Monday, May 07, 2007

Entrevista With Passion

DE OLHOS FECHADOS...

De um efervescente estado californiano, mais precisamente de Sacramento, emergem os With Passion que, forçados a vencer as já comuns remodelações de início de carreira, chegam, finalmente, ao seu disco de estreia. Da sua base musical fervilha uma série de influências que vão desde o hardcore ao death metal, passando pelo metalcore e até mesmo o virtuosismo clássico de uns Into Eternity, mas o que é certo é que os With Passion transmitem uma garra e fibra contagiantes. Em dez temas somos capazes de ouvir um sem número de riffs e mudanças rítmicas bruscas num produto final que, embora desafiante e sumptuoso, não será de fácil digestão. Mas é sobre trabalhos e músicos audazes que recai o interesse actualmente. O baixista Mike Nordeen fala-nos sobre “What We See When We Shut Our Eyes” – o seu primeiro álbum, editado pela Earache Records – e da fase conturbada que viveram nos seus primeiros anos de carreira.


Estou certo de que o desenvolvimento inicial da carreira dos With Passion não foi o mais fácil... Vocês tiveram algumas dificuldades em assegurar o vosso line-up. Poder-se-à falar em falta de convicção por parte dos vossos antigos elementos?
Os With Passion passaram pelas mesmas dificuldades por que passam a maioria das bandas. A nossa situação não é diferente da de bandas como Dead To Fall, Poison The Well, Pink Floyd, The Black Dahlia Murder, Between The Buried And Me, Throwdown, Metallica, The Red Chord, etc. Na realidade esta é uma pergunta algo “provocatória”, mas o que nos realiza, acima de tudo, é verificar que a banda sobreviveu a todas estas mudanças, a todas as diferentes personalidades dos seus elementos, às tournées e tendências musicais. As mudanças de line-up são sempre muito difíceis de digerir, mas não diria que houve falta de convicção dos nossos ex-elementos. A vida em digressão não é fácil e não é para qualquer um. Simplesmente, a vida levou-os em direcções opostas à da banda.

Em algum momento pensaram em desistir? Sentiram-se frustrados?
Sim. Á semelhança do que disse anteriormente, a vida numa banda que faz digressões não é fácil e não se adapta a qualquer pessoa. Por vezes gera situações muito complicadas. Chega a um momento em que fazes uma pausa, reavalias as coisas e prossegues em função disso. A vida de uma banda é como uma relação interpessoal. Existem altos e baixos e atingem-se pontos em que tens que discernir se as contrapartidas ultrapassam os benefícios. Se me perguntas se essa vida me deixa feliz, respondo sim, sem dúvida! Tocar numa banda e poder fazer digressões deixa-me feliz como nenhuma outra coisa na vida. Triste seria não ter esta possibilidade. Eu penso que para certas pessoas, e para muitas como eu, é inimaginável as nossas vidas sem a música.

Imagino que a concorrência em Sacramento seja muito alta. Partiram do princípio, quando formaram a banda, de que teriam que criar algo suficientemente distinto para se poderem destacar desta forte concorrência?
É verdade, a concorrência em Sacramento é extremamente elevada, assim como é em outras grandes cidades da Califórnia. Existem muitas pessoas “famintas” por chegar longe e isto levou a que os padrões de talento aumentassem em diversas áreas. Quanto a nós, penso que apenas queríamos divertirmo-nos a tocar numa banda. O metal pode ser intrincado, melódico, pesado e... divertido! Por isso avançámos com a criação da banda. Acabamos por ficar “presos” a esta e isto levou-nos aonde estamos. Verdadeiramente, não se passou muito mais que isso. Todos tencionávamos apenas tocar música.

E consideram-se, em algum aspecto, uma banda com uma identidade peculiar? Na minha opinião, considero-vos compositores algo esquizofrénicos![risos]

Na verdade, não nos consideramos peculiares em nenhum sentido. Apenas pessoas peculiares... [risos]

Como se sentiram quando começaram a constatar que a banda estava efectivamente a crescer e a tornar-se em algo mais sério? Algo que vos “assustou” em algum momento?
Nós estivemos concentrados desde o início de forma que não te posso precisar se se deu alguma vez um momento desses. Nós queríamos simplesmente sair daqui, tocar em qualquer sítio, nem que fosse em garagens, caves, pátios... até chegarmos a um verdadeiro palco. Quanto mais espectáculos fazíamos significava que podíamos tocar ainda mais. Portanto, vivíamos o momento... Penso que o ponto de viragem apenas se deu quando a Earache nos fez a proposta. Ainda assim, nós apenas queríamos continuar a viver cada momento e este foi realmente um bom ponto de partida. Creio que só nos assustámos mesmo quando nos vimos incapazes de pagar todas as despesas quando estávamos na estrada.

E como foi a primeira vez que estiveram lado a lado com algumas lendas do Metal, a partilhar palcos e bastidores?
Sempre extraordinário!

Talvez os membros que abandonaram os With Passion nunca pensassem que a banda conseguisse chegar tão longe...
Não necessariamente. Eles apenas interiorizaram a ideia do quanto seria trabalhoso chegar “lá” e decidiram que o seu tempo seria mais bem empregue noutras coisas.

Já agora explica-me como os membros dos Conducting From The Grave se juntaram aos With Passion…
Bom, ambas as bandas sofreram várias mudanças de line-up e então o que fizemos foi fundir as duas bandas. Decidimos manter o nome With Passion porque a banda tinha ligeiramente mais preferencia por este.

Vocês já chegaram a estar ambas em digressão, nomeadamente no início de 2006. Entretanto, li no vosso site que os Conducting From The Grave iriam entrar num hiato indeterminada. Já chegaram a alguma conclusão sobre o seu futuro neste momento?
Os Conducting From The Grave não queriam anunciar que a banda estava oficial e definitivamente acabada apenas por precaução. Mas agora, uma vez que os With Passion se estão a dar bem e a trabalhar a tempo inteiro eles não têm planos de reavivar a banda.

Antes de falar um pouco sobre “What We See When We Shut Our Eyes” esclarece-me um ponto: porque decidiram, ironicamente digo eu, colocar no vosso My Space, na categoria “sounds like”, alguns maus comentários que as pessoas vos têm dirigido? Poderemos vê-los como uma maneira de confrontar as pessoas que levam a vida a dizer asneiras sobre as bandas?
Sim, é muito isso... Achamos divertido quando as pessoas dizem que soamos a coisas que não fazem o mínimo sentido ou quando fazem o triste esforço de tentarem insultar-nos. Acima de tudo, somos uma banda que adora divertir-se e achámos estes comentários engraçados. Nós publicamos no My Space todos os comentários que vão para além do convencional, pois achamo-los divertido!

Relativamente ao vosso novo disco, primeiramente, acredito que estejam muito orgulhosos dele…
Realmente sentimo-nos muito orgulhosos! Despendemos muito tempo e esforço na sua concepção, especialmente quando tivemos que deixar para trás das costas muita coisa.

Compor este novo disco foi diferente de compor o EP “In The Midst Of Bloodied Soil”? Desta vez devem ter sentido uma responsabilidade acrescida uma vez que assinaram com uma grande editora e, por outro lado, têm agora uma legião de fãs maior que deposita outras expectativas em vocês...
Sim, este disco foi composto de forma um pouco diferente da do nosso último. Gravar “The Midst Of Bloodied Soil” foi mais um juntar de peças. Em “What We See When We Shut Our Eyes” seguimos uma perspectiva muito mais aberta e esforçamo-nos muito mais na composição dos temas e suas transições. Nós concordamos também quando falas da responsabilidade. O segundo álbum é aquele que define o futuro de uma banda. Ou a “faz” ou destrói!

Creio que musicalmente os With Passion apresentam-se muito mais técnicos neste novo trabalho. Este é um princípio para a vossa música?
O principal objectivo dos With Passion é tocar música que lhes agrade e dê gozo a compor. O facto de recorrermos muito à técnica tem a ver com o facto de querermos tirar mais gozo ao tocar algo que gostamos de ouvir. Algumas das nossas bandas favoritas são Brand New, Rilo Kiley, Misery Signals, Dredg, Pantera, Radiohead, Into Eternity, The Get Up Kids, etc. Temos uma lista imensa de bandas que gostamos!

Gravar com o Erik Rutan deve ter sido igualmente uma experiência marcante, mas também muito exigente...
O Erik Rutan e o Brian Elliot são produtores espantosos! São muito rígidos, mas acredito que isto nos obrigou a ser melhores músicos e a trabalhar arduamente no sentido de obtermos um álbum melhor. Eles são também das pessoas mais simpáticas e divertidas com que tivemos a honra de trabalhar.

Recentemente estiveram em digressão com os Architect e Iscariot nos Estados Unidos. Como correram os concertos?
Estar em digressão é sempre muito divertido!

Como reagiu a audiência?

Parecia que estavam a gostar muito do nosso novo material. Esperamos manter esta tendência.

“What We See When We Shut Our Eyes” chega às lojas apenas no dia 8 de Maio nos Estados Unidos. Quais são as vossas expectativas em termos de vendas?
Esperamos que este disco seja mais bem sucedido do que o anterior. Sentimo-nos muito mais confiantes, musical e profissionalmente, em relação ao nosso novo disco. As expectativas são altas em relação ao nosso futuro após este ser lançado.

Na Europa ele já está disponível. Como está a ser a sua aceitação?
A cena europeia parece estar a reagir muito bem! Por isso, desejamos poder ir aí brevemente e fazer alguns concertos para a malta toda.

Para finalizar, queres endereçar algum comentário? Acredito que não oiças falar de Portugal com muita frequência. Por acaso, conheces alguma coisa do nosso panorama metálico?
Antes de mais agradeço-te por teres tirado um tempo para nos concederes esta entrevista e termos a possibilidade de falarmos aos nossos possíveis fãs portugueses e a partir desta tentar fazer novos. Quanto ao Metal em Portugal, pelo que oiço falar vocês têm bandas de death metal muito boas!

Nuno Costa

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