É um dado adquirido e consensual que a importância da imagem não deve ser descurada como ferramenta de marketing na gestão de carreira de uma banda. Mas será errado pensarmos que, na prática, só a devemos adoptar numa fase em que as coisas assumem contornos mais profissionais – como será ter um compromisso com uma editora ou então quando as pessoas começam verdadeiramente a dar por nós. Desde os primeiros passos dados por uma banda que a imagem, subordinada a um conceito e mensagem, é fundamental para o impacto e as aspirações da mesma. Coisa que não se vê em muitas bandas de garagem. Fica o conselho para que, tanto em álbum como ao vivo, desenvolvam os maiores esforços para potenciar este aspecto e assim a sua identidade.
Entretanto, a discussão entre o protagonismo de duas das faces mais importantes de um projecto musical – a música, claro está, e a imagem – é, sem dúvida, susceptível de várias interpretações. O que achar do caso em que todos se recordam de uma banda por este ou aquele pormenor estético, mais do que a própria música? E quando o produto musical é tão coeso mas a ele anexa-se uma imagem descuidada e um desempenho ao vivo cinzento? É fácil, assim, perceber que um meio-termo é o aconselhável. Haja bom senso para que tal se concretize. Em alguns casos, nada melhor do que recorrer a pessoas mais experientes na área, nomeadamente managers.
Por este prisma qualquer exagero, por excesso ou defeito, pode até ser visto como uma provocação à nossa moral como consumidores. Quando a máquina promocional está disposta a passar por cima de tudo para fazer render os cifrões, estamos no pleno direito de questionar as suas intenções e a validade de certos produtos e, sobretudo, rejeitá-los. Embora elogiemos a forma inteligente como se estuda e explora o comportamento dos consumidores que garante, normalmente, tiros certeiros, temos que desenvolver um espírito crítico e lúcido para evitar com que manipulem as nossas fraquezas. É reprovável que qualquer artifício visual baseado no “choque”, se sobreponha, neste caso, àquilo que tem que ser o essencial – a música.
No caso concreto dos Rammstein, que é o que está mais fresco, pese embora sejam reconhecidamente talentosos a explorar a sua vertente musical, estou certo que se caiu no exagero com um tema como “Pussy”, concretamente com o seu videoclip. Sempre esteve perceptível o sarcasmo com que a banda pauta a sua mensagem e delineia o seu universo, que os torna únicos no fundo, mas usar dos mais óbvios argumentos sensacionalistas, como é o sexo explícito, para vincar um trabalho musical… já não é coisa propriamente de artista. Isso sem qualquer tipo de preconceito ou pudor, mas do ponto de vista da riqueza intelectual não há nada que possa esse teledisco acrescentar. Se muitos “venderam” o corpo para atingir o sucesso, o que acontece muito no pop, o que dizer quando uma banda de Metal adopta os mesmos princípios? Posição retrógrada ou conservadora, o que nos interessa mesmo é ver as bandas em pleno século XXI a se superarem, mesmo que a tarefa seja árdua, recorrendo à sua capacidade de composição, técnica e lírica.
Em suma, a imagem terá sempre um valor enorme num sistema que tem claramente o seu lado comercial, mas no ranking do protagonismo nunca pode sobrepor-se ao valor da música, mas sim andar ombro a ombro com ela. Não foi certamente por essa estratégia que génios como Beethoven ou Mozart se tornaram intemporais.
Nuno Costa
3 comments:
Tenho a mesma opinião relativamente ao novo vídeoclip dos Rammstein, sem qualquer tipo de pudores, digamos que é um exagero desnecessário...
O outro dia estava a ler sobre o "anticristo"´(último filme do Lars Vonn Trier), e sobre a necessidade que ele tinha tido (falavam ofensivamente) de mostrar cenas de sexo explícito, e de mutilação genital, etc, de maneira explícita no seu último filme. Quem vê o filme sente-se um pouco desconfortável com as cenas, mas na cabeça do realizador, essas cenas tinham que estar no filme. Como artista que é, ele não se desculpa por ter escolhido essa via. O filme obrigou-o a tal escolha (do ponto de vista artístico). Na música, desde que siga um propósito artístico tudo bem. Se for pra vender mais... Só se a música for muito boa!
A imagem vale muito! Não vêm os ídolos? Não é preciso pintar a cara, nem usar picos com 5m. É preciso ter carisma, e alguma coisa de misterioso, com visual actual, com o qual toda a gente se identifique. E agora escrevia o outro lado da questão, mas ficava um mega texto...
Bom, acho que estamos todos de acordo. Ou seja, já que se falou em cinema, acho que, por exemplo, se um filme como o "Saw" não tivesse um argumento forte como tem e ao invés fosse baseado em carnificina gratuita... Bom, seria um bom filme? Não! A não ser para aqueles a quem isso basta para se entreter, embora ache que já o "Saw" comece a ser esmiuçado de forma claramente comercial! O essencial da história já aconteceu. Descansem lá a saga.
Já no caso dos Rammstein, musicalmente(e isso é uma opinião meramente pessoal) não estão a fazer nada de extraordinário há tempos. Mas hey, ainda preciso aguardar para ouvir o novo álbum todo. Mas a verdade é que estou certo que os Rammstein são das mais bem sucedidas máquinas de marketing da actualidade. Desde quando a cantar-se em alemão atinge-se uma euforia tão grande em redor de uma banda? Tem que haver algo mais e não, não é na sua música. No espectáculo e na sua imagem! O que não quer dizer também que a sua música seja intragável, claro. Mas mete-me uma grande impressão, particularmente as letras destes senhores... Cantavam em português e pareciam as provocações do Quim Barreiros (outro ídolo do zé povinho, sabe-se lá porquê). Enfim, opiniões.
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