FUN & ROCK’N’ROLL
A história do grupo que se juntou descomprometidamente para criar uns temas, tocar ao vivo e regar-se em alguma cerveja, já não é novidade nenhuma. Contudo, nem todos parecem ter a mesma honestidade na maneira como apregoam e põem em prática o seu life style. Os Blumen, de Almeirim, - aliás, como poderão constatar por esta entrevista – transpiram uma atitude muito crua, divertida e do it yourself. O resultado desta soma está patente no seu álbum de estreia homónimo, lançado no início deste ano, e que é um interessante exercício de rock alternativo, energético e muitas vezes embrenhado num feeling clássico. Rock degenerativo é a simbologia que o grupo encontra para definir o seu som, mas, trocadas algumas palavras com o vocalista e guitarrista José Pedro, percebemos que... tudo isto pouco importa!
Através da vossa biografia conseguiram suscitar-me uma série de dúvidas... Não é um texto muito convencional. Antes de mais, quando se formaram?
Essa é a primeira questão difícil… Por um lado, parece que sempre existimos, por outro, parece que foi mesmo agora. Esta formação é de 2002, altura em que entrou o Tó para tocar baixo. Eu, o Bruno e o Artur já nos juntávamos de vez em quando aos fins-de-semana, decorria o ano de 2001. E isso já era um reencontro, uma vez que nós os três já tínhamos tocado juntos, com line-ups diferentes, desde há uns anos a esta parte, mas tínhamos estado separados a fazer outras coisas… Em 2002, gravámos as primeiras ideias como colectivo, daí tenha sido uma boa data para marcar um começo. No final desse ano, porém, emigrei para Inglaterra, onde estive dois anos e meio a estudar produção e a trabalhar como produtor e músico. Claro que as coisas com os Blumen ficaram em stand by. Mesmo assim ainda demos dois concertos quando estava cá de férias. Foi só a partir de 2005, e com o meu regresso, que começámos então um trabalho mais consistente: tocar ao vivo, gravar demos…
Quanto aos “sentidos opostos” do vosso crescimento, imagino que se referem aos vossos gostos musicais, mas explica-nos mais pormenorizadamente até que ponto vão essas disparidades...
Vão desde o metal extremo à música de dança! Claro que aí pelo meio temos pontos em comum e todos nós somos bastante ecléticos naquilo que ouvimos. Gostamos sobretudo de música “porreira”, sem nos colarmos muito a estilos. E vamos emprestando e dando a conhecer música uns aos outros, o que é muito bom em termos de partilha de gostos e de ideias a, eventualmente, explorar.
Rótulos são quase sempre alvo de repugna dos músicos, mas no vosso caso até se baptizaram e creio que até resulta bem... Pelo menos desperta alguma curiosidade. Rock degenerativo, porquê?
Em primeiro lugar ainda bem que gostaste! Esse termo foi sugerido pelo Bruno e nós gostámos do conceito. E surgiu porque, como dizes, os rótulos são sempre estranhos - pelo menos pra nós enquanto músicos são mesmo - e não achamos que pertencemos a nenhuma corrente musical nem nos preocupamos com tal. Aliás, a nossa preocupação é precisamente ter uma sonoridade assumidamente nossa e, portanto, genuína. No nosso imaginário o termo descreve um rock como gostamos de o fazer: sem preconceitos ou filosofias ao mesmo tempo que desconstruímos/desmistificamos os clichés associados ao género.
Através da vossa biografia conseguiram suscitar-me uma série de dúvidas... Não é um texto muito convencional. Antes de mais, quando se formaram?
Essa é a primeira questão difícil… Por um lado, parece que sempre existimos, por outro, parece que foi mesmo agora. Esta formação é de 2002, altura em que entrou o Tó para tocar baixo. Eu, o Bruno e o Artur já nos juntávamos de vez em quando aos fins-de-semana, decorria o ano de 2001. E isso já era um reencontro, uma vez que nós os três já tínhamos tocado juntos, com line-ups diferentes, desde há uns anos a esta parte, mas tínhamos estado separados a fazer outras coisas… Em 2002, gravámos as primeiras ideias como colectivo, daí tenha sido uma boa data para marcar um começo. No final desse ano, porém, emigrei para Inglaterra, onde estive dois anos e meio a estudar produção e a trabalhar como produtor e músico. Claro que as coisas com os Blumen ficaram em stand by. Mesmo assim ainda demos dois concertos quando estava cá de férias. Foi só a partir de 2005, e com o meu regresso, que começámos então um trabalho mais consistente: tocar ao vivo, gravar demos…
Quanto aos “sentidos opostos” do vosso crescimento, imagino que se referem aos vossos gostos musicais, mas explica-nos mais pormenorizadamente até que ponto vão essas disparidades...
Vão desde o metal extremo à música de dança! Claro que aí pelo meio temos pontos em comum e todos nós somos bastante ecléticos naquilo que ouvimos. Gostamos sobretudo de música “porreira”, sem nos colarmos muito a estilos. E vamos emprestando e dando a conhecer música uns aos outros, o que é muito bom em termos de partilha de gostos e de ideias a, eventualmente, explorar.
Rótulos são quase sempre alvo de repugna dos músicos, mas no vosso caso até se baptizaram e creio que até resulta bem... Pelo menos desperta alguma curiosidade. Rock degenerativo, porquê?
Em primeiro lugar ainda bem que gostaste! Esse termo foi sugerido pelo Bruno e nós gostámos do conceito. E surgiu porque, como dizes, os rótulos são sempre estranhos - pelo menos pra nós enquanto músicos são mesmo - e não achamos que pertencemos a nenhuma corrente musical nem nos preocupamos com tal. Aliás, a nossa preocupação é precisamente ter uma sonoridade assumidamente nossa e, portanto, genuína. No nosso imaginário o termo descreve um rock como gostamos de o fazer: sem preconceitos ou filosofias ao mesmo tempo que desconstruímos/desmistificamos os clichés associados ao género.
Fiquei também a perceber pela vossa biografia que os Blumen são quase um “acidente de percurso” de um grupo de amigos, certo? “Curtir” parece ser o lema...
É mesmo esse o espírito! Afinal isto é entretenimento e para entreteres tens de estar entretido! Quando nos reagrupámos foi mais com o sentido de tirar o “pó” do material que estava encostado e não estarmos parados (nisto quem faz/fez música tem sempre o bichinho); eventualmente dar uns concertos a troco de grades de minis e bifanas! [risos] É com esse espírito que vamos para os ensaios e concertos, porque gostamos mesmo de fazer isto. Tentamos nunca recusar convites para tocar, independentemente de quão longe é, mas claro, já ficámos a perder dinheiro só para ir tocar. Depois de 2005, a coisa foi ganhando outra dimensão, tanto musical como em termos de dinâmica - chamemos-lhe seriedade – mas, mesmo assim, tentamos organizar tudo o melhor possível com antecedência para podermos estar em palco descontraídos e despreocupados, tanto no soundcheck como depois no concerto. Lá porque levamos as coisas mais a sério, não pensamos deixar de nos divertirmos!
Os “copos” serão então, eventualmente, uma das maiores forças impulsionadoras no processo criativo dos Blumen? [risos] É mais uma das notas a que achei piada no vosso registo biográfico...
Acho que apanhaste bem o espírito da coisa! [risos] No fundo se calhar é essa a nossa essência. Como quem sai à noite para beber uns copos com os amigos. É tudo uma grande saída à noite! [risos]
No entanto, houveram, por sinal, também alguns percalços ao longo do vosso percurso. Nem sempre foi fácil manter o vosso line-up, certo?
Em Blumen como somos hoje, felizmente, não tem havido problemas. Já tivemos sim outros projectos e bandas que não resultaram, ou de onde nos descartámos ou onde houve malta que saiu - nunca por conflitos entre nós - mas Blumen em si manteve o “plantel”… Antes de sermos uma banda, somos bons amigos desde putos e, como tal, lidamos bem com as manias uns dos outros. Antes do Tó se ter juntado tínhamos tido também malta convidada a tocar máquinas, ou outros instrumentos, mas mais porque procurávamos uma sonoridade...
A banda tem tocado muito?
Felizmente achamos que sim! Sobretudo em 2005 e 2006, onde conseguimos uma boa média de concertos - semana sim semana não – o que para uma banda sem edição foi espectacular. Pisámos também palcos suficientemente díspares, desde a terriola mais interior ao Hard Rock Lisboa. No princípio deste ano a coisa tem estado mais calma porque a nossa disponibilidade mudou relativamente - e temporariamente [é o que dá não viver só disto] - mas esperamos ainda compensar a partir de Maio, até porque queremos promover o álbum.
E desde que “Blumen” saiu, o que sentiram que mudou?
Mudámos nós! [risos] Fizemos um esforço considerável para que saísse para provar a nós próprios que éramos capazes, e isso fez aumentar a nossa auto-estima e força para continuar. Mudámos também no sentido em que o álbum pretende ser o desfecho de um período muito activo tanto criativamente como de concertos e em que, ao contrário do que se faz hoje em dia, primeiro experimentámos os temas ao vivo e só depois editámos o álbum. Assim abrimos as portas para aquilo que queremos fazer a seguir enquanto pomos um ponto final naquele que foi o nosso período de [re]descoberta uns dos outros enquanto músicos. Mudou também a exposição da banda, já que temos divulgado “Blumen” bastante. Mudou a credibilidade e o respeito, já que temos tido muita gente a apoiar o facto de ser uma edição independente. Têm naturalmente aparecido mais convites e solicitações e mais gente a querer beber copos com a gente![risos]
As críticas têm sido boas?
Muito positivas! As boas porque nos enchem o ego e as menos boas ou más – que não são bem más mas antes maneiras politicamente correctas de dizerem que não gostaram e tornam-se insípidas – porque nos apontam coisas que podemos melhorar ou pessoas às quais nunca mais daremos satisfações [há malta que critica e não sabe o que está a dizer]. Mas, sobretudo, e como disse atrás, sabe bem ouvir o encorajamento por ser um esforço independente.
Como é que um grupo como o vosso, aparentemente tão “descomprometido”, chega à conclusão de que deve gravar um disco?
Para não nos esquecermos de como se tocam os temas! [risos] A ideia de gravar um álbum começou um pouco por aí, tínhamos gravado ideias e daí aproveitámos demos para concertos e alguma divulgação. Entretanto, as coisas amontoaram-se e já temos bastantes mais temas que, naturalmente, também gostamos de tocar. Quisemos ter assim um registo, para nós próprios e para presentear à malta que nos tem seguido, das ideias e dos temas mais antigos que fomos explorando durante a nossa “ressurreição”. Em vez de estar a lançar dois ou três EP’s e uma vez que tínhamos aqueles temas todos já “prontos” - se é que isso existe - , achámos que um álbum era uma ideia megalómana o suficiente para nós! [risos] Tem lógica esses temas aparecerem juntos porque são parte de uma fase.
Vocês continuam a promover “Blumen” de forma independente, certo? Esta foi uma opção ou uma limitação?
A edição e promoção têm sido independentes e devem continuar assim e são um pouco por limitação e muito por opção. Naturalmente que de início enviámos demos e tentámos levantar algum interesse por parte de editoras. Fomos recebendo respostas negativas e propostas descabidas, ou que implicavam perdas de controlo ou de direitos ou avançar com dinheiro que não tínhamos. Entretanto, não parámos e fomos desenvolvendo o trabalho esperando apresentar um produto final mais apelativo e que facilitasse a vida às editoras, mas sem nunca perder a estratégia de edição independente de vista. Claro que, como tivemos mais trabalho, também nos foi mais difícil negociar situações que considerámos desvantajosas. Já com o produto final optámos, assim, por amor ao que tínhamos nas mãos, por editar independentemente. Actualmente, procuramos apoio para distribuição, uma vez que pretendemos chegar ao maior número de pessoas possível e uma editora/distribuidora pode fazê-lo melhor que nós…
Neste momento, o vídeo para “Twist & Shout” já deve estar concluído, certo?
Fala-nos um pouco dele.
Infelizmente ainda não... Incumbimos um amigo nosso dessa árdua tarefa e ele entregou-se activamente ao empreendimento. Infelizmente, tem tido algumas complicações técnicas e falta de disponibilidade. Mas nós preferimos esperar do que entregar esse trabalho a outra pessoa. Quando se é independente os prazos podem ser mais esticados e, como disse antes, a nossa própria disponibilidade para promoção tem estado mais condicionada de qualquer maneira, por isso não há pressa… Em relação ao vídeo, fizemos uns takes para experimentar; fez-se uma montagem na altura e todos vimos e discutimos o que podia correr melhor ou pior. Voltámos a fazer takes e esperamos agora pela edição “descomprometidamente” sem pressas. De qualquer maneira o clip do tema “Make Me Real”, que está disponível no site e no youtube, está em reedição [uma vez que, inicialmente, só foi editado em baixa qualidade para divulgação na net] para ser divulgado em televisão, e está quase pronto!
De que falam as letras de “Blumen”?
Falam sobretudo de coisas mundanas. Pequenos [grandes] episódios relacionais entre pessoas e/ou individuais, conflitos interiores de personalidade e expectativas, críticas ou episódios sociais, mas sempre mais do ponto de vista de emoções e sensações tangíveis a toda a gente do que apenas a descrição óbvia de situações específicas… Em estados de embriaguez induzida muitas vezes pela própria realidade. Bonito, não? [risos]
Uma vez analisando “Blumen” não podia deixar de te pedir uma explicação para o facto de terem incluindo no seu alinhamento aquilo que creio serem erros de estúdio. A exemplo, a faixa 3 e 7...
Essas referências estão lá porque quisemos partilhar com a malta o nosso lado humano. Estão lá para quebrar o gelo e mostrar que nos estávamos a divertir [apesar de não se ouvirem as nossas gargalhadas no “control room”] e para mostrar que, apesar disto ser a sério, sim, temos uma atitude “despreocupada”, como disseste, em relação “à coisa”. Não os consideramos “erros” mas antes acontecimentos, como de resto devem acontecer com todas as bandas, mas nós optámos por deixá-los... Estão lá também, a par da capa e produção intencionalmente “blazé” para dar um pouco da nossa perspectiva rock às pessoas. Podíamos ter optado, com os mesmos recursos, por ter uma masterização e layout gráfico mais comerciais, mas optámos pela “envolvência” primeiro-álbum-de-banda-rock-independente por ser genuíno!
Neste momento quais são as vossas ambições?
Como disse antes, pretendemos chegar ao maior número de pessoas possível e estamos a fazer por isso. Espalhar a nossa “boa nova” de que para além de grandes filosofias e conceitos e opções estéticas da época, a música também serve para curtir e sair à noite e beber umas jolas… Naturalmente que, como imagino que qualquer banda queira, ambicionamos poder ganhar daqui um ordenado por ser isto que gostamos mesmo de fazer. Mas continuamos a fazê-lo maioritariamente para curtir e para os outros curtirem!
Nuno Costa
www.blumen.home.sapo.pt
1 comment:
Só hoje é que consegui dar com isto... Muito bem. Obrigado pela entrevista. Isso do rock degenerativo, fui eu que inventei... e também sou eu que digo: os blumen são a penúltima banda de rock do mundo. A última? não sei qual é. E isto do rock não é um género. É uma atitude. Keep on rocking in a sick world.
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