Friday, May 18, 2007

Especial Roquefest 2007 - Entrevista The SymphOnyx

ODISSEIA SINFÓNICA

Um Rock inspirado na música erudita, com uma intensa e teatral prestação ao vivo com recurso a um quarteto de cordas e um grupo de actores e figurantes são os elementos principais da realidade dos The SymphOnyx e que os dão como um dos mais peculiares grupos de Portugal. Um sucesso alcançado com “Opus 1: Limbu”, o seu primeiro longa-duração lançado em 2005, sublinhado por um assinalável sucesso no estrangeiro, nomeadamente no Canadá, é trazido agora aos Açores e poderá ser testemunhado no próximo dia 22 de Maio, no festival Roquefest 2007, em São Roque. O guitarrista Martinho Torres fez-nos uma retrospectiva dos seus 12 anos de carreira, anteviu a sua participação no festival e apontou o esforço que exige hoje fazer-se parte dos The SymphOnyx.

Se dúvidas restavam relativamente ao potencial dos The SymphOnyx e da sua capacidade de expansão, a próxima vinda aos Açores, no dia 22 de Maio, para o concerto no Roquefest é um declarado sinal da afirmação que o vosso trabalho tem tido. Como foi recebido este convite para virem aos Açores?
Foi um convite endereçado pelo Paulo Sousa da PJ Produções e que muito nos honrou. É o corolário de um trabalho que tem sido desenvolvido ao longo de vários anos. Esperamos corresponder à expectativa dos açorianos.

Para além disso, a banda tem tocado muito no continente. Como reage o público ao vosso peculiar espectáculo?
As reacções são diversas e revelam o interesse que o nosso espectáculo desperta. Há uma diversidade muito grande de público que frequenta os nossos concertos e todos acabam por se envolver. É realmente apaixonante estar em palco e proporcionar esse tipo de emoções.

No entanto, bem se sabe que, por vezes, se torna difícil porem em prática o vosso lado teatral em certos sítios onde tocam. O concerto dos Açores apresentará todas as vossas virtudes?
Fizemos um grande esforço, em conjunto com a organização, para podermos levar todo o nosso staff para os Açores. Iremos apresentar o nosso concerto com a encenação que o caracteriza e teremos em palco a maioria dos elementos que compõem o projecto: banda, actores, figurantes, quarteto de cordas e equipa técnica.

Que ideia têm do público açoriano?
Para já, é uma incógnita, mas pelo que sabemos o ambiente é fantástico. Iremos descobrir-nos mutuamente. Esperamos corresponder à expectativa que tem sido criada em torno da banda.

O vosso quarteto de cordas é contratado, como bem penso que seja também o vosso grupo de actores. É muito dispendioso manter uma estrutura dessas?
Sem dúvida! A organização do nosso espectáculo é extremamente complexa e exige uma grande capacidade de organização. Há sempre que contar com vários imprevistos e impedimentos de última hora e recorrer a um alargado naipe de músicos e actores para suprir as necessidades, mas temos conseguido levar o barco a bom porto.

Por acaso, já deram algum concerto no estrangeiro?

Estamos muito próximos de o conseguir. A nossa estrutura exige uma preparação rigorosa para esse tipo de concertos, pelo que necessitamos de uma organização bem oleada para poder fazer face às contingências de tal objectivo. Não queremos abdicar de ter em palco todos os elementos do projecto, pelo que não iremos tocar no estrangeiro só para currículo. Vamos para demonstrar o potencial total do nosso espectáculo, sem concessões.

Uma vez que têm conseguido uma belíssima aceitação no estrangeiro, especialmente no Canadá, não acham que este seria um óptimo sítio para se começar?
Estamos em negociações constantes com várias produtoras do Canadá e sabemos que havemos de chegar a um acordo para levar o nosso espectáculo para fora. Não vamos impor prazos, pois o nosso trabalho não tem prazo, e esperar pacientemente pela oportunidade mais favorável para avançar.

Para que as pessoas percebam melhor em que moldes se tem desenvolvido a vossa aceitação no estrangeiro, pedia-te que enunciasses mais detalhadamente os feitos dos The SymphOnyx fora de portas.
O Canadá é, sem dúvida, o país mais receptivo e que melhor percebe o potencial do nosso trabalho. Lideramos durante vários meses, com o single “Winterfall”, o Top 10 da Rádio Québec Biz; estivemos três semanas no 1º lugar do Top 50 da mesma rádio e temos já um segundo single, “Immortal Venus”, em segundo lugar do Top 50. Para além disso, estamos a ser distribuídos na Rússia e há outros países europeus interessados no nosso trabalho. Também estamos em negociações com um distribuidor no Japão.

Até que ponto será saudável os The SymphOnyx se manterem em Portugal caso as coisas comecem a crescer demasiado? A mudança de residência é hipótese?

É curioso, pois começamos a constatar agora que é algo ingrato produzir em Portugal. O nosso conceito de música e espectáculo é, por vezes, mal entendido por quem gosta de poucas ondas no mercado. O nosso crescimento começa a preocupar aqueles que só se interessam pela mediania e que procuram segurar a sua quota-parte do mercado afastando os outros. O nosso mercado não é expansivo, mas antes destrutivo e selectivo e os The SymphOnyx não são, definitivamente, um padrão musical que encaixe no puzzle da subserviência generalizada. Em contrapartida, começamos a sentir um crescendo de entusiasmo por parte da imprensa e de um grupo de fãs que nos têm seguido e apoiado.

Embora com isto as pessoas possam ficar com a ideia de que o percurso dos The SymphOnyx foi fácil, a verdade é que a banda já tem 12 anos de existência. Como foi percorrer este caminho todo e só há bem pouco tempo começar a ver resultados significativos?
Essa é a nossa grande arma: a perseverança. Ser persistente acaba sempre por compensar, tal como se percebe pelo nosso exemplo. Houve vários períodos negros no nosso trajecto, mas conseguimos, com atitude positiva, ultrapassar as dificuldades. Felizmente acreditamos sempre no nosso trabalho. Chegar a este ponto e sentir o apoio de quem gosta do nosso trabalho faz-nos pensar que valeu a pena acreditar e continuar a sonhar. Foram 12 anos de aprendizagem, essencialmente. Não vejo isso como uma desvantagem, antes pelo contrário, vejo nesse estudo constante do mercado e das suas vicissitudes uma forma de o perceber mais claramente e de entrar nele. Deixámos de olhar para o mundo de forma egotista, pois há imensas sensibilidades que têm de ser respeitadas e quem não perceber isso dificilmente alcançará qualquer objectivo na vida.

Para além disso, foi preciso esperar muito para lançarem o vosso primeiro disco...
“Opus 1: Limbu” é o nosso terceiro disco; os dois anteriores eram E.P.’s, mas tiveram um parto tão ou mais difícil do que este. Lançámos o “Psicofantasia” em 1997, a que se seguiu uma intensa actividade [cerca de meia centena de espectáculos] e, depois do lançamento do “Utopia” em 2000, verificou-se um certo desinteresse da nossa parte em voltar a fazer o circuito, pois o mercado mudara bastante e não havia condições para voltarmos a investir nessa promoção. A par de questões internas que fizeram divergir os objectivos pessoais dos elementos da banda, tornou-se complicado mantermos o projecto à superfície, pelo que só em 2003, após a definição de novo plano, é que decidimos gravar o “Opus 1: Limbu”, que saiu em finais de 2005. Quando, finalmente, criámos este conceito de espectáculo, deu-se nova cisão e houve o abandono definitivo dos elementos que não se identificavam com o novo projecto. Foi aí que ganhámos força para avançar, com convicção, para a conquista paulatina do mercado. Tendo em conta estes desenvolvimentos, facilmente concluímos que o projecto tem pouco mais de um ano de verdadeira existência…

É caso para dizer que “quem espera sempre alcança”. Apesar de tudo, acredito que a fé e o alento para trabalhar hoje em dia devam ser ainda maiores que antes...
Acreditar é a chave do sucesso. E o sucesso não é mais do que cair e levantar, sempre com uma atitude redobrada de crer e vencer. Estamos bem, mas sabemos que há ainda muitos obstáculos pela frente para ultrapassar.

Até que ponto a banda está presente nas vossas vidas quotidianas? Para além da banda devem ter, certamente, uma actividade profissional...
No meu caso, a banda já é a minha vida quotidiana. Esta é a minha única actividade e absorve todo o tempo que tenho disponível. Estamos sempre em contacto e a discutir novas ideias, pois não se consegue obter resultados se não houver empenho total. São poucos os elementos que não estão apenas ligados à música. Toda a nossa equipa está envolvida na área. Para os elementos que têm uma actividade paralela, tem sido possível conciliar ambas, embora o crescimento do projecto comece a colocar algumas dificuldades, mas temos sabido ultrapassá-las com vontade e dedicação.

Qual é o vosso grande objectivo agora que se passaram tantos anos desde a vossa formação?
Há vários objectivos a cumprir, no entanto, o maior será sempre o da expansão para mercados maiores e mais atractivos. A internacionalização, que já vai acontecendo, terá de ser uma realidade efectiva nos próximos dois anos.

Neste momento, para além dos concertos, já começam a trabalhar em material para um próximo disco?
O “Opus 2” já começa a ser definido, havendo alguns temas já previstos para o alinhamento final. Ainda é algo cedo para termos uma ideia geral do disco, mas sabemos que a nossa marca actual vai lá estar, sobretudo agora que o line-up está definido e fechado.

Qual é, para já, o resultado? Teremos algumas novidades musicais?
Estamos a pensar alargar o naipe de instrumentos clássicos e tornar o álbum mais expansivo em termos musicais. Veremos qual o resultado final.

Constatei há pouco tempo que o João é hoje o vosso vocalista. O que se passou para se dar essa alteração?
Foi uma opção feliz e acertada. Resultou da saída do anterior vocalista (Carlos Barros), o qual nos tinha proposto o João para novo guitarrista da banda. Por intervenção divina, logo após a cisão, o João candidatou-se ao lugar da voz. Aceitamos o desafio e aprovámos de imediato. Desde aí, tem sido fantástico assistir ao crescimento do João como frontman da banda. Foi um volte-face muito positivo para o projecto.

Apesar de acreditar que estão contentes com o trabalho da Ethereal Sound Works, vendo as coisas a desenvolverem-se da maneira que estão, já sonham com um contrato maior?
Para já, temos todo o interesse em cumprir o contrato que nos liga à Ethereal Sound Works. A cooperação entre as duas partes está a caminhar para a convergência. Outros contactos serão sempre analisados após o fim do contrato com a ESW.

O que conhecem os The SymphOnyx do panorama musical açoriano?
Conhecemos bastante bem o Paulo![risos] Algumas das bandas que vão tocar no festival são incontornáveis na ilha e parece-me que, de uma forma geral, há um grande empenho por parte dos açorianos em produzir música de qualidade. Para nós será, de qualquer forma, uma descoberta.

Por fim , o que esperam então que seja o Roquefest 2007?
A nossa expectativa e vontade de actuar para os açorianos são grandes. Sabemos que há muitos que já nos conhecem e que esperam poder viajar pelo nosso mundo ao longo de mais de uma hora de espectáculo. A organização tem sido impecável e só esperamos pela hora de embarcar e aterrar nessa magnífica ilha que é S. Miguel. Obrigado pelo apoio e pela oportunidade de falar sobre música. Abraço sinfónico!

Nuno Costa

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