Muito distantes dos resquícios death metal do estreante “Always...” (1992), os holandeses The Gathering foram operando uma profunda mutação musical ao longo dos anos que os fez aproximar do mainstream, é verdade, mas que nem por isso os fez deixar de ser uma banda tão intensa e complexa. Especialmente, após a entrada, em 1994, de Anneke Van Giersbergen o som da banda entrou definitivamente num processo de caracterização ambiental, experimental e melódica, tendo em álbuns como “Mandylion” e “How To Measure a Planet” a chave certa para o seu merecido reconhecimento. Em 2006 regressam com o seu novo trabalho de estúdio intitulado “Home”, três anos após “Souvenirs”, que promete não deixar desiludidos todos os fãs da fase mais emotiva, intimista e delicada da banda. Ainda sem saber da sua vinda ao Rock In Rio Lisboa, no dia 4 de Junho para o palco Hot Stage, a SounD(/)ZonE conversou com a baixista Marjolein Kooijman, sobre este regresso aos discos.
Antes de mais, porquê a escolha do nome “Home” para título do vosso novo disco?
O título “Home” relaciona-se com vários aspectos do disco. Em primeiro lugar, a palavra “Home” tem um significado especial e pessoal para toda a gente. Toda a gente tem necessidade de encontrar o seu lugar neste mundo, não apenas um lugar para viver... Na verdade, o título tem a ver com a vida em geral, aliás, como outros álbuns dos The Gathering. Por outro lado, este álbum foi gravado num lugar muito especial: construímos o nosso próprio estúdio num edifício antigo que outrora fora uma pequena igreja. Vivemos lá durante um mês e foi, de facto, uma experiência muito boa podermos fazer música e estarmos todos juntos lá. Passámos uns bons momentos!
Qual é o conceito dominante na música de “Home”? Ou seja, quais foram os cuidados principais que os The Gathering tiveram ao compor este disco de modo a que este não se tornasse apenas mais um na sua carreira?
Desta vez a ideia era regressar às origens e fazer música de uma forma pura. Isto aplica-se a tudo: as letras, a forma como tocámos e gravámos, o som, as estruturas das canções... Decidimos trabalhar com o Attie Bauw porque todos os outros membros tinham óptimas recordações do processo de gravação do “How To Measure A Planet”. Foi deveras inspirador trabalhar com este produtor. Simplesmente adoramos fazer música.
Tu estás na banda apenas acerca de dois anos, certo? Como surgiu a oportunidade de te juntares aos The Gathering?
Sim, estou na banda há já dois anos. Remontando a Novembro de 2003, eu tinha que fazer uma atribuição para a minha escola, a Rock Academy... Eu já conhecia ligeiramente os membros dos The Gathering, pois eles moravam na mesma localidade que eu - Oss. Eu fiz uma entrevista com o René e, depois disso, ele disse-me que o Hugo ia sair da banda. Eu fiquei chocada de saber isso, mas mais chocada ainda fiquei quando o René me propôs que fizesse uma audição com eles num ensaio. Eu sempre adorei a música deles, por isso dei o meu máximo e o convívio com os outros membros foi excelente.
E como é fazer parte de uma banda como os The Gathering?
Fazer parte dos The Gathering é realmente um coisa muito especial para mim. Eu adoro tocar e fazer música com o René, o Frank, o Hans e a Anneke. Nós damo-nos todos muito bem por isso têm sido tempos muito divertidos. É também maravilhoso constatar o número de pessoas que gostam da nossa música.
Corrige-me se eu estiver errado: este é o vosso primeiro disco para a Sanctuary Records? Porque decidiram deixar a vossa antiga editora?
Está correcto, este é o nosso primeiro trabalho para a Sanctuary. Antes a banda estava sob selo da Century Media e, mais tarde, os membros da banda criaram a sua própria editora, a Psychonautic Records. Por exemplo, o EP “Black Light District”, o álbum “Souvenirs”, o DVD “A Sound Relief” e agora “Home” são produzidos pela Psychonaut. A Sanctuary vai ter agora um contracto de licenciamento, por isso contamos com uma boa promoção e distribuição, coisas muito difíceis para uma pequena editora como a Psychonaut.
Já se contam três anos que a banda não lança qualquer álbum de estúdio... Porquê esse interregno tão grande?
Depois do “Souvenirs” passámos muito tempo em digressão, bem como com o semi-acústico “Sleepy Buildings” em 2004. Em 2005, a Anneke teve o seu primeiro bebé e gravámos o DVD “A Sound Relief” e, claro, fizemos as gravações para o “Home”.
Quanto ao “A Sound Relief”, vocês ganharam um Dutch Edison Award, que é o correspondente a um Grammy nos Estdos Unidos e a um Brit Award no Reino Unido...Para já os meus parabéns e, já agora, conta-nos como se sentiram.
Bem, eu penso que os The Gathering já mereciam algo como isto há já algum tempo. É bom sentir que a comunidade musical nos reconhece e estamos muito gratos por isso!
Apesar de não estares na banda desde o início, como analisas a metamorfose sonora que os The Gathering operaram ao longo dos anos? Sentes que era a forma mais natural de progredir, embora sabendo que poderiam perder os vossos fãs mais metaleiros?
Eu penso que é muito bom quando os músicos fazem a sua própria música em vez de estarem ouvindo toda a gente à sua volta. Os The Gathering fazem música vinda do coração e não para as pessoas que só pensam nas vendas dos discos. Eu penso que o que aconteceu foi realmente interessante, e eu sempre aguardei com ansiedade um disco dos The Gathering e sempre fui surpreendida.
Um último comentário para o público açoreano... Acredito que não estejas muito familiarizada com este lugar, mas devias passar por cá, é um sítio muito bonito!
Referes-te às ilhas açoreanas? Como a Madeira? Eu tive outrora uma guitarra com o nome “Madeira”... Gostava dela mas acabei por vendê-la. Eu suponho que a natureza aí seja muito bela e selvagem. Consegue-se fazer surf aí? Estive uma vez em Albufeira de férias e foram momentos muito bons...
Nuno Costa
4 comments:
Entrevista excelente!
Continua.
Abraço de ferro - CM
Bem, tou um bocado...sem saber que dizer!lolol Ora bem, um comentário do Cameraman Metálico? Mas que grande honra!
Obrigado pelo comentário e pela força! É tudo feito com muito amor e nada seria possível se já não houvessem músicos humildes o suficiente para responder a entrevistas para uma fanzine/blog tão rascos como o meu!
Grande abraço
Nuno Costa
Sabes que para quem segue com afinco os TG, dá-me mais prazer conhecer um pouco melhor a Marjolein do que ver um qualquer post com noticias habituais da banda.
Obrigado
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