EXÉQUIAS ESTELARES
Um manifesto da criatividade individual de Diogo Lima num ambiente inóspito, é como podemos ver a existência e o parto de A Lone Variant. Em crescendo de popularidade no mundo inteiro, através de projectos como Neurosis, Earth, Cult Of Luna ou Mastodon ou como herança dos Melvins, o post/ambient/sludge rock surge para os Açores, uma área do globo onde a tradição musical é bastante diferente, por via deste one-man-project. Pela coragem e juventude do seu autor - com apenas 16 anos -, para além da sua dedicação que o fez assumir praticamente tudo o que no EP de estreia “Lo-Fi Experiments Of A Dying Supernova” se passa, é motivo para lhe "batermos a pala" ou fazer a vénia. Mais que aceitável – uma promessa de que ganhamos aqui um músico talentoso e, sobretudo, super lúcido da realidade que o circunda, como podemos conferir pela entrevista que se segue.
Jovem como é e sendo natural dos Açores, esperava-se tudo menos uma estreia com estas características sonoras. É da mesma opinião?
Acho que sim, o som que A Lone Variant pratica não é, de todo, o mais comum nos Açores e, arrisco-me a dizer, em Portugal inteiro, apesar de estar a haver um grande aumento na divulgação deste tipo de sonoridade mais post, com grandes influências de Neurosis. É daqueles sons que não entram à primeira e também são difíceis de rotular, pelo que as pessoas os ignoram e ficam um pouco de fora.
Enquanto o normal é as bandas locais levarem imenso tempo desde que se formam até lançarem um primeiro trabalho, mesmo em moldes mais amadores, para os A Lone Variant isto parece nunca ter sido um problema…
Isso deve-se, na sua maioria, ao facto deste projecto ser constituído apenas por uma pessoa. Algumas das composições que estão neste EP já tinham sido “rascunhadas” antes de ter pensado no conceito de A Lone Variant. Uma banda com pessoas que queiram criar música em grupo terá que definir uma sonoridade, o modo como trabalham, assim como estabelecer metas e prioridades. Se um grupo quiser, primeiro que tudo, dar concertos por aí fora e quiser ficar conhecida por isso, então é natural que um trabalho gravado não seja das suas principais metas… O que é pena, mesmo nesta região, mas isso é outro assunto.
Nunca se sentiu seduzido pelos projectos pelos quais a maioria das pessoas da sua idade se interessam?
Senti e ainda me sinto por alguns. Sempre tive um grande interesse e curiosidade no que toca à música e não tenho vergonha em admitir que gosto e comecei verdadeiramente a ouvir música com os primeiros discos do Eminem ou que ouvia bastante pop. Faz parte da evolução musical, é preciso começar por algum lado. No meu caso, o facto de ter tido acesso à internet deste muito cedo ajudou-me a encontrar novas bandas e músicas e, consequentemente, vir parar onde parei. Mesmo hoje em dia é-me impossível escolher um género de eleição… Pode ser tanto o indie rock como o sludge e por aí fora.
Quando fala aos seus colegas de liceu que gosta de bandas como Electric Wizard ou Melvins como é que reagem?
Por acaso, tenho alguns amigos que até apreciam algumas das influências de ALV, mas a maioria torce o nariz e diz que é muito barulhento ou confuso para se ouvir. É natural, creio.
O que costuma dizer às essas pessoas que têm uma certa dificuldade em entender esse tipo de som?
Não sei bem… acho que é um estilo de música que requer uma certa atenção e espírito aberto, tal como no resto do metal. As pessoas preocupam-se demasiadamente em ouvir para rotular do que em ouvir para sentir, o que pode soar um pouco cliché, mas não passa de pura realidade.
O que o cativa então, verdadeiramente, neste estilo musical?
É um estilo tão vago que é um pouco complicado explicar-me. Se por um lado, a sujidade “groovy” de Electric Wizard e Eyehategod me dão arrepios, por outro há o som calmante de Earth que tanto pode funcionar como analgésico como um aperto na ferida. Depois, há a técnica de Mastodon e Melvins que lhes conferem tanto um nível de “epicidade” como de esquizofrenia… E pronto, depois há Neurosis e outros [poucos] casos que juntam quase tudo isso.
Prevê fácil gerar a sua estreia ao vivo, havendo o facto de ser um projecto a solo e necessitar de outros músicos para fazê-lo como pelos adeptos que os Açores poderão ter ou não ter para o apoiar?
Pela experiência pela qual estou a passar, o mais fácil é mesmo arranjar um sítio para tocar. Há músicos aos “magotes”, mas o que é mais complicado é encontrá-los. Convém que tenham gostos parecidos aos do projecto e que toquem minimamente bem. Posta esta dificílima tarefa de lado, há toda aquela fase da criação e preparação do espectáculo em si que torna as coisas ainda mais complicadas, sendo eu ainda para mais um perfeccionista neste aspecto. Contudo, acho que as pessoas podem contar com algo ainda este ano… De resto não posso dizer nada excepto que haverão mais detalhes brevemente.
A escolha de disponibilizar o seu primeiro EP online e de forma gratuita era uma escolha óbvia para um projecto com sensivelmente cinco meses e que quase ninguém conhecia?
Claro. É preciso acompanhar os tempos em que estamos e as condições em que vivemos, aproveitando-as ao máximo. Tal como colocou na questão, ALV é praticamente desconhecido e ainda muito jovem, pelo que um lançamento digital é, na minha opinião, uma das maneiras mais fáceis e acessíveis de divulgar um trabalho como esse junto do público.
Entende que a estratégia resultou? Tem sido muito “descarregado” o álbum?
Pode dizer-se que sim. Há vários sites piratas famosos que têm o álbum nos seus servidores, o que ajuda a divulgar o EP mais ainda, e o número de downloads também tem sido razoável. Sei de gente de outros lados do mundo [Suíça, Rússia, Ucrânia] que ouviram e apreciaram o trabalho. Pode dizer-se que a situação não está má, para aquilo que pensei que fosse ser a princípio.
O facto de haver uma edição física também é muito sensato. Afinal de contas, pode tornar-se numa peça única e rara. Tem havido muita procura por essas edições?
Esta edição física, limitada a 21 exemplares numerados, já esgotou. Foi tudo feito/imprimido em casa com a ajuda do António Gomes, um grande amigo que também tratou do design e canta na “Satanic Rites of Drugula”.
Há vários sentimentos ao longo desse trabalho. Da calma “The Take-Off” até à mais enérgica e rockeira “25th Century Conqueror (Soul/Machine)”. É um disco de múltiplas sensações?
Acho que este é, sem dúvida, um trabalho de múltiplas sensações. Quando comecei a compor esse material nem sabia se ia lançar alguma coisa, mas à medida que fui compondo e criando desenvolveu-se um conceito mais complexo e aí surgiu A Lone Variant e o EP. O facto de haverem músicas com sonoridades tão díspares como as acima mencionadas justifica-se com uma tentativa de descobrir aquilo que realmente queria fazer e talvez seja por isso que o “Lo-Fi Experiments…” seja tão variado e lhe falte uma marca/som característico. Contudo, estou relativamente satisfeito com o resultado.
Sente que sozinho consegue exprimir-se melhor ou sente que mais cedo ou mais tarde será benéfico ter uma banda a apoiá-lo na criação dos temas?
Desenrasco-me muito melhor a trabalhar sozinho ou com o apoio de uma ou outra pessoa do que com uma banda a trabalhar os temas comigo. É uma questão de conciliar gostos, horários e ter a paciência para trabalhar num grupo.
Quais foram os critérios para selecção dos convidados que figuram em “Lo-Fi Experiments…”?
Por um lado, a gravação da “Satanic Rites of Drugula” foi quase que acidental. O “Sopas” [Fábio Pereira] e o Toni [António Gomes] sempre me acompanharam ao longo do percurso de A Lone Variant e sempre foram grandes apoiantes do projecto, pelo que os pedi para me acompanharem especialmente na gravação da música, da qual gostamos todos. Fez-se numa tarde muito bem passada. Por outro lado, temos o Cristóvão Ferreira que conheci através do Metalicidio depois de mostrar as primeiras composições. Ele gostou bastante do trabalho e, após o meu pedido, depressa se tornou numa das peças chave deste trabalho, ajudando imenso na parte mais pesada, ou seja, “Rest in Fire” e “25th Century Conqueror…”.
Como se descreveria como músico? Quando se pensa em projecto a solo a imagem que normalmente ocorre é a de um virtuoso. Este não é o caso, e mesmo acredito que não será talvez a técnica que lhe interesse…
Como guitarrista, estou muito longe de ser virtuoso e nem é esse o meu objectivo. Sei que só não toco melhor porque não quero. É claro que um pouco de técnica fica sempre bem, mas o meu principal objectivo é compor aquilo de que gosto e saber o que dê para isso, tanto na guitarra como nos outros instrumentos. Hoje em dia, a tecnologia também ajuda um bocado, mas há sempre mais e mais para aprender de modo a inovar e a fazer com que o trabalho não fique tão enfadonho.
Toca há quanto tempo? Tem algum tipo de formação?
Apesar de sempre ter gostado de “brincar” com instrumentos, comecei a dedicar-me mais seriamente à guitarra eléctrica há dois anos, altura em que ingressei nas aulas na Globalpoint Music. Quanto a outros instrumentos e a nível de composição, sou completamente autodidacta.
Com os Açores em expansão em termos de quantidade e qualidade de eventos e mesmo de diversidade em termos de projectos concebidos entre-portas, como vê a posição de A Lone Variant num cenário futuro?
Não acho que A Lone Variant vá ter qualquer tipo de influência ou importância na música açoriana. É, de facto, um som que não se ouve por cá todos os dias, mas não vejo este tipo de som a influenciar o público açoriano como outras bandas. Creio que o público de metal açoriano é muito virado para o aspecto mais extremo ou para um tipo de som muito específico e tal chega até a limitar os concertos de bandas de fora que cá vemos.
Acha que aos poucos as mentes se vão abrindo e as futuras gerações já serão capazes de aceitar muitos mais estilos musicais?
Isso depende um pouco. É claro que vai haver sempre gente que fique ligada ao som do mainstream porque é apenas a isso que pode aceder ou tem paciência para tal. Contudo, com a facilidade com que se divulga mais e melhor música no quotidiano, é impossível não haver um aumento no número de pessoas mais cultas a este nível. Há que ser eclético, e, se tal acontecer, acho que isso se poderá reflectir nas gerações vindouras.
Mesmo em Portugal o movimento já tem alguma força por projectos de grande qualidade como Catacombe, Katabatic ou Men Eater. Acompanha estes projectos?
Os Men Eater são das minhas bandas portuguesas preferidas, apesar de o último trabalho deles ser um pouco complicado de digerir e já conhecia também Catacombe e Katabatic há algum tempo. São todos, a par de Löbo e Black Bombaim, projectos muito bons e é bom saber que o género vai de vento em popa em Portugal, ainda que tenha uma base de fãs relativamente pequena.
Você foi o responsável pelas próprias gravações de “Lo-Fi Experiments…”, certo? Em traços gerais acha que resultou a experiência?
Sempre tive muita curiosidade em saber como é que as coisas funcionavam nesta arte, e foi de facto uma experiência muito enriquecedora. Apesar do resultado final não ter saído 100% satisfatório, sinto que aprendi imenso comigo mesmo e com a ajuda preciosíssima de alguns músicos e amigos como o Cristóvão Ferreira, entre outros.
Este facto, permite-lhe também ter bastante liberdade com o projecto em termos de edições. Prevê já quando estará disponível um novo trabalho de A Lone Variant, em longa-duração, por exemplo?
A Lone Variant ainda é um projecto com muitas facetas para mostrar, pelo que talvez lance mais algum material na internet sem qualquer tipo de compromisso de modo a dar a conhecer as suas várias facetas. Contudo, lançando assim algo ao ar, talvez o mundo veja o primeiro CD de longa-duração de ALV, em princípio conceptual, para meados de 2010.
Normalmente esta questão é feita a pessoas mais experientes e que viveram várias fases do nosso underground, mas também seria interessante ver a questão de outra perspectiva: com 16 anos e não tendo tido um contacto directo com anteriores fases da cena musical local, que quadro lhe pinta actualmente?
Pessoalmente, acho que o underground de cá não vai mal. Em termos de bandas, há material muito bom e variado, desde Psy Enemy a Spank Lord. Tendo em conta o sítio em que vivemos, creio sermos bastante privilegiados dado o facto de já termos tido acesso a concertos de bandas grandes como Mnemic, Paradise Lost e afins. Saindo um pouco do metal, de destacar Broad Beans e Zero Killed que têm a difícil tarefa de subsistir numa zona onde os estilos que se praticam pouco proliferam. Contudo, creio que, num cômputo geral, vamos bem.
Um manifesto da criatividade individual de Diogo Lima num ambiente inóspito, é como podemos ver a existência e o parto de A Lone Variant. Em crescendo de popularidade no mundo inteiro, através de projectos como Neurosis, Earth, Cult Of Luna ou Mastodon ou como herança dos Melvins, o post/ambient/sludge rock surge para os Açores, uma área do globo onde a tradição musical é bastante diferente, por via deste one-man-project. Pela coragem e juventude do seu autor - com apenas 16 anos -, para além da sua dedicação que o fez assumir praticamente tudo o que no EP de estreia “Lo-Fi Experiments Of A Dying Supernova” se passa, é motivo para lhe "batermos a pala" ou fazer a vénia. Mais que aceitável – uma promessa de que ganhamos aqui um músico talentoso e, sobretudo, super lúcido da realidade que o circunda, como podemos conferir pela entrevista que se segue.
Jovem como é e sendo natural dos Açores, esperava-se tudo menos uma estreia com estas características sonoras. É da mesma opinião?
Acho que sim, o som que A Lone Variant pratica não é, de todo, o mais comum nos Açores e, arrisco-me a dizer, em Portugal inteiro, apesar de estar a haver um grande aumento na divulgação deste tipo de sonoridade mais post, com grandes influências de Neurosis. É daqueles sons que não entram à primeira e também são difíceis de rotular, pelo que as pessoas os ignoram e ficam um pouco de fora.
Enquanto o normal é as bandas locais levarem imenso tempo desde que se formam até lançarem um primeiro trabalho, mesmo em moldes mais amadores, para os A Lone Variant isto parece nunca ter sido um problema…
Isso deve-se, na sua maioria, ao facto deste projecto ser constituído apenas por uma pessoa. Algumas das composições que estão neste EP já tinham sido “rascunhadas” antes de ter pensado no conceito de A Lone Variant. Uma banda com pessoas que queiram criar música em grupo terá que definir uma sonoridade, o modo como trabalham, assim como estabelecer metas e prioridades. Se um grupo quiser, primeiro que tudo, dar concertos por aí fora e quiser ficar conhecida por isso, então é natural que um trabalho gravado não seja das suas principais metas… O que é pena, mesmo nesta região, mas isso é outro assunto.
Nunca se sentiu seduzido pelos projectos pelos quais a maioria das pessoas da sua idade se interessam?
Senti e ainda me sinto por alguns. Sempre tive um grande interesse e curiosidade no que toca à música e não tenho vergonha em admitir que gosto e comecei verdadeiramente a ouvir música com os primeiros discos do Eminem ou que ouvia bastante pop. Faz parte da evolução musical, é preciso começar por algum lado. No meu caso, o facto de ter tido acesso à internet deste muito cedo ajudou-me a encontrar novas bandas e músicas e, consequentemente, vir parar onde parei. Mesmo hoje em dia é-me impossível escolher um género de eleição… Pode ser tanto o indie rock como o sludge e por aí fora.
Quando fala aos seus colegas de liceu que gosta de bandas como Electric Wizard ou Melvins como é que reagem?
Por acaso, tenho alguns amigos que até apreciam algumas das influências de ALV, mas a maioria torce o nariz e diz que é muito barulhento ou confuso para se ouvir. É natural, creio.
O que costuma dizer às essas pessoas que têm uma certa dificuldade em entender esse tipo de som?
Não sei bem… acho que é um estilo de música que requer uma certa atenção e espírito aberto, tal como no resto do metal. As pessoas preocupam-se demasiadamente em ouvir para rotular do que em ouvir para sentir, o que pode soar um pouco cliché, mas não passa de pura realidade.
O que o cativa então, verdadeiramente, neste estilo musical?
É um estilo tão vago que é um pouco complicado explicar-me. Se por um lado, a sujidade “groovy” de Electric Wizard e Eyehategod me dão arrepios, por outro há o som calmante de Earth que tanto pode funcionar como analgésico como um aperto na ferida. Depois, há a técnica de Mastodon e Melvins que lhes conferem tanto um nível de “epicidade” como de esquizofrenia… E pronto, depois há Neurosis e outros [poucos] casos que juntam quase tudo isso.
Prevê fácil gerar a sua estreia ao vivo, havendo o facto de ser um projecto a solo e necessitar de outros músicos para fazê-lo como pelos adeptos que os Açores poderão ter ou não ter para o apoiar?
Pela experiência pela qual estou a passar, o mais fácil é mesmo arranjar um sítio para tocar. Há músicos aos “magotes”, mas o que é mais complicado é encontrá-los. Convém que tenham gostos parecidos aos do projecto e que toquem minimamente bem. Posta esta dificílima tarefa de lado, há toda aquela fase da criação e preparação do espectáculo em si que torna as coisas ainda mais complicadas, sendo eu ainda para mais um perfeccionista neste aspecto. Contudo, acho que as pessoas podem contar com algo ainda este ano… De resto não posso dizer nada excepto que haverão mais detalhes brevemente.
A escolha de disponibilizar o seu primeiro EP online e de forma gratuita era uma escolha óbvia para um projecto com sensivelmente cinco meses e que quase ninguém conhecia?
Claro. É preciso acompanhar os tempos em que estamos e as condições em que vivemos, aproveitando-as ao máximo. Tal como colocou na questão, ALV é praticamente desconhecido e ainda muito jovem, pelo que um lançamento digital é, na minha opinião, uma das maneiras mais fáceis e acessíveis de divulgar um trabalho como esse junto do público.
Entende que a estratégia resultou? Tem sido muito “descarregado” o álbum?
Pode dizer-se que sim. Há vários sites piratas famosos que têm o álbum nos seus servidores, o que ajuda a divulgar o EP mais ainda, e o número de downloads também tem sido razoável. Sei de gente de outros lados do mundo [Suíça, Rússia, Ucrânia] que ouviram e apreciaram o trabalho. Pode dizer-se que a situação não está má, para aquilo que pensei que fosse ser a princípio.
O facto de haver uma edição física também é muito sensato. Afinal de contas, pode tornar-se numa peça única e rara. Tem havido muita procura por essas edições?
Esta edição física, limitada a 21 exemplares numerados, já esgotou. Foi tudo feito/imprimido em casa com a ajuda do António Gomes, um grande amigo que também tratou do design e canta na “Satanic Rites of Drugula”.
Há vários sentimentos ao longo desse trabalho. Da calma “The Take-Off” até à mais enérgica e rockeira “25th Century Conqueror (Soul/Machine)”. É um disco de múltiplas sensações?
Acho que este é, sem dúvida, um trabalho de múltiplas sensações. Quando comecei a compor esse material nem sabia se ia lançar alguma coisa, mas à medida que fui compondo e criando desenvolveu-se um conceito mais complexo e aí surgiu A Lone Variant e o EP. O facto de haverem músicas com sonoridades tão díspares como as acima mencionadas justifica-se com uma tentativa de descobrir aquilo que realmente queria fazer e talvez seja por isso que o “Lo-Fi Experiments…” seja tão variado e lhe falte uma marca/som característico. Contudo, estou relativamente satisfeito com o resultado.
Sente que sozinho consegue exprimir-se melhor ou sente que mais cedo ou mais tarde será benéfico ter uma banda a apoiá-lo na criação dos temas?
Desenrasco-me muito melhor a trabalhar sozinho ou com o apoio de uma ou outra pessoa do que com uma banda a trabalhar os temas comigo. É uma questão de conciliar gostos, horários e ter a paciência para trabalhar num grupo.
Quais foram os critérios para selecção dos convidados que figuram em “Lo-Fi Experiments…”?
Por um lado, a gravação da “Satanic Rites of Drugula” foi quase que acidental. O “Sopas” [Fábio Pereira] e o Toni [António Gomes] sempre me acompanharam ao longo do percurso de A Lone Variant e sempre foram grandes apoiantes do projecto, pelo que os pedi para me acompanharem especialmente na gravação da música, da qual gostamos todos. Fez-se numa tarde muito bem passada. Por outro lado, temos o Cristóvão Ferreira que conheci através do Metalicidio depois de mostrar as primeiras composições. Ele gostou bastante do trabalho e, após o meu pedido, depressa se tornou numa das peças chave deste trabalho, ajudando imenso na parte mais pesada, ou seja, “Rest in Fire” e “25th Century Conqueror…”.
Como se descreveria como músico? Quando se pensa em projecto a solo a imagem que normalmente ocorre é a de um virtuoso. Este não é o caso, e mesmo acredito que não será talvez a técnica que lhe interesse…
Como guitarrista, estou muito longe de ser virtuoso e nem é esse o meu objectivo. Sei que só não toco melhor porque não quero. É claro que um pouco de técnica fica sempre bem, mas o meu principal objectivo é compor aquilo de que gosto e saber o que dê para isso, tanto na guitarra como nos outros instrumentos. Hoje em dia, a tecnologia também ajuda um bocado, mas há sempre mais e mais para aprender de modo a inovar e a fazer com que o trabalho não fique tão enfadonho.
Toca há quanto tempo? Tem algum tipo de formação?
Apesar de sempre ter gostado de “brincar” com instrumentos, comecei a dedicar-me mais seriamente à guitarra eléctrica há dois anos, altura em que ingressei nas aulas na Globalpoint Music. Quanto a outros instrumentos e a nível de composição, sou completamente autodidacta.
Com os Açores em expansão em termos de quantidade e qualidade de eventos e mesmo de diversidade em termos de projectos concebidos entre-portas, como vê a posição de A Lone Variant num cenário futuro?
Não acho que A Lone Variant vá ter qualquer tipo de influência ou importância na música açoriana. É, de facto, um som que não se ouve por cá todos os dias, mas não vejo este tipo de som a influenciar o público açoriano como outras bandas. Creio que o público de metal açoriano é muito virado para o aspecto mais extremo ou para um tipo de som muito específico e tal chega até a limitar os concertos de bandas de fora que cá vemos.
Acha que aos poucos as mentes se vão abrindo e as futuras gerações já serão capazes de aceitar muitos mais estilos musicais?
Isso depende um pouco. É claro que vai haver sempre gente que fique ligada ao som do mainstream porque é apenas a isso que pode aceder ou tem paciência para tal. Contudo, com a facilidade com que se divulga mais e melhor música no quotidiano, é impossível não haver um aumento no número de pessoas mais cultas a este nível. Há que ser eclético, e, se tal acontecer, acho que isso se poderá reflectir nas gerações vindouras.
Mesmo em Portugal o movimento já tem alguma força por projectos de grande qualidade como Catacombe, Katabatic ou Men Eater. Acompanha estes projectos?
Os Men Eater são das minhas bandas portuguesas preferidas, apesar de o último trabalho deles ser um pouco complicado de digerir e já conhecia também Catacombe e Katabatic há algum tempo. São todos, a par de Löbo e Black Bombaim, projectos muito bons e é bom saber que o género vai de vento em popa em Portugal, ainda que tenha uma base de fãs relativamente pequena.
Você foi o responsável pelas próprias gravações de “Lo-Fi Experiments…”, certo? Em traços gerais acha que resultou a experiência?
Sempre tive muita curiosidade em saber como é que as coisas funcionavam nesta arte, e foi de facto uma experiência muito enriquecedora. Apesar do resultado final não ter saído 100% satisfatório, sinto que aprendi imenso comigo mesmo e com a ajuda preciosíssima de alguns músicos e amigos como o Cristóvão Ferreira, entre outros.
Este facto, permite-lhe também ter bastante liberdade com o projecto em termos de edições. Prevê já quando estará disponível um novo trabalho de A Lone Variant, em longa-duração, por exemplo?
A Lone Variant ainda é um projecto com muitas facetas para mostrar, pelo que talvez lance mais algum material na internet sem qualquer tipo de compromisso de modo a dar a conhecer as suas várias facetas. Contudo, lançando assim algo ao ar, talvez o mundo veja o primeiro CD de longa-duração de ALV, em princípio conceptual, para meados de 2010.
Normalmente esta questão é feita a pessoas mais experientes e que viveram várias fases do nosso underground, mas também seria interessante ver a questão de outra perspectiva: com 16 anos e não tendo tido um contacto directo com anteriores fases da cena musical local, que quadro lhe pinta actualmente?
Pessoalmente, acho que o underground de cá não vai mal. Em termos de bandas, há material muito bom e variado, desde Psy Enemy a Spank Lord. Tendo em conta o sítio em que vivemos, creio sermos bastante privilegiados dado o facto de já termos tido acesso a concertos de bandas grandes como Mnemic, Paradise Lost e afins. Saindo um pouco do metal, de destacar Broad Beans e Zero Killed que têm a difícil tarefa de subsistir numa zona onde os estilos que se praticam pouco proliferam. Contudo, creio que, num cômputo geral, vamos bem.
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