Monday, January 14, 2008

Review

CONCEALMENT
“Leak”

[CD – dFX Media]

Chegou-se a temer que o seu regresso pudesse nunca consumar-se após Filipe Correia [voz, guitarras], Paulo Silva [baixo] e David Jerónimo [bateria] decretarem estado de hibernação aos Concealment, em 2001. Até então já tinham causado sensação em seis anos de actividade com uma demo tape e um EP editados. Entretanto, para gáudio de todos, a banda quebra o jejum em 2005 e volta a atacar com um EP de nome “…Of Malady”. Este já vinha comprovar uma banda em mutação e a pisar terrenos ainda mais experimentais e obscuros.

O mote foi assim dado para a verdadeira revolução acalentada por “Leak”, o primeiro longa-duração deste trio de Sintra que nos chega em 2007 e põe em sentido toda a comunidade de peso nacional. Jus têm que lhes ser feitos e de antemão não há hesitações em considerar este um dos colectivos mais originais e geniais que Portugal já conheceu. Não é fácil encontrar paralelo para a substância sonora que compõe o universo dos Concealment. Quanto muito conseguimos apontar uma série de desígnios e influências de bandas que aqui resultam, curiosamente, não em algo virgem, mas em algo muito bem idealizado que serve para conceber uma personalidade muito sua. Bandas como The Dillinger Escape Plan, Meshuggah, Psyopus ou mesmo Cephalic Carnage e Napalm Death podem servir timidamente para imputar a natureza do som dos Concealment sem, no entanto, nenhuma delas ser soberana.

A dissonância e lugubridade dos riffs da guitarra de Filipe e do medonho baixo de nove cordas de Paulo, em conjunto com o garbo técnico de David Jerónimo fazem dos 11 temas de “Leak” um corredor molesto cheio de portas traiçoeiras que nos podem levar subitamente aos caminhos mais promíscuos – uma viagem alucinogénia de consequências nefastas. E é por este sentimento de desconforto que os Concealment nos oferecem, indiscutivelmente, um grande disco, quer dentro, quer fora de portas. Ainda assim no meio de tanta discordância harmónica os Concealment dão um pouco de descanso e luz aos nossos espíritos com as passagens melódicas de “Acanthous” e “Etchant”, e se algum desses temas pode assumir o papel de single este é “Inmost”, com a participação influente de Sérgio “Animal”, vocalista dos Reaktor.

Ainda assim, estes são apenas pequenos oásis no meio de um deserto desolador onde qualquer afago é substituído por uma escamosa e áspera afronta ao equilíbrio emocional de quem o ouve. [9/10] N.C.

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