"Compilação de Metal Açoriano"
[Demo CD - Edição de Autor]
O site Metalicidio.com representa a autêntica enciclopédia de Metal açoriano. O definitivo suporte que faltava para assegurar e imortalizar todo o histórico metálico de um arquipélago que, apesar de pequeno, já várias vezes nos surpreendeu. Desde os longínquos Stormwind ou Necropsia, aos mais recentes Trauma Prone ou Reborn, [quase] nenhuma banda escapa à lupa dos “detectives” João Arruda e Rui Melo, mentores do projecto formado em 2004, e que tiveram as “luzes” [qual serviço público] para criar um site que permitisse a todos não esquecer o passado musical açoriano e ter em consciência o seu actual movimento. E quando falava em “serviço público”, acho que não há mesmo outra palavra que o defina melhor. Depois da organização de um Concurso de Guitarristas – que se revelou um sucesso em São Miguel -, a promoção de entrevistas na RDP – Antena 1 Açores, entre muitas outras manobras muito úteis às bandas locais, agora é a vez de uma compilação com 15 bandas do vasto panorama de peso açoriano. Em formato semi-profissional, o registo apresenta uma eclética variedade de estilos. Desde o power/progressive ao nu-metal, passando pelo punk, goth e black metal.
No primeiro plano temos em destaque os Massive Sound Of Disorder, banda onde pontua o virtuoso guitarrista Rodrigo Raposo [curiosamente, vencedor na categoria técnica do Concurso Guitarrista Metalicídio] que demonstra ser um dos colectivos mais promissores e coesos da região, pecando apenas por uma voz demasiado pálida. No entanto, consta que já trabalham com um novo vocalista. Os Hiffen e os Crossfaith têm sido outros dos colectivos mais activos do panorama açoriano. Os Hiffen porque lançaram o seu primeiro disco em finais do ano passado e os Crossfaith pela sua persistente presença nos palcos regionais. Os Hiffen, apesar de serem alvo de opiniões muito díspares são, no entanto, uma banda sólida e conseguem temas poderosos como este “Blind Thoughts”. Os Crossfaith apresentam-nos um dos seus temas mais emblemáticos, mas ainda numa fase em que Francisco Botelho era o vocalista principal - decididamente, o elo mais fraco do grupo. Neste momento, já trocou de posições com Kadi [Spitshine] e acreditamos que com isso a banda irá ganhar muito. Longe dos virtuosismos de um verdadeiro prog rock, no entanto, a objectividade e simplicidade do seu refrão – ou até mesmo a força da “repetição” – pode fazer de "Bleed For Me" um dos temas mais orelhudos do disco.
Num plano mais contemporâneo temos os míticos [por essas bandas] Tolerance 0 e os Psy Enemy. A banda de Honório Aguiar marcou profundamente toda a história do metal nos Açores, culminando com a gravação do seu primeiro álbum, nos Floyd Studios, em 2004, do qual foi extraído este “Everyday Meal”. Embora a qualidade [estranhamente descuidada de Nuno Loureiro] não ajude nada a transmitir a verdadeira pujança da banda micaelense, os Tolerance 0 são uma força “vulcânica” destas ilhas e que o diga quem já os viu ao vivo. Neste registo fica a boa composição, mas esta está longe de ser a gravação ideal para quem quer conhecer verdadeiramente a banda. Os jovens Psy Enemy têm vindo a amadurecer com o tempo e temos aqui mais um caso em que o registo não reflecte o verdadeiro potencial da banda. Ainda muito jovens e a tocar há pouco tempo, os Psy Enemy na altura de “Religion And Fiction” ainda denotavam muitas deficiências de composição e, particularmente, muitas falhas no campo vocal. No entanto, esta é uma fase já ultrapassada, assegura quem já os viu com a actual formação.
Na senda da tradição Punk da ilha Terceira, temos os Manifesto e os Resposta Simples [estes últimos bem mais core] em temas que não demonstram grande brilhantismo, muito menos técnico, em que ficamos por uma ou outra passagem mais cantarolável [“Estrela Vermelha” dos Manifesto é muito popular na sua ilha].
Os veteranos Morbid Death e In Peccatvm proporcionam, indiscutivelmente, os melhores momentos do disco. “Last Breath”, apesar de não corresponder ao período discográfico mais consensual dos Morbid Death, é um momento de extrema classe, com um thrash/goth metal bem ao jeito de uns Paradise Lost. “Watery Portrait” é extraído da já antiga, mas bem sucedida demo, “Antília”, dos In Peccatvm. O exemplo perfeito para quem quer conhecer o que melhor se faz cá a nível de sonoridades góticas.
Do passado dos Enuma Elish já nada se preserva, passando do doom metal para um dark rock muito interessante e que é capaz de entusiasmar e envolver muitas mentes. No campo das surpresas, os Nableena são certamente a maior deste disco, pelo menos para quem está mais próximo do movimento metaleiro açoriano. Demonstram realmente algo diferente e a fugir às tendências que parecem facilmente se instaurar no meio insular e fazem questão de vincar a sua ousadia com um death/doom metal ao jeito de uns My Dying Bride, com orquestrações e um delicioso lado experimental.
Os extintos Stormwind, uma das bandas mais antigas dos Açores, e os Nürband são declaradamente autores dos momentos mais pobres e desinteressantes do disco. A pobreza das gravações não ajuda, mas a evidente falta de inspiração ou alma no seu retro rock destaca-se ainda mais.
Os Zymosis têm surpreendido imenso pela sua “irrequieta” movimentação no movimento metaleiro açoriano. Lançaram já três demos e um DVD e são um dos últimos e maiores defensores do Black Metal nos Açores. No entanto, essa dinâmica a nível de edições não lhes serviu ainda para ganhar a coesão que já se esperava deles. Apesar de ter crescido, a banda carece ainda de originalidade, mas isso já quase nem se exige num espectro em que quase tudo já foi inventado. A banda diverte-se a fazer aquilo que mais gosta e conseguimos sentir essa honestidade. No entanto, e apesar deste tema ser ao vivo, urge uma enorme remodelação na voz de Hélder Medeiros... Experienciamos registos muito “estranhos”, realmente, em “Revenge”.
Para fechar o disco, temos mais uma jovem banda de São Miguel. Os Death To Rise ainda deixam transparecer demasiado a sua inexperiência e falta de orientação na forma de compor. O death metal de inspiração sueca, sempre acompanhado de uma subtil melodia, não contém nenhum momento particularmente marcante, mas ainda, nesta fase, é difícil prever o que quer que seja sobre o seu futuro.
Em suma, este é, acima de tudo, um precioso item para que quer conhecer parte da vasta herança musical de peso dos Açores. Sim, uma parte, porque face ao vasto leque de hipóteses que podiam incluir esta compilação, e que ficaram de fora, o staff do site Metalicídio pensa futuramente editar um segundo volume. Parabéns ao site e ao honroso serviço que tem prestado ao metal açoriano. [/] N.C.
No primeiro plano temos em destaque os Massive Sound Of Disorder, banda onde pontua o virtuoso guitarrista Rodrigo Raposo [curiosamente, vencedor na categoria técnica do Concurso Guitarrista Metalicídio] que demonstra ser um dos colectivos mais promissores e coesos da região, pecando apenas por uma voz demasiado pálida. No entanto, consta que já trabalham com um novo vocalista. Os Hiffen e os Crossfaith têm sido outros dos colectivos mais activos do panorama açoriano. Os Hiffen porque lançaram o seu primeiro disco em finais do ano passado e os Crossfaith pela sua persistente presença nos palcos regionais. Os Hiffen, apesar de serem alvo de opiniões muito díspares são, no entanto, uma banda sólida e conseguem temas poderosos como este “Blind Thoughts”. Os Crossfaith apresentam-nos um dos seus temas mais emblemáticos, mas ainda numa fase em que Francisco Botelho era o vocalista principal - decididamente, o elo mais fraco do grupo. Neste momento, já trocou de posições com Kadi [Spitshine] e acreditamos que com isso a banda irá ganhar muito. Longe dos virtuosismos de um verdadeiro prog rock, no entanto, a objectividade e simplicidade do seu refrão – ou até mesmo a força da “repetição” – pode fazer de "Bleed For Me" um dos temas mais orelhudos do disco.
Num plano mais contemporâneo temos os míticos [por essas bandas] Tolerance 0 e os Psy Enemy. A banda de Honório Aguiar marcou profundamente toda a história do metal nos Açores, culminando com a gravação do seu primeiro álbum, nos Floyd Studios, em 2004, do qual foi extraído este “Everyday Meal”. Embora a qualidade [estranhamente descuidada de Nuno Loureiro] não ajude nada a transmitir a verdadeira pujança da banda micaelense, os Tolerance 0 são uma força “vulcânica” destas ilhas e que o diga quem já os viu ao vivo. Neste registo fica a boa composição, mas esta está longe de ser a gravação ideal para quem quer conhecer verdadeiramente a banda. Os jovens Psy Enemy têm vindo a amadurecer com o tempo e temos aqui mais um caso em que o registo não reflecte o verdadeiro potencial da banda. Ainda muito jovens e a tocar há pouco tempo, os Psy Enemy na altura de “Religion And Fiction” ainda denotavam muitas deficiências de composição e, particularmente, muitas falhas no campo vocal. No entanto, esta é uma fase já ultrapassada, assegura quem já os viu com a actual formação.
Na senda da tradição Punk da ilha Terceira, temos os Manifesto e os Resposta Simples [estes últimos bem mais core] em temas que não demonstram grande brilhantismo, muito menos técnico, em que ficamos por uma ou outra passagem mais cantarolável [“Estrela Vermelha” dos Manifesto é muito popular na sua ilha].
Os veteranos Morbid Death e In Peccatvm proporcionam, indiscutivelmente, os melhores momentos do disco. “Last Breath”, apesar de não corresponder ao período discográfico mais consensual dos Morbid Death, é um momento de extrema classe, com um thrash/goth metal bem ao jeito de uns Paradise Lost. “Watery Portrait” é extraído da já antiga, mas bem sucedida demo, “Antília”, dos In Peccatvm. O exemplo perfeito para quem quer conhecer o que melhor se faz cá a nível de sonoridades góticas.
Do passado dos Enuma Elish já nada se preserva, passando do doom metal para um dark rock muito interessante e que é capaz de entusiasmar e envolver muitas mentes. No campo das surpresas, os Nableena são certamente a maior deste disco, pelo menos para quem está mais próximo do movimento metaleiro açoriano. Demonstram realmente algo diferente e a fugir às tendências que parecem facilmente se instaurar no meio insular e fazem questão de vincar a sua ousadia com um death/doom metal ao jeito de uns My Dying Bride, com orquestrações e um delicioso lado experimental.
Os extintos Stormwind, uma das bandas mais antigas dos Açores, e os Nürband são declaradamente autores dos momentos mais pobres e desinteressantes do disco. A pobreza das gravações não ajuda, mas a evidente falta de inspiração ou alma no seu retro rock destaca-se ainda mais.
Os Zymosis têm surpreendido imenso pela sua “irrequieta” movimentação no movimento metaleiro açoriano. Lançaram já três demos e um DVD e são um dos últimos e maiores defensores do Black Metal nos Açores. No entanto, essa dinâmica a nível de edições não lhes serviu ainda para ganhar a coesão que já se esperava deles. Apesar de ter crescido, a banda carece ainda de originalidade, mas isso já quase nem se exige num espectro em que quase tudo já foi inventado. A banda diverte-se a fazer aquilo que mais gosta e conseguimos sentir essa honestidade. No entanto, e apesar deste tema ser ao vivo, urge uma enorme remodelação na voz de Hélder Medeiros... Experienciamos registos muito “estranhos”, realmente, em “Revenge”.
Para fechar o disco, temos mais uma jovem banda de São Miguel. Os Death To Rise ainda deixam transparecer demasiado a sua inexperiência e falta de orientação na forma de compor. O death metal de inspiração sueca, sempre acompanhado de uma subtil melodia, não contém nenhum momento particularmente marcante, mas ainda, nesta fase, é difícil prever o que quer que seja sobre o seu futuro.
Em suma, este é, acima de tudo, um precioso item para que quer conhecer parte da vasta herança musical de peso dos Açores. Sim, uma parte, porque face ao vasto leque de hipóteses que podiam incluir esta compilação, e que ficaram de fora, o staff do site Metalicídio pensa futuramente editar um segundo volume. Parabéns ao site e ao honroso serviço que tem prestado ao metal açoriano. [/] N.C.
4 comments:
As bandas de Punk da Terceira levaram bem nos cornos... lol
Gostaria de aproveitar esta oportunidade para agradecer o Alexandre Gaudêncio pela sua colaboração na gravação dos violinos no tema "Howling Blizzard" dos Nableena.
Eheh...
Bem pessoal, vocês já sabem: cada review está sempre aliada a uma grande subjectividade. Esta é a minha opinião, apenas...
Cumprimentos
Nuno Costa
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