“Hot Wings”
[CD – Rise Above/PHD/Recital]
É extremamente deleitoso depararmo-nos de quando em vez com trabalhos como este. Os Firebird são um autêntico volume compilatório do que foi o rock e a sua génese mais pura. Por outro lado, estaríamos longe de pensar ver um músico como Bill Steer, um dos pilares de bandas tão emblemáticas [e extremas] como Napalm Death e Carcass, pegar na sua guitarra para recriar riffs e sons tão retro e que nos levassem numa autêntica viagem de cerca de 40 anos atrás, bem ao coração do blues e do rock. Bandas como Cream, Mountain, Johnny Winter ou mesmo Led Zeppelin e Deep Purple são aqui invocadas e todo um espírito nostálgico embebe este trabalho com um sabor muito peculiar.
Formados em 1999, os Firebird interrompem um hiato de três anos para nos oferecer mais um trabalho de originais, já o quarto, na forma de dez temas em que a sua honestidade fala por si. “Misty Morning”, “Horse Drawn Man”, “Bow Bells” ou “I Wish You Well” são apenas alguns dos exemplos de força e espírito rockeiro que Steer [guitarra, voz, harmónica], Al Steer [baixo] e Ludwig Witt [bateria] expelem dos seus imaginários. Os ritmos e solos de guitarra figuram o verdadeiro sentimento deste trabalho, para além da voz de Steer que se impõe com um tom deveras convincente. A harmónica em “Misty Morning” e o carácter funk de “Overnight” conferem brilhantismo e dinâmica a um trabalho onde tudo parece ter sido feito com as “vísceras” e onde a “cabeça” parece ter ficado arredada completamente do seu processo criativo. Basta dizer que este é um disco gravado ao vivo em estúdio, em apenas oito dias, e onde “não foram precisos clicks ou auto tunnings” – os “desnecessários truques de estúdio”, segundo Steer.
Que dizer perante toda esta vontade de expelir um sentimento que vive entranhado em quem ainda olha para as suas raízes com a maior paixão e respeito? “Hot Wings” não é um disco para quem tem o olhar posto no futuro e espera avidamente inovações, mas sim para quem ainda tem tempo de parar um pouco e prestar homenagem a quem gerou tudo o que consideramos ser hoje o nosso “som eterno”. Um disco que, neste sentido, não desapontará. [8/10] N.C.
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