Tuesday, May 22, 2007

Live Zone [report]

Roquefest 2007
21.05.07 - Poço Velho, S.Roque

Dia 1

De regresso um dos mais importantes festivais underground dos Açores, a freguesia urbana de S. Roque, em São Miguel, acolheu ontem o primeiro dia do Roquefest 2007 debaixo de um clima de calorosas expectativas que contrastava com a temperatura baixa e o vento que soprava acentuadamente. O atraso de duas horas, ainda assim, não demoveu o público que, num quadro de concílio “metaleiro”, conversava e trocava ideias como se há muito não se reunisse. Os Psy Enemy subiram ao palco com um público ainda acanhado, infelizmente situação da praxe para as bandas que têm a difícil tarefa de aquecer uma noite de espectáculos. Isto mesmo debaixo de “provocações” [entenda-se brincadeira] do vocalista Miguel Raposo que apelidava de “gays” os que insistiam em se manter mais afastados do palco. Ainda assim o objectivo só foi conseguido em parte. A actuação deste colectivo, apesar deste cenário e de resumida a três temas, foi devastadora! Um autêntico enxerto de porrada nos neurónios dos mais “matemáticos” que nesta nova encarnação da banda encontram uns ilustres artífices. Notou-se também a coesão da banda, apesar de contar com membros muito recentes no seu alinhamento, que fez com que toda a natureza “mecânica” da sua música se revelasse cirúrgica. Tempo ainda para agradecimentos e para apelar mais uma vez ao público, desta vez aos músicos dos Morbid Death para que se “aproximassem do palco e dessem o exemplo” – mais uma intervenção algo controversa do seu frontman.

De seguida, e a jogar em casa, os Zymosis “pouco” mais fizeram do que confirmar o respeito que têm vindo a angariar e, essencialmente, a maturidade que o desenrolar da sua carreira e a quantidade de concertos que têm dado lhes tem conferido. Esta foi uma actuação praticamente centrada em repertório mais recente a que o público aderiu com bastante entrega. Aliás, um dos temas novos, com um lead de teclas totalmente inspirado nas vertentes folk do metal, parece começar a tornar-se um dos favoritos do público. Talvez o ponto mais negativo tenha sido mesmo o som e a presença [principalmente dos seus guitarristas] que continua muito estática. Mesmo Hélder Medeiros [vocalista], apresentando-se com problemas de voz, conseguiu uma prestação muito segura e a maneira como puxa pelo público começa a assumir um papel fundamental nas actuações dos Zymosis.

Devido ao já referido atraso no início do espectáculo, os veteranos Morbid Death subiram ao palco já a altas horas e já depois de se ter operado uma vasta evasão de público do recinto. É certo que as obrigações profissionais terão ajudado a esta atitude, mas também é certo que foi motivo insuficiente para ofuscar o profissionalismo da banda e, pese embora não ter sido dos seus melhores concertos, foi, de certo, mais um momento de celebração estar perante o símbolo mor do heavy metal açoriano e escutar clássicos como “Miséria”, “Judgment Day” e “Gods Of Eternity”. A actuação do grupo visitou um pouco de toda a sua discografia, ainda que a evitar certos temas habituais que, com certeza, fazem parte da própria gestão do seu património artístico. Destaque ainda para a nova “Liberate” que já vem sendo ensaiada há algum tempo e que, pelo seu groove, assume-se como um tema muito contagiante. Chegado o fim do primeiro dia do festival, antecipado pela hora tardia e pela obrigação de cumprir com licenças, o balanço é positivo pela entrega das bandas, mas nem tanto pela parte do público local que tinha obrigação de comparecer em maior número. Será que o facto de ser segunda-feira serve como desculpa?

NOS BASTIDORES

Miguel Raposo [PSY ENEMY]

Como vos correu o concerto?
Correu bem, muito melhor do que o de há dois anos, sem dúvida.

Foi uma pena ser curto…
Sim, mas isto deve-se aos percalços com a nossa formação, nomeadamente a entrada muito recente do guitarrista Fábio Amaro que teve que aprender os temas rapidamente.

O público é que se mostrou um bocado inflexível…

Sim, de resto, como é normal. Ainda pedi aos membros dos Morbid Death para darem o exemplo, mas não quiseram dar! [risos]

Já te assumes como um homem polémico? [risos]
Não! [risos] As pessoas é que criam as polémicas. Eu apenas digo o que penso.

De resto, que significado teve para os Psy Enemy subirem ao palco do Roquefest?
É um concerto, o que é sempre bom! Vamos é agora esperar que o festival evolua cada vez mais e se torne mesmo num marco para a música regional.

Hélder Medeiros [ZYMOSIS]

Como vos correu o concerto?
Correu bem, mas podia ter corrido muito melhor, uma vez que estou um pouco rouco…

Ia precisamente falar-te nisso: não se notou quase nada! [risos]
Talvez a força de vontade e a adrenalina tenham disfarçado um pouco o meu problema.

E a reacção do público correspondeu às vossas expectativas?
Penso que o público aderiu bem! Acho que foi melhor do que há dois anos.

E que significado tem o Roquefest para os Zymosis, ainda mais decorrendo na vossa freguesia e para o vosso público?
Sim, sabe muito bem que ele aconteça no sítio onde vivemos. De resto, o mais importante é mesmo que o Roquefest se repita por muitos e muitos anos.

Ricardo Santos [MORBID DEATH]

Como vos correu o concerto?
Correu bem, acho que correu bem… [risos]

Relativamente à reacção do público, ficaram satisfeitos?
Dado o dia e a hora posso dizer até que superou um pouco as nossas expectativas.

Achas que o facto de ser segunda-feira é desculpa para o público dispersar?
Como disse, dadas as altas horas e para quem trabalha no dia a seguir é muito complicado. Estou certo que se fosse noutras circunstâncias mais pessoas compareceriam. Mas é perfeitamente compreensível que algumas pessoas se tenham ido embora mais cedo.

No entanto, podia haver mais público como aquele “carequinha” que estava mesmo à frente do palco a curtir efusivamente… [risos]
Não sei, talvez! [risos]

Por fim, o que achaste da organização?

Bom, eu penso que o Roquefest é sempre importante para promover as bandas regionais, nomeadamente as micaelenses.

E já se nota que o Roquefest está a crescer…
Sim, como se vê as condições estão muito melhores! E, para além disso, como referi há dias para a SounD(/)ZonE, é preciso que não se esqueçam as pessoas que estão por detrás destas organizações. Normalmente, fala-se só das bandas que tocaram, mas é preciso que se lembre e homenageie o esforço das pessoas que erguem iniciativas dessas.

Sim, e será também preciso que se deixe de absorver e a apontar só os aspectos negativos quando existem muitos outros positivos…
Sim, sem dúvida. Acho que estão todos de parabéns! E é preciso que se note como com uma verba tão reduzida se conseguem fazer coisas engraçadas.

Texto: Nuno Costa
Fotos: André Frias [www.contratempo.com]

1 comment:

João Arruda said...

Grande reportagem, Nuno! Continua o excelente trabalho! Relativamente ao evento, com grande pena minha, não me foi possivel estar lá pois estou a (meio) oceano de distância mas espero que tenha corrido tudo (e continue a correr) pelo melhor!