Tal como aconteceu com várias bandas numa primeira fase de desenvolvimento do movimento underground açoriano, os Carnification acabaram por cessar actividades numa altura em que já circulava a sua primeira demo-tape, em 1999, e davam indicações de um futuro promissor. Razões pessoais fizeram-nos sucumbir, num cenário já paradigmático, mas numa recente senda de regressos, até à semelhança do que acontece no estrangeiro, a mítica banda de S. Miguel, formada em 1992, regressa aos palcos no dia 3 de Outubro no âmbito do festival October Loud. São os grandes cabeças-de-cartaz desse dia e do próprio evento, adivinhando-se extremamente curioso constatar clássicos e temas novos, bem como o seu contacto com novas gerações. João Raposo, guitarrista da banda, abriu-nos o “livro” dos Carnification do século XXI.
Apesar de só agora irem fazer o primeiro concerto depois da vossa reunião, consta que desde de 2006, pelo menos, que estão juntos e a preparar esse regresso. O facto de ainda demorarem praticamente três anos até ao vosso regresso aos palcos é sinal, acima de tudo, de que o queriam preparar com qualidade?
No início de 2006, quando nos unimos, estávamos a pensar apenas em gravar os nossos temas em formato digital. Passado uns tempos e vendo o material que tínhamos decidimos formalizar o regresso dos Carnification aos palcos. Foi um processo feito com muita calma para que saísse algo com cabeça, tronco e membros e, na minha opinião, acho que conseguimos isso.
Como explica esse regresso?
Foi um regresso muito aguardado por mim e depois de reunidas todas as condições só faltou dizer: estamos de volta.
Ainda se lembra do dia em que decidiram acabar com a banda e os motivos para tal? Na altura, sonharam sequer que haveria condições para um regresso mais tarde ou sentiram que esse processo seria irreversível?
Sim, lembro-me do dia em que decidimos terminar com as nossas actividades e que deveu-se apenas a razões pessoais de alguns elementos. Porém, fiquei sempre com aquela esperança de um dia poder dar vida novamente aos Carnification; e cá estamos nós para o que der e vier.
É curioso constatar que pelo menos dois elementos originais da banda ainda figuram na formação dos Carnification. Onde estão os outros nesse momento?
Como se sabe, os Carnification tiveram três fundadores: eu, o Marco Camilo e o Rui Frias. Este último está a tocar com os Morbid Death e os outros… andam por aqui e ali. É a vida.
Como se sentem por estarem de novo, lado a lado, a tocar?
É sempre bom tocar com os nossos “irmãos de sangue” e, actualmente, todos os seus elementos estão tão unidos que nos podemos considerar uma família.
Quais foram as maiores dificuldades que enfrentaram nesse processo de reunião? Segundo me parece, a maioria de vós estava distante deste género musical ou até da música há bastante tempo. Pode-se falar, no mínimo, de falta de ritmo?
Não encontrámos praticamente nenhuma dificuldade no nosso regresso. Apenas um pouco de ferrugem e a preocupação de arranjar um bom guitarrista visto que o Paulo Maciel foi viver para o Continente. Neste aspecto tivemos sorte em descobrir o Ruben “Piriquito”, pois é um bom músico.
Os Carnification estão em que lugar no vosso “ranking” de prioridades musicais e/ou até pessoais?
Os Carnification estão no topo do ranking das minhas prioridades musicais, porque, actualmente, só ouço a minha banda. Todavia, também temos família e esta é a prioridade mais importante de todas elas.
Sentem alguma pressão especial por este ser o regresso de um dos ícones da música pesada açoriana da década de 90? O que acha que as pessoas esperam de vós?
Não estamos, de momento, com nenhum tipo de pressão sobre nós e, como já disse, este regresso foi preparado com calma e não sei o que as pessoas vão esperar de nós. Mas uma coisa é certa: vamos para o October Loud cheios de força e com muita garra para cima do palco… e aí pode-se esperar tudo dos Carnification.
Depois do regresso dos Prophecy Of Death chega a vossa vez. Há aí alguma “tramóia” para trazer de novo à vida algumas bandas antigas de relevo do Metal açoriano? Será isso o avançar da idade, um agravado sentimento de nostalgia e o querer reviver tempos memoráveis da vossa adolescência?
Eu penso que não há “tramóia” alguma, mas sim o “bichinho” da música que nos corre nas veias. Também não é o avançar da idade nem um sentimento de nostalgia, é sim o gosto que temos pela música e a força que ela nos dá. Mas com tudo isso, é sempre bom reviver momentos da nossa adolescência
Uns Carnification hoje em dia terão que ser diferentes dos de outrora? Seguir uma tendência musical mais actual será benéfico ou o objectivo é exactamente o oposto - propagar uma onda revivalista?
Os Carnification de hoje são músicos mais maduros e com mais experiência do que há oito anos atrás. Temos o nosso estilo de música como qualquer outra banda e gostamos do nosso estilo como gostávamos há oito anos. Não vamos alterar isso só para agradar a A, B ou C. Só que, como já disse, somos músicos mais experientes hoje em dia e há uma evolução natural a nível musical. Temos temas mais trabalhados e com melhores estruturas. Enfim, é a tal evolução…
Que principais diferenças encontra entre o movimento actual e o que se vivia na década de 90 nos Açores?
A principal diferença que noto é que os jovens de hoje começam a ouvir metal mais cedo do que na minha altura, exceptuando alguns casos, e que são estes jovens que, actualmente, enchem os recintos dos concertos, o que é muito positivo para as bandas.
Em que se baseará o vosso repertório no concerto do October Loud? Certamente, têm temas novos, mas não deverão faltar os clássicos.
Vamos conciliar temas novos com antigos, pois não tinha a mesma piada se só tocássemos os novos temas.
O que poderemos esperar das vossas novas composições?
São temas mais bem trabalhados, com estruturas musicais mais bem conseguidas. Acho também que a sua sonoridade entra melhor na mente.
Uma vez que tem conhecimentos dentro da área do áudio e engenharia de som, consta que têm estado a registar um futuro trabalho. O que nos pode adiantar sobre esse assunto?
Praticamente concluímos a gravação de uma pré-produção e agora falta o produto final. Mas isso será para depois do October Loud. Mais para a frente falaremos nisso com mais pormenor.
Que papel acha que tem o October Loud no meio metaleiro açoriano?
Penso que o festival já é um marco na região. Reparem no recinto; é um espectáculo! Bastam 150 ou 200 pessoas para enchê-lo, enquanto que se colocares este número de pessoas num local maior este parece estar vazio. Também não é preciso muita potência de som para ficar “agradável” lá dentro. Digamos que é o local perfeito para se dar um concerto de metal.
O que lhe reserva dizer em particular da edição deste ano?
Espero que corra tudo pelo melhor, tanto para a organização como para as bandas, e que o público curta ao máximo todo o festival.
Line-up:
Luís Franco [voz]
João Raposo [guitarra]
Ruben Farias [guitarra]
Paulo Castro [baixo]
Marco Camilo [bateria]
Ano de formação: 1992-2001 / 2006-actualmente
Estilo: Death metal
Discografia: "Embracing Solitude" [Demo-tape 1999]
No comments:
Post a Comment