Wednesday, September 24, 2008

Entrevista Dagoba

CONQUISTANDO O ATLÂNTICO

Em vésperas de lançar o seu terceiro longa-duração, os franceses Dagoba aguardam com enorme expectativa aquele que será, por ventura, o seu álbum da afirmação. Prevendo-se com um som mais maduro, pesado e ao mesmo tempo melódico e sinfónico – como se pode já verificar pelas amostras no Myspace - “Face The Colossus” trar-nos-á de volta a banda de Marselha que deixou óptima impressão com o anterior “What Hell Is About” e também com a sua estreia em Portugal, precisamente em S. Miguel, Açores, no passado mês de Julho. É também em grande parte pelo rescaldo dessa experiência que contactámos Franky Constanza, o virtuoso baterista do grupo.

Passaram-se sensivelmente dois meses desde o vosso concerto nos Açores... Há alguma memória especial sobre essa viagem?
Sim, temos muito boas memórias e guardamos momentos fantásticos deste espectáculo. Não é piada se disser que esta foi a melhor viagem da nossa carreira! Foi como umas férias para nós, tudo foi perfeito. Foi um grande prazer tocar num sítio tão bonito como os Açores. Todas as pessoas da organização foram muito simpáticas connosco e o público foi incrível! O “after-partie” foi também um grande momento. Beber cerveja e conversar sobre Metal com todas as pessoas que vão aos nossos concertos é o meu hobbie favorito! [risos] Divertimo-nos muito e toda a banda tem grande vontade de regressar.

Os Açores são uma região, naturalmente, algo isolada. Conseguiu discernir algumas características sócio-culturais próprias que lhe tivessem chamado a atenção?
No fundo, não encontrei características diferentes da cultura francesa e europeia. Todas as pessoas que conheci eram muito amigáveis e de mente aberta. Os Stampkase e os Oppressive, por exemplo, partilham as mesmas influências que nós, os mesmos ídolos e a mesma paixão pela música pesada. Apreciámos a simpatia de todas as pessoas do festival, o seu sentido hospitaleiro e a fúria dos “metalheads”! Como disse, sentimo-nos em férias! Estamo-vos muito agradecidos.

Embora o mercado local seja limitado, acabou por ter a resposta que esperava do público?
Sim, o público foi muito receptivo e muitos metalheads estavam a cantar os nossos temas! Foi fantástico para nós. Estávamos tão longe de França, mas sentimo-nos em casa. O Metal é universal, de facto. O público deu-nos a energia que precisávamos para rockar! É muito excitante quando assim é e isso faz-nos querer dar o máximo para agradar ainda mais o público. O final do concerto foi também muito divertido, com o público a invadir o palco para nos tocar e nos dar os parabéns. É uma memória excelente.

Acredito que a vossa relação com os Açores fortaleceu-se bastante com esta experiência. A ideia de regressar também para umas férias seria interessante?
Sim, sem dúvida, seria um prazer regressar aos Açores para férias. Gosto da vossa linda ilha, do clima, do mar, das bonitas raparigas, especialmente as do Blue Light Bar! [risos] Para além disso, o pessoal dos Stampkase, Hatin’ Wheeler e Tolerance 0 disseram-me que os lugares mais bonitos da ilha são fora da cidade… Tenho que os conhecer! Tenho realmente muita vontade voltar aos Açores… e tu poderás ser o meu guia! [risos]

O facto deste concerto ter implicado uma viagem de avião – o que normalmente não acontece convosco – ainda mais para o meio do Atlântico, rumo a uma ilha “misteriosa” que muitos não conhecem ou sequer ouviram falar, tornou este episódio na vossa carreira ainda mais marcante?
Foi muito excitante! Como disseste, costumamos viajar de autocarro para as actuações e esta foi a nossa mais longa viagem de avião para um espectáculo. Pessoalmente, foi a viagem mais longa que fiz! Estava muito curioso acerca deste “misterioso” sítio no meio do Atlântico. Tinha imagens de paisagens estonteantes, vales muito calmos, crateras vulcânicas, lagos, lendas de piratas… Esta experiência foi mais do que um concerto!

Pelas reacções que tive posso-lhe dizer que o público local adorou também a sua forma de tocar, ficando completamente de queixo caído com a sua técnica! A ideia de editar um DVD instrucional creio que é boa…
Muito obrigado pelas palavras! Foi um grande prazer conhecer-vos a todos. Eu tento fazer o meu melhor na bateria e fico muito contente que as pessoas tenham gostado da minha forma de tocar. Tenho grande paixão por este instrumento e toco todos os dias com o intuito de me aperfeiçoar. Eu penso que vou editar um DVD no próximo ano com todos os elementos que aprecio na forma de tocar Metal moderno: rapidez, resistência, pedal duplo, rodopios de baquetas, etc! [risos] Não é muito instrutivo mas é divertido!

Relativamente ao novo disco dos Dagoba, já se passaram praticamente quatro meses desde que foi gravado. Como se têm sentido desde então? Ansiosos?
Não nos sentimos ansiosos, mas sim impacientes por o álbum não estar ainda nas lojas. Sairá no dia 10 de Outubro e queremos realmente partilhá-lo com a comunidade “Metal” e receber as suas reacções. Esperamos que “Face The Colossus” agrade e toque muitas pessoas.

Esta foi a segunda vez que trabalharam em estúdio com o Tue Madsen. Foi, por isso, mais fácil saber como chegar ao som certo para este disco?
Sim, foi realmente mais rápido e fácil trabalhar em estúdio para este disco. Actualmente, o Tue e nós estamos mais próximos e ele percebe muito bem e rapidamente o que queremos fazer e como queremos soar. O Tue é perfeccionista e tem os seus pequenos segredos e técnicas, e isso agrada-nos. Nós temos a mesma ideia do que é um “grande som” e assim as coisas resultam perfeitamente.

Tanto quanto sei, vão manter todas as características dos Dagoba no vosso novo disco, embora elevando-o a um novo patamar – mais melódico e mais extremo quando requerido. Esta é uma observação com sentido?
Significa uma evolução natural para os Dagoba. Simplesmente, compusemos novos temas sem compromisso. Mantivemos todas as características da banda: tempos rápidos, ritmos sólidos, pedal duplo, alguns riffs à black metal, samples com uma maior dimensão melódica, etc.

Numa observação geral, “Face The Colossus” é um passo em frente em termos criativos e técnicos?
Penso que é um novo passo em termos criativos. Não somos grandes fãs de “pura” técnica, apenas queremos estar aptos a tocar o que temos dentro das nossas cabeças. Empregamos apenas a técnica suficiente que os temas pedem. Este novo álbum é mais atmosférico e a presença de samples, violinos e teclados ganha maior importância. O tema intitulado “The World In Between” é o mais calmo que alguma vez compusemos – é como que uma balada de Metal. Vão encontrar ainda mais vozes melódicas em “Face The Colossus… Espero que gostem!

Porquê o título “Face The Colossus”?
Na capa do álbum nós somos o pequeno soldado enfrentando o grande colosso. É um conceito de desafio. A ideia que tentamos transmitir é a de que devemos dar sempre o melhor de nós próprios para atingirmos os nossos objectivos. Se nos sentimos determinados a cumprir os nossos objectivos, consegui-lo-emos! Embora alguns sejam complicados de atingir, nada é impossível.

Foi mais rápido ou fácil compor “Face The Colossus” atendendo a que podem estar extra-motivados pela boa recepção que teve “What Hell Is About”?
Sim, este novo disco teve um processo de composição muito rápido. Nós já temos certos mecanismos de trabalho que facilitam essa tarefa. Sabemos como compor um tema para Dagoba e como empregar diversidade aos nossos discos. Sentimo-nos muito motivados para lançar o sucessor de “What Hell Is About”! Existe uma pequena pressão, no entanto. Temos que nos sair melhor do que antes… e rápido! De momento, estamos muito entusiasmados, mas ao mesmo tempo impacientes para promover “Face The Colossus” na estrada.

Existe algum novo objectivo a atingir com este disco? Talvez tocar nos Estados Unidos?
Sim, tocar nos Estados Unidos é uma prioridade no nosso calendário do próximo ano. Será a nossa primeira vez e sabemos que “Face The Colossus” é o álbum certo no momento certo na nossa carreira para nos apresentarmos aos fãs norte-americanos.

Como se descrevem como músicos, actualmente, depois de uns últimos anos intensos na estrada e a gravar álbuns? As vossas vidas mudaram muito de alguma maneira?
Penso que nos tornamos melhores músicos, com mais experiência pela longa vida na estrada, mas nada mudou verdadeiramente nas nossas vidas. De momento, o melhor mesmo é não termos que ter um emprego a par da banda. Sentimo-nos extremamente privilegiados por só termos que pensar em música. Esta foi a grande mudança nas nossas vidas nos últimos dois anos. É muito difícil ganhar dinheiro suficiente para sobrevivermos, muito mais na indústria do Metal, por isso sentimo-nos muito felizes por ter essa oportunidade. Não ambicionamos ser ricos, apenas ganhar o suficiente para continuarmos a nossa aventura musical.

A França recebe-vos bem? Será que tem a noção de que vocês são um símbolo nacional para o resto do mundo?
Somos muito acarinhados em França mas não creio que tenham a noção de que somos “um símbolo nacional para o resto do mundo”. Contudo, sinto-me lisonjeado por essas palavras. Em França apenas se sabe que os Dagoba começaram a tocar cada vez mais fora do seu país. Também é verdade que temos muitos fãs fiéis em França, na Suiça, Bélgica e Holanda e é um grande prazer vê-los em todos os espectáculos. Esses fãs “die-hard” acreditam que os Dagoba vão ser a “next big thing”. Por eles, sentimo-nos muito honrados. Eles querem, verdadeiramente, ver os Dagoba nos maiores palcos do mundo e, da nossa parte, fazemos o melhor possível para que isso aconteça.

A poucos dias do lançamento de “Face The Colossus” como se têm ocupado? Ensaiando arduamente?
Estamos a trabalhar na nossa nova tracklist de forma a que seja composta pelos melhores temas dos nossos três discos. Estou mesmo ansioso por subir ao palco novamente. Estar em estúdio é bom, mas estar em palco é incrível! Conhecer todos os nossos fãs é um dos meus maiores prazeres. Vamos primeiro fazer uma grande tournée em França, depois partimos para o resto da Europa com um grande cabeça-de-cartaz e depois vamos aos Estados Unidos. Prevemos estar um ano na estrada. As nossas expectativas são as de conseguir divertir o público e a nós próprios no palco.

Entretanto, vai ser difícil conciliar os Dagoba com a sua banda de black metal que partilha com o Izakar – Blazing War Machine…
Sim, sabemos que vai ser difícil conciliar as duas bandas, mas sentimo-nos muito motivados com os Blazing War Machine também, por isso faremos esforços para encontrar o tempo que precisamos para lançar o seu primeiro álbum, possivelmente no final de 2009. É um projecto mais épico, obscuro, sinfónico… mais visual, mais black metal! Com eles só tocámos no Hellfest este ano, mas depositamos grande esperança nesta banda.

Nuno Costa

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