Wednesday, July 26, 2006

Live Zone [report]

I CONCURSO RIBEIRA GRANDE POP/ROCK
06.07.06 – Mercado Municipal, Ribeira Grande

No passado dia 6 de Julho decorreu a grande final do I Concurso Ribeira Grande Pop/Rock. Da final deste concurso organizado pela Câmara Municipal da Ribeira Grande, fizeram parte os A Different Mind (Pico da Pedra), The Bliss (Vila Franca do Campo), Nableena (Ribeira Grande), Crossfaith (Capelas) e Old House (Vila Rabo de Peixe), apurados a partir de uma primeira fase de selecção por maquetas em que fizeram também parte os Anjos Negros (S. Vicente Ferreira), Motherfoca (Covoada), Nurband (Vila Rabo de Peixe), 5ª Via (Vila Rabo de Peixe) e Psy Enemy (Ponta Delgada). Este é um formato musical há muito arredado dos palcos micaelenses, mais precisamente desde 98, ano em que decorreu a última edição do aclamado Concurso Novas Ondas. Este terá sido, certamente, um dos motivos que fez deslocar várias dezenas de pessoas ao Mercado Municipal da Ribeira Grande nesta data.

Num cenário imponente – óptimo palco e logística –, mas num arranque de espectáculo que tardou em chegar, subiram então ao palco os A Different Mind. Vindos de uma prestigiante vitória no Concurso Angra Rock 2006, nem estão volvidos dois meses, a banda pico pedrense, tanto pela sua experiência como pelos feitos alcançados na sua carreira, apontavam para si grande porção das apostas em relação ao presumível vencedor. O seu Rock alternativo e acessível mostrou-se, mais uma vez, de uma tremenda eficácia. Os níveis de composição são absolutamente sedutores e a doce [quase hipnótica] voz de Elisabete Dias perfazem um lote de características ganhadoras para quem pretende chegar a várias públicos ou a um bom sucesso comercial. Apesar do azar de terem rebentado uma corda de guitarra durante o espectáculo, a banda não se ressentiu dessa quebra rítmica e o seu psicológico manteve-se frio e concentrado. Pormenor negativo continua a ser mesmo a presença da banda em palco. Embora isto não contribua, indiscutivelmente, para os índices de energia que um concerto deve transmitir, começamos, no entanto, a consciencializar-nos de que aquela é uma maneira pessoal de estar em palco... até porque a questão aqui não é falta de experiência é, certamente, forma de estar. Cabe, no entanto, aos A Different Mind decidirem se a devem alterar ou não.

Os Nableena foram a banda que se seguiu. Decorridos breves segundos da sua actuação, já nos apercebíamos que o som preparado na mesa não era o melhor. Torna-se cada vez mais difícil encontrar profissionais da área aptos a produzir espectáculos de metal e, por aí, mancham-se muitas vezes concertos e, mais grave, o nome das bandas. Não fosse o valor efectivo deste colectivo da Ribeira Grande e, certamente, muita gente sairia de lá com má impressão do seu trabalho. No caso daqueles que não são estranhos a esse tipo de som, logo – em princípio – com um ouvido mais apurado, tornou-se mais fácil detectar as boas ideias e intenções deste quinteto. Formados por nomes conhecidos do nosso panorama de peso – Filipe Vale [vocalista Opressive], Petr Labrentsev [guitarrista ex-First Commandment], Pedro Couto [guitarrista], Rui Anjos [baixista ex-Gnosticism, ex-Kaos, ex-Vozes Ocultas] e Gualter Couto [baterista ex-First Commandment] –, os Nableena demonstraram um death/black/thrash algo atípico, difícil de caracterizar, onde as bruscas mudanças rítmicas nos deixavam confusos, mas ao mesmo tempo desafiados a entender a sua complexidade. Para muitos este poderá ter sido um desempenho confuso, onde se reclamarão falhas a nível de composição, mas numa altura em que poucos ousam arriscar no meio musical, creio que isso lhes valeu pontos a favor. Variedade, balanço, brutalidade, melodia q.b. e uma perspectiva progressiva – palavra chave para o resultado eclético da sua música – fez com que esta se tornasse uma actuação cativante.

Em terceiro lugar subiram ao palco os Old House. Mais prolífera do que aquilo que se poderia pensar à partida, pelo menos antes deste concurso, a cena musical da Vila de Rabo de Peixe revelou neste concurso três nomes. Dois deles praticamente desconhecidos da maioria do público, à excepção dos pop/rockers Nurband, pairava, por isso, sobre os Old House alguma curiosidade. “Trepado” o palco e de instrumentos em punho, os Old House “rasgaram” o éter com um som pop/rock, bem ao estilo de um João Pedro Pais. Dizimaram-se assim as hipóteses de que naquela Vila as tendências musicais já se tivessem expandido. Mais preocupante foi a vibração amadora que transmitiram. Assistimos a temas com alguma potencialidade do ponto de vista pop, bem “arrumadinhos”, alguns refrões a quererem impor-se, mas muito pouca convicção ou profundidade na sua actuação. Tecnicamente, a banda demonstrou-se muito sóbria, mas afinal de contas, este é um aspecto que nem podemos contestar face ao cariz e objectivos da sua música. Mas o facto é que a banda não convenceu... nem brilhou.

De seguida, os The Bliss. Estes vila franquenses são uma das bandas mais badaladas nos últimos tempos ou não tivessem sido eles um dos premiados do Angra Rock deste ano. Com três temas já conhecidos do seu repertório apresentaram-se em palco muito mais espicaçados, dando assim um dos seus concertos mais enérgicos a que assistimos nos últimos tempos. As suas canções são já reconhecidas pelo seu potencial orelhudo e, a partir daí, pouco ou nada há a dizer – as suas músicas funcionam. Sabemos que o que os The Bliss fazem está ainda longe de ser original – algo próximo de Creed, Sinch ou Rage Against The Machine –, mas é inegável o seu magnetismo. Ainda em fase de desenvolvimento – é preciso que se note que só muito recentemente a banda se lançou na composição de originais -, a banda de Guerreiro [vocalista] só tem que criar a sua própria personalidade para ganhar a confiança de todos. Uma voz muito boa e uma guitarra muito sólida, fazem desta uma banda muito eficaz. E isto é, de facto, um trunfo!

Para finalizar, os Crossfaith tomaram o palco. Com o atractivo de que íamos ver, pela primeira vez, Kadi [Spitshine] na voz, tornou-se especialmente aguardada esta actuação. Kadi é, certamente, detentor de uma das melhores vozes melódicas a enquadrar em sonoridades Hard’n’Heavy na nossa região... mas, de facto, foi nos deixando a aperceber ao longo do concerto que não está ainda perfeitamente entrosado com a banda e os seus temas. Alguns desafinos pouco habituais foram sintomáticos disso... A banda esta continua igual a si própria. No entanto, creio que é indiscutível que ainda lhe falta qualquer coisa. Para quem sabe dos seus resultados nos concursos que participou recentemente, fica com a sensação de que a banda “morre” sempre à beira da “água”. Tecnicamente a banda está muito longe de surpreender, ainda mais para quem teima em reclamar o metal progressivo como sua maior influência. Se primeiro era a voz o seu elo mais fraco, esta era, à priori, uma lacuna colmatada com a entrada de Kadi. Sendo que este ainda não se encontra na forma ideal, ainda não foi desta que a banda surpreendeu. Mas mesmo imaginando um Kadi em pleno, foi nos dada a prova de que não será só uma boa voz a salvar a “honra do convento”. “Bleed For Me” é, unanimemente, o tema mais forte da banda, mas pouco mais fica da sua actuação. A banda terá forçosamente que trabalhar nas suas composições ou mesmo no campo técnico, caso queira continuar a hastear a bandeira do prog, e aí então poderemos ter um novo brilho nos Crossfaith.

Terminado o certame, cabia agora ao Júri dizer de sua justiça. Em pouco tempo Pedro Monteiro – músico e representante da organização, Omar Moniz – animador da Rádio Nova Cidade, Ricardo Santos – vocalista/baixista dos Morbid Death e Eduardo Botelho – guitarrista, decidiram que a vitória seria atribuída aos The Bliss, ficando em segundo lugar os Nableena e em terceiro os A Different Mind. Entre festejos e alguns comentários menos consensuais, o I Concurso Ribeira Grande Pop/Rock saldou-se um evento muito positivo. É de congratular a iniciativa da Câmara mas, no entanto, e à semelhança do que aconteceu nos primeiros anos do já conceituado Concurso Angra Rock, há muitas coisas a melhorar ainda no seu formato e conceito. De qualquer maneira, acreditamos que o sistema engrenará com a experiência dos organizadores. Mas, para isso, é necessário que este volte no próximo ano. Fazemos figas para que sim.

Texto: Nuno Costa

Fotos: Luís H. Bettencourt

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