Monday, February 23, 2009

Entrevista Switchtense

EMBATE TITÂNICO

Tendencialmente um viveiro de grandes valores por aquilo que os últimos anos têm indiciado, Portugal vê agora como que o nascer de um grande talento rico em traços que prometem grandes surpresas tanto aqui como além-fronteiras. Apesar do enorme número de concertos, de um EP, um split-CD e sete anos de existência, é neste momento que se reúne e projecta uma carreira que pode moldar-se repleta de memoráveis feitos. E a culpa é de um arrebatador “Confrontation Of Souls”, o álbum de estreia dos Switchtense, que possui uma força invulgar em termos de thrash/hardcore moderno. Não quisemos perder oportunidade de falar com a banda, na pessoa de Hugo Andrade [vocalista], sobre aquele que será, certamente, um dos álbuns nacionais de 2009.

Obviamente não significando isso que subestimasse o vosso valor, mas apetece-me perguntar o que motivou um crescimento tão acentuado da banda nos últimos tempos e que está bem patente em “Confrontation Of Souls”?
Antes de mais obrigado à SounD(/)ZonE pela oportunidade de promovermos o nosso álbum neste espaço e por todo o apoio demonstrado aos Switchtense. A nossa evolução prende-se a vários factores. O primeiro tem a ver, sem dúvida, com o facto de termos acumulado alguma experiência pelos concertos ao vivo que realizámos após o lançamento do EP “Brainwash Show” em 2006 até ao final de 2007. Essa actividade intensa que tivemos a nível de concertos fez-nos crescer enquanto músicos [compositores e executantes], o que ajudou na criação do nosso disco de estreia. Fizemos o percurso normal e as coisas aconteceram no timing perfeito. Outro dos factores essenciais para este crescimento foram as últimas duas mudanças de formação: inicialmente a entrada do segundo guitarrista, Neto, que veio dar outra dimensão à música que nos propúnhamos a fazer, e do novo baterista, Xines, que é, sem dúvida alguma, uma mais valia na nossa secção rítmica que se quer poderosa, rápida e com bastante groove!

Surpreende-vos as reacções tão positivas ao vosso disco de estreia ou ele foi tão escrupulosamente concebido que nem lhe admitiam grande margem de erro?

Honestamente, e sem qualquer tipo de pretensiosismo, sabíamos que tínhamos um bom disco em mãos. Foi fruto de um trabalho intenso e ao vermos as coisas tomar forma fomos cada vez mais acreditando que seria uma óptima aposta gravar este disco nesta altura. O disco foi pré-produzido na nossa sala de ensaios ate à exaustão [no bom sentido] e isso podemos dizer que foi o que nos permitiu desenvolver o trabalho da maneira mais produtiva. Por isso, desde o início acreditámos sempre no potencial do disco e, como tal, as reacções que vão aparecendo são aquelas que esperávamos e queríamos provocar! Contudo, é imensamente reconfortante obter todas estas reacções. É muito positivo conseguirmos surpreender as pessoas! Estamos radiantes com isso...

Aliás, até pelo trabalho de produção de Daniel Cardoso - que aqui volta a ter um papel proeminente – seria fácil apontar-vos como uma banda de uma qualquer potência mundial em termos de Metal, caso não tivéssemos conhecimento do vosso perfil…
[risos] Sem dúvida que o trabalho do Daniel eleva o disco a um patamar superior. Isso a que te referes é extremamente importante para nós, porque esse era realmente o objectivo - assinar uma estreia com todo o "gás" possível! Esforçámo-nos, em conjunto com o Daniel e o Pedro, em fazer um disco com todo o profissionalismo e rigor. Penso que esse objectivo foi conseguido e pelo que temos ouvido de várias pessoas, este trabalho não se fica atrás de produções internacionais e isso é algo que sempre ambicionámos ouvir!

Precisamente por esse motivo acredito que a vossa internacionalização se faça com alguma facilidade. Aliás, consta que existe já interesse de grandes editoras internacionais, estarei correcto?
Consta? [risos] Nós esperamos que sim. Aliás, esse é um passo que queremos dar com toda a certeza, pois é isto que queremos para as nossas vidas! Não esperamos qualquer tipo de facilidades, mas estamos com toda a vontade de o conseguir! Fizemos alguns contactos e estamos agora em fase de envio de discos promocionais para várias editoras. Vamos ver como correm as coisas!

A ligação à Hellxis já se materializou numa maior “agitação” em termos de agenda?
Começámos a trabalhar com a Hellxis há relativamente pouco tempo, mas já estão a ser tratadas datas que futuramente iremos anunciar. Portanto, posso dizer que sim a essa tua questão.

Portanto, ainda não se prevê também nenhuma actuação no estrangeiro…
Andamos a tratar disso. Esperamos anunciar algo em breve.

Desbravar caminho até à vossa actual posição de reconhecimento pressupõe, com toda a certeza, um grande trabalho. Os Switchtense até há bem pouco tempo trabalhavam sozinhos e sempre conseguiram tocar muito e fazerem-se ouvir falar. Como faziam para meter isso tudo a funcionar?
Sempre fomos uma banda activa. Para nós, tocar ao vivo sempre foi o mais importante! É aí que mostramos todo o potencial da banda e onde se fazem amigos, se bebem cervejas com toda a gente, etc. As noites de "álcool & afins" são propícias a tudo! [risos] A nossa postura foi sempre de participar em todo o género de concertos em que estivessem reunidas as condições para proporcionarmos bons espectáculos. Logo, essa atitude de "ir a quase todas" permitiu-nos chegar a muita gente e, na hora da verdade, as pessoas têm reagido muito bem às actuações ao vivo. Penso que a nossa vontade e ambição, a nossa humildade perante as coisas que fazemos e, sobretudo, o gosto que temos por tudo isto faz com que as coisas acabem por correr bem!

Também se interessa muito pela organização de espectáculos, correcto? De onde surge esse interesse?
O interesse surge em promover e dinamizar a cena Metal em Portugal. Anualmente damos o nosso contributo e organizamos o Moita Metal Fest que este ano tem lugar nos dias 27 e 28 Março. Mais informações em www.myspace.com/moitametalfest. Gostamos de receber as pessoas na nossa terra e dar oportunidades às bandas de tocar num festival que consideramos ter bastantes condições.

Até que ponto é bom os músicos acumularem funções, por assim dizer, burocráticas dentro de uma banda?
Penso que essa é uma função que faz com que os músicos se envolvam muito mais nas questões das bandas. Estar em contacto directo com tudo o que nos rodeia, permite-nos um maior conhecimento da "área" e, além do mais, ajuda bastante na divulgação e promoção do nome. No nosso caso, estamos 100% envolvidos nessas questões.

Os Switchtense despendem muito tempo à banda? Agora com mais gente a trabalhar convosco pode ser interessante a sensação de terem que se preocupar só com a música…
Os Switchtense ocupam parte essencial da vida pessoal de cada um de nós. Podemos afirmar que respiramos isto, vivemos para isto! Como disse na resposta anterior, envolvemo-nos a 100% em todas as questões relacionadas com a banda e nao é isso que nos vai retirar tempo para a composição. Nesta altura, todas as energias tao viradas para a maior promoção possível do disco através de concertos ao vivo.

Falar de Switchtense é falar de uma grande atitude e garra? É curioso que mesmo não sendo propriamente inovadores há algo no vosso trabalho que agarra facilmente todas as pessoas…
Temos sentido esse apoio das pessoas das mais diversas formas. É algo que nos motiva fortemente e que nos dá mais vontade e força para continuar. O que fazemos, fazemos com toda a entrega e honestidade, e penso que isso transparece quer na nossa música, quer nos concertos ao vivo. É um condimento muito importante para nós... sermos verdadeiros! Estamos na música pela música e por ser uma grande paixão nossa. Quando vamos para cima de um palco, vamos fazer o que mais gostamos e queremos agarrar o maior número de atenções possíveis. A energia que despejamos com a nossa música é grande e isso contagia as pessoas. Humildemente, é esta a minha opinião.

Em termos conceptuais há algo de especial relevo em “Confrontation Of Souls”? Que almas são essas que se confrontam e porquê?
O título surgiu primeiro e consequentemente todo o universo lírico do álbum foi escrito em redor desse tópico. As "almas", usadas num sentido metafórico, são todas as pessoas, ideias e maneiras de estar que se confrontam em busca de algo melhor. A Humanidade está numa fase cada vez mais caótica e isso espelha-se no nosso dia-a-dia. Vivemos em competição constante e confrontamo-nos cada vez mais... Em diversas ocasiões, estes "confrontos" fazem andar o mundo! O caminho é esse: continuar a evoluir, mas tendo muita atenção ao que vamos fazendo por cá. É que esta é a nossa maior herança e não podemos comprometer o amanhã!

Como uma banda também de forte influência hardcore, a crítica social tende a ganhar predominância. Quais são os maiores alvos da vossa crítica na sociedade actual?
A ganância, o individualismo, o capitalismo, a corrupção, a falta de valores, todos os tipos de regimes ditatoriais e todo o tipo de tentativas de destruir a liberdade pessoal são os aspectos que estão patentes nas nossas letras e na nossa maneira de ver as coisas. Penso que são os alvos maiores da nossa crítica social.

Como acha que se recuperará da desorganização que se vive actualmente? Não falo só da económica, embora esta tenha que vir directamente da consciência e atitudes menos correctas das pessoas…
Penso que só com união e caminhando todos para o mesmo lado se consegue chegar a um bom “porto”. Cada vez mais as pessoas têm os principais valores mais distorcidos e sem uma consciência global de ajuda mútua será muito complicado ultrapassarmos estes enormes desafios com que nos confrontamos diariamente. Os políticos que têm um peso mais importante nas decisões necessitam de perceber que o Homem vem antes de quaisquer interesses pessoais! Quando deixarmos de olhar só para o nosso umbigo e repararmos que o que acontece no outro lado do mundo também nos afecta em grande escala, talvez aí possamos pensar numa melhoria da nossa vida!

Essencialmente, falta um grande sentido de igualdade e justiça, não acha? Por exemplo, numa sociedade conservadora como a portuguesa, os preconceitos tendem a afectar fortemente o nosso crescimento, a todos os níveis. Concorda?
Sim, concordo. Todos os preconceitos que hoje existem atrapalham a nossa evolução enquanto ser humano! Inibem-nos de pensar com maior clareza e de ajuizar melhor o que realmente é importante. Por vezes, preocupamo-nos demais com coisas pequenas e nas situações que são realmente importantes e decisivas para o país andar para a frente, estamos cada um para seu lado!

No Metal isso sente-se?
Sente-se... Mas é para isso que cá estamos, para combater esse vírus e pôr isto a andar para a frente! Temos que ser um foco de resistência a todos estes vícios que estão instalados na nossa sociedade e para isso nada melhor que o Metal para pôr as coisas a nu e combater essa barreira.

Não queria despedir-me sem antes perguntar quais são as expectativas futuras em relação a “Confrontation Of Souls”…
Queremos tocá-lo o maior número de vezes possível ao vivo. Queremos levar este disco a todas as pessoas. Passa pela nossa cabeça uma maior aproximação ao mercado internacional e, como tal, esperamos poder ir o mais longe com este álbum!

Nuno Costa

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