ano.
Este ano julgo que temos o cartaz mais forte de sempre e temos bandas para agradar a todos os gostos ou, pelo menos, à maioria. Há ainda alguns géneros que não conseguimos abranger e outros que entendemos que não são os mais convenientes ao festival, pois já tivemos algumas más experiências. Este ano temos um cartaz que abrange desde o black ao grind, ao folk, ao death metal, etc. Como cabeças-de-cartaz temos os Bolt Thrower, que são um nome mítico do death metal mundial, juntamente com os Gorefest, que foram confirmados recentemente e que saem agora de um hiato de seis anos. Isto no domingo onde vão estar presentes também Ingrowing (Rep. Checa), Adorior (Ing), Isacaarum (Rep. Checa), Hell-born (Pol), Supreme Lord (Pol)... Depois, a nível nacional, temos Lux Ferre e Requiem Laus. No sábado, temos como cabeça-de-cartaz os Carpathian Forest (Nor), Keep Of Kalessin (Nor), Yattering (Pol) e depois temos bandas portuguesas como Flagellum Dei e Theriomorphic. Na sexta, vamos ter como cabeça-de-cartaz os Gut (Ale), um dos percursores do Grindcore e, numa toada uma pouco diferente mas de um editora que apoiamos há bastante tempo – a Ledo Takas –, os Obtes (Lit) e os Loit (Est). Depois, dentro de outras editoras que gostamos bastante – como a Ibex Records – temos os Estuary (E.U.A.) e Bloody Sign (Fra). Ainda faltam confirmar dois nomes fortes, um deles de uma banda que vem com a tour dos Carpathian Forest e Keep Of Kalessin e ainda um nome forte da tour de Bolt Thrower e Gorefest. Para além disso, ainda teremos seis bandas das Warm Up Sessions que nos próximos dias vamos seleccionar.

E perspectivando o futuro do SWR, que melhorias gostariam de operar no festival?
As melhorias passam pelas condições que nós conseguimos dar ao público e às bandas. Hoje em dia já nos sentimos bastante satisfeitos, conseguimos realizar quase todas as ideias que tínhamos, mas sentimos ainda que nos falta oferecer melhores condições de campismo e também ter um “quartel general” montado muito perto do festival onde pudéssemos alojar e alimentar as bandas. Nós fazemos isso tudo mas tem tudo um carácter amador, digamos assim. Somos assumidamente amadores mas tentamos ser o mais profissionais possível mas, muitas vezes, por impossibilidades, tanto da vila de Barroselas que é muito pequena e tem poucas condições, bem como por limitações nossas, não conseguimos oferecer o que pretendíamos. Hoje em dia já temos melhores condições em Barroselas mas ainda faltam infra-estruturas, talvez um pavilhão, onde pudéssemos ter lá as nossas condições bem arrumadinhas. Depois, realizar o festival e colocá-lo no mapa dos eventos mundiais importantes também faz parte das nossas metas. Sabemos que as nossas intenções com o festival são mais limitativas do que algumas pessoas possam pensar e é preciso que conste que não queremos embarcar em Wacken’s ou Dynamo’s. Queremos manter um festival controlado, a nível amador mas com “cheirinho” a profissional e, cada vez mais, melhorá-lo a nível de bandas e de condições para o público.

Quer-me parecer que os Goldenpyre não constam do cartaz do SWR deste ano...

É verdade, porque não temos lançamento recente para promover e achamos que devemos esperar pela altura certa. Estamos a gravar o álbum neste momento e devemos tê-lo pronto em meados do ano, por isso, achamos mais conveniente tocar para o ano.

Nuno Costa

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