“Verbo”
[EP – Edição de Autor]
Embora os Painted Black já existam há quase seis anos foi apenas nos dois últimos que começaram a descerrar o seu talento e a fazê-lo chegar junto do público. Muito graças a “The Neverlight”, de 2005, que revelou-se uma enorme surpresa no que ao doom de contornos góticos, recheado de melancolia e ambientes envolventes diz respeito. Uma aura muito particular parecia brotar dos espíritos destes seis músicos que regressaram, em 2006, ao estúdio para registar um novo trabalho. Mais uma vez pelas suas próprias mãos lançaram um EP, este intitulado “Verbo”, e que determinantemente dá continuidade ao caminho trilhado em “The Neverlight”.
O grande trunfo desta banda continua a ser, sem dúvida, a forma muito intensa e tocante como embebe a sua música em sentimentos de tristeza e dor coadunados com uma fragilidade e delicadeza dissolvente. Muito facilmente nos ocorrerão bandas como Anathema ou My Dying Bride para descrever a linha artística dos Painted Black face à forma como a banda mistura ambientes e usufrui da dicotomia melodia-agressividade na razão das passagens faladas ou cantadas de Daniel Lucas [ao jeito de um Aaron Stainthorpe], ou ainda no seu registo gutural a fazer lembrar Darron White [vocalista dos Anathema até 1995], bem como os dedilhados harmoniosos e inundados de emotividade de Luís Fazendeiro.
Não temos aqui um teclado omnipresente como acontece em muitos casos neste tipo de música, embora depois da gravação de “Verbo” a banda já tenha incluído um teclista fixo – Bruno Aleixo -, mas de quando em vez este oferece um importante preenchimento a estas cinco faixas. Por outro lado, temos aqui as prestações da violinista convidada Susana Ribeiro em “Nightshift” e “Expire” que, diga-se, resultam encantadoramente. Ainda no plano das participações temos Mark Kelson [The Eternal] que empresta um solo, embora bastante discreto, a “Nightshift”.
A única diferença que podemos encontrar entre "Verbo" e "The Neverlight" é certamente o incremento de peso que a banda deu a estas composições. Ainda assim, a melodia continua a ser o prato principal na música dos Painted Black que, de resto, centram todo o seu mérito na forma visceral e honesta como expelem os seus sentimentos. Se falámos em comparações há bocado, podemos também esmiuçar que os Painted Black, apesar de não dissimularem as suas influências, mantêm sempre uma considerável distância em relação às suas referências, encontrando, eventualmente, na sua alma lusitana e fadista um forte argumento para esta personificada abordagem.
No desfecho desta análise, resta assegurar que, se depois do lançamento de “The Neverlight” as expectativas dispuseram-se altas, em “Verbo” a surpresa não é grande, mas, no caso dos Painted Black, linearidade e seguimento significa termos entre mãos outro excelente trabalho. [8/10] N.C.
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