Monday, February 16, 2009

Entrevista 16

MERGULHANDO NA LAMA

16 pode soar um nome estranho por si só, bem como para os mais alheios ao underground norte-americano. No entanto, este quarteto de Los Angeles já comemorou 17 anos de existência e só acabou por cair no esquecimento porque deliberou uma pausa em 2003. Para trás ficavam quatro discos e 15 registos entre singles e splits, mas a forte mística que existia entre os elementos dos 16 forçou o seu regresso em 2007. Os frutos não se fizeram esperar e no arranque de 2009, já numa casa de reconhecido potencial – a Relapse Records – o grupo edita “Bridges To Burn”. Neste particular nicho musical e dentro de uma carreira respeitosa, os 16 regressam em grande forma, o que motivou a conversa com o guitarrista Bobby Ferry.

Sentem-se bem por estarem de regresso aos discos ao fim de seis anos?
Nós não estivemos propriamente parados como músicos, apenas como 16, e tocar com outras pessoas foi algo inestimável para nós.

Que tipo de conversa vos levou a retomar a actividade com a banda?
Continuo interessado na música da banda da mesma forma que outras pessoas. Tínhamos sempre aquela ideia do “e se”… Então o Jason falou com o Tony, o Tony falou com o Cris e da minha parte sempre estive disponível para tocar, por isso funcionou tudo muito facilmente. Penso que a química é a coisa mais importante no que toca a bandas. Felizmente, nós sentimo-la e já que havíamos tocado uma vez seríamos estúpidos se não o fizéssemos de novo.

Como podemos interpretar a paragem que operaram em 2003? Terá sido uma maneira de descansarem do som e rotina da banda?
Atravessávamos um período estranho nas nossas vidas e, sim, precisávamos de descansar. Trabalhámos muito durante vários anos e essa postura encaixa connosco. Estar numa banda implica um trabalho árduo e estávamos a sofrer demasiadas “mazelas” por isso. Penso que ainda as sofremos mas agora parece que temos pratos nas nossas cabeças e conseguimos recuperar muito mais rapidamente de todas as coisas más que nos rodeiam.

Será que nos outros projectos em que estiveram envolvidos entretanto sentiram falta da mística que havia em 16?
Simplesmente, sentimos falta de tocar juntos e ainda nos motivou mais o facto de gostarmos muito do nosso material, mesmo considerando que foi gravado num gravador de oito pistas em 1992.

O facto de serem amigos há muito tempo faz com que se dê grandes "festanças" sempre que se vêem?
Nem por isso. Costumamos sair e tocar, basicamente isso. Ensaiamos cerca de três horas, portanto, temos que manter o divertimento no local certo para podermos aguentar esse esforço. Em relação aos concertos a atitude é a mesma, embora a diferença seja de que tocamos normalmente 40 minutos, viajamos cerca de três horas e carregamos material. Avisem-me assim que a “festa” começar e espero que possa participar nela!

A vida de uma banda hardcore/sludge, aliás, e sem qualquer preconceito, deve ser feita de vários capítulos boémios…
Refere-se a boémia na estrada como a que Kerouac [escritor] referia ou a boémia hippy? É porque não somos hippies em nenhum aspecto da palavra. Somos mais como que uns Charles Bukowski sóbrios e super zangados após cinco anos de reuniões de Alcoólicos Anónimos e que acabaram de ficar sem cigarros. Penso que isso não tenha nada de boémio.

Compor o material de “Bridges To Burn” foi especialmente agradável após tanto tempo parados? As coisas fluíram facilmente?
Da minha parte fluiram muito facilmente. Tenho a tendência para deixar a mente comandar quando escrevo partes de guitarra e depois faço arranjos quando me junto com a banda. Gosto de pensar que todos ocupam a sua própria “frequência” na banda.

As vossas letras, normalmente, focam aspectos decadentes do dia-a-dia de uma sociedade. Há algo negativo em relação às vossas vidas que tenham reportado para este disco?
Tenho que ser sincero contigo, ainda não falei com o Chris sobre isso. Eu confio nele e se ele está contente ao escrever certo tipo de letras, o resto da banda também estará. Certamente, haverá um certo nível de sagacidade e sofrimento nas suas letras, mas esta é apenas a minha visão exterior. Teria que perguntar a ele se quisesse mais pormenores.

Faz ideia se os mais novos conhecem os 16? É que para além de terem estado sem lançar um trabalho durante seis anos, são uma banda que sempre se moveu, essencialmente, no underground …
O “passa-palavra” é, provavelmente, a melhor forma das pessoas ficarem a conhecer algo. Apesar de estarmos há quatro anos sem tocar ao vivo, os nossos álbuns continuaram a ser vendidos, portanto, quer gostem ou não, crescemos um pouco como banda ao longo dos anos. Não faço ideia a quantos putos a nossa música chega, mas acredito que chegue a alguns. Citando a Witney Houston: “As crianças são o nosso futuro”.

Uma banda com o vosso perfil preocupa-se com popularidade?
Preocupamo-nos mas não nos podemos aproveitar disso ou as pessoas vão aperceber-se. Consegues sempre ver quando uma banda está a aproveitar-se do sucesso, pois eles parecem agir como "bonecos". A sinceridade é um valor que preservarmos muito. Se as pessoas se aperceberem disso é muito bom. Podia dizer-te que não nos preocupámos com isso, mas seria mentira. Tu queres tocar para o máximo de pessoas possível. A vida é curta e esse é o nosso objectivo.

Esperam que com a Relapse as coisas possam mudar?
Estar na Relapse é ter um selo de qualidade que nunca tivemos. Eu era cliente deles há vários anos, daí que ache verdadeiramente agradável fazer parte do seu catálogo. Algumas das suas bandas influenciaram-me muito e foram bandas sonoras de alguns períodos da minha vida.

Neste momento, o vosso nome chega aos Açores. Este pode ser um sinal da operacionalidade da editora…
Esta é provavelmente das melhores coisas da Relapse.

Por outro lado, podia também promover a nossa área junto dos seus amigos! [risos]
Só sei que gostava muito de ir aí. Bom peixe, boa comida… São os motivos suficientes para me levarem a qualquer lado.

Apesar de viver num grande centro urbano como é Los Angeles, vive feliz com o seu estilo de vida?
No meu caso, vivo em San Diego, que é no sul de Los Angeles. Não se trata de uma zona muito agitada mas também não é os Açores, certamente. Às vezes as circunstâncias mantém-nos onde estamos e quanto mais velhos ficamos mais difícil é passarmos sem “rock and roll”.

Sente-se um patriota? Por exemplo, a administração Bush alguma vez o deixou envergonhado por ser norte-americano?
Não sou patriota em nenhum aspecto. Detesto dizê-lo, mas somos um país como outro qualquer e devíamos agir como tal. Nos últimos oito anos os Estados Unidos provaram ter pontos de vista muito limitados, o que nunca pode ser uma boa coisa. A História já provou isso.

Está confiante de que Obama é verdadeiramente honesto e transparente e que vai trazer mudanças? Se se confirmar esta sua personalidade há já muita gente que pensa que ele vai acabar assassinado…
Não sei. Com a situação económica actual e o estado de todo o “sistema”, sinto uma extrema apatia no ar, daí a frase: “levanta, desafina, desiste”… Parece-me que a melhor resistência é virares as costas a todos eles. No fundo, o que é que eles representam? Parecem-me rodeados de fumo e espelhos a viverem uma grande mentira. Não quero, obrigado…

Antes de nos despedirmos gostaria de perguntar quais as vossas grandes expectativas com “Bridges To Burn”? Talvez rodar na MTV? [risos]
A MTV passa música sequer? É que eu não quero ser convidado para o “Real World” nem nada que se pareça! Bom, a minha grande expectativa é que o álbum seja bem distribuído. Conseguir uma entrevista para os Açores já é um bom sinal.

Nuno Costa

www.myspace.com/16

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