Friday, March 06, 2009

Entrevista Crossfaith

EMOÇÕES EM CADEIA

O primeiro lançamento regional, de um ano que promete em termos de edições, é assinado pelos micaelenses Crossfaith. “Mixed Emotional” é o primeiro registo profissional deste quarteto que assina aqui cinco temas de grande sumptuosidade melódica e rockeira. Um recalcado manifesto de maturidade que coloca o grupo num patamar superior em termos de projectos locais. O aspecto que a banda apresenta hoje em dia é um justo fruto de uns últimos anos de muita dedicação e da química entre uma formação que já encontrou os seus elementos certos. O último a entrar nesta aventura é também o seu maior símbolo - o vocalista Ricardo Reis que diz-nos nas próximas linhas, entre muitas outras coisas, como se deve sobreviver num meio musical como o dos Açores.


Este é o primeiro registo profissional da banda. Há um sentimento de especial satisfação neste momento, até porque é sempre um feito complicado de atingir-se nos Açores?
Os Crossfaith no passado já auferiram gravações de demos, tanto de estúdio como ao vivo. Nenhum destes trabalhos alcançou o nível de qualidade para nos sentirmos confortáveis ao ponto de o editarmos. Todavia, também temos que olhar para a realidade do nosso mercado, em termos populacionais, porque não nos garante um grande número de vendas.

Pedia-lhe que traçasse com mais pormenor o caminho da concepção até à edição deste EP, referindo o que de mais positivo e/ou negativo teve.
No Outono de 2006, os Crossfaith deram início à pré-produção do seu primeiro trabalho em CD, gravado, produzido e masterizado por Paulo Miguel Melo nos Estúdios PFL. Tal como o seu nome sugere, “Mixed Emotional” foi um "circo" de emoções. Foi um processo de dois anos com várias interrupções, por diversos motivos, desde ter de dar resposta ao número de apresentações ao vivo que, naturalmente, requerem tempo de preparação na sala de ensaio, entre outras situações. No geral, foram mais de dois anos de grande amadurecimento para os músicos e para a música que fazemos.

Na altura em que entra para a banda muitos consideram o assinalar de uma nova vida para o projecto. Até que ponto acha que teve um peso “revolucionário” nos Crossfaith?
Quando entrei para os Crossfaith fi-lo com o pé direito. Digo isto porque, afinal de contas, encontrei músicos que tiveram a abertura suficiente para aceitar mudanças e deram o seu melhor em prol do nosso objectivo comum.

Se no início a banda alegava um cariz progressivo, neste momento parece ter assumido uma identidade claramente mais AOR. Digamos que esta é a sonoridade que pretendem que vos identifique daqui para a frente?
É inevitável que todos sintam uma grande necessidade de nos classificar ao pormenor. Eu deixo andar o “barco” e fico a ver e ouvir, enquanto outros dão-se ao trabalho de analisar e classificar o que fazemos, à sua maneira, uns melhor que outros. Na realidade somos uma banda muito versátil que se enquadra bem em diversos cenários e sonoridades.

Eu não resistia a perguntar-lhe quais as suas referências vocais. Coincidência ou não, soa-me, a momentos, bastante a Marvin Lee Aday [vocalista dos Meat Loaf].
Já me compararam e já me chamaram muita coisa e cada um tem direito à sua opinião. Eu curto essa cena!

O facto de ter passado a barreira dos 30 anos ajuda a trazer mais alguma experiência à banda?
É o que dizem. Continuo o mesmo de sempre, embora com os anos de experiência haja a tendência para fazer as coisas com cabeça, tronco e membros. Digamos que é natural que isso se dê.

Embora os Açores comecem a tornar-se num viveiro de bandas dos mais variados estilos, como acha que as pessoas encaram a sonoridade dos Crossfaith e onde os poderíamos encaixar? Entre o público que gosta de Metal/Rock e o Pop ou em ambos?
Como é óbvio, por natureza própria, nós estamos enquadrados nestas três categorias. Temos um público que abrange todas as idades e diversos gostos.

Arriscaria a dizer até que vocês são bastante corajosos atendendo a que dentro de um cenário Rock/Metal açoriano que nutre um certo preconceito com o conceito do rock mais melódico e baladesco, vocês foram capazes de criar um disco cheio de sentimentos ditos mais "melosos".
Isto não nos preocupa. Temos consciência do que fazemos. De cartaz para cartaz, apresentamos um repertório adequado à sua temática e ambiente.

A verdade é que “Mixed Emotional” tem sido largamente promovido e com muito airplay nas rádios locais. As reacções até agora não podiam ser melhores, certo?
Até ao presente, têm superado as nossas expectativas.

A cerimónia de lançamento de “Mixed Emotional” foi de encontro às vossas expectativas? Uma experiência também marcada por ter sido transmitida em directo, para todo o mundo, por uma rádio local...
O nosso planeamento para o lançamento de “Mixed Emotional” consiste em duas fases distintas. No dia 31 de Janeiro de 2009 celebrámos uma festa de lançamento no bar H2O, em parceria com a Rádio Atlântida, que transmitiu o concerto em directo na internet e no seu programa de rádio. Foi uma festa que decorreu dentro das expectativas. A segunda fase do lançamento tem lugar no Teatro Ribeiragrandense, no dia 7 de Março [amanhã], com um concerto entre uma hora e quarenta e cinco minutos e as duas horas de duração. Estamos a contar com a presença em palco de dez músicos convidados. Neste evento, vamos apresentar o nosso repertório completo, com todos os nossos temas desde 2006, até à presente data, englobando a apresentação, pela primeira vez, a público do tema “Grave Diggers”.

No set-list de “Mixed Emotional” acabam por manter alguns temas antigos da banda mas com novos arranjos e estrutura. Porquê?
Acreditamos que tudo muda. Aquilo que não muda acaba por envelhecer ou cair no esquecimento...

Eu diria que “Give Me A Moment” é das canções mais orelhudas e bem concebidas de um artista regional até à data. Há um especial cuidado por terem canções de grande potencial radiofónico, por exemplo?
Obrigado pelo elogio! O objectivo principal da maior parte dos artistas no mundo musical é serem ouvidos. Como tal, também temos o cuidado, dentro do nosso conceito musical, de compor temas que sejam orelhudos e “radiofónicos”.

Com um manager nos vossos quadros abrem-se, claramente, perspectivas de irem mais longe, embora muita gente pense que esta escolha é muito discutível numa terra pequena como os Açores. Concorda?
Os Crossfaith têm um manager porque necessitam do apoio de um profissional para desempenhar muitas das funções que os próprios músicos estavam a tentar cobrir, sem ser exactamente a sua área. Agora que entrámos com um trabalho discográfico para o mercado, foi a altura propícia para a solicitação do José F. Andrade para membro nossa equipa de trabalho.

Por onde passam os grandes objectivos dos Crossfaith a curto prazo?
Os nossos objectivos para um futuro próximo estão direccionados para o apoio e divulgação do nosso EP e para o aumento da consistência do nosso repertório para que o possamos apresentar em todos os palcos convidativos à nossa presença.

“Mixed Emotional” é também o primeiro lançamento regional de 2009 e que antecede vários outros que estão em agenda para este ano. Um sinal de que está efectivar-se um certo crescimento no movimento musical local, o qual tantos ansiavam há largos anos…
Obviamente que com a vontade de se ser ouvido vem a vontade de lançar um disco. Os músicos da região não são diferentes dos do resto do mundo. Hoje em dia, já temos mais meios para alcançar estes objectivos. Se se está a efectivar-se um certo crescimento no movimento musical local? Sim, somos cada vez mais, com “voz mais alta” e com qualidade para sermos ouvidos.

Na sua opinião o que mudou na região nos últimos tempos, se é que mudou alguma coisa?
Eu acho que faz tudo parte do desenvolvimento global e dos objectivos de cada um e de todos em comum – o evoluir.

Para uma banda açoriana tudo tem um prazo de validade, diria eu, mais curto, uma vez que a área geográfica é reduzida e damos por nós a tocar, normalmente, ao fim de pouco tempo, sempre para as mesmas pessoas. Como pensam os Crossfaith contrariar isso?
Eu não vejo este assunto dessa forma. Não é por estar num meio pequeno que vou deixar de pensar que posso fazer algo diferente, para não me aborrecer ou cair na rotina. Os Crossfaith são uma banda versátil e sujeita a mudanças. Acreditamos que tudo muda e aquilo que não muda acaba velho e no esquecimento.

Essa eventual fugacidade faz-vos talvez já pensar em qual o próximo grande passo a dar em termos discográficos?
Nós lançámos “Mixed Emotional” há muito pouco tempo para estarmos a pensar já num próximo trabalho.

Como o imaginam?
Diferente!

Nuno Costa

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