Friday, April 06, 2007

Entrevista Profusions

O PARADIGMA DA MELODIA

Foram, indiscutívelmente, uma das grandes surpresas do underground nacional em 2006. Muito se tem falado deste quinteto lisboeta que atingiu o nosso panorama no ano transacto com uma demo recheada de boas canções e de um superior sentido melódico. Apesar das limitações sonoras que "Paradigma" apresenta, normais para quem lança um primeiro trabalho, o rock alternativo de aragem prog dos Profusions apresenta argumentos suficientes para nos fazer esquecer estes problemas, acreditar no seu poder de composição e prever uma expansão em larga escala para um futuro próximo. Este futuro poderá estar já em "Trials Of Deception", o primeiro álbum da banda que esta prevê ter concluído entre Maio e Junho próximos. Fizemos questão de ir conhecer esta nova promessa do underground nacional e incitámos André Afonso, guitarrista e membro fundador dos Profusions.

Antes de mais, tens a noção de que os Profusions foram uma das revelações do underground nacional em 2006 e autores de uma das demos mais interessantes do nosso espectro musical?

É verdade que tivemos sempre bastante publico nos nossos concertos... As críticas também têm sido do “muito bom” para cima e toda a gente nos tem dado um empurrãozinho para não desistirmos. Este ano tem sido realmente muito bom para a banda e, provavelmente, por este motivo, nos apontam como uma das revelações do ano de 2006.

Três edições de “Paradigma” é algo muito representativo para vocês?

Sem dúvida. Apostamos em 100 maquetas da primeira edição com o pensamento - “são tantos CD's que ainda vão ganhar pó". Mas a verdade é que a primeira edição esgotou em duas semanas e a segunda num mês e meio. Esta terceira edição demorou um bocado mais para ser lançada porque decidimos editá-la com uma capa mais profissional e um tema novo que funciona como uma pré-produção para o álbum. Já está cá fora para quem quiser!

Então depreendo que não tenha sido muito difícil promover e fazer escoar a vossa música. A dada altura, já era o público a ir ter convosco para comprá-la?
Nós oferecemos muitas maquetas a “empresas” de publicidade e afins, mas, para ser sincero, 90% das demos vendidas até foram da primeira edição. Contudo, nestas duas ultimas edições quem as tem comprado vem de “mais longe”, inclusive de fora do país, o que é engraçado. Não sei de onde surge tanta gente, mas digo-vos já que o MySpace é uma ferramenta de promoção excelente.

Consta que quando começaste com este projecto o mais complicado foi encontrar músicos para constituir uma banda. Porque achas que se deu essa situação?
Sabes que em Portugal o panorama musical é complicado. Apesar de já haverem grandes bandas, continuam a haver muitos “músicos de garagem” e isto não tem só a ver com a formação musical de cada um, mas sim com a atitude, honestidade, humildade, etc. Nesta demo tens a noção de algum trabalho e alguma técnica. Contudo, os Profusions são uma banda que irá dar bastante mais e mas, para isso, terá de haver uma amizade e competência entre membros de banda acima do normal. Nós trabalhamos mais como irmãos do que como outra coisa qualquer. Para criar este tipo de laços entre banda, que só ajudam na produção de bons temas, boa vontade e segurança, é complicado encontrar os músicos certos. Exemplo disso mesmo são os Profusions que, para além das dificuldades financeiras de qualquer banda, ainda têm o problema de serem músicos de longe como, por exemplo, o nosso vocalista que é algarvio. Mas depois somos compensados pela qualidade acrescida.

Para além disso, os Profusions gravaram uma primeira demo que nunca chegou a ser lançada para o público, alegadamente porque a orientação musical de então era muito diferente da actual. Fala-me dessa situação. Que orientação era essa?
Quando eu pensei neste projecto, salvo erro em 2004, decidi criar um CD com muitos músicos que já trabalharam comigo em bandas, workshops, etc. Foi um trabalho descontraído com uma qualidade completamente caseira. O CD é composto por baladas e os músicos em questão, a maior parte deles, nem gosta do chamado "Metal”. Digamos que foi o ponto de partida para ganhar força e criar o que temos hoje em dia. Nunca saiu a público porque, para além de poder dar uma imagem errada dos Profusions actuais, alguns dos temas, devido ao “sucesso” dos Profusions, não têm autorização por parte dos intervenientes para serem lançados e divulgados.

Então decidiste enveredar pelo Metal porque é, efectivamente, o estilo que te demove...
Sim, porque se quero seguir em frente com algum projecto é para ser sério e para ser sério tenho de me entregar de alma e coração a algo que gosto. Adoro baladas, até temos uma na demo "Paradigma", mas um CD composto por mim sem distorção não me preenche as medidas nesta fase da minha vida. Futuramente, quem sabe se não pegamos em alguns daqueles temas e fazemos algo acústico... Um ponto alto desta banda é poder enveredar por onde quiser.

Quando fundaste os Profusions este era um projecto unipessoal que, como já referiste, contava com músicos convidados. Hoje em dia, os Profusions podem, efectivamente, se considerar uma banda ou continuas a ser tu o maior responsável pela composição?
Os Profusions hoje em dia são assumidamente uma banda de cinco membros em que todos têm opinião. Contudo, como em qualquer banda, há sempre alguém que dá a cara e normalmente sou eu por razões óbvias. A nível de composição, tenho tido mais criatividade nestes últimos tempos, mas qualquer um dos membros da banda está apto a compor e a fazer grandes temas. Inclusive, tenho trabalhado muito em conjunto com o Mike (teclista) a nível musical e tenho deixado a cargo do Xisto [voz] as letras. Isto para um trabalho futuro.

Para além da guitarra tocas algum outro instrumento?
Não, toco guitarra e já me ocupa algumas horas diárias. Também componho para outros instrumentos, mas através de pauta... não os sei tocar. Gostava de aprender, como é óbvio, mas os estudos, trabalhos, álbuns, ensaio, dar aulas de música, compor, etc, já me ocupam 24 horas.

Quais são as tuas grandes inspirações musicais?
Isso é uma pergunta complicada. Eu gosto imenso de Jazz, nomeadamente John Pizzarelli. No meu carro praticamente só tenho CDs de bandas sonoras, principalmente do grande compositor Hans Zimmer. Quanto à rádio só ouço a Antena 2. Contudo o que me faz realmente tripar são bandas como Children of Bodom, Orphaned Land, Edguy, Dream Theater, Beseech, Evergrey, Nightwish e afins…

Estas reflectem-se quando compões para os Profusions?
Inevitavelmente, o subconsciente vai buscar alguma coisa, mas não penso muito nisso quando estou a compor. Acho que isso se reflecte nos Profusions já com um som bastante próprio.

“Paradigma” está dividido em dois capítulos. Será que existe nele algum conceito ou esta divisão serve apenas para separar os períodos diferentes em que esta demo foi gravada?
Os capítulos são exactamente pelas duas razões. Na verdade, existe mesmo uma história entre os temas e os dois capítulos estão divididos em dois conjuntos de temas gravados em locais diferentes e em datas diferentes. Acho que acabamos por ter alguma sorte no meio disto tudo para conseguir aquela organização.

Porque existe este desfasamento nas datas de gravação dos temas do primeiro e segundo capítulo?
Inicialmente, decidimos entrar em estúdio para gravar a "Immortal Soul" e a "Nothing Is Fair". Tínhamos pensado gravar uma demo com dois temas com qualidade profissional e esse trabalho iria-se chamar “Follow The Word... Not The Heart”, mas acabaram por ficar com qualidade de demo. Então, assumindo os temas com menor qualidade e aproveitando o facto de nesse ano eu estar a tirar um curso de som, no final do ano lectivo decidi gravar os restantes temas que completam a maqueta e mostrar um bocado mais.

Este era exactamente um dos pontos que queria abordar. Como já deves ter ouvido muitas vezes, quer por parte do público quer por parte da imprensa especializada, “Paradigma” peca essencialmente pela qualidade da sua gravação...
Digamos que foi tudo muito feito “à pressa” e o material que dispusemos era mesmo muito fraco, daí não haver milagres. Por outro lado, tendo em conta o pouco que tivemos à nossa disposição até podes considerar a qualidade muito boa. Mas o que interessa é o que está feito e antes tenha saído com uma qualidade inferior e termos já começado a mostrar algo do que não mostrarmos absolutamente nada.

De qualquer forma, não te sentes angustiado de saber que este material poderia soar bombástico com outra produção?

Não, nós fazemos o que podemos com os meios que temos. Aproveitamos as oportunidades da melhor forma e se não tivéssemos aproveitado aquela não estava agora a ser entrevistado por ti. Além disso, (agora uma noticia em primeira mão), esses temas já estão “bombásticos”, só que apenas ainda aos ouvidos da banda.

Neste momento, ou pelo menos pelo que tem sido falado, vocês já estão a gravar o vosso primeiro álbum que terá, ao que tudo indica, lançamento em Abril/Maio deste ano. Confirmas?
Confirmo que estamos a gravar o álbum e estará pronto por essa altura. Talvez mais para Maio/Junho. O lançamento para o público ainda está a ser discutido pela banda.

O que nos podes adiantar do vosso novo material?

Posso-te dizer que o álbum irá ter cerca de 13 temas mais uns bónus que logo irão descobrir. Os temas estão todos muito diferentes, mesmo os que já conhecem. Principalmente as linhas de guitarras, vozes e o que ainda não conhecem - os teclados. Por outro lado, estará tudo um bocado mais pesado e mais trabalhado. Já temos gravado as baterias, o baixo, os teclados, as guitarras (acústicas, semi-acústicas e eléctricas) e algumas vozes. Em breve iremos então gravar os pianos acústicos, as cordas, a percussão e as vozes que faltam.

Pelo que referiste, podemos então depreender que o último tema de “Paradigma" é um indício de que os Profusions também serão capazes de explorar sons mais pesados no futuro...
Como já referi este álbum estará um pouco mais pesado e já temos algumas pautas com futuras malhas. Aparentam estar mais pesadas mas principalmente mais progressivas. Contudo, não me queria debruçar muito sobre trabalhos futuros quando ainda estamos em fase de gravação do primeiro álbum. Mas é obvio que os Profusions conseguem fazer um som mais pesado.

Ainda assim, no geral, os Profusions são uma banda muito melódica e acessível. Achas que isto vos pode ajudar a encontrar um rumo ou mesmo o sucesso para a vossa carreira?
Eu, sinceramente, não penso muito nisso. Quer dizer, eu faço o que gosto mas tenho noção de que, com certeza, os Profusions têm mais facilidade de atingir um publico mais vasto do que uma banda, por exemplo, de metal extremo que é muito mais específica.

Existe já o interesse de alguma editora em apostar em vós?
Sim, mas apenas nacionais. Ainda não mandamos nada para fora. De qualquer das formas, não me desagrada ter um primeiro trabalho lançado por uma editora nacional. Apenas tem de ser bem lançado e a editora tem que apostar a sério em nós.

Como descreves a cena de peso em Portugal actualmente? Os Profusions são, de certa forma, uma lufada de ar fresco no nosso panorama?
O metal nacional está a desenvolver-se bem. Já existem nele boas bandas e algumas que aprecio muito mesmo. O que tem realmente de prevalecer é a humildade, o trabalho e a fé de que é possível se não ficarem em casa a ouvir bandas estrangeiras. Em relação aos Profusions, acho que temos bastante para mostrar e quem sabe agradar a uma maioria. Esforçamo-nos bastante todos os dias para conseguir um bom resultado e acho que este é um bom princípio para se conseguir sentir algum "ar fresco" por aí.

Para terminar, desejos e objectivos para um futuro próximo e/ou mais longínquo dos Profusions.
Principal objectivo agora é o álbum. Andamos muitas horas por dia a trabalhar nele. Continuamos a trabalhar muito para ter tudo a 100%. Estamos a pensar em editoras, ouvir propostas, etc. Continuamos também a tocar ao vivo que é, realmente, o que nos dá prazer. Aproveito aqui para deixar o link onde podem ouvir a demo "Paradigma" - www.myspace.com/profusions - e o nosso contacto, seja para o que for: nós respondemos - profusions.band@gmail.com. Para acabar gostava de dar os parabéns e agradecer à SounD(/)ZonE tudo o que tem feito por nós. São estas iniciativas que marcam a diferença.

Nuno Costa

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