Wednesday, May 09, 2007

Especial Roquefest 2007 - Entrevista Zymosis

VÍRUS PESTILENTO

Sob invocação “demoníaca”, os açorianos Zymosis começaram a trepar no panorama black metal regional, e não só, desde que se formaram, corria o ano de 2002. Uma postura completamente destemida e aventureira fê-los quebrar barreiras geográficas e afirmarem o seu trabalho em vários países estrangeiros, ainda que em virtude de edições de baixa produção. No entanto, este é o orgulho de uma banda que não se arrepende de nada do que fez até hoje e até aproveita para apelar às outras bandas locais para que sigam o seu exemplo. Estas e muitas outras mensagens na pessoa de Bruno Carreiro [a.k.a. Viktor], guitarrista dos Zymosis que se aprestam a regressar a casa para actuar, pela segunda vez, no festival Roquefest a 21 de Maio próximo.

Um ano já se completou após o lançamento do vosso primeiro DVD. Entretanto, como se têm ocupado os Zymosis?
Sim, é verdade, já se passou um ano e o balanço é muito positivo. Estamos muito felizes e, de certa forma, concretizados em alguns aspectos que desde o início almejávamos.

Já podem olhar para o início da vossa carreira a alguma distância... Meia década já é um período assinalável. Como se sentem hoje em dia em relação aos vossos primeiros anos de banda?
Hoje as coisas são bem diferentes, mesmo muito diferentes e claro que estes cinco anos de existência já dão para contar algumas histórias. Hoje em dia somos mais responsáveis e estamos cada vez melhores músicos, lógico que dentro dos nossos limites. Sentimos que neste momento existem objectivos que podem ainda ser atingidos e a nós só nos compete fazer o que melhor sabemos fazer e o restante fica à mercê do nosso management.

Então a situação em que se encontram hoje acaba por ser, de algum modo, surpreendente...
Como disse anteriormente, desde o início estabelecemos alguns objectivos que gostávamos de atingir e é certo que alguns deles já o foram. Mas nunca pensámos que o conseguiríamos tão cedo, porque, como bem sabes, neste mundo as pessoas têm um longo percurso a percorrer e no black metal as coisas agravam-se ainda mais. É necessário caminhar por toda a estrada do underground.

Qual tem sido o vosso segredo para se manterem ainda activos e cheios de garra?
Só existe três razões para esta nossa existência: amizade, prazer e honra. Somos todos grandes amigos de longa data, temos imenso prazer na música que compomos e temos honra em ser uma banda de black metal dos Açores que espalha o seu nome e o da sua terra por esse mundo fora. Como tal os nosso objectivos estão todos direccionados para fora de Portugal, mas sempre com o intuito de nos fazermos acompanhar do nome da nossa terra.

Até que ponto vai a vossa ambição como banda? É que, e como já referiste, apesar de tocarem um estilo dentro do metal que é muito particular parecem acreditar como ninguém naquilo que fazem!
Sim, claro que sim! Acreditamos em nós porque simplesmente existe quem acredite em nós fora de Portugal e os resultados estão à vista. A nossa ambição não tem limite. Acho que todas as bandas deviam ser assim, acreditar nas suas próprias capacidades e não desistir.

Uns dos truques tem sido não ter medo de correr riscos? Achei muito curioso apelares no vosso DVD às bandas locais para acreditarem naquilo que fazem e arriscarem como os Zymosis...
Sim! Arriscar, de certa forma, foi algo que fizemos quando tentamos fazer tudo tão depressa e sempre com baixíssimos orçamentos. Claro que falamos por nós e não pelos outros, mas como achamos que existem grandes bandas cá e que podiam estar mais longe, é que dizemos ainda hoje isso. Existe um ditado que diz que “quem não arrisca não petisca” e como nós arriscamos agora estamos a petiscar pequenas coisas, mas bem apetitosas.

Por este prisma, escusado será dizer que demos como “Welcome To The Devil’s Lair – Live Beside The Church” e mesmo “Disharmonical Symphony Of Black Dimensions” alguma vez vos envergonharam! No entanto, voltarão a gravar demos sob condições tão restritivas?

Sim, sem dúvida, até bem pelo contrário. Orgulhamo-nos muito de as ter a rodar um pouco por todo o mundo. Foram estes dois registos que nos mostraram ao underground mundial e que nos fizeram entrar e participar em várias compilações e receber boas críticas da imprensa especializada.

Na altura em que surgiram, o black metal era praticamente defunto nos Açores. Entretanto, têm surgido mais bandas de black metal, nomeadamente em São Miguel. Achas que vivemos uma fase pós-Zymosis?
Sim, estava morto e enterrado, mas a nossa vontade fê-lo ressuscitar das profundezas do inferno. Não sei se se trata de uma fase pós-Zymosis, mas a verdade é que fizemo-lo renascer.

No entanto, acham que se tivessem surgido há dez anos atrás, quando reinavam em São Miguel bandas como os Obscenus, Gnosticism ou Luciferian Dementia, os Zymosis teriam saído mais beneficiados?
Não, porque à semelhança desta altura o black metal está de nova em alta. Actualmente, pensamos é que o percurso é muito mais complicado do que há uns anos atrás porque o mercado está sobrelotado e só se podem destacar os melhores.

Estas e outras bandas locais de black metal são ainda hoje referências para vocês? Admiram o seu esforço?
Sim! São bandas de quem respeitamos o trabalho que fizeram pelo black açoriano e que, de certa forma, são uma influência para nós.

Quando surgiram estavam sozinhos nesta “liga” e o público já não estava habituado a este tipo de sonoridade na região. Pelo menos pelo que me apercebia as pessoas não vos compreendiam e não vos aceitavam bem. Hoje em dia já chego a ouvir comentários do género: “os Zymosis são a melhor banda de black metal dos Açores”. As coisas estão definitivamente a mudar...
Sim! É verdade que as pessoas já vêem os Zymosis com melhores olhos, mas nós sabemos que somos uma banda que não agrada a gregos e troianos... Isso é algo a que nós já nos habituamos e lidamos da melhor maneira. Sabemos que existe muito pessoal que passa a vida a falar mal de nós, mas isso são opiniões. Em contrapartida, existem grandes fâs mesmo que nos acompanham para todo o lado e mesmo muitos no estrangeiro que têm todo o nosso material e estão sempre em contacto permanente connosco. Contudo, sabemos que o black metal não o sub-género do heavy metal mais ouvido, mas que é o mais adorado pelos seus verdadeiros seguidores lá isso é.

Será que o facto de agora começar a haver alguma “concorrência” as pessoas começam a discernir qual a banda realmente melhor ou mais madura? Achas que é isto que despoletou esta recente atitude positiva em relação ao trabalho dos Zymosis?
Não sei, mas, como bem sabes, não estamos aqui para competir com ninguém, até porque somos colegas destas outras bandas de black metal. Diga-se de passagem que são boas bandas.

Todos bem sabemos da velha história que “condena” sempre os músicos de black metal e os conecta como pessoas misantrópicas, satânicas e negativistas. No entanto, tenho interesse aqui de referir que os Zymosis como pessoas são extremamente sociáveis e prestáveis, pois já foram capazes de ceder uma série de vezes a sua sala de ensaio e todo o seu material a muitas bandas locais para ensaiar, sem qualquer custo. Sem falsas modéstias, aceita-me que te diga que não é qualquer pessoa que faz isso... Trata-se, acima de tudo, de um prazer em ajudar o próximo, certo?
Sim, é verdade! Todos sabem que estamos aqui por “amor à camisola” e quem veste esta camisola terá sempre o nosso apoio. Já passaram pela nossa sala de ensaios muitas bandas que, na altura, encontravam-se sem sala e, neste momento, temos duas bandas a ensaiar lá. Arranjamos sempre forma de dar a volta às coisas com a finalidade de ajudar.

Tenho tido oportunidade de ver alguns concertos vossos ultimamente e, musicalmente, parecem começar a experimentar outros elementos nas vossas composições como, por exemplo, o folk! Estarei equivocado ou os Zymosis estão em mudança?
Realmente, isso está a acontecer, mas não é nada premeditado. Simplesmente vão aparecendo. É um sinal do crescimento natural das coisas e o amadurecer das nossas pessoas. Somos sempre uma banda de black metal, mas é verdade que a entrada do nosso novo teclas – Dracokult - veio trazer à banda novos ambientes folk que parecem estar a resultar bem.

Se há banda de metal local ultimamente a alcançar projecção substancial fora do país são os Zymosis. Vocês assinaram vários contractos de promoção pelo mundo fora. Quais os resultados que têm obtido a partir deles? As vendas do vosso DVD, por exemplo, foram boas?...
Sim, em Portugal o black metal ainda não é bem aceite e, como tal, o nosso objectivo era fazer chegar o nosso trabalho, essencialmente, ao estrangeiro e os resultados têm sido muito positivos. Entre alguns posso referir a entrada em alguns split CDs e compilações ao lado de muitas e boas bandas. Temos dado muitas entrevistas e, fundamentalmente, temos conseguido ficar reconhecidos em países em que ainda não tínhamos deixado marca como é o caso de países da América Central. No que toca ao DVD teve muito boa aceitação em Portugal e ainda podemos encontrar o registo em muitas lojas no continente e cá no Metalicidio.com. Importante também é referir que no Brasil já vamos na segunda edição e a editora já pensa numa terceira. Pelo mesmo selo no Brasil, a AnaitesZDP, vamos participar em dois split CDs com uma banda do Paraguai e outra do Brasil e numa compilação da autoria da PJ – Prod´s. Vamos também ter edição na Rússia sob o selo da AGD Productions ainda este ano.

Por curiosidade, ainda se mantém aquele sonho de ir tocar à Noruega? Vão continuar a trabalhar para isso?
Claro, porque se trata da casa do black metal. Há cerca de um ano, na altura do lançamento do nosso DVD, foi-nos feito um convite para actuar num festival num país nórdico, mas as condições eram inviáveis para as nossas possibilidades. Ainda tentamos arranjar apoios, mas não foi possível na altura. Pode ser que brevemente apareçamos na Noruega. A ver vamos...

Futuramente, a nível de gravações os Zymosis já anunciaram que começarão a gravar este ano um novo trabalho. O que nos podes adiantar relativamente ao seu formato, conteúdo musical, produtor e estúdio, e data de lançamento?
Sim, temos agendada a nossa entrada em estúdio para o mês de Agosto. Será em formato CD e mais não digo porque tudo se saberá no seu devido tempo. Mas adianto que antes deste virá um outro lançamento que se encontra em fase de masterização.

No início desta entrevista referi o vosso DVD que, curiosamente, foi gravado há dois anos na primeira edição do Roquefest. Este ano regressam a casa em duplo sentido: ao festival e às actuações na vossa própria freguesia. Tem algum sabor especial tocar em casa?
Claro que sim! Para nós, em primeiro lugar, é sempre um prazer actuar num festival que acredita, simplesmente, nas bandas açorianas e que não está aqui para ou com fins lucrativos. Por isso, é sempre de louvar o esforço que a PJ – Prod´s tem tido para organizar este festival com baixos orçamentos e que este ano conseguiu reunir um lote de grandes bandas sempre oferecendo especial destaque às açorianas. Em segundo lugar, é sempre bom quando se actua em nossa casa e, neste caso, em especial, porque vamos abrir para os Morbid Death. Este era e ainda é, até á hora do festival, mais um objectivo nosso.

Teatralmente os Zymosis são das bandas mais expressivas a nível local. Para este concerto adivinha-se alguma surpresa cénica?
Bem sabes que o segredo é a alma do negócio! [risos] Mas, como é hábito, os Zymosis são sempre uma surpresa em todos os aspectos.

Uma mensagem final para o potencial público do Roquefest 2007
?
Apareçam aos dois dias que, certamente, não se vão arrepender. Só assim conseguirão apoiar a produção do festival.

Nuno Costa

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