Monday, June 26, 2006

Entrevista Grimlet

A VERDADE ESCONDIDA

“Darkness Shrouds The Hidden” é o título do primeiro lançamento dos nacionais Grimlet. Gravado em 2003 – com Rui Santos [Oratory, Timeless ] – mas lançado só em 2004, este colectivo da Figueira da Foz formado em 1999 - a partir das cinzas dos Sacrum e Nonsense Package - encontrou algumas dificuldades acrescidas para promover o seu trabalho... A banda partiu para esta fase sem editora e, certamente, por isso só agora o seu trabalho começa a chegar a todos. Mas este, de facto, merece a atenção do nosso meio underground – falamos de um black/death/thrash com teclados, uma ligeira mentalidade progressiva e alguns aromas étnicos, mas sempre aliado de uma profusa obscuridade. A assinalar este lançamento a SounD(/)ZonE falou com o vocalista David Carvalho [ak.a. Nazgül].

A partir de quando te inicias nessas andanças da música?
Provavelmente, nunca houve um começo. Desde que me lembro sou atraido por este estilo de música e vida. É algo que nasceu comigo e faz de mim quem sou. Inevitavelmente, acabei por dar o passo em frente e fazer a transição de mero ouvinte para músico, por volta de 1996, quando uma banda de death metal melódico chamada Sacrum procurava um vocalista. Curiosamente, quem me convidou para a banda foi o Alex (teclista de Grimlet). Foram 3 anos de formação e aprendizagem que terminaram com a dissolução dos Sacrum.

Os Grimlet aparecem então quando e como?
A génese de Grimlet dá-se em 1999 quando eu e o Alex decidimos pôr em prática algumas das nossas ideias a nível de metal mais extremo. Recrutámos o Jordão (também ex-Sacrum) e o Nero, um amigo de longa data, começando então a trabalhar em algum material que já tinhamos.

Gorth, guitarrista em Milraz, junta-se ao projecto algum tempo depois...

O maior problema foi encontrar um baterista adequado à sonoridade da banda, o que só aconteceu três anos depois, quando Luís preenche o lugar, após a dissolução da sua anterior banda, Nonsense Package. Com a formação finalmente completa e após muito trabalho de composição, os Grimlet dão os primeiros concertos e ganham consistência em termos de projecto. Em Outubro de 2003, a banda inicia as gravações nos Echosystem Studios com o produtor Rui Santos, período bastante exigente e profícuo para todos os elementos da banda... Após um trabalhoso período de produção, o Demo-CD “Darkness Shrouds the Hidden” é editado pela própria banda, sendo apresentado ao vivo na final do “Rockmusic Metal Challenge”, no Hard Club, em Vila Nova de Gaia, em Setembro de 2004. Algum tempo depois, a banda sofre alterações a nível de formação com o afastamento, por motivos pessoais, do guitarrista Jordão, entrando para o seu lugar Rui Todo Bom.

Quais são os principais objectivos com o vosso projecto?
A curto prazo, os objectivos passam por tocar ao vivo o máximo possível, pois é daí que absorvemos o maior prazer, apostando sempre numa componente cada vez mais forte, extrema e profissional. Continuaremos sempre a apostar na divulgação e promoção de Grimlet a nível nacional e internacional, sob todos os meios disponíveis. A composição de novos temas é também uma prioridade, tendo em vista a gravação de um novo trabalho, desta vez num formato longa-duração, se possível, com o apoio de uma editora.

A nível sonoro onde enquadras os Grimlet?
Os Grimlet surgem na cena nacional à procura de uma sonoridade própria onde o Death, Thrash e Black Metal são dominantes, mas em que a mistura de outras influências musicais se conjuga num conceito de ambiente oculto e sinistro onde o imaginário lírico relata histórias de batalhas sangrentas da antiguidade.

As teclas no vosso preparado servem, certamente, para baralhar as “contas”... Como surgiu a ideia de juntar teclas à vossa sonoridade?
Mais do que servirem a faceta mais sinfónica da banda, os teclados introduzem uma camada adicional no som e contribuem de forma absoluta para a textura multi-dimensional que pretendemos atingir com a nossa sonoridade.

Também existem muitas ambiências neste trabalho, nomeadamente no interlúdio instrumental “...At The Treshold!”, com flautas a remeterem-nos para ambientes orientais. Fala-nos um pouco de todos esses elementos e o que representam.
Na composição de “ Darkness Shrouds The Hidden “ a ideia fundamental era que a audição do disco fosse toda ela envolvida num ambiente obscuro e sinistro do início ao fim, daí as várias ambiências e interlúdios que ligam as várias músicas entre si e que servem para envolver o ouvinte nesse mesmo ambiente.

“Darkness Shrouds The Hidden” é o vosso primeiro registo. Embora já tenha lido que se trata de uma demo, o registo apresenta todas as características de um longa-duração. Como deve ser encarado então este trabalho?
Apesar de todas as características de um longa-duração estarem presentes, este trabalho é para nós um E.P. de apresentação da banda. A partir do momento em que pensámos em gravar um CD, a determinação e atitude profissional da banda foram tais, que o empenho e motivação colectiva acabaram por se reflectir neste resultado final.

Fazer lançamentos independentes é normalmente um acto de muito esforço por parte das bandas. Conta-nos lá como foi financiar este disco sozinhos.
Foi complicado e dispendioso mas deu-nos um enorme prazer fazê-lo. Desde o encontrar um estúdio e um produtor até ao trabalho gráfico, passando pela duplicação dos CD's, tudo foi bastante complicado mas o facto de tudo passar por uma atitude “ do it yourself “ fez com que, no final, ficássemos bastante contentes com o resultado no sentido em que representa, fielmente, Grimlet a todos os níveis. O obstáculo mais difícil de superar foi, certamente, conseguir uma distribuição nacional do álbum nas lojas de metal portuguesas, a qual contou com o auxílio da Recital. Também todo o processo de promoção inicial (para Portugal e estrangeiro) foi custoso pois enviámos álbuns a mais de 100 editoras, zines, rádios, blogs, para contratos, reviews, entrevistas e afins… Não é fácil uma banda desconhecida suscitar a atenção neste estágio mas, felizmente, o álbum mostrou o nosso potencial e o esforço compensou! Hoje em dia, focamo-nos mais na divulgação nacional e marcação de concertos [indispensáveis, claro!], tendo sido bem acolhidos pelos meios de comunicação nacional. Não ter uma editora que nos promova é trabalhoso, mas não achamos que isso seja um impedimento. Até pelo contrário, traz mais motivação!

Com “Darkness Shrouds The Hidden” foi a primeira vez que estiveram em estúdio? Fala-nos dessa “exigente e profícua” experiência, segundo descrevem no vosso press.
Enquanto Grimlet foi a primeira vez que estivemos em estúdio. Foi um ano muito intenso, desde as primeiras sessões de gravação até à produção e mistura finais no Estúdio Echosystem, em Barcelos. Foi muito exigente no sentido em que todos os membros fizeram questão de levar ao limite as suas capacidades técnicas e profícuo no sentido em que todos aprendemos muito com todo o processo e tudo o que ele envolve, a nível pessoal e colectivo. Por outro lado, o envolvimento pessoal e o profissionalismo do nosso produtor Rui Santos (Oratory, Timeless) foram fundamentais para que o nosso trabalho fosse o melhor possível e para que o resultado final fosse óptimo.

Este vosso trabalho já foi lançado há quase um ano e meio. Como tem sido o período pós-lançamento? Surgiram muitas oportunidades de concerto, o público tem gostado do vosso trabalho?
Nós pessoalmente consideramos o lançamento em Setembro de 2005, data em que iniciámos o processo de promoção e que realizámos o concerto do lançamento no Niktos, Alhadas, muito satisfatório e estamos bastante contentes com o período que estamos a atravessar. Durante o presente ano têm surgido algumas oportunidades de concertos, sejam estes organizados por nós ou por outra banda/organização. Independentemente de quem organiza, é invariavelmente necessário estar sempre atento ao mundo Underground para ver oportunidades de marcação de concertos! Quanto ao público, temos a noção que ainda somos desconhecidos para a maioria, mas achamos que temos agradado a quem ouve pois as reacções têm sido boas. No nosso último concerto (13 de Maio no Ribeirinha Bar, Porto) reparámos que havia algum pessoal que até conhecia as nossas letras! Muito gratificante!

Para finalizar, quais os planos em mente para os próximos tempos?

O nosso objectivo para este ano é a continuação da promoção do álbum através da realização de mais concertos! Neste mês de Junho estão previstos 5 concertos, os quais estão inseridos na nossa "Domination Tour". Já estamos também a realizar contactos para a continuação da Tour com força depois do período de férias. Gostaríamos também de deixar o nosso site e contacto onde poderão encontrar informações actualizadas acerca dos concertos marcados.

Nuno Costa