Monday, February 20, 2006

Entrevista Deadsoul Tribe

NEGRA RETÓRICA

Desde que anunciou a sua saída dos Psychotic Waltz (1997) que Buddy Lackey (a.k.a Devon Graves) procura encontrar um escape para o seu imaginário musical e poético. Se isto já não estava a ser conseguido na banda de San Diego, Graves formou então os Deadsoul Tribe e encontrou aí o formato certo para canalizar todo o seu peculiar génio artístico. Decorria o ano de 2001 e, um ano mais tarde, o projecto vê os seus primeiros frutos com o seu primeiro álbum "Deadsoul Tribe". Graves veio mostrar uma eclética fusão de rock progressivo, com uma vertente dark e um experimentalismo ao jeito de uns Tool. A flauta e o arco do violino a percutir as seis cordas da guitarra perfazem outras das particularidades dos Deadsoul Tribe. Agora com "Dead Word", lançado no final do ano passado pela Inside Out, os Deadsoul Tribe procedem ao elevar do seu som num sentido mais "tribal" e groovy, sem nunca romper com as características que já lhes são reconhecidas. Aproveitando o seu regresso de uma mini-digressão europeia com os Sieges Even, a SounD(/)ZonE trocou algumas palavras com o mentor, produtor, compositor, guitarrista e vocalista da banda - Devon Graves.

“Dead Word” foi gravado num espaço de tempo muito curto. Apenas um mês para gravá-lo e escrever as letras... Podemos depreender que as gravações decorreram muito bem, portanto...
Eu sentia-me muito inspirado... Demorei cerca de um ano para compor e arranjar os temas, mas o processo de gravação correu, de facto, muito rápido. As letras foram escritas durante as duas últimas semanas de estúdio e, curiosamente, foram escritas todas de manhã, enquanto da tarde decorriam as gravações. Musicalmente, as ideias surgiram muito rapidamente. Uma espécie de corrente que jorrava ideias incessantemente para a qual simplesmente tinha que direccionar o meu ouvido. Consequentemente, foi uma questão de deixar a música me conduzir para o caminho certo. Pelo contrário, a composição das letras foi uma tarefa mais difícil, porque eu procuro achar as palavras certas para encaixar correctamente na história da música. A parte mais difícil é precisamente encaixar o som das vogais no som das notas. Para fazer o som das palavras, contextual e emocionalmente, capturar o sentimento da canção e projectá-lo da melhor forma, não é fácil, daí que deixe, por norma, esta tarefa para o fim. De súbito, as ideias surgem em catadupa.

Devon, eu gostaria que retomasses ao teu passado para explicar a formação dos Deadsoul Tribe e as razões que te levaram a abandonar os Psycothic Waltz.
Hmmm, esta é uma história muito longa e da qual tenho estado a falar nos últimos dez anos... Deixa-me apenas dizer que os Psychotic Waltz deixaram de ser aquilo que todos esperávamos. Eles foram muito importantes para o meu crescimento mas, nos últimos tempos que tive na banda, comecei a perceber a diferença entre aquilo que eu queria e aquilo que era possível fazer com ela. Os Deadsoul Tribe só surgiram um pouco mais tarde, mais precisamente quando me mudei para Viena. A sua formação consistiu em várias audições e no conhecimento de muita pessoa nova. Eu escolhi os seus membros ao “esquadro” atendendo ao impacto que teriam ao vivo, especialmente o Adel [baterista], que escolhi porque a sua maneira de tocar correspondia exactamente àquilo que eu queria para a música que idealizava.

Já agora, porque adoptaste o pseudónimo Devon Graves desde que formaste os Deadsoult Tribe? Existe algum significado especial?
Não existe nenhum significado. Trata-se apenas de um nome que encaixa bem com o estilo de música que toco.

Neste novo álbum não podemos dizer que o vosso som mudou muito, no entanto, existem algumas diferenças... Talvez possamos classificar este álbum como mais “tribal”, com uma percussão mais saliente e riffs mais musculados. Concordas?
É verdade. Eu não estava tentando quebrar com o estilo que temos vindo a criar, mas gostava de encontrar uma maneira de o trazer a um novo patamar. Contudo, agora que está concluído, eu sinto um desejo de quebrar completamente estas ligações. Eu estou já a compor o nosso quinto álbum e garanto-vos que vai ser algo muito diferente.

Como continuas a reagir às pessoas que vos comparam a Queensryche ou Tool?
O meu trabalho não tem sido comparado com o dos Queensryche desde os primórdios dos Psychotic Waltz. Certamente que com os Deadsoul Tribe isso nunca aconteceu. Os Deadsoul Tribe são sim comparados com os Tool, dos quais eu gosto, mas somos mais frequentemente comparados com bandas como os Black Sabbath e até com os Jethro Tull. Existem também outras influências no nosso som e não vejo problema nenhum em detectarem outras influências na nossa música.

Achei curioso vocês no vosso site nomearem as músicas preferidas e menos preferidas dos vossos álbuns... Penso que seria de resguardar quais as vossas músicas menos preferidas! (risos) Já agora, quais são as tuas preferidas de “Dead Word”?
Eu gosto igualmente de tudo no novo álbum, cada uma por uma razão particular, por isso, não consigo escolher a minha preferida. Por alguma razão, “Let The Hammer Fall” agrada-me menos no álbum, mas é uma das minhas preferidas para tocar ao vivo. Não sei porque isso acontece...

Muita gente pode não saber, mas tu tocas guitarra por vezes com um arco de violino. Conta-nos como surgiu esta ideia.
Eu gostaria de vos dizer que esta tinha sido invenção minha, mas a verdade é que Jimmy Page começou a fazer isso em 1966. Esta é de facto imagem de marca sua mas que alguns guitarristas se recusam a reutilizar. Eu penso que se trata de algo tão genial que não deveria desaparecer. Já se passou tanto tempo desde que Page usou esta técnica que os putos mais novos nunca devem ter ouvido falar nela e, quando eles me vêem usá-la, eles pensam que se trata de algo novo.

Tu tens uma forma muito filosófica de escrever. Como descreves no teu site, a maior função da poesia não é fornecer respostas, mas sim levantar mais questões. Quais são as tuas preocupações principais quando escreves e reflectes sobre o mundo à tua volta?
Acima de tudo, a ruptura entre o Homem e o Universo. A minha esperança é restabelecer esta ligação.

“Dead Word” deambula à volta de um certo conceito, certo?
Fala de pensamentos que já têm estado presentes nos nossos três álbuns anteriores. A condição humana tem tanta matéria por explorar que qualquer um pode escrever e escrever sobre ela que acaba por nunca se repetir.

Vocês acabam de regressar de uma digressão com os Sieges Even. Como correu?
Correu muito bem. Divertimo-nos muito e ambos partilhámos um bom público todas as noites.

Neste momento encontras-te a residir na Áustria. Algum motivo especial para esta mudança?
Mudei-me para cá há já algum tempo quando era casado com uma Austríaca.

Para finalizar, gostarias de deixar alguma mensagem ao público açoriano?
Obrigado pela entrevista. Eu sinceramente não sei que dizer ao público açoreano a não ser obrigado por nos ouvirem...

PLAYLIST DEVON GRAVES

Jethro Tull - Aqualung
Pink Floyd - Dark Side of the Moon
Porcupine Tree – In Absentia
Stream of Passion – Embrace the Storm
Pain of Salvation – Be

Nuno Costa

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