Monday, February 26, 2007

Review

HILLS HAVE EYES
"All Doves Have Been Killed"

[EP - Punk Nation/I Scream/Recital]

A experiência e o talento são duas características essenciais para que se alcance um bom produto artístico. Quanto à primeira, parece realmente de um peso fundamental e originário da coesão que se testemunha em "All Doves Have Been Killed", o EP de estreia dos setubalenses Hills Have Eyes. Aliado a isso está um senso estratégico inteligente e perspicaz, ou não estaríamos perante uma formação composta por Pedro Pais [baterista ex-More Than A Thousand] e Gonçalo Xavier "China" [ex-Hands On Approach] que fez com que esse colectivo já soubesse muito bem como agir na hora de conceber, gravar e lançar o seu primeiro trabalho. Por este motivo, "All Doves Have Been Killed" foi "cozinhado" e aprimorado meticulosamente durante oito meses em estúdio, em conjunto com o produtor Ricardo Espinha [More Than A Thousand, Icon & The Black Roses] de forma a que preservasse uma qualidade que fosse para além do medianismo ou amadorismo de muitos lançamentos de estreia. E é precisamente aí que este disco surpreende.

Musicalmente, "All Doves Have Been Killed" soa à primeira escuta um mero preseguidor de vendas e massas, mas conseguem-se vislumbrar aqui momentos mais rebeldes e pesados que nos fazem crer que o punk/pop rock dos Hills Have Eyes não precisa cair no rídiculo e na lamechice para ser apelativo e equilibrado. A sonoridade dos Hills Have Eyes está longe de ser inovadora, soa, antes pelo contrário, a muitos projectos do género e causa até, em certos momentos, uma sensação de dejá vu. Falamos aqui de um produto na mesma linha de uns Easyway, Fonzie, The Starvan ou de uma série de outros projectos internacionais que apoiam o seu punk num plano declaradamente melodioso e de facil digestão.

Porém, este colectivo de Setúbal tem a audácia de demonstrar raiva, tanto na voz como em algumas batidas, nomeadamente em temas como "Those Birds Won't Bother Us Anymore" ou "For You It's A Bloody Day", o que nos deixa mais descansados quanto à consciência e intenções que envolvem os músicos deste projecto. A voz é maioritariamente limpa mas consegue ser verdadeiramente hardcore quando é preciso e as guitarras são capazes de oferecer riffs com um poder e balanço característicos do metal. O pedal duplo também marca presença em algumas passagens destas sete composições. Embora a melodia seja o factor predominante no estilo dos HHE, a forma como os elementos atrás mencionados se envolvem, ainda que de forma subtil, com a harmonia deste quinteto confere-lhes algumas particularidades. Destaque ainda para o tema "Tombstone" - a balada do disco - executada parcialmente em violão acústico, com a participação de Vasco Ramos, vocalista dos More Than A Thousand.

Se no universo musical dos HHE é inegável que a concorrência é enorme e "selvática", num estilo, até de certa forma, limitado, em que nem se espera grandes novidades ou rasgos de génio, podemos, no entanto, garantir que esta banda portuguesa não fica nada a dever a tantas outras que circulam pelo mundo fora. Por aí, e se para além de continuaram com a sua gestão sustentada, alguma sorte lhes sorrir, pode ser que tenhamos futuramente mais uma banda portuguesa a conseguir façanhas agradáveis além-fronteiras. [8/10] N.C.

1 comment:

Anonymous said...

Comprei à uns dias esse ep e é realmente um grande disco :)