Thursday, October 15, 2009

Entrevista Simbiose

CRUST REAL

O maior bastião do crustcore nacional está de volta com “Fake Dimensions”. Mais um manifesto insurrecto, desta feita sobre a religião, naquele que é o quarto longa-duração desta lendária banda lisboeta formada em 1991. Este trabalho marca também a saída do guitarrista Paulo Maciel [curiosamente de origem açoriana] e uma sonoridade que acaba por ser mais delicada, mesmo que isso seja bastante relativo quando se fala na sonoridade que os Simbiose destilam. Foi por esses e outros motivos que interpelámos Jonhie, vocalista, gerando-se uma muito descontraída conversa.

Ora, 18 anos de carreira… Já se sentem decrépitos? Estão com que média de idades?
Decrépitos? Nada disso, nunca nos sentimos tão bem como agora. A relação entre os membros da banda está cada vez melhor e as coisas estão a compor-se em relação à vida da banda! A nossa média de idades é de 30 anos para cima... [risos]

O dia-a-dia actual dos Simbiose é mais “simpático, não é assim? Há mais responsabilidade, mas ao mesmo tempo já são reconhecidos e não passam por algumas agruras. No Brasil até ficaram num hotel de cinco estrelas!
Os Simbiose têm vários tipos de concertos uns mais pequenos outros maiores. Daí que as condições variem conforme os sítios. Numas vezes estragam-nos com mimos, noutras é mais “familiar”. Mas certamente que hoje em dia as coisas são diferentes… e ainda bem! [risos]

É muito diferente o estado actual do movimento underground em comparação com o da década de 90? Acha que está mais favorável a uma banda como a vossa?
Bom, há coisas melhores e coisas piores. Em termos nacionais, os anos 90 foram bons tempos para o crust. Surgiu um movimento e havia algumas boas bandas. Ia mais pessoal aos concertos e acho que o movimento era mais “consciente” e “politizado”; as pessoas tinham mais atitude. De qualquer forma, nos dias de hoje as coisas são mais fáceis. Não há tanta responsabilidade; é tudo à base de música e roupa, nada mais. São poucos aqueles que realmente se identificam e têm atitude perante as coisas que os rodeiam.

O facto de passarem os vossos primeiros onze anos de carreira sem lançar um álbum tem que ver com as dificuldades que sentiam?
Quando começámos éramos uns putos [eu ainda nem estava na banda] e, nessa altura, ninguém tinha dinheiro para comprar instrumentos, pagar gravações, etc. Então, até aí, as coisas eram realmente muito difíceis, gravávamos em garagens, amigos faziam-nos favores porque não tínhamos “guita” para nada. Era muito diferente de hoje em dia em que as pessoas gravam em casa e os putos mal fazem uma banda têm material topo de gama e os pais dão-lhes dinheiro para irem gravar a estúdios profissionais. O cenário é realmente muito diferente. Havia antes muita vontade de tocar que é, afinal, o que nos faz ainda estar vivos como banda!

A partir daí, têm sido regulares nas edições dos vossos trabalhos. É pelo facto de terem um suporte editorial que assim o permita ou continuam a acarretar com a maioria das despesas de estúdio, entre outras?
Não neste momento há um suporte por trás com o qual conseguimos, não perdendo o controlo absoluto sobre o que fazemos, ter um suporte de edição que nos permite editar discos frequentemente.

Por falar em editoras, acho que ninguém esperava que passassem apenas um disco na Major Label Industries. Quer explicar-nos o que se passou?
Nós também não, mas a vida é assim! Porém, sacaram-nos um disco e fizeram duas reedições de discos antigos. Nada mau! [risos]

“Fake Dimensions” foi já composto sem o Paulo?
Sim, totalmente. Quando começámos a compor o Paulo saiu da banda, daí que, praticamente, foi o Nuno que escreveu as músicas todas.

Não houve o problema de criarem temas e arranjos para duas guitarras e agora não os puderem transpor para o palco?
Até agora acho que está a resultar muito bem. Até acho que as músicas deste disco foram feitas já a pensar numa guitarra e isso ao vivo nota-se!

A situação da saída de um elemento é sempre complicada, mas no vosso caso ponderam até ficar com os actuais cinco elementos. É o espírito que interessa, acima de tudo?
Nós nunca tivemos tão bem como agora em termos de ambiente de banda! Os membros que estão cá tocam há muito tempo juntos e estamos a lidar com esta situação muito bem. É tudo muito mais fácil.

O Paulo é natural dos Açores! Não foi por isso que o descriminaram, pois não? [risos] Claro que foi... mas foi ele que quis sair, por falta de tempo porque já tinha os Namek. Nós não descriminámos ninguém!

A antiga banda dele, os Carnification, vai estar de volta aos palcos brevemente ao fim de quase uma década! Sabe se o Paulo está a par disso? Será dessa que vai deixar também os Namek e voltar aos Açores? [risos]
Não faço a menor ideia! Tens que perguntar a ele...

E por falarmos tanto nos Açores, depois do Brasil só mesmo as ilhas para uma boa tournée, cheia de “sol”… ou talvez não! Está a par do movimento local? Desperta-lhe algum interesse?
Muito interesse! Queremos ir aos Açores o mais depressa possível. Pessoalmente, adoro a ilha da Terceira [é a única que conheço] e sabemos que há pessoal aí que nos curte muito. Esperamos que tu nos ajudes nisso! [risos]

Já agora, já lhe devem ter dito que os boletins meteorológicos dos telejornais nacionais são completamente tendenciosos! Nos Açores não anda sempre a chover…
Pois não! Os Açores são do caralho! Muito boa gente, pouca chuva e muita praia. Isso são bocas da reacção! [risos]

Liricamente, “Fake Dimension” é um pungente protesto contra a religião, não é assim? O que vos andou, afinal, a mexer com os “bofes” ultimamente para inspirar a escrever?
O disco fala de muitos problemas sociais e esse é um deles. Somos todos ateus e não concordamos com o que muitas religiões fazem com as pessoas. Por isso, levaram com esta bujarda! [risos]

Ter o João Ribas [Tara Perdida] a cantar no final desse disco, implicou uma abordagem diferente. Foi essa a vossa decisão ao que parece. “Evolução É Regressão” é bem soft…
Achaste soft? Acho que no conjunto foi bem fixe. Foi uma experiência nova que fizemos e resultou muito bem.

Bom, e para uma banda com tanta tradição como a vossa, o que esperar a seguir? Correr o mundo? Vender milhares de discos? Comprar uma casa em Cascais?
Sim e também uma quinta em Azeitão! [risos] Para nós a banda é uma descarga para a raiva que nos dão no nosso dia-a-dia. Por isso, todos nós temos os nossos trabalhos para podermos sobreviver. O que queremos dos Simbiose é que tenham uma longa vida e toquem o mais possível, dentro e fora do país.

Nuno Costa

No comments: