FADOS
Viver em sociedade e encarar a grandeza ilimitada de opiniões, perspectivas e formas de pensar de cada um é cada vez mais uma complicada tarefa de assumirmos sem incorrermos em indigestões ou dissonâncias, algumas com consequências desagradáveis. Uma questão complicada, mas ninguém esperava que todos fossemos iguais, pois claro.
Contudo, por vezes, e vencendo alguma discrição, também gosto de pegar no meu direito à opinião e dizer aquilo que penso ou pelo menos em parte. Às vezes é completamente sufocante a quantidade de pontos de vista com pouco alcance de muita gente e, em particular [já que este é um sítio de “música”], dos músicos e pessoas ligadas à música por este mundo fora. Mas já que conheço melhor os meus “vizinhos”, é desses que posso e devo falar, em primeira instância e com maior conhecimento de causa.
Em época de balanços [toda a gente os faz e até é bom que os façam] há sempre coisas boas e más a destacar. No saber destacar é que talvez esteja o problema. De qualquer forma, e se o fazem, é realmente interessante inquirir a opinião dos elementos que constituem a argamassa musical açoriana sobre o porquê do positivo e negativo que há a apontar nesta zona mais ocidental da Europa.
Li, muito recentemente, um artigo precisamente neste sentido. Embora nem tudo o que tenha sido referido seja negativo, no entanto, a sua previsibilidade é berrante e apeia um pensamento empreendedor e moderno. Comentários como “não tenho perspectivas para 2009 nos Açores, pois os orçamentos devem estar todos esgotados com as bandas de fora” ou “continua a ser muito difícil [ou mesmo impossível] editar CD’s nos Açores: falta de apoios, de meios técnicos e agenciamento” deviam já ser parte de uma ideologia deserdada. Ficamos com a sensação de que a culpa é sempre do “vizinho”. Patinamos sempre no mesmo local. Até no futebol, por mais que se gerem polémicas em volta do árbitro, não quero acreditar que se percam ou ganhem campeonatos à volta desta personagem “fiscalizadora”.
Há, impreterivelmente, necessidade de se criar um “bode expiatório”, embora seja verdade que hajam realidades, circunstâncias e forças que nos compelem. Mas questiono-me sempre: será que olhamos devidamente para o nosso desempenho?
Falamos de música [como arte, logo de avaliação subjectiva] e de uma “arquitectura” promocional de papel tão vital quanto a própria música. Há também o mercado. Mas o que cria o quê? Primeiro devem vir os concertos, as oportunidades ou a qualidade musical? Eu não saberei responder a esta pergunta, mas a verdade é que, na minha pessoa, gosto pouco de depender de terceiros, mesmo tendo de depender, indiscutivelmente – vivemos na “tal” sociedade. Prefiro assumir o meu próprio falhanço, se for o caso, e a culpa deste. E mais orgulhoso ficarei se conseguir os meus objectivos sem qualquer tipo de “bengala”.
Há outra coisa que me continua a soar a clara teimosia, para não lhe chamar “birra”: se assumimos determinado papel e/ou decidimos dirigir um projecto que à partida tem o seu sucesso altamente condicionado, porquê a surpresa quando as “pedras” começam a entrar-nos no “sapato” e a “chagar-nos” o andamento? Quando avançamos para uma “luta” sabemos que estamos vulneráveis a alegrias e desgostos. Há quem assuma certas actividades, por livre e espontânea vontade, e depois esteja sempre à espera do apoio de terceiros. Má conduta, diria. Mas há também quem não esteja e é para esses que vai o meu apreço.
Entre isso tudo, é importante realçar que os “comentadores” em questão nem são músicos de Metal. Não, embora esses também se queixem, mas tenho ideia de que são pessoas muito mais empreendedoras e com iniciativa. É extremamente curioso que de entre os projectos regionais de originais [!] os que têm mais aceitação do público sejam os do Heavy Metal, salvo raríssimas excepções. Os projectos de música ligeira/popular até podem aparecer mais nas rádios porque, olhem, até conseguem, afinal, gravar discos e a sua sonoridade é mais [soft & easy] ear friendly mas pouco aparecem ao vivo e poucas pessoas chamam para os ver. Serão as expectativas deles muito altas e os promotores não as podem corresponder ou nem chegam a haver convites? É bem possível que se dêem ambos os casos. Será a qualidade ou a falta dela? Em muitos casos, sim. A ausência deste mercado em particular? Sim. Contudo, interessa, sim, realçar que há quem crie o seu espaço para tocar e lute por aparecer e se promover e, indiscutivelmente, não deva qualidade a ninguém. As provas estão à vista. Acho até que este artigo falhou redondamente ao não comentar um grande exemplo de trabalho, esforço, dedicação e… pensamento progressivo – os terceirenses Anomally, já que os Morbid Death escusam introduções ao seu suor e mérito e lá garantem o seu destaque. Pegando então no caso Anomally: um disco de originais e um videoclip ao fim de três anos, apenas, de existência e com aquele profissionalismo. E, imaginem, nunca os vi “chorar”…
Há realmente quem saiba estar, trabalhar e saiba com que “armas” se munir para a luta. É com guerreiros bravos e valentes que se conseguem quebrar convenções e não com “leões de Oz”. É pena que os “louros”…
Nuno Costa
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