Friday, April 24, 2009

Entrevista Exivious

ELOQUÊNCIAS PROGRESSIVAS

Apesar de só agora se começar a ouvir falar do seu nome, esta espécie de alter-ego de Tymon Kruidenier é algo que “atormenta” o guitarrista holandês há cerca de doze anos. Contudo, interpretar esta voz interior foi um processo moroso e complexo e só depois de encontrar os companheiros certos para esta viagem, já em 2005, é que o actual guitarrista dos Cynic sentiu criadas as condições para expressar todo a sua independência criativa. O “Metal de Fusão”, como o guitarrista apelida a música da banda, é algo subexplorado e que aqui é abordado de uma forma muito pessoal, contando para isso com os créditos de Michel Nienhuis [guitarrista, ex-Sengaia], Robin Zielhorst [baixista, Cynic] e Stef Broks [baterista, Textures]. Uma enorme surpresa que descobrimos numa recente incursão pela internet e que justificou em pleno a conversa com dois dos seus membros.

Os Exivious são um projecto com 12 anos. Como fizeram para o manter em segredo durante esse tempo todo?
Tymon:
Esta pergunta não requer uma resposta simples. Basicamente, sugeri um nome para a banda assim que agarrei na guitarra para tocar e isto é como que um sinónimo daquilo que tenho feito ao longo dos anos. Uma grande parte destes anos foi dedicada a encontrar a minha voz como compositor e guitarrista. Eu tinha a visão crua há muito tempo de como os Exivious deviam soar, mas não era nada muito concreto, antes apenas um feeling. Demorei algum tempo até estar apto a perceber esta visão. Contudo, dito tudo isto, os modernos Exivious que lançarão um álbum muito brevemente são realmente uma banda que começou em 2005. Foi nesta altura que a actual formação se juntou e nos tornámos a banda que somos hoje.

O vosso álbum de estreia, a editar independentemente a 11 de Maio, será composto por temas recentes já criados pela nova formação ou ainda poderemos ter acesso a trechos muito antigos que guardava no “baú”?
T:
As suas composições foram escritas entre 2005 e 2008. Vamos poder ouvir algumas ideias mais antigas mas nada de substancial. Tentamos não escrever “copy/paste riffs”como costumamos ouvir em muita música progressiva, o que torna difícil usar ideias antigas em composições novas.

Entretanto, manter um projecto paralelo enquanto se tem uma banda tão exigente e requisitada como Cynic não deve ser nada fácil…
T: Todo o nosso material foi escrito antes do novo álbum dos Cynic estar concluído. De resto, as gravações decorreram nos tempos livres dos Cynic.

Encara os Exivious, efectivamente, como um projecto paralelo?
T:
Não, de maneira nenhuma! Adoro tanto estar nos Exivious como nos Cynic; são a minha própria banda, o meu bebé. Isto significa muito para mim. Infelizmente, não podemos dedicar tanto tempo quanto desejávamos aos Exivious devido à preenchida agenda dos Cynic e dos Textures. Entretanto, assim que as coisas acalmarem um pouco gostaríamos imenso de tornar os Exivious na nossa prioridade e fazer uma digressão com eles, se pudéssemos tornar isso possível!

E se vos chamarem uma “banda-de-estrelas” como reagem?
T:
[risos] Bom, ainda não vi essa descrição, felizmente. Somos apenas um grupo de holandeses normais.

Como fundador deste projecto, quais foram os requisitos que estabeleceu para escolher os músicos que agora o acompanham? Foi tudo uma questão de técnica, amizade ou ambos?
T:
É uma combinação de coisas, mas queria, sobretudo, que os músicos que ingressassem na banda percebessem a linguagem musical dos Exivious e como contribuir com ela. A técnica é necessária mas a criatividade e o estilo único de cada músico são características muito mais importantes.

Está certo quando diz que o Fusion Metal é algo subexplorado. Acha, por isso, que é uma mais-valia entrarem por um campo que ainda é virgem?
T:
Eu penso que estamos a abordar um estilo que é novo. Existem muitas bandas que incorporaram, com sucesso, ideias Jazz/Fusão no Metal mas nunca vi estes dois estilos serem misturados como estamos a fazer.

Receia que o estilo se torne uma tendência?
T:
Continuamos ainda por perceber o que resultará dessa mistura, embora pense que este estilo nunca se vá tornar verdadeiramente “grande” ou mainstream. Contudo, é bom ver o Metal mais técnico a regressar e, por aí, as pessoas poderão estar mais despertas para o nosso trabalho.

O facto de não terem assinado por nenhuma editora até agora é uma estratégia para preservarem a vossa independência criativa ou, afinal de contas, estão abertos a trabalhar com uma?
T:
Foi uma decisão consciente a de não trabalharmos com uma estrutura editorial. Temos uma perspectiva de marketing bastante mais tradicional e ter o nosso CD à venda em todo o lado não encaixa realmente com o espírito da nossa música. Para além disso, nesta banda a independência criativa é uma exigência incondicional. Por exemplo, os custos de edição que as primeiras 1000 cópias do nosso primeiro álbum tem representam algo que uma editora nunca aprovaria devido aos elevados custos de produção.

Sempre trabalhou sob regimes editoriais com as suas outras bandas. Sente uma diferença muito grande entre ter e não ter uma editora estando no papel de compositor?
T:
No fundo, nunca lidei directamente com editoras, mas sei como funcionam e a influência que podem ter. Penso que nunca conseguiria escrever música honesta com uma editora a "bafejar-me" junto ao pescoço e a tentar empurrar-me para este ou aquele estilo. Mas, dito isso, é preciso ter em conta que só as grandes editoras é que trabalham dessa forma. De qualquer maneira, estas não se interessariam por uma pequena banda como os Exivious.

Os Exivious criam música para músicos ou qualquer tipo de pessoa pode gostar do vosso som?
T:
Os Exivious criam música para si próprios! Acho que esta é a única maneira de sermos honestos com a nossa música. Posto isto, quem ouvirá ou gostará dela, não sei, mas espero que possamos alcançar a maior audiência possível, claro.

Colocam a hipótese de alguma vez adicionarem um vocalista à vossa formação?
T:
Sim, colocamos. Não queremos fazer o mesmo álbum duas vezes. Portanto, se fizermos outro irá soar muito diferente e, provavelmente, terá vozes.

Compor sem vozes e letras torna mais difícil fazer com que a música, por si própria, transmita uma mensagem?
T:
Sim e não. Penso que as letras são uma boa maneira para exprimirmos a nossa mensagem, mas não as tendo há vantagens também. A linguagem musical é universal e aberta a múltiplas interpretações, coisa que me agrada.

Neste momento, conhecemos apenas dois dos vossos temas. O que podemos esperar do resto do álbum?
T:
Tudo entre estes dois temas e outros dois com um ambiente mais espacial chamados “All That Surrounds”, parte um e dois.

Falar de improvisação pode ser uma coisa muita subjectiva. Como podemos interpretar o improviso num tipo de música tão complexo? Ou seja, não teria que ser tudo muito bem pensado?
T:
Basicamente, usamos um sistema em que certas partes das nossas composições estão abertas a improvisação. Estas partes são diferentes para todos nós. Por exemplo, muitos dos coros são tocados textualmente na guitarra enquanto os solos são completamente improvisados. Outras partes são parcialmente improvisadas, usando estruturas e ideias musicais, mas continuam abertas a diferentes interpretações a qualquer momento. A bateria muitas vezes tem um ritmo padrão mas toda a "decoração" e os preenchimentos são improvisados.

Continuam a ouvir Metal? Digo isto porque muitos virtuosos, principalmente os metaleiros que tocam este tipo música, chegam a um ponto em que só ouvem coisas como o Jazz.
T: Ouço Metal de vez em quando. Contudo, dou por mim principalmente a curtir o Metal que ouvia quando estava a crescer, o qual, normalmente, não era tão técnico e progressivo.
Michel: Há períodos em que oiço muito Metal e Hardcore e períodos em que praticamente não oiço nenhum deles. Ao contrário do Tymon, eu principalmente oiço bandas novas e lançamentos recentes de bandas que gosto. Estou sempre aberto a novas e grandes bandas que possam despontar.

Ambos são músicos graduados? O que aconselhariam aos putos que querem tornar-se profissionais no futuro? A formação é vital?
T: Não acho que a formação seja essencial para se ser um músico bem sucedido. Existem muitos excelentes músicos e compositores para comprovar isso.
M: Certamente, não é essencial. O que pode ajudar é o ambiente de uma escola com muitos outros músicos e compositores. Acaba por ser um grande "caldeirão" de ideias e toda a gente pode inspirar-se uma na outra.

Continuam músicos muito empenhados na prática de exercícios, por exemplo?

T: De tempos a tempos tenho fases em que passo todo o tempo a tocar, a aprender novas coisas, etc. Eu não estabeleço um regime rígido de treino; já não faço isso há muito tempo. Fazia-o apenas nos meus primeiros anos como guitarrista.
M: Devia praticar mais do que aquilo que pratico actualmente, disso tenho a certeza. [risos] No caso dos Exivious, é muito importante manter-me em forma e tocar o mais eficiente e "limpo" possível. Isto requer treino, o que faço em casa.

Contudo, por mais que a teoria possa valer, tocar com alma é uma coisa que não se aprende…
T: No fundo, acho que se consegue chegar muito longe com isso. Aprender a estudar teoria pode apenas ajudar-nos a expandir os horizontes e abrir algumas possibilidades. E, claro, temos que manter em mente que isto é muito subjectivo em relação ao tipo de música que queremos tocar. No Metal, por exemplo, existem muitos músicos bem sucedidos que não sabem o mais básico que a teoria tem. Mas no que respeita a tocar música mais complexa em que existe improviso em termos de mudanças de acordes, eu diria que é essencial saber alguma teoria.
M: É difícil dizer se se consegue aprender a tocar com alma ou não, mas penso que sim. No pressuposto de conseguirmos transmitir o sentimento certo, temos que estar aptos a comunicar através do nosso instrumento e neste ponto estamos a falar de técnica, expressão, etc, que são coisas que podemos aprender. Mas tudo começa com a “esfera”, sentimentos e intenções que cada um tem. E quanto mais souberem de música, mais ferramentas terão para transmitir isso.

A banda mantendo-se sem uma estrutura editorial, arrisca-se a permanecer um dos segredos mais bem guardados do Metal moderno. Acham que a piada dos Exivious é manterem-se nos limites do underground?
T:
Continuamos sem saber o nível comercial que bandas como nós podem atingir. Gostaríamos que a nossa música chegasse ao maior número de pessoas possível e é por isso que, em primeiro lugar, partilhamos a nossa música: para ser ouvida!

Está prestes a começar uma digressão com os Cynic ao lado dos Dragonforce, Daath e, mais tarde, Dream Theater. Expectativas?
T: Sim, é verdade, e estou muito entusiasmado acerca de tudo o que está acontecendo! Mal posso esperar pelo arranque da nossa próxima tournée – vai ser um estoiro!

Mantém outro projecto para além dos Exivious depois de ter abandonado os Sengaia?
M: Sim, estou sempre muito ocupado com diferentes tipos de projecto. Neste momento, estou numa banda de rock vanguardista chamada Esteam e fundada em Setembro de 2008. Também crio música com o meu amigo Joris Bonis que tem um talento extraordinário no que toca a desenvolver ideias com sons electrónicos. Ele programa os seus próprios trechos e controla-os com os comandos da Nintendo Wii. Neste caso, eu abordo a guitarra como um dispositivo electrónico com a qual é possível criar todo o tipo de sons esquisitos.

Para acabar, pedia-lhes que apelassem ao público para comprar o vosso álbum de estreia. Isto porque cada cópia se tratará de algo, literalmente, único, não é verdade?
T: Como banda independente vamos mesmo precisar do vosso apoio. Prometemos que terão a acesso a algo especial ao encomendarem uma das 1000 cópias da edição limitada do nosso álbum de estreia. As reservas estão a correr muito bem, daí que gostaria de agradecer a todos os que depositaram confiança em nós ao encomendarem o álbum sem sequer antes o ouvirem!
M: Só posso concordar com o Tymon. Portanto, só quero acrescentar que estamos muito felizes por as pessoas nos apoiarem e gostarem do que estamos a fazer. Soa cliché, mas é verdade! A todos os que já reservaram o nosso disco, um muito obrigado!

Nuno Costa

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