MÉRITO VS. JUSTIÇA
A razão deste confronto de valores tem muitas vezes pouco de dialéctico. A igualdade de direitos devidamente analisada e posta em prática tem muito de subjectivo e esquiva-se frequentemente à coerência dos factos e até a uma dita democracia. Talvez por isso tenhamos atingido um ponto manifesto de saturação.
Apesar deste nosso espaço nunca se ter assumido como um promotor de eventos, a verdade é que o nosso ímpeto de apregoar aos “quatro ventos” a bandeira do Heavy Metal levou-nos nos últimos anos a concretizar várias iniciativas fora dele, no nosso entender, muito válidas, sobretudo, para a região Açores. Como tal e até pelo entusiasmo e alegria que em nós gera, temos vontade de continuar. Para além das notícias, entrevistas, reviews e reportagens, muito do nosso tempo é passado a magicar sobre novas formas de levar para os palcos este estilo de vida e impulsionar os projectos que com ele se identificam. Mas a verdade nua e crua é que temos a importância de um grão de areia. Pelo menos é isso que podemos deduzir da resposta dos órgãos de soberania que governam o arquipélago e decidem se podemos, afinal, dar azo a tais esforços.
Este manifesto vem no seguimento de várias tentativas frustradas de tentar promover novas iniciativas verdadeiramente incisivas e frutíferas do ponto de vista de promulgar os músicos locais e a própria região. Não queremos provocar ninguém nem incitar à polémica; pretendemos apenas chamar a atenção para aquilo que, afinal de contas, é público mas permanece longe do conhecimento geral.
Até a nós próprios, a iniciativa de pesquisar sobre o destino e os montantes dos fundos de apoio direccionados para a juventude, e não só, através do Jornal Oficial do Governo Regional, foi estímulo de uma pessoa familiarizada com o assunto que, no fundo, despertou-nos para a maneira mais simples e prática [apesar das horas de navegação no arquivo electrónico do referido jornal] de esclarecer a dúvida de muita gente. Para perceberem também a razão da nossa indignação vamos pôr de lado alguma da discrição que sempre esteve presente no nosso percurso e adoptar uma transparência necessária.
A partir de uma imensidão de despachos, conseguimos perceber que, no mínimo, 1.274.437€ do bolo orçamental do Governo açoriano para 2009 já foi utilizado para promoção de actividades destinadas à juventude. Não querendo pôr em causa a competência e a boa vontade de quem tutela os órgãos responsáveis por essas pastas, a verdade é que basta um olhar minimamente atento para encontrarmos nestes mesmos despachos uma certa incoerência na relação entre montantes atribuídos e seus destinos. Certamente que a fatia orçamental destinada a este sector social tem limites e poderá não corresponder às solicitações de todos, mas deve ser mais do que uma questão de contas, uma questão de perspicácia e lucidez, a base de todo o mecanismo de selecção e concessão dos apoios para projectos nesta e noutras categorias.
A nossa legitimidade não chega para questionar o valor das iniciativas que gozam de apoio financeiro do Governo local, mas sim os reais frutos que estas mesmas podem gerar ou potenciar face ao investimento feito. Consequentemente acaba por haver uma hierarquia mas isso é algo com que todos devemos saber conviver. Ainda assim… a prudência e bom senso devem ser palavras de ordem.
Sublinhamos ainda que não estamos minimamente a opor-nos à concretização de grandes e interessantes eventos que decorrem na região, muito menos relacionados com o Metal [até porque são poucos], mas sim a defender a equilibrada distribuição dos dinheiros públicos. Senão vejamos: um evento com a força tão relevante de impulsionar as bandas de Metal regionais como tem o October Loud goza de um apoio governamental de 547€, enquanto um estreante muito promissor e igualmente válido, como o Metalicidio On Stage, é injectado com um apoio de 25.000€. Como este esteve também o Live Summer Fest, que contabilizados outros apoios foi certamente o evento mais caro de sempre em S. Miguel no que concerne ao Heavy Metal. Talvez pelo facto destes últimos dois casos não terem fins-lucrativos o Governo os tenha em outra conta [que não sabemos bem qual] e como um esforço promocional que é, sem dúvida, nobre, mas que tem que ser sustentável. A aposta em qualquer actividade tem que ser feita consoante o estado do mercado.
E quando pensamos que o pobre do amante de Heavy Metal nos Açores é o mais negligenciado e preterido, vejamos o que acontece em outras situações: Festival Green Trippin Camp – 4.000€; Festival Azure – 15.000€; Festival Insomnia – 4.000€; PDL Summer Fest – 15.000€; XXI Semana Académica – 30.000€; Bob Sinclar – 3.400€ [despesas de mobilidade]. É verdade que, pelo impacto mediático destes eventos, será mais fácil sacar apoios em outros sectores, nomeadamente o privado, mas a perspectiva do Governo em relação à importância dos mesmos, diria, reflecte-se nestes números. Por conseguinte, nós, metaleiros, não estamos muito “mal”.
Temos ainda outros casos colocados em grande consideração pelo Governo, como o LAB Jovem [56.759€] e a Maré de Agosto [50.000€, incluindo despesas de mobilidade, actividades de promoção de estilos de vida saudáveis e incentivos à criatividade dos jovens], mas temos que reconhecer o impacto dos mesmos.
Não percebemos, por exemplo, é o impacto do Azores Band Challenge – Concurso de Bandas de Garagem Açorianas – que decorreu, salvo erro, em Vila Franca do Campo, e do qual pouco ou nada resta para contar. Mesmo assim, consentiram-lhe 4.000€.
Num outro quadrante, que até tem bastante a ver com a juventude mas tem abrigo em programas específicos, o Grupo Desportivo Comercial, dedicado essencialmente à promoção dos desportos motorizados, goza de um financiamento governamental para 2009 no valor de 840.000€ [mais 60.937€ para a deslocação de meios de comunicação social para o SATA Rallye Açores que este ano mereceu transmissão em diferido na Eurosport]. Justo? Não temos a competência para o dizer. Mas lançamos a discussão.
Voltando à música, outra descoberta “fantástica” e que nos deixa claramente a questionar a tal relação causa-efeito [para além da justiça da circunstância, já que muitos gostavam de ter a “papinha feita”], percebemos por outro despacho que foram atribuídos 4.000€ a uma banda de Metal local para a edição de um EP. Encontrámos também outra dentro do pop/electrónico bafejada com 2.000€.
Temos conhecimento também de uma Associação de Juventude, concretamente da Vila da Povoação, que recebeu 17.987€ para promover seis dias de concertos e actividades lúdicas em cada freguesia do seu concelho no último verão. Pela qualidade demonstrada no próprio evento, ficamos mortinhos por um relatório de contas. Meros estrados para servir de palco [felizmente não choveu], som e luz de qualidade semi-profissional, músicos, na sua maioria, a tocar à borlix [dá jeito lidar com putos que estão a começar que apenas tocam por umas garrafas de água – que nem chegaram – e não se importam de levar todo o backline para os concertos]; modo de lidar este que levou a que uma banda tivesse desistido de participar, sendo ainda insultada na sua inteligência de uma maneira inqualificável. Já agora, na data em que esta ia actuar, arranjaram uma banda substituta para juntar a uma outra já definida no cartaz. Não há conhecimento de nenhuma delas ter recebido o cashet que estava previsto para a outra que desistiu…
Para concluir toda essa reflexão, e para que tentem ajuizar a lógica das coisas, pergunto aos jovens, concretamente os que gostam de Heavy Metal, se perante todo esse quadro não haveria, afinal, espaço, tempo e dinheiro para um Wacken Metal Battle e um Festival Ilha do Ermal, ambos nos Açores, tal como foi proposto e revogado?
A razão deste confronto de valores tem muitas vezes pouco de dialéctico. A igualdade de direitos devidamente analisada e posta em prática tem muito de subjectivo e esquiva-se frequentemente à coerência dos factos e até a uma dita democracia. Talvez por isso tenhamos atingido um ponto manifesto de saturação.
Apesar deste nosso espaço nunca se ter assumido como um promotor de eventos, a verdade é que o nosso ímpeto de apregoar aos “quatro ventos” a bandeira do Heavy Metal levou-nos nos últimos anos a concretizar várias iniciativas fora dele, no nosso entender, muito válidas, sobretudo, para a região Açores. Como tal e até pelo entusiasmo e alegria que em nós gera, temos vontade de continuar. Para além das notícias, entrevistas, reviews e reportagens, muito do nosso tempo é passado a magicar sobre novas formas de levar para os palcos este estilo de vida e impulsionar os projectos que com ele se identificam. Mas a verdade nua e crua é que temos a importância de um grão de areia. Pelo menos é isso que podemos deduzir da resposta dos órgãos de soberania que governam o arquipélago e decidem se podemos, afinal, dar azo a tais esforços.
Este manifesto vem no seguimento de várias tentativas frustradas de tentar promover novas iniciativas verdadeiramente incisivas e frutíferas do ponto de vista de promulgar os músicos locais e a própria região. Não queremos provocar ninguém nem incitar à polémica; pretendemos apenas chamar a atenção para aquilo que, afinal de contas, é público mas permanece longe do conhecimento geral.
Até a nós próprios, a iniciativa de pesquisar sobre o destino e os montantes dos fundos de apoio direccionados para a juventude, e não só, através do Jornal Oficial do Governo Regional, foi estímulo de uma pessoa familiarizada com o assunto que, no fundo, despertou-nos para a maneira mais simples e prática [apesar das horas de navegação no arquivo electrónico do referido jornal] de esclarecer a dúvida de muita gente. Para perceberem também a razão da nossa indignação vamos pôr de lado alguma da discrição que sempre esteve presente no nosso percurso e adoptar uma transparência necessária.
A partir de uma imensidão de despachos, conseguimos perceber que, no mínimo, 1.274.437€ do bolo orçamental do Governo açoriano para 2009 já foi utilizado para promoção de actividades destinadas à juventude. Não querendo pôr em causa a competência e a boa vontade de quem tutela os órgãos responsáveis por essas pastas, a verdade é que basta um olhar minimamente atento para encontrarmos nestes mesmos despachos uma certa incoerência na relação entre montantes atribuídos e seus destinos. Certamente que a fatia orçamental destinada a este sector social tem limites e poderá não corresponder às solicitações de todos, mas deve ser mais do que uma questão de contas, uma questão de perspicácia e lucidez, a base de todo o mecanismo de selecção e concessão dos apoios para projectos nesta e noutras categorias.
A nossa legitimidade não chega para questionar o valor das iniciativas que gozam de apoio financeiro do Governo local, mas sim os reais frutos que estas mesmas podem gerar ou potenciar face ao investimento feito. Consequentemente acaba por haver uma hierarquia mas isso é algo com que todos devemos saber conviver. Ainda assim… a prudência e bom senso devem ser palavras de ordem.
Sublinhamos ainda que não estamos minimamente a opor-nos à concretização de grandes e interessantes eventos que decorrem na região, muito menos relacionados com o Metal [até porque são poucos], mas sim a defender a equilibrada distribuição dos dinheiros públicos. Senão vejamos: um evento com a força tão relevante de impulsionar as bandas de Metal regionais como tem o October Loud goza de um apoio governamental de 547€, enquanto um estreante muito promissor e igualmente válido, como o Metalicidio On Stage, é injectado com um apoio de 25.000€. Como este esteve também o Live Summer Fest, que contabilizados outros apoios foi certamente o evento mais caro de sempre em S. Miguel no que concerne ao Heavy Metal. Talvez pelo facto destes últimos dois casos não terem fins-lucrativos o Governo os tenha em outra conta [que não sabemos bem qual] e como um esforço promocional que é, sem dúvida, nobre, mas que tem que ser sustentável. A aposta em qualquer actividade tem que ser feita consoante o estado do mercado.
E quando pensamos que o pobre do amante de Heavy Metal nos Açores é o mais negligenciado e preterido, vejamos o que acontece em outras situações: Festival Green Trippin Camp – 4.000€; Festival Azure – 15.000€; Festival Insomnia – 4.000€; PDL Summer Fest – 15.000€; XXI Semana Académica – 30.000€; Bob Sinclar – 3.400€ [despesas de mobilidade]. É verdade que, pelo impacto mediático destes eventos, será mais fácil sacar apoios em outros sectores, nomeadamente o privado, mas a perspectiva do Governo em relação à importância dos mesmos, diria, reflecte-se nestes números. Por conseguinte, nós, metaleiros, não estamos muito “mal”.
Temos ainda outros casos colocados em grande consideração pelo Governo, como o LAB Jovem [56.759€] e a Maré de Agosto [50.000€, incluindo despesas de mobilidade, actividades de promoção de estilos de vida saudáveis e incentivos à criatividade dos jovens], mas temos que reconhecer o impacto dos mesmos.
Não percebemos, por exemplo, é o impacto do Azores Band Challenge – Concurso de Bandas de Garagem Açorianas – que decorreu, salvo erro, em Vila Franca do Campo, e do qual pouco ou nada resta para contar. Mesmo assim, consentiram-lhe 4.000€.
Num outro quadrante, que até tem bastante a ver com a juventude mas tem abrigo em programas específicos, o Grupo Desportivo Comercial, dedicado essencialmente à promoção dos desportos motorizados, goza de um financiamento governamental para 2009 no valor de 840.000€ [mais 60.937€ para a deslocação de meios de comunicação social para o SATA Rallye Açores que este ano mereceu transmissão em diferido na Eurosport]. Justo? Não temos a competência para o dizer. Mas lançamos a discussão.
Voltando à música, outra descoberta “fantástica” e que nos deixa claramente a questionar a tal relação causa-efeito [para além da justiça da circunstância, já que muitos gostavam de ter a “papinha feita”], percebemos por outro despacho que foram atribuídos 4.000€ a uma banda de Metal local para a edição de um EP. Encontrámos também outra dentro do pop/electrónico bafejada com 2.000€.
Temos conhecimento também de uma Associação de Juventude, concretamente da Vila da Povoação, que recebeu 17.987€ para promover seis dias de concertos e actividades lúdicas em cada freguesia do seu concelho no último verão. Pela qualidade demonstrada no próprio evento, ficamos mortinhos por um relatório de contas. Meros estrados para servir de palco [felizmente não choveu], som e luz de qualidade semi-profissional, músicos, na sua maioria, a tocar à borlix [dá jeito lidar com putos que estão a começar que apenas tocam por umas garrafas de água – que nem chegaram – e não se importam de levar todo o backline para os concertos]; modo de lidar este que levou a que uma banda tivesse desistido de participar, sendo ainda insultada na sua inteligência de uma maneira inqualificável. Já agora, na data em que esta ia actuar, arranjaram uma banda substituta para juntar a uma outra já definida no cartaz. Não há conhecimento de nenhuma delas ter recebido o cashet que estava previsto para a outra que desistiu…
Para concluir toda essa reflexão, e para que tentem ajuizar a lógica das coisas, pergunto aos jovens, concretamente os que gostam de Heavy Metal, se perante todo esse quadro não haveria, afinal, espaço, tempo e dinheiro para um Wacken Metal Battle e um Festival Ilha do Ermal, ambos nos Açores, tal como foi proposto e revogado?
Nuno Costa
6 comments:
Mais uma acertada crónica!!!
Os meus parabéns...
Uma grande crónica, mais uma vez estás de parabens Nuno pelo teu grande trabalho desenvolvido, esperemos que isto sirva para abrir os olhos ás entidades responsáveis.
Grande abraço
Fipos
A questão do Ocobter Loud e Metalicidio on Stage cuidado!!!!
Foi atribuído 25 000 ao October Loud promovido pela Bit 9, da mesma forma que tinha sido atribuído acho que 1900 euros no ano anterior à Bit 9 para o October Loud 2008. Para o October Loud 2007 não foi apresentado projecto, financiamos aquilo dos fundos da Bit 9. Algumas pessoas é que se lembraram de ir registar o nome October Loud no registo de propriedade industrial o que obrigou a Bit 9 a rebaptizar o projecto com o nome Metalicidio on Stage em Maio penso eu.
Agora por parte dos promotores foi pouco prudente entregar pela segunda vez um projecto intitulado October Loud, vindo da M9events que tem só um ano de existência e nem está legalmente constituída, tendo já o projecto October Loud dado entrada na Direcção Regional da Juventude alguns meses antes em nome da Bit 9, entidade com 10 anos de existência e que já tinha recebido financiamento nos anos anteriores para fazer o October Loud.
Eu tive de prestar esclarecimentos pessoalmente sobre o que é que se estava a passar quando um segundo projecto October Loud deu entrada na Direcção Regional em Junho deste ano.
Isto para dizer que não foi a Direcção Regional da Juventude que apreciou mal os projectos, eles apoiaram o October Loud consideravelmente. Efectivamente esse apoio neste mês de Outubro está a financiar um evento chamado Metalicidio on Stage porque a Bit 9 como simples associação juvenil que é não anda muito interessada em registar o nome dos eventos que promove no Registo de Propriedade Industrial.
Olá Mário,
Apresentaste mais alguma informação que caberá a cada um valorizar ou não. Já não são contas do meu rosário. Relativamente à crónica, sempre mencionei que esses dados são relativos a 2009. Tudo o que tenha a ver com o passado passa-me ao lado. E gostava que ficasse claro que não estou a tentar desvalorizar nem muito menos deitar abaixo os projectos mencionados na crónica. Apenas acho que, havendo outras propostas interessantes, não se lida com as coisas e com as pessoas com a indiferença total e absoluta que eles vêm manifestando... como se um Wacken Metal Battle e um Ilha do Ermal não fossem forças suficientes para promover (em grande) os Açores lá fora. Uma coisa é não ter dinheiro porque já se "rebentou" num determinado ano, outra coisa é mandar despachos "automáticos" que dão a clara sensação de que as propostas nem são avaliadas e não dão qualquer perspectiva para o futuro. Isso é que é duro de engolir.
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