GRÂNDOLA, VILA METAL
Já na década de 70 Zeca Afonso hasteou o nome desta vila alentejana num tema que apregoava a fraternidade do seu povo e que serviu de senha para assinalar o derrube do regime fascista em Portugal. Hoje em dia este sentimento e união continuam a sentir-se, desta feita nos meandros da comunidade metaleira que o ano passado juntou esforços para organizar um grande festival de metal – o Metal GDL. Idealizado por oito pessoas que, no entanto, se consideram “aprendizes empíricas” na matéria, promete colocar novamente este ano a conhecida vila alentejana na rota dos grandes festivais de metal veraneantes de Portugal. Com Moonspell como maior atracção e bandas de renome do underground nacional como Holocausto Canibal, Pitch Black, Goldenpyre, Bleeding Dislpay, Process Of Guilt ou W.A.K.O., a par de uma localização nuclear que oferece ao público um rápido acesso a belíssimas zonas balneares, nos arredores de Grândola, os dias 13 e 14 de Julho reservam para já todo o interesse dos amantes do metal em comungar de mais uma intensa celebração do Som Eterno. Para dar a conhecer melhor o evento, a SounD(/)ZonE conversou com Carlos “Bixo” Santos, um dos cabecilhas do projecto.
Já começa a ser habitual encontrarmos organizações de festivais compostas maioritariamente por elementos de bandas. No caso do Metal GDL encontramos mais um exemplo, certo?
Este caso não é bem assim, pois a maioria do pessoal da organização nem tem bandas nem toca qualquer instrumento. Tratam-se, principalmente, de apreciadores de metal e outros que gostam de organizar coisas. Só eu e o Bruno [Pica] tocamos em bandas. É obvio que nos dias do festival todo o pessoal de Seven Stitches ajuda, mas para que fique esclarecido este festival não é organizado pelos Seven Stitches. Deixo aqui os nomes e alcunhas [pois aqui nesta terra ninguém se trata nem se conhece pelos nomes] do núcleo duro da organização: Carlos [Bixo], Inês, Tiago [Barata], Nuno [Xico] Bruno [Pica], Luís [Bolacha], Nuno [Papanas], João [Janeca]. Para além destas oito pessoas temos à volta de 40 pessoas a colaborar nos dias do festival, entre segurança, bilheteiras, bares, pré-pagamento, técnicos, etc.
Como é que se aprende a organizar e a montar uma estrutura como a do Metal GDL? Têm alguma formação na área ou é puro conhecimento empírico?
Ninguém da organização tem qualquer tipo de formação em realização de eventos, excepto a Inês que é licenciada em Relações Públicas, Marketing e Publicidade, que é o mais próximo das necessidades de uma organização. De resto, eu e o Pica temos as bandas e cursos de técnicos de som e o Barata, Xico, Papanas, Bolacha e Janeca participam esporadicamente em organizações de eventos dos mais variados estilos. O que fazemos é dividir o festival em diferentes sectores e dentro de cada sector há um coordenador que tem a responsabilidade de organizar tudo a que esse sector diz respeito como, por exemplo, bares, bilheteiras, segurança, palcos, etc. É obvio que é preciso o que eu chamo de "muito olhinho" para a coisa, pois como não há formação temos que ir através do conhecimento empírico a que te referes e esse ganha-se estando atento, observando eventos do género e, acima de tudo, pondo-nos na pele de banda, público, staff, jornalistas, etc. Assim temos a melhor noção das suas necessidades e, como perfeccionistas que somos, queremos sempre o melhor para todos! Utilizamos o ditado: "não faças aos outros o que não gostas que façam a ti".
Vocês fazem parte de alguma associação cultural?
Estamos em fase de formação de uma associação de jovens de Grândola que terá o nome de “age.GDL”. Esta já se encontra em fase bem avançada de criação mas as burocracias a que estamos sujeitos estão a atrasar um pouco.
Organizar um festival dá, de facto, muito trabalho... Quais são/foram os maiores desafios que enfrentam/enfrentaram?
Primeiro que tudo foi passar para papel a ideia que me andava na cabeça há uns anos e fazer um projecto credível para apresentar na autarquia de forma a conseguirmos fazê-los acreditar numa coisa que para eles, à partida, não tinha grande validade; cederem as infra-estruturas e darem mais algum apoio. Esse último foi o passo que mais demorou, mas também o fundamental para estarmos aqui a falar da segunda edição do Metal GDL! O maior desafio actual é mesmo o festival em si, arranjar euros para realizá-lo. Nós funcionamos muito no regime "hard rules" e queremos tudo a 110%! Sentimos a necessidade de pensar em todos os pormenores para podermos dar todas as condições às bandas e público. Fazemos um jornal que tem a mais variada informação para o público: entrevistas às bandas, guia de onde dormir e comer em Grândola, as praias mais próximas, etc. Queremos dar também condições à imprensa e, acima de tudo, montar um recinto confortável para que todos os que vêm ao festival se sintam em "casa".
Contudo, tenho em crer que a organização do festival este ano terá sido relativamente mais fácil do que a do ano passado, por se tratar da segunda, precisamente... Confirmas?
Nem por isso, e a razão é simples: este ano temos dois dias de festival e uma vez cobrando entradas teremos trabalho a dobrar. Estarão muitas mais pessoas envolvidas, mais bandas, mais sistemas de som para alugar, para não falar de termos de vedar o recinto e tendo em conta a sua dimensão [capacidade para 8 mil pessoas] não é propriamente a coisa mais simples de efectuar, mas também não é a mais complicada... Complicado seria se tivéssemos alguma incapacidade física ou alguma coisa do género, mas como todos gozamos de saúde em pleno, venha trabalho para cima! [risos] Sem trabalho nem as coisas têm o mesmo gosto. As Sagres nesta fase de montagem do recinto têm um papel determinante... [risos]
Que pontos foram melhorados este ano no que condiz à logística e estrutura do evento?
Este ano utilizamos o recinto por completo, temos um palco fixo [que é o segundo maior palco fixo de Portugal], uma zona de campismo e a meu ver está tudo mais bem estruturado. Os concertos já não são tão seguidos, damos 15 minutos de intervalo entre concertos, coisa que o ano passado não acontecia. O pessoal nem tinha tempo de beber uma cerveja, nem de a largar! [risos]
Para além disso, a localização do festival parece-me muito favorecida pelas zonas balneares circundantes. Tens noção se essas têm contribuído como importante chamariz para o público?
Sim, eu penso que sim. A nossa localização é excelente, as praias são aqui ao lado e são brutais! Estamos a 100 km de Lisboa e a 120 km do Algarve e tendo em conta a altura do ano em que se realiza o festival nada melhor que tirar uns dias de férias e fazer uma praia durante o dia e à noite ouvir bom metal! A mim soa-me muito bem... E quem sabe se um dia não vamos ter o festival Metal GDL junto a uma das nossas praias? Para este ano ainda estou a tentar conseguir um autocarro para levar o pessoal no dia 14, pelas 10 horas, para a praia e trazer às 18 horas. Não está fácil!, mas, no entanto, se houverem novidades metemos no site www.myspace.com/metalgdl.
Vocês têm muitas preocupações quando pensam na concorrência? Com a quantidade de eventos que existem no país, não deve ser nada fácil explanar um cartaz...
Observamos o que se passa a nível nacional no que diz respeito a eventos do género e temos em conta o que existe para tentar não repetirmos quer bandas quer a estrutura do festival. Queremos dar uma identidade própria ao Metal GDL e penso que aos poucos vamos conseguindo. No que diz respeito à escolha do cartaz é sempre um pouco complicado, pois queremos abranger quase todas as vertentes de metal, sabendo que este ano continuamos a pecar pela ausência de uma banda de black metal, mas foi-se compondo o cartaz e não se deu por isso. Mas isto tem uma explicação, pois dentro da organização é a vertente do metal menos ouvida e passou-nos um pouco ao lado. Mas quem organiza não deve pensar só nos seus gostos e este é um daqueles erros de que não nos perdoamos e para o ano vamos ter black metal no festival, tal como todas as outras vertentes. Mas como deves de calcular é sempre complicado fazer um cartaz, ainda mais quando existe um grande número de bandas a quererem cá tocar. Ouves tantas bandas que chega a um ponto que nem sabes a quantas andas. Mas penso que conseguimos um cartaz bom e com diversidade.
Entretanto, podemos já dizer que este é o festival alentejano de metal por excelência?
Eu penso que sim, mas prefiro que sejam pessoas de fora a dizerem-no. Para mim este já é o melhor festival do "mundo" quanto mais do Alentejo! [risos] Estou a brincar. Apenas trabalhamos para ter o nosso espaço.
No que diz respeito ao cartaz, agradecia-te que nos fizesses uma breve apresentação das bandas que vão participar no festival. Destaques...
Vou começar pelos Moonspell, pois são eles os cabeças–de-cartaz. A sua escolha prende-se ao facto de serem uma referência para todas as bandas portuguesas e como não queríamos ainda ter nesta segunda edição bandas estrangeiras, a escolha só poderia ser mesmo esta. Não por serem as bandas mais baratas do mercado, mas temos que valorizar o que é nosso, e daí a escolha. Quanto aos Pitch Black, vão lançar o seu segundo álbum e é daquelas bandas que fazem sempre falta a um festival. São autores do melhor thrash que se faz, não só por Portugal mas também pelo mundo fora. Os W.A.K.O. são uma banda a ter em conta pois este primeiro álbum vai dar muito que falar e têm um som brutalíssimo. Estas são as bandas do palco “Metal GDL”, no dia 14 de Julho. Quanto ao palco “Viva o Metal” vamos ter, no dia 13 de Julho, os grandes Holocausto Canibal que vão fazer o seu primeiro concerto no Alentejo em dez anos de carreira! É com todo o gosto que os vamos "apadrinhar" aqui por terras alentejanas – é grind no seu estado mais bruto. Teremos também os Process of Guilt, banda revelação 2006/07 em Portugal, na minha opinião e na de muitos, pois lançaram um álbum excelente e conseguiram concertos muito importantes para a sua carreira. Sendo assim, claro que tinham que por cá passar - são os nossos representantes de doom. Os Goldenpyre são uma banda que já dispensa apresentações. Dez anos de carreira a debitar um death metal excelente e com um festival às costas, o Barroselas, merecem todo o respeito e admiração. Estão ainda presentes no cartaz os Spoiled Fiction, a banda mais nova de todo o festival por quem eu, pelo menos, peço muito que vejam pois prometem ser uma agradável surpresa. No dia 13 de Julho, no palco “Viva o Metal” teremos os Bleeding Display a fechar a noite, com o seu puro death metal, banda bastante experiente em palco e com muitos concertos de abertura para grandes nomes mundiais; os Assemblent, banda com um metal mais ambiental e de uma atmosfera um pouco industrial; os Omen From Hell, banda muito nova, ainda com poucos concertos mas que pelo que já constatei, pode ser uma grande surpresa; os Cryptor Morbious Family, aqui como representantes da nossa terra, banda com um cenário arrojado que dá sempre muito em palco - de certeza um bom espectáculo; os Monogono, oriundos de Setúbal, são banda mais experimental do festival, praticam um jazz misturado com metal – existe muita originalidade por aqueles lados; e a abrir o nosso festival estarão os Behatred, banda também jovem, mas com uma sonoridade bastante coesa e com um vocalista com um excelente registo. Enfim, todos os ingredientes para um grande festival!
Muita gente não sabe mas os açorianos também vão marcar presença no cartaz deste ano do Metal GDL. Refiro-me aos Spoiled Fiction, um grupo de pessoas que conheces muito bem... [risos]
Pois é, coisas do destino! Assim é, temos dois açorianos a tocar no Metal GDL – o arquipélago da Madeira tenha calma porque para o ano também vão cá estar representados! [risos] Deixando-me de brincadeiras, está a ser uma experiência muito boa, as coisas estão a soar, o pessoal está a dar-se bem. O André [guitarrista] já o conhecia, pois ele é o técnico de som dos Seven Stitches. O Tiago não, mas chego à conclusão que pessoal dos Açores e o pessoal aqui do Alentejo tem muitas semelhanças, tirando a Super Bock! [risos] É um projecto para valer, vamos para a frente! Agarrem-se se puderem!
Do pouco que ainda se conhece deles já se pode afirmar que existe alguma expectativa da parte do público em vê-los... Como estão a encarar esta estreia?
Bem, visto que vamos ter pelo menos um ou dois concertos antes do Metal GDL, já não se tratando da estreia, mas teremos nesse a primeira grande oportunidade de tocar num grande festival. É o nosso primeiro grande teste, com um grande PA e grande palco. Estamos tranquilos! Estamos em gravações da promo que vai sair precisamente no festival e vamos ensaiando com alguma frequência para que fique tudo bem oleado. Estamos todos com aquele sentimento de "nunca mais é o dia "!
De resto, pelo que se conclui do cartaz, o Metal GDL, parecendo ser um festival muito moderno, é um festival muito virado para as sonoridades extremas e desperto para a realidade underground. É esta verdadeiramente a sua linha de pensamento?
Sim, mas ao mesmo tempo não... Ao trazermos uma banda como Moonspell é com o intuito de chamar muita gente ao festival, pois já não se trata de uma banda que ande propriamente pelo underground. No entanto, as restantes bandas ainda continuam em busca do seu "lugar ao sol", sendo que também existem bandas que não querem sair do dito underground. Penso que se houvesse a possibilidade de todas poderem apenas viver para a banda e da banda poucas diriam que não... E a linha de pensamento é mesmo essa - pôr muita gente a ouvir estas bandas para que consigam vender os seus CDs, merchandising, etc. Muitos dos organizadores de festivais, infelizmente, só conseguem puxar público se trouxerem nomes sem serem do underground... É aí que nós nos situamos. Para os próximos anos inclusive, queremos trazer duas ou três bandas com carreiras sólidas e com uma base de fãs bem grande para o festival, pois assim é garantido que haverá público para as "nossas" bandas se mostrarem. O principal e grande objectivo é mesmo ajudar a projectar as "nossas" bandas e, claro, também ter o prazer de ouvir grandes nomes do metal aqui em Grândola, coisa que nunca pensei ser possível, mas afinal até não é um "bicho de sete cabeças"! Há quem se mexa!
Tiveram muitas solicitações de bandas para participarem na edição deste ano? Chegaram-vos muitas maquetas?
Sim à volta de 60 bandas interessadas e não só portuguesas, mas também espanholas, que nos contactaram não só pelo envio de maquetas mas também por mail.
Poderá ser este um sinal de que o festival já está bem projectado no nosso panorama? Que comentários ficaram do ano passado, por exemplo?
Eu penso que o festival já vai tendo um espaço que está a conquistar aos poucos e isso deve-se ao facto de no ano passado termos recebido os melhores elogios vindos de várias direcções, quer do público, que de bandas e de empresas com quem trabalhámos. É motivante e dá vontade de fazer cada vez mais e melhor.
Num plano geral, o balanço da edição do ano passado coincidiu com as vossas expectativas?
Coincidiu até certo ponto, pois os Dagoba, 24 horas antes do festival começar, cancelaram o seu concerto o que nos deixou completamente f******. Ainda para mais a desculpa que nos foi dada não "cheirou" muito bem e não era por falta de cumprimento da nossa parte das alíneas contratuais acordadas, eles tinham em mãos 50% do valor estipulado que se destinava a pagar a viagem, mas depois desmarcam por avaria na carrinha... Ok, cagámos literalmente para eles e adaptámos o festival sem eles mas, no entanto, quatro horas antes do festival começar foram os Congruity que cancelaram pelo mesmo motivo... Este ano ponderamos enviar um mecânico a cada banda para que nada disto aconteça. [risos] Foram estes os grandes percalços do festival no ano passado, mas o público foi compreensivo. Nós fizemos questão colocar disponível para todos os acordos estipulados com os Dagoba numa pasta para que não surgissem boatos, pois o nosso povo tem essa grande particularidade de realçar o mal em vez do bem. Tirando isto, para uma primeira edição, foi muito positivo. Houve público, as bandas deram grandes concertos e no fim a palavra que reinava era mesmo “Viva o Metal”!
Onde pretendem chegar com o Metal GDL? Que planos têm para elevá-lo a nível estrutural e conceptual?
Eu, pessoalmente, sinto o Metal GDL como se fosse um filho, pois como não tenho filhos vou arranjando destes! [risos] Como bom pai quero o melhor para ele e quero um dia estar quase a "bater as botas" e ver o festival ainda de pé com muitos mais anos pela frente. Está na altura de deixarmos as queixas e ficarmos de braços cruzados. O Metal merece muito mais! A minha ideia para os próximos dois anos é fazer dois dias como este ano, mas a utilizar os dois palcos em ambos os dias e não como este ano em que apenas no dia 14 funcionam os dois. Queremos também trazer para Grândola grandes nomes do metal mundial, mas mantendo sempre o objectivo de projectar as bandas portuguesas, pois se vierem bandas de nome é quase garantido que há publico. Como tal, é uma forma de darmos a possibilidade às nossas bandas de se mostrarem para muita gente e de uma vez por todas começarmos a consumir produto nacional!
Para finalizar, pedia-te que deixasses aqui bons motivos para o público comparecer em massa, nos dias 13 e 14 de Julho, em Grândola.
Já na década de 70 Zeca Afonso hasteou o nome desta vila alentejana num tema que apregoava a fraternidade do seu povo e que serviu de senha para assinalar o derrube do regime fascista em Portugal. Hoje em dia este sentimento e união continuam a sentir-se, desta feita nos meandros da comunidade metaleira que o ano passado juntou esforços para organizar um grande festival de metal – o Metal GDL. Idealizado por oito pessoas que, no entanto, se consideram “aprendizes empíricas” na matéria, promete colocar novamente este ano a conhecida vila alentejana na rota dos grandes festivais de metal veraneantes de Portugal. Com Moonspell como maior atracção e bandas de renome do underground nacional como Holocausto Canibal, Pitch Black, Goldenpyre, Bleeding Dislpay, Process Of Guilt ou W.A.K.O., a par de uma localização nuclear que oferece ao público um rápido acesso a belíssimas zonas balneares, nos arredores de Grândola, os dias 13 e 14 de Julho reservam para já todo o interesse dos amantes do metal em comungar de mais uma intensa celebração do Som Eterno. Para dar a conhecer melhor o evento, a SounD(/)ZonE conversou com Carlos “Bixo” Santos, um dos cabecilhas do projecto.
Já começa a ser habitual encontrarmos organizações de festivais compostas maioritariamente por elementos de bandas. No caso do Metal GDL encontramos mais um exemplo, certo?
Este caso não é bem assim, pois a maioria do pessoal da organização nem tem bandas nem toca qualquer instrumento. Tratam-se, principalmente, de apreciadores de metal e outros que gostam de organizar coisas. Só eu e o Bruno [Pica] tocamos em bandas. É obvio que nos dias do festival todo o pessoal de Seven Stitches ajuda, mas para que fique esclarecido este festival não é organizado pelos Seven Stitches. Deixo aqui os nomes e alcunhas [pois aqui nesta terra ninguém se trata nem se conhece pelos nomes] do núcleo duro da organização: Carlos [Bixo], Inês, Tiago [Barata], Nuno [Xico] Bruno [Pica], Luís [Bolacha], Nuno [Papanas], João [Janeca]. Para além destas oito pessoas temos à volta de 40 pessoas a colaborar nos dias do festival, entre segurança, bilheteiras, bares, pré-pagamento, técnicos, etc.
Como é que se aprende a organizar e a montar uma estrutura como a do Metal GDL? Têm alguma formação na área ou é puro conhecimento empírico?
Ninguém da organização tem qualquer tipo de formação em realização de eventos, excepto a Inês que é licenciada em Relações Públicas, Marketing e Publicidade, que é o mais próximo das necessidades de uma organização. De resto, eu e o Pica temos as bandas e cursos de técnicos de som e o Barata, Xico, Papanas, Bolacha e Janeca participam esporadicamente em organizações de eventos dos mais variados estilos. O que fazemos é dividir o festival em diferentes sectores e dentro de cada sector há um coordenador que tem a responsabilidade de organizar tudo a que esse sector diz respeito como, por exemplo, bares, bilheteiras, segurança, palcos, etc. É obvio que é preciso o que eu chamo de "muito olhinho" para a coisa, pois como não há formação temos que ir através do conhecimento empírico a que te referes e esse ganha-se estando atento, observando eventos do género e, acima de tudo, pondo-nos na pele de banda, público, staff, jornalistas, etc. Assim temos a melhor noção das suas necessidades e, como perfeccionistas que somos, queremos sempre o melhor para todos! Utilizamos o ditado: "não faças aos outros o que não gostas que façam a ti".
Vocês fazem parte de alguma associação cultural?
Estamos em fase de formação de uma associação de jovens de Grândola que terá o nome de “age.GDL”. Esta já se encontra em fase bem avançada de criação mas as burocracias a que estamos sujeitos estão a atrasar um pouco.
Organizar um festival dá, de facto, muito trabalho... Quais são/foram os maiores desafios que enfrentam/enfrentaram?
Primeiro que tudo foi passar para papel a ideia que me andava na cabeça há uns anos e fazer um projecto credível para apresentar na autarquia de forma a conseguirmos fazê-los acreditar numa coisa que para eles, à partida, não tinha grande validade; cederem as infra-estruturas e darem mais algum apoio. Esse último foi o passo que mais demorou, mas também o fundamental para estarmos aqui a falar da segunda edição do Metal GDL! O maior desafio actual é mesmo o festival em si, arranjar euros para realizá-lo. Nós funcionamos muito no regime "hard rules" e queremos tudo a 110%! Sentimos a necessidade de pensar em todos os pormenores para podermos dar todas as condições às bandas e público. Fazemos um jornal que tem a mais variada informação para o público: entrevistas às bandas, guia de onde dormir e comer em Grândola, as praias mais próximas, etc. Queremos dar também condições à imprensa e, acima de tudo, montar um recinto confortável para que todos os que vêm ao festival se sintam em "casa".
Contudo, tenho em crer que a organização do festival este ano terá sido relativamente mais fácil do que a do ano passado, por se tratar da segunda, precisamente... Confirmas?
Nem por isso, e a razão é simples: este ano temos dois dias de festival e uma vez cobrando entradas teremos trabalho a dobrar. Estarão muitas mais pessoas envolvidas, mais bandas, mais sistemas de som para alugar, para não falar de termos de vedar o recinto e tendo em conta a sua dimensão [capacidade para 8 mil pessoas] não é propriamente a coisa mais simples de efectuar, mas também não é a mais complicada... Complicado seria se tivéssemos alguma incapacidade física ou alguma coisa do género, mas como todos gozamos de saúde em pleno, venha trabalho para cima! [risos] Sem trabalho nem as coisas têm o mesmo gosto. As Sagres nesta fase de montagem do recinto têm um papel determinante... [risos]
Que pontos foram melhorados este ano no que condiz à logística e estrutura do evento?
Este ano utilizamos o recinto por completo, temos um palco fixo [que é o segundo maior palco fixo de Portugal], uma zona de campismo e a meu ver está tudo mais bem estruturado. Os concertos já não são tão seguidos, damos 15 minutos de intervalo entre concertos, coisa que o ano passado não acontecia. O pessoal nem tinha tempo de beber uma cerveja, nem de a largar! [risos]
Para além disso, a localização do festival parece-me muito favorecida pelas zonas balneares circundantes. Tens noção se essas têm contribuído como importante chamariz para o público?
Sim, eu penso que sim. A nossa localização é excelente, as praias são aqui ao lado e são brutais! Estamos a 100 km de Lisboa e a 120 km do Algarve e tendo em conta a altura do ano em que se realiza o festival nada melhor que tirar uns dias de férias e fazer uma praia durante o dia e à noite ouvir bom metal! A mim soa-me muito bem... E quem sabe se um dia não vamos ter o festival Metal GDL junto a uma das nossas praias? Para este ano ainda estou a tentar conseguir um autocarro para levar o pessoal no dia 14, pelas 10 horas, para a praia e trazer às 18 horas. Não está fácil!, mas, no entanto, se houverem novidades metemos no site www.myspace.com/metalgdl.
Vocês têm muitas preocupações quando pensam na concorrência? Com a quantidade de eventos que existem no país, não deve ser nada fácil explanar um cartaz...
Observamos o que se passa a nível nacional no que diz respeito a eventos do género e temos em conta o que existe para tentar não repetirmos quer bandas quer a estrutura do festival. Queremos dar uma identidade própria ao Metal GDL e penso que aos poucos vamos conseguindo. No que diz respeito à escolha do cartaz é sempre um pouco complicado, pois queremos abranger quase todas as vertentes de metal, sabendo que este ano continuamos a pecar pela ausência de uma banda de black metal, mas foi-se compondo o cartaz e não se deu por isso. Mas isto tem uma explicação, pois dentro da organização é a vertente do metal menos ouvida e passou-nos um pouco ao lado. Mas quem organiza não deve pensar só nos seus gostos e este é um daqueles erros de que não nos perdoamos e para o ano vamos ter black metal no festival, tal como todas as outras vertentes. Mas como deves de calcular é sempre complicado fazer um cartaz, ainda mais quando existe um grande número de bandas a quererem cá tocar. Ouves tantas bandas que chega a um ponto que nem sabes a quantas andas. Mas penso que conseguimos um cartaz bom e com diversidade.
Entretanto, podemos já dizer que este é o festival alentejano de metal por excelência?
Eu penso que sim, mas prefiro que sejam pessoas de fora a dizerem-no. Para mim este já é o melhor festival do "mundo" quanto mais do Alentejo! [risos] Estou a brincar. Apenas trabalhamos para ter o nosso espaço.
No que diz respeito ao cartaz, agradecia-te que nos fizesses uma breve apresentação das bandas que vão participar no festival. Destaques...
Vou começar pelos Moonspell, pois são eles os cabeças–de-cartaz. A sua escolha prende-se ao facto de serem uma referência para todas as bandas portuguesas e como não queríamos ainda ter nesta segunda edição bandas estrangeiras, a escolha só poderia ser mesmo esta. Não por serem as bandas mais baratas do mercado, mas temos que valorizar o que é nosso, e daí a escolha. Quanto aos Pitch Black, vão lançar o seu segundo álbum e é daquelas bandas que fazem sempre falta a um festival. São autores do melhor thrash que se faz, não só por Portugal mas também pelo mundo fora. Os W.A.K.O. são uma banda a ter em conta pois este primeiro álbum vai dar muito que falar e têm um som brutalíssimo. Estas são as bandas do palco “Metal GDL”, no dia 14 de Julho. Quanto ao palco “Viva o Metal” vamos ter, no dia 13 de Julho, os grandes Holocausto Canibal que vão fazer o seu primeiro concerto no Alentejo em dez anos de carreira! É com todo o gosto que os vamos "apadrinhar" aqui por terras alentejanas – é grind no seu estado mais bruto. Teremos também os Process of Guilt, banda revelação 2006/07 em Portugal, na minha opinião e na de muitos, pois lançaram um álbum excelente e conseguiram concertos muito importantes para a sua carreira. Sendo assim, claro que tinham que por cá passar - são os nossos representantes de doom. Os Goldenpyre são uma banda que já dispensa apresentações. Dez anos de carreira a debitar um death metal excelente e com um festival às costas, o Barroselas, merecem todo o respeito e admiração. Estão ainda presentes no cartaz os Spoiled Fiction, a banda mais nova de todo o festival por quem eu, pelo menos, peço muito que vejam pois prometem ser uma agradável surpresa. No dia 13 de Julho, no palco “Viva o Metal” teremos os Bleeding Display a fechar a noite, com o seu puro death metal, banda bastante experiente em palco e com muitos concertos de abertura para grandes nomes mundiais; os Assemblent, banda com um metal mais ambiental e de uma atmosfera um pouco industrial; os Omen From Hell, banda muito nova, ainda com poucos concertos mas que pelo que já constatei, pode ser uma grande surpresa; os Cryptor Morbious Family, aqui como representantes da nossa terra, banda com um cenário arrojado que dá sempre muito em palco - de certeza um bom espectáculo; os Monogono, oriundos de Setúbal, são banda mais experimental do festival, praticam um jazz misturado com metal – existe muita originalidade por aqueles lados; e a abrir o nosso festival estarão os Behatred, banda também jovem, mas com uma sonoridade bastante coesa e com um vocalista com um excelente registo. Enfim, todos os ingredientes para um grande festival!
Muita gente não sabe mas os açorianos também vão marcar presença no cartaz deste ano do Metal GDL. Refiro-me aos Spoiled Fiction, um grupo de pessoas que conheces muito bem... [risos]
Pois é, coisas do destino! Assim é, temos dois açorianos a tocar no Metal GDL – o arquipélago da Madeira tenha calma porque para o ano também vão cá estar representados! [risos] Deixando-me de brincadeiras, está a ser uma experiência muito boa, as coisas estão a soar, o pessoal está a dar-se bem. O André [guitarrista] já o conhecia, pois ele é o técnico de som dos Seven Stitches. O Tiago não, mas chego à conclusão que pessoal dos Açores e o pessoal aqui do Alentejo tem muitas semelhanças, tirando a Super Bock! [risos] É um projecto para valer, vamos para a frente! Agarrem-se se puderem!
Do pouco que ainda se conhece deles já se pode afirmar que existe alguma expectativa da parte do público em vê-los... Como estão a encarar esta estreia?
Bem, visto que vamos ter pelo menos um ou dois concertos antes do Metal GDL, já não se tratando da estreia, mas teremos nesse a primeira grande oportunidade de tocar num grande festival. É o nosso primeiro grande teste, com um grande PA e grande palco. Estamos tranquilos! Estamos em gravações da promo que vai sair precisamente no festival e vamos ensaiando com alguma frequência para que fique tudo bem oleado. Estamos todos com aquele sentimento de "nunca mais é o dia "!
De resto, pelo que se conclui do cartaz, o Metal GDL, parecendo ser um festival muito moderno, é um festival muito virado para as sonoridades extremas e desperto para a realidade underground. É esta verdadeiramente a sua linha de pensamento?
Sim, mas ao mesmo tempo não... Ao trazermos uma banda como Moonspell é com o intuito de chamar muita gente ao festival, pois já não se trata de uma banda que ande propriamente pelo underground. No entanto, as restantes bandas ainda continuam em busca do seu "lugar ao sol", sendo que também existem bandas que não querem sair do dito underground. Penso que se houvesse a possibilidade de todas poderem apenas viver para a banda e da banda poucas diriam que não... E a linha de pensamento é mesmo essa - pôr muita gente a ouvir estas bandas para que consigam vender os seus CDs, merchandising, etc. Muitos dos organizadores de festivais, infelizmente, só conseguem puxar público se trouxerem nomes sem serem do underground... É aí que nós nos situamos. Para os próximos anos inclusive, queremos trazer duas ou três bandas com carreiras sólidas e com uma base de fãs bem grande para o festival, pois assim é garantido que haverá público para as "nossas" bandas se mostrarem. O principal e grande objectivo é mesmo ajudar a projectar as "nossas" bandas e, claro, também ter o prazer de ouvir grandes nomes do metal aqui em Grândola, coisa que nunca pensei ser possível, mas afinal até não é um "bicho de sete cabeças"! Há quem se mexa!
Tiveram muitas solicitações de bandas para participarem na edição deste ano? Chegaram-vos muitas maquetas?
Sim à volta de 60 bandas interessadas e não só portuguesas, mas também espanholas, que nos contactaram não só pelo envio de maquetas mas também por mail.
Poderá ser este um sinal de que o festival já está bem projectado no nosso panorama? Que comentários ficaram do ano passado, por exemplo?
Eu penso que o festival já vai tendo um espaço que está a conquistar aos poucos e isso deve-se ao facto de no ano passado termos recebido os melhores elogios vindos de várias direcções, quer do público, que de bandas e de empresas com quem trabalhámos. É motivante e dá vontade de fazer cada vez mais e melhor.
Num plano geral, o balanço da edição do ano passado coincidiu com as vossas expectativas?
Coincidiu até certo ponto, pois os Dagoba, 24 horas antes do festival começar, cancelaram o seu concerto o que nos deixou completamente f******. Ainda para mais a desculpa que nos foi dada não "cheirou" muito bem e não era por falta de cumprimento da nossa parte das alíneas contratuais acordadas, eles tinham em mãos 50% do valor estipulado que se destinava a pagar a viagem, mas depois desmarcam por avaria na carrinha... Ok, cagámos literalmente para eles e adaptámos o festival sem eles mas, no entanto, quatro horas antes do festival começar foram os Congruity que cancelaram pelo mesmo motivo... Este ano ponderamos enviar um mecânico a cada banda para que nada disto aconteça. [risos] Foram estes os grandes percalços do festival no ano passado, mas o público foi compreensivo. Nós fizemos questão colocar disponível para todos os acordos estipulados com os Dagoba numa pasta para que não surgissem boatos, pois o nosso povo tem essa grande particularidade de realçar o mal em vez do bem. Tirando isto, para uma primeira edição, foi muito positivo. Houve público, as bandas deram grandes concertos e no fim a palavra que reinava era mesmo “Viva o Metal”!
Onde pretendem chegar com o Metal GDL? Que planos têm para elevá-lo a nível estrutural e conceptual?
Eu, pessoalmente, sinto o Metal GDL como se fosse um filho, pois como não tenho filhos vou arranjando destes! [risos] Como bom pai quero o melhor para ele e quero um dia estar quase a "bater as botas" e ver o festival ainda de pé com muitos mais anos pela frente. Está na altura de deixarmos as queixas e ficarmos de braços cruzados. O Metal merece muito mais! A minha ideia para os próximos dois anos é fazer dois dias como este ano, mas a utilizar os dois palcos em ambos os dias e não como este ano em que apenas no dia 14 funcionam os dois. Queremos também trazer para Grândola grandes nomes do metal mundial, mas mantendo sempre o objectivo de projectar as bandas portuguesas, pois se vierem bandas de nome é quase garantido que há publico. Como tal, é uma forma de darmos a possibilidade às nossas bandas de se mostrarem para muita gente e de uma vez por todas começarmos a consumir produto nacional!
Para finalizar, pedia-te que deixasses aqui bons motivos para o público comparecer em massa, nos dias 13 e 14 de Julho, em Grândola.
O cartaz que apresentamos, o preço do bilhete - 10 euros para os dois dias [compra antecipada] e 12 euros [no dia] - com campismo, balneários, gajas para dar banho à malta e gajos para as meninas, claro! [risos] Bom, sinceramente não sou muito bom a vender o meu "peixe", mas aconselho todos a virem. Vamos mostrar a nossa força, encher este recinto e fazer um festival para ficar na cabeça durante muitos anos. Vamos surpreender estas bandas, andar ao "bico" a noite toda, rir, gritar, abanar a cabeça, beber muita cerveja e conhecermo-nos. Vamos criar uma grande "família" e mostrar a toda a gente que afinal o Metal não é uma coisa qualquer!
Nuno Costa
1 comment:
Os Monstros do Rock estão de volta!
Assusta os teus amigos.
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