Tuesday, March 13, 2007

Review

NAHEMAH
“The Second Philosophy”
[CD – Lifeforce Records]

Se é verdade que o Heavy Metal se expandiu ao longo dos anos em virtude de uma verdadeira entrega e devoção e arraigou-se no consciente de muita gente, criando modas, movimentos e formas de vida quase “religiosas”, não será também menos verdade dizer que, apesar disso, tratar-se-á sempre de um género de segundas facções ou segmentos sociais e artísticos mais alternativos. Em alguns países é vivido com maior afinco e tem mais força, tanto da parte do público como dos músicos. Em outros casos é mais débil, mesmo que, e verdade seja dita, muitos o tomem como verdadeira paixão e se multipliquem cada vez mais o número de fiéis a este género musical.

Ao contrário de grandes potências como a Suécia, Noruega, Inglaterra ou Estados Unidos, de Espanha pouco há a cronicar em relação ao Metal, apesar de já nos ter oferecido nomes como Dark Moor, The Dismal ou Terror. Contudo, apetece-me neste momento dizer que, para além das sevilhanas, do flamenco, da siesta ou do aguerrido e competitivo campeonato de futebol, temos mais um motivo para olhar para o nosso parceiro ibérico. Este é os Nahemah.

Apesar da sua formação já remontar a 1997, só nesta altura é que esta banda da pequena cidade de Alicante parece ter encontrado a alavanca para ascender e aproximar-se de um público mais extenso. Primeiro porque assinaram com uma editora já com grande visibilidade e segundo, e principal, pelo mérito criativo que apresentam em “The Second Philosophy”, o seu terceiro longa-duração. Se na estreia “Edens In Communion” e “Chrysalis”, editados em 1999 e 2001, respectivamente, já tínhamos uma banda coesa mas com um som geral que oferecia pouco de demarcável – falámos de um death/black metal com alguma melodia -, neste terceiro tomo quase podemos falar de uma revolução estética no conceito musical dos Nahemah.

E que bom sabe testemunhar o experimentalismo arrojado de “The Second Philosophy”, um disco que cruza momentos death, muito ao jeito de uns Opeth, com uma melodia e vozes também muito à maneira dos suecos [aliás uma associação incontornável na sua música mas que, pelo menos para já, só lhes traz benefícios], para além dos momentos etéreos numa visão próxima de uns Isis e um rock psicadélico e melódico cúmplice de uns Mogwai. Falta ainda referir o perfumado feeling progressivo e jazzístico que acompanha muito do espírito destes dez temas e ainda alguns efeitos e ambiências que nos fazem lembrar projectos electrónicos dos anos 80. Numa ronda “extra”, não resisto ainda a mencionar o saxofone envolvente e extremamente penetrante apresentado, com maior ênfase, em “Phoenix”. Tudo isto pode parecer uma mistura algo confusa, mas a verdade é que os Nahemah conseguiram aqui juntar com muita subtileza, classe e de forma muito cerebral um conjunto muito vasto e díspar de elementos musicais. E de que forma se poderá, nos dias “saturados” de hoje, marcar alguma diferença? Aqui está a resposta.

“The Second Philosophy” pode não ser um disco perfeito [acreditamos que ainda conseguirão aglomerar um conjunto mais homogéneo de grandes temas e evitar passagens escusadamente longas no futuro], mas é um manifesto veemente de grande potencialidade artística, talento e ousadia na procura de algo minimamente personalizado. Por isso, este é um trabalho que cresce de audição para audição, pois são imensos os pormenores a esmiuçar e a assimilar ao longo desta hora de música. Um terceiro trabalho de uma banda que finalmente encontrou o caminho [merecido] para atingir uma maior audiência, mesmo que já se tenha atingido os dez anos de carreia. É caso para dizer que nunca é tarde para se experimentar... quando o produto é como este! [8/10] N.C.

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