Monday, March 12, 2007

Review

PROCESS OF GUILT
“Renounce”

[CD – Major Label Industries/Recital]

Apesar de que Portugal se tem vindo a revelar, nos últimos tempos, um pólo absorsor de várias influências musicais, oferecendo trabalhos com tanta ou, em alguns casos, maior qualidade do que aqueles assinados por nomes estrangeiros e/ou percursores de uma cena, o doom metal é, ainda assim, um estilo que preserva alguma subtileza na nossa realidade à beira mar cravada. Não obstante, ao longo dos tempos, testemunhando um ou outro caso que serviu de exemplo para ir marcando a diferença como, por exemplo, os Desire, também os Process Of Guilt, a partir de 2003, começaram a reforçar a cena e a partilhar um significativo estatuto muito por culpa da auspiciosa demo de estreia “Portraits Of Regret”. O respeito foi logo adquirido por parte da crítica e do público que sempre viram neste colectivo de Évora um talento inato e, por aí, adivinharam só algum tempo até que o próprio conseguisse crescer num processo natural e “desenvencilhar-se” do seu negro e denso manto de escuridão para que chegasse a um público maior.

Esta hora foi chegada em Novembro passado, altura em que foi editado “Renounce”, o seu primeiro longa-duração, pela estreante Major Label Industries. Após duas maquetas em três anos e uma imagem de muito profissionalismo deixada tanto em gravações/composições como em concertos, este era um momento ansiado por todos e isso talvez tenha também ajudado “Renounce” a se tornar um caso repentino de sucesso capaz ainda de colocar os Process Of Guilt nos lugares cimeiros de muitos dos balanços de fim-de-ano difundidos sobre 2006. E isto só seria de admirar se “Renounce” não fosse, efectivamente, um excelente disco. É óbvio que para os conhecedores mais antigos do grupo a forma convincente como nos chega esta estreia não seja nada de inesperado, mas, de facto, “Renounce” reforça a posição dos POG no patamar do melhor que tem sido concebido em Portugal nos últimos anos. O profissionalismo cresceu. Embora ainda não esteja ao alcance de todos, os POG conseguiram, no entanto, com muito arte e engenho e até aparente facilidade criar um disco que, ainda muito jovem, será certamente uma rampa de lançamento para algo que se deseja inolvidável.

Musicalmente falando, o Doom arrastado, lento, ultra pesado, melancólico e com alguma melodia comanda estes sete longos temas. Porém, é, acima de tudo, a profundidade dos sentimentos que transmitem que tornam esta experiência em algo extremamente profundo e marcante. Referência ainda para o cruzamento que os POG fazem, em alguns temas, entre um Doom tradicionalmente funesto e um mais delicado e melódico (e actual) ao exemplo do que uns Cult Of Luna ou Isis fazem. Algumas passagens mais rápidas contribuem, igualmente, para que concluamos que os POG, no seu processo criativo, não se refugiam em teimosias ou mentes poeirentas. Nada de novo, contudo, é verdade, mas tudo aqui se apresenta muito sentido, visceral e torna “Renounce” num dos melhores trabalhos de Doom editados ultimamente... à volta do globo! [9/10] N.C.

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